Tenho sempre a sensação de que as melhores músicas litúrgicas são aquelas que tive oportunidade de cantar. Esta perspetiva parece ser comum a outras pessoas e é sempre bom quando ouvimos interpretar os cânticos da nossa vida. No domingo passado foi este que me recordou os tempos em tinha responsabilidades num dos coros por que passei...
A música transporta elementos de sentido para a vida, gera laços de proximidade entre as pessoas, põe afeição nas mensagens e catapulta-nos para um estado de perfeição insuspeito...
Naquela Missa Nova cantava-se:
"Diante do Povo o Senhor convoca os mensageiros. Aleluia! Aleluia!"
"Estão cingidos pela violência da Palavra. Aleluia! Aleluia!"
Na altura não entendi o alcance dos versículos, mas hoje, quando leio Mateus 25, 31-46, compreendo. A violência programada da Palavra desinstala e acorda todos, chamando-nos à responsabilidade.
Lembro-me das eucaristias em que a homilia era acompanhada de reflexão partilhada da palavra e a oração universal tinha o contributo individual dos presentes. No momento penitencial por vezes cantava-se um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:
CANTATA DE PAZ
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
DÁfrica e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Enquanto cantava fui meditando neste versículo:
Mt 11, 6:
"E bem-aventurado aquele que não encontra em mim ocasião de escândalo".
E vim para casa a pensar que a Bíblia não deixa de refletir os limites humanos no conhecimento e na compreensão.
As tradições festivas são um momento de tranquilidade no desassossego da fé. No passado dia 1 de janeiro tivemos, além de música de órgão e diálogos eucarísticos cantados, também o salmo responsorial cantado... E a assembleia respondeu...
Talvez uma nova oportunidade surja, de modo que vou treinando. Hoje recordei:
"Somos o Novo Israel que come o pão da unidade.
Somos o Novo Israel que bebe da fonte da Nova Aliança.
Jesus Cristo Amem, Jesus Cristo Amem.
Dá-no a vida, Tu és a viva".
(texto de Carlos Azevedo, música de A. Ferreira dos Santos).
E fui-me lembrando do colega que reiteradamente opina ser de pouca graça o facto de o canto litúrgico na sua terra natal ser acompanhado ao órgão. Enfim "uma molenguice irritante... Porque não uma viola ou um piano?".
Penso que em qualquer caso será preciso formação e trabalho dedicado, sobretudo quando se quer acompanhar canto a vozes.
A última vez que dei uma mirada à transmissão televisiva da eucaristia tive oportunidade de ver amigos em ação, o que é sempre agradável, e agradável também que o Glória seja cantado.
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