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Somos chamados a votar
2000-09-20 20:37:07

Nota pastoral de D. António Sousa Braga, às comunidades paroquiais

No próximo 15 de Outubro, somos chamados como cidadãos a votar, para escolher os membros da Assembleia Legislativa Regional. Vivemos em democracia. Quanto mais participarmos nos actos eleitorais, ela mais se fortalece. «A Igreja encara com simpatia o sistema da democracia, na medida em que assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade, quer de escolher e controlar os próprios governantes, quer de os substituir pacificamente, quando tal se torne oportuno ... » (João Paulo 11, Encíclica Centesimus Annus, n.º 46).

1. Por isso, todo o católico deve sentir como obrigação grave ir votar. Nada justifica a elevada abstenção, que costuma verificar-se entre nós. Muito menos a falta de consideração pela actividade política. Apesar das suas lacunas, a política é uma actividade nobre de serviço ao bem comum.
É verdade que a participação democrática não se esgota nas eleições, mas estas são o momento próprio, para escolhermos quem nos possa representar, segundo os valores em que acreditamos.

2. É preciso votar em consciência nas pessoas mais competentes, honestas e dedicadas ao bem comum, dentro da perspectiva da Doutrina Social da Igreja. Essa escolha faz-se através dos partidos, sem os quais não há democracia.
Evidentemente não há nenhum partido de Igreja. Do Evangelho não decorrem soluções técnicas de organização da sociedade com sentido único. Mas há valores a salvaguardar e a promover. Entre as várias possibilidades do leque partidário, o católico escolherá aquelas formações partidárias, «cujas orientações sejam consentâneas com a sua consciência e com a visão da doutrina da Igreja sobre a sociedade» (Bispos Portugueses, Carta Pastoral A Igreja na Sociedade Democrática, 2000, n.º 21).

Portanto, a Igreja não entrega a nenhum partido a defesa dos valores em que acredita. Isso compete aos cristãos, inseridos nas várias organizações civis e políticas. A Igreja também não reclama benesses nem privilégios. Tão só aquilo a que toda e qualquer instituição de cidadãos livres tem direito. A religião não é uma questão de vida privada. Tem função social, que o Estado deve ter em conta, dentro de uma sã laicidade e da autonomia das realidades terrestres, que a Igreja aceita e respeita.

3. Para votar com conhecimento de causa e formar uma opinião pessoal, é preciso esclarecer-se sobre as questões em debate.
Nesse sentido, auguramos que a campanha eleitoral não se tome num espectáculo mediático, mas ofereça a oportunidade de um debate sereno e objectivo sobre os verdadeiros problemas e interesses do povo.
O exemplo de autêntica cidadania e de espírito de serviço devem vir de cima. A dignificação da actividade política «passará pela generosidade, desprendimento e competência dos políticos, pela justeza dos objectivos traçados, pelo aprofundamento cultural, por um diálogo contínuo com a comunidade que servem e representam» (Id, ibid., n.º 20)

4. Para além das opções partidárias, há a possibilidade de participação política no serviço do bem comum em inúmeras organizações, em que os cristãos se devem mostrar particularmente activos, em coerência com o amor evangélico do próximo.
«Política» é tudo o que tem a ver com a colectividade. Não é só actividade dos políticos e dos partidos. Há toda uma rede de voluntariado, que mesmo fora dos partidos «faz política».
Ocorre, aliás, ultrapassar a ideia mítica do Estado, «a quem tudo se pede, de quem tudo se espera, a quem se atribuem todas as culpas» (Id., ibid,, n.º 8).
É a demissão e a fraca participação da sociedade civil, que abrem espaço à omnipresença do Estado, que em democracia é subsidiário, isto é, deve intervir, quando as instâncias inferiores não são capazes de o fazer. A esse respeito é clara a doutrina da Igreja: «Quanto aos cidadãos, individualmente ou em grupo, evitem conferir ao Estado um poder demasiado; não se lhes dirijam de maneira intempestiva para reclamar ajudas ou vantagens exageradas, com o risco de diminuir a responsabilidade das pessoas, das famílias e dos grupos sociais» (Gaudium et Spes, n' 75).
Sem insinuar nenhuma indicação de voto, mas com sentido pedagógico, os párocos deverão ler e explicar esta Nota Pastoral ao povo, nas Eucaristias Dominicais, antes da campanha eleitoral.

D. António Sousa Braga
Angra, 11 de Setembro de 2000.

Fonte Ecclesia

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