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Padre Mário Oliveira Critica "Hipocrisia" da Igreja
2001-11-14 09:37:24

À medida que o julgamento do caso dos abortos se aproxima da recta final, na Maia, intensificam-se as acções de solidariedade para com as 17 mulheres no banco dos réus, organizadas pela "Direito de Optar - Plataforma pela Despenalização do Aborto", à porta do tribunal.

Ontem, no início de mais uma sessão do julgamento, o polémico padre Mário Oliveira, autor do livro "Fátima Nunca Mais", juntou-se à plataforma para manifestar a sua solidariedade para com estas mulheres e acusar a Igreja Católica de "hipocrisia" no debate sobre a interrupção voluntária da gravidez.

"Todos sabemos que se algum familiar, quer de um padre quer de um bispo, sê vê perante este problema, eles são os primeiros a aconselhar que o façam [o aborto] em condições de segurança e de higiene", sustenta o padre, lamentando que a despenalização do aborto não tivesse sido aprovada em 1998, "com grande responsabilidade" da Igreja Católica.

Para Mário Oliveira, a "lei do aborto" seria "a melhor maneira de defender a vida", até porque se uma gravidez acontece "sem ter sido desejada" não passa de "um acidente". Se a lei existisse, as mulheres seriam recebidas por uma comissão de aconselhamento, que poderia até convencê-las a desistir da ideia de interromperem a gravidez, justifica, sublinhando que, dessa forma, acabaria a actual "bandalheira" e "exploração".

Ontem, as responsáveis da Plataforma (que integra associações defensoras do "sim" à despenalização do aborto) aproveitaram para divulgar uma série de depoimentos de solidariedade subscritos por diversas personalidades, como o director executivo da Associação para o Planeamento Familiar (APF), Duarte Vilar, o ex-secretário de Estado da Saúde Albino Aroso, a eurodeputada comunista Ilda Figueiredo, o médico Nuno Grande e as jornalistas Paula Moura Pinheiro e Anabela Mota Ribeiro, entre outros.

À manifestação juntou-se ainda um grupo de mulheres de Lisboa e algumas "espontâneas", de imediato convidadas a assinar o manifesto que a Plataforma pôs a circular na semana passada e com o qual tenciona pedir à Assembleia da República que reequacione esta questão.

Assistente social ajudou mulher a não abortar

Dentro da sala de audiências, o julgamento prosseguiu com a audição das últimas testemunhas arroladas pela defesa e a divulgação dos resultados dos exames de escrita manual solicitados ao Laboratório de Polícia Científica. Os peritos consideraram "provável", uns, e "muito provável", outros, que as receitas constantes dos autos tenham sido subscritas pela enfermeira, a principal arguida deste megaprocesso, acusada de ter montado uma clínica para a prática de abortos nas traseiras da sua casa e organizado uma rede de angariadores de clientes entre ajudantes de farmácias, enfermeiros, um médico e um taxista, também eles arguidos neste processo.

Mas a parte mais interessante da sessão acabou por ser o depoimento de uma das testemunhas de defesa de um destes supostos angariadores - o assistente social de uma Junta de Freguesia do Porto que se senta no banco dos réus por alegadamente ter encaminhado duas mulheres de um bairro degradado da cidade para a clínica da enfermeira (mas que, curiosamente, é o único que não é acusado de ter recebido dinheiro dela).

Desempregada e a viver com um toxicodependente em recuperação, a testemunha contou que apenas decidiu levar a sua gravidez até ao fim porque o assistente social a dissuadiu de abortar e lhe facultou todo o tipo de apoios. "Fiquei desesperada e cheguei a pensar em abortar. Mas o assistente social deu-me muita força. Hoje, ele é o padrinho da minha filha."

Fonte Público

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