paroquias.org
 

Notícias






Vaticano canoniza mártires sob protesto da China
2000-10-01 16:04:50

O Vaticano canoniza hoje 120 mártires vítimas de perseguições na China num clima de acentuado conflito com Pequim, tendo ontem a Igreja estatal chinesa acusado a Santa Sé de, ao escolher para a cerimónia o dia em que a China celebra os 51 anos da revolução comunista, estar a pôr a descoberto a hipocrisia dos esforços realizados para o restabelecimento de laços diplomáticos entre os dois estados.

A controvérsia que rodeia a cerimónia de hoje prolonga-se há já algumas semanas, mas subiu de tom quando os dois lados do conflito trocaram acusações de falsificação da História.

Enquanto a Santa Sé defende que os futuros santos foram sacrificados por defenderem as suas convicções religiosas, Pequim afirma que muitos deles eram vulgares criminosos e falsos missionários, que na verdade faziam espionagem ou se dedicavam a actividades ilícitas a cobro da imagem de membros da Igreja. A este respeito, o bispo Liu Yuanren, figura de proa da chamada Igreja Patriótica da China - que não reconhece o poder papal - afirmou que "existem dúvidas sobre se eles (os mártires) morreram pelas suas crenças religiosas ou por outras razões", acrescentando: "Na altura, alguns dos que viviam na China eram missionários, mas havia também outros que na realidade trabalhavam como espiões para servir os interesses dos seus próprios países". O Governo chinês disse mesmo estar pronto a fornecer provas dos "crimes contra o povo chinês" cometidos pelos missionários católicos que o Papa vai canonizar.

Mas outro dos motivos que fez crescer a fúria das autoridades chinesas foi a escolha do dia. A coincidência da canonização com as celebrações do aniversário da revolução chinesa é vista como um claro desafio e "um insulto". "O Dia Nacional significa que a China se ergueu e o imperialismo está morto", explicou Liu.

Mas o Vaticano nega qualquer intenção política associada à cerimónia de hoje, que não é "dirigida contra ninguém". O porta-voz do Vaticano, Joaquim Navarro-Valls, sublinhou há dias que este domingo marca a festa de Santa Teresa de Lisieux, padroeira dos missionários, pelo que a data era a mais natural para nomear os novos santos.

Seja como for, esta crispação nas relações bilaterais torna ainda mais distante o dia da reconciliação, até porque Pequim acusa ainda o Vaticano de ter recorrido à Igreja de Taiwan para fazer a selecção dos mártires. Isto é para os chineses, que reclamam a soberania sobre aquela ilha, um reconhecimento tácito do Estado de Taiwan e a desautorização das pretensões da China.

Os mais recentes eleitos para integrar o Panteão da Igreja Católica são 87 chineses e 33 missionários que foram mortos entre 1648 e 1930, embora a maior parte deles tenha sido vitimada pelo Levantamento Boxer de 1898-1900, durante o qual bandos de camponeses mataram missionários ocidentais, as suas famílias e os convertidos chineses. Além destes, será ainda canonizada a sudanesa Joséphine Bakhita, uma das últimas escravas vendidas a europeus, que foi libertada em 1889 pelo procurador do rei italiano em Veneza, data em que integrou a ordem religiosa das Filhas da Caridade.


Fonte CM

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia