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O Vaticano terá de respeitar as bases
2001-10-28 11:05:11

Que a Igreja Católica está a mudar, ninguém o poderá pôr em dúvida. Uma reflexão séria sobre o que no texto acima está referido facilmente nos leva a concluir que há uma nova geração de bispos que detesta sentir-se controlada por Roma. Por isso se pergunta: o que favoreceu o aparecimento desses prelados?


Um dado nos poderá ajudar. Desde que Karol Wojtyla assumiu o poder, em Outubro de 1978, realizaram-se 15 assembleias sinodais sobre os mais variados temas. Entre 1965 e 1979, foram apenas cinco.

E isto é como tudo na vida. Se as pessoas se encontram e debatem, mais dia menos dia ficarão cansadas de verem as suas ideias cair em saco roto. Ora, a maioria dos actuais prelados são "filhos" de João Paulo II. Por conseguinte, estão habituados a deslocar-se periodicamente a Roma, onde lançam umas "larachas". Umas vezes em surdina, outras, pela voz dos intelectualmente mais fortes, com ecos na opinião pública.

A dinâmica de João Paulo II, iniciada por Paulo VI - foi este Papa que, durante o Concílio Vaticano II, pensou em formas de governo eclesial mais colegiais - talvez tenha começado a dar frutos. Os bispos, efectivamente, parecem estar cansados de apenas opinarem. Agora, desejam ir mais longe. As suas intervenções, durante o Sínodo que ontem terminou, deixam transparecer que desejam trabalhar com mais autonomia, sem as interferências constantes dos que vivendo permanentemente sentados no Vaticano, acabam por mandar em todas as Igrejas locais, desde Roma até à Conchichina.

Algo está, pois, a mudar, mas não somente porque as vozes agora se erguem com mais afinco. O problema é que muita coisa já mudou. Neste momento a Igreja Católica já conta nos seus quadros com padres casados - em Portugal temos um exemplo. São milhares os diáconos casados a que foi dada a responsabilidade de animar comunidades locais. São igualmente milhares as celebrações litúrgicas, mesmo dominicais, que por esse mundo fora são presididas por leigos e freiras. Enfim, muito do que certos movimentos católicos de vanguarda reivindicam já está a ser realizado. Falta apenas actualizar-se o estatuto. As freiras poderão ser transformadas em diaconizas; aos diáconos poder-se-á, mais dia menos dia, atribuir-se-lhes o "múnus" dos padres, etc.. Inclusivamente, um grande número de paróquias já são geridas por leigos, através dos chamados conselhos paroquiais. Nestes casos, o padre, que é pago ao fim do mês, tem o papel que deve ter: o de preocupar-se apenas em ensinar a doutrina e presidir aos sacramentos, promovendo a comunhão. Mesmo com Roma amuada, tudo isto se está a generalizar.

O que os bispos agora pretendem é que haja mudança de mentalidade também na cúpula eclesiástica. Isso é fundamental para que o processo de transformação iniciado nas bases possa prosseguir. Evidentemente que vão encontrar oposição por parte dos que se sentam no Vaticano. Mas vão conseguir. Afinal, eles representam a Igreja real, e só eles conhecem as necessidades locais. Isto certamente que não viola a tão prezada unidade uiversal da Igreja. Esta, realiza-se sobretudo no Credo. O resto é pura administração corrente.

Nos próximos sínodos é evidente que os bispos vão querer ir mais longe, e irão pedir, naturalmente, que sejam eles a eleger o Papa. Não tem sentido nenhum que "meia dúzia" de cardeais decida o destino de milhares de bispos. Algo está a mudar.

Fonte DN

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