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Afastar a Guerra e aproximar a Cúria Romana
2001-10-30 23:46:38

“Só conheço uma pessoa que tenha feito o que diz o Evangelho: «quando te baterem numa face, dá a outra». O próprio Cristo. Não é fácil”. Estas são afirmações do Cardeal Patriarca de Lisboa, comentando a actual situação mundial, num encontro com a comunicação social.

D. José Policarpo afirmou que “à medida que elementos de violência se repetem, é fácil gerarem-se mais violências e instintos de defesa”, referindo que “os países atacados também têm o direito de se defenderem”. No entanto, o Cardeal Patriarca de Lisboa sublinha que a Igreja Católica, “desde o início, foi chamando a atenção para a necessidade de uma defesa que fosse sábia e que poupasse inocentes”. Questionado sobre o facto de o Santo Padre ter sempre referido, como solução, o diálogo e a cooperação, e nunca o direito de defesa, direito esse, defendido posteriormente na Sala de Imprensa na Santa Sé, D. José Policarpo não vê aí qualquer contradição, antes uma forma de complementaridade e de diferentes funções no seio da Cúria Romana.
Perante “uma nova fase, uma nova ordem mundial - que o Cardeal Patriarca reconhece não saber se será melhor ou pior que a anterior - existe o perigo de, estando tudo tão mundializado e globalizado, que o «eu» sinta que já não tem poder sobre o destino, pensando que outros o resolvem e só participando quando as coisas lhe batem à porta, reivindicando então os seus direitos”. “Isto assim não é bom!”, concluiu D. José Policarpo.
Desta forma, o Cardeal Patriarca apontou como caminho de solução dos problemas “o perceber as causas profundas do fenómeno. E ainda ninguém as tem todas ordenadas: há um só cérebro? São causas estruturais? São causas funcionais?”, questionou.
O compromisso pessoal assume-se como fundamental para D. José Policarpo, pois este é, no seu entender, “um momento de responsabilidade acrescida”, quando “o mundo ainda está a tempo de fazer uma escolha positiva”; mas recordou que “o mundo novo começa em nossas casas”. “Os grandes momentos de crise da história são depois os que permitem dar um grande salto” e, concluiu o Cardeal Patriarca, “a serenidade é o melhor testemunho e a atitude construtiva da história e o Ocidente pode e deve mostrar que a convivência é possível”.
Os acontecimentos desencadeados pelos ataques terroristas de 11 de Setembro estiveram sempre na ordem do dia no Sínodo dos Bispos, em Roma, garantiu o Cardeal Patriarca.
Comentando os trabalhos e tirando algumas conclusões do Sínodo (ainda não apresentadas oficialmente), D. José Policarpo mostrou-se impressionado pelo colégio episcopal. “Houve uma mudança na maneira de conceber o mundo e a Igreja”, afirmou, referindo como principal exemplo, evolução, a América Latina, já bem mais afastada da Teoria da Libertação.
A colegialidade entre os Bispos do mundo, um dos temas aprofundados no Sínodo, é para D. José Policarpo “um discurso que traz sempre desafios e que ainda não está encerrado”, levantando duas questões essenciais: “saber até onde vai o conceito de colegialidade e o que inclui e a harmonia entre a centralidade da Cúria Romana (principalmente para a unidade e operacionalidade das Igrejas menos capazes) e a vida das Igrejas diocesanas”.
Desta forma, o Cardeal Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa informou que “vão inaugurar-se novas formas de tornar os dicastérios romanos mais presentes em Portugal”, não querendo especificar o como, deixando a sua apresentação para o futuro. Esta foi, aliás, uma preocupação presente no Sínodo dos Bispos. De acordo com D. José Policarpo, “tem que se afastar o modelo distante da Cúria Romana, onde a burocracia se decide, para se caminhar por o conhecimento no terreno e sentir os problemas da Igreja”.
Outro modo de funcionamento questionado por D. José Policarpo foi o do próprio Sínodo. Mencionando que o Sínodo é um órgão de consulta e não de decisão, questiona-se: “trezentas pessoas a trabalhar um tema será a melhor forma?”. O Cardeal Patriarca sugere, como método alternativo, o trabalho em grupos, reunindo-se depois os grupos numa Assembleia Geral. “Será um debate inevitavelmente aberto e interessante”, refere, sublinhando que, no entanto, “não porá em questão o Sínodo (em si), porque ele é útil”; a questão é a da eficácia na resposta aos problemas.

Fonte Ecclesia

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