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Bispos unidos contra Roma
2001-10-28 11:07:56

Mais autonomia das Igrejas locais e menos influência do Vaticano em cada uma delas, foram os apelos em destaque entre os 247 prelados de todo o mundo presentes na X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos que se realizou em Roma. Com o tema "O bispo: servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo", os trabalhos, que se iniciaram no dia 30, chegaram ontem ao fim.


Várias vozes, como a do presidente da conferência Episcopal dos Estados Unidos, D. Joseph Anthony Fiorenza, pediram para que o poder na Igreja seja encarado em termos de colaboração e não de comando. Aquele prelado lançou uma pertinente interrogação: "Não será adequado e oportuno que este Sínodo discuta uma vez mais o problema da subsidiariedade no interior da Igreja?"

Na mesma linha se pronunciou o bispo sul-africano, D. Buti Joseph Tlhagale, indo ao ponto de propor que "a subsidiariedade seja conhecida como um princípio de instituição divina para definir a colaboração entre os distintos níveis de governo eclesial". Falando em nome do colégio episcopal do seu País, afirmou: "Os bispos sentem que as Conferências Episcopais (CE) são algo mais do que meras agências técnicas." Referindo-se mais especificamente ao Sínodo, considerou que o estatuto consultivo do mesmo já não é suficiente. Defendeu, por isso, que se promova uma reflexão a nível mundial sobre o assunto. "Dá a impressão que a colegialidade não é mais do que uma afirmação verbal à qual não corresponde nenhuma realidade", frisou.

Palavras fortes estas que foram secundadas pelo presidente da CE Belga, Cardeal God Fried Danneels. "É conveniente que os sínodos ofereçam a possibilidade de os prelados intervirem com liberdade, sem pressões externas, sobre todos os temas que julguem oportunos para o bem da Igreja", disse. Recorde-se, a propósito, que na semana passada, nesta página do DN, D. António Marcelino, bispo de Aveiro, também se referiu à falta de liberdade de expressão sentida por alguns bispos quando se encontram no Vaticano. Pelos vistos, não está sozinho...

Outros apelos foram sublinhados por diversos intervenientes, nomeadamente o bispo de Munique, Cardeal Friedrich Wetter. Propôs o pelado que as nomeações dos bispos se façam depois de consultadas as igrejas locais, tendo, nesse sentido, afirmado: "Antes de enviar a Roma a terna (lista com o nome de três candidatos para que o Papa escolha um), o Núncio Apostólico deveria convocar os bispos da respectiva província eclesiástica e juntar à sua decisão esse parecer."

Ainda nesta linha de pensamento, o Cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão, perguntava, numa missiva enviada ao Sínodo, sobre "o que será possível fazer para que a Igreja local possa também reconhecer-se como expressão do seu bispo, a partir dos procedimentos na procura de candidatos idóneos".

O bispo de Kinchacha, D. Frederic Etsou Nazabi Bamungwabi, pediu, por seu lado, que "as relações entre os núncios apostólicos, os dicastérios romanos e os bispos diocesanos se caracterizem por uma colaboração mais fraterna, e por uma real solicitude pastoral no respeito pelas competência de cada um". Foi ainda da sua lavra a sugestão de que o Núncio Apostólico seja nomeado com base num parecer das CE locais.

Foram estas, entre outras, algumas das intervenções pessoais que se ouviram durante o Sínodo a pedirem mudanças no modo de se exercer o poder na Igreja. Mas as conclusões dos diversos grupos de trabalho foram igualmente apelativas.

Um dos grupos de língua inglesa ("circulo menor anglicus") sugeriu que se inclua como proposta a enviar ao Papa a possibilidade de as "CE exercerem qualquer acção colegial, se bem que seguindo um critério orgânico e parcial".

Um dos círculos menores de língua francesa "ratificou a sua convicção de que as CE representam um papel indispensável na Igreja enquanto instrumento de colegialidade".

Um outro grupo de língua inglesa, pela voz de D. Vernon James, arcebispo de Winnipeg, no Canadá, lembrou que "a acção do bispo diocesano só é enriquecida e fortalecida quando a Cúria Romana demonstra, com as suas comunicações e acções, ter compreendido o variado das condições locais; de outra forma, corre o risco de converter-se em obstáculo para a comunhão". Relativamente ao papel do Sínodo, o grupo pediu que "se adapte, de tal forma que possa assegurar continuidade e coerência".

Estas e outras propostas foram entregues a João Paulo II. É com base nelas que o pontífice romano há-de elaborar um documento final. Se vão ser tidas em conta ou não, depois se verá. O certo é que o recado foi explícito: as dioceses estão cansadas de serem "sucursais" de Roma. "Às vezes parece que nos tratam como crianças". Estas são palavras do bispo de Aveiro transcritas aqui no DN no Domingo passado.

Como sempre, caberá ao chefe da Igreja Católica demonstrar se este Sínodo não "ficou vazio de esperança".

Fonte DN

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