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Católicos Debatem Mais Liberdade no Interior da Igreja
2001-11-17 10:21:53

Não há só uma forma de entender o cristianismo e "não há dogma nenhum, nem Papa, que possa violentar as consciências" dos cristãos, disse ontem na Marinha Grande o historiador António Matos Ferreira, professor da Universidade Católica, ao intervir numa das sessões da Semana Social Católica, que decorre desde quinta-feira e hoje termina.



Reivindicando-se da sua condição de católico, Matos Ferreira alertou, contudo, para a necessidade de não entender o catolicismo como a única expressão válida do cristianismo. E, virando o olhar para a sociedade, disse que a ideologia do sucesso dominante é a tradução secularizada da ideia da predestinação, tão cara a diversas correntes protestantes.

Na sessão dedicada precisamente ao tema da cidadania no interior da Igreja, o historiador sublinhou a ideia de que "toda a gente tem poder". Mas a sua preocupação fundamental é saber como é que a Igreja pode fazer uma experiência pedagógica do poder "que ajude ao esvaziamento da ideia de domínio" e que seja uma forma de os próprios cristãos ajudarem a crescer a dimensão da cidadania na sociedade.

Poder e cidadania - onde ficam as mulheres, perguntava uma participante. O problema é mais fundo, respondeu Ana Bessa, ex-responsável da pastoral de juventude do patriarcado, técnica no Ministério do Ambiente, que intervinha também na mesma sessão. "A participação dos leigos nos processos de tomada de decisão da Igreja é muito limitada", afirmou, para perguntar a seguir: "Quais são os poderes que já deviam estar distribuídos pelo resto dos cristãos?"

Distinguindo a noção de cidadania saída da Revolução Francesa do conceito de participação cristã, Ana Bessa acrescentou que há passos dados pelo catolicismo, mas "a questão não está encerrada". Matos Ferreira contestou a relação com a Revolução Francesa, dizendo que é em 1792 que, pela primeira vez, um bispo fala de democracia cristã como expressão da necessidade de liberdade dos cristãos na sociedade e no interior da Igreja. E, referindo-se também às mulheres, recordou o pedido das freiras americanas para terem acesso ao sacerdócio. "Elas sabem que chegarão lá, mas não se vai lá pela reivindicação e sim pelo exercício da liberdade, porque, pelo baptismo, somos todos livres."

Num ambiente rodeado de histórias de lutas do operariado, Deolinda Carvalho Machado, que integra a direcção da CGTP e faz parte também da Liga Operária Católica, trouxe para esta iniciativa católica outras questões da cidadania. Uma trabalhadora vidreira ameaçada de desemprego e sem receber há quatro meses, uma outra internada em psiquiatria, uma terceira que tentou o suicídio. Três situações que são um desafio à doutrina social da Igreja, disse.

Uma interpelação que deve levar os cristãos a perguntar o que fazem "para pôr cobro ao sofrimento de tanta gente que clama, simplesmente, pelo direito a viver com dignidade". E essa preocupação justifica, também, a participação, ontem à noite, de vários sindicalistas católicos numa vigília organizada pela CGTP de apoio aos vidreiros da Marinha Grande.

Fonte Público

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