Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Geral

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Ir para a página: 12Próximo
Página actual: 1 de 2
Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 11:17

Uma opinião tirada deste blog, que acho que deve mesmo ser lida e pensada:


A distinção, clássica e omnipresente na doutrina da Igreja, entre o pecado e o pecador, tem servido de fundamento a muito moralismo barato.
Todos percebemos a ideia subjacente: a pessoa é sempre digna de respeito; o pecado por ela cometido, não. Seriamos, portanto, chamados a amar o pecador e a rejeitar o pecado.
Isto dito assim, até faz sentido. Mas a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz.
Lembro-me de um padre que costumava dizer com frequência: "Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser!" E dizia-o inchado, como se tivesse descoberto a mais fiel das interpretações do evangelho. O que ele revelava, coitado, é que não amava ninguém.
Daquilo que me é dado perceber do Evangelho, o desafio cristão - e a sua originalidade - é o amor incondicional. E se é incondicional, não exige ao outro a renúncia ao pecado. Isto parece perigoso à primeira vista. Mas não é. É "apenas" evangélico. O nosso erro, consciente ou não, está em acharmos que temos um papel a desempenhar na relação entre o pecador e o pecado. Consideramos ser nosso "dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão...
Ora, não é isto que Jesus faz. Jesus AMA. E o pecador decide, em liberdade, o que quer e/ou pode fazer em relação ao pecado. E qualquer que seja a decisão dele, que faz o Meste? Ama-o, pois claro. Incondicionalmente.
Outra coisa bem distinta é que eu, tocado pelo amor, perceba o pecado como algo a abandonar. Mas esse é o meu caminho.
Amar o pecador, incondicionalmente, é amá-lo com pecado e tudo. Pôr como condição a sua renúncia ao pecado, não é amá-lo; é chantageá-lo. Ou desculpa de mau pagador para justificar arzinhos de superioridade...



Editado 1 vezes. Última edição em 23/03/2007 11:18 por Zé.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 11:34

Que grande confusão.

segundo esta teoria Cristo não veio à Terra para que, comungando da nossa humanidade, nos mostrasse o que é realmente ser humano, isto é, caminhar em direcção ao Pai.

Veio cá deixar assim uns conselhos, umas ideias, que logo se vê se valem a pena...

Desde que não dê muito trabalho...

João (JMA)

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 11:53

Acho que não leste muito bem (nem com muito boa vontade), JMA. Leste aquilo que estavas à espera de ler, e não o que está lá escrito.

O texto não desvaloriza em nada a mensagem de Cristo, nem tão pouco a relativiza. Não são "uns conselhos" ou "umas ideias" a dar para o experimentalista.

Nem tão pouco diz, em lado algum, que não se deve condenar* o pecado. Mas denuncia (na minha opinião, bem), a praxis (cito o texto) que vem da distinção entre o pecado e o pecador.

A frase central do texto é "Amar o pecador, incondicionalmente, é amá-lo com pecado e tudo. Pôr como condição a sua renúncia ao pecado, não é amá-lo; é chantageá-lo". Discordas? Jesus disse para amarmos até o nosso inimigo. Não disse para lhe fazermos ultimatos e colocar condições para o amarmos. Devemos amar incondicionalmente. Sem mais.

* A palavra "condenar" parece-me que faz perder de vista o que deve ser o nosso objectivo. No centro das nossas considerações deve estar a pessoa, não o pecado. Deste ponto de vista, o pecado deve ser olhado como algo que prejudica as pessoas, as prende, as menoriza. E por conseguinte, se amamos as pessoas, não queremos que estas pequem. Mas a centralidade deve ser colocada nas pessoas, não no pecado. O que acontece muitas vezes é que ao condenar o pecado, o colocamos no centro das preocupações. E as pessoas, essas, são uma espécie de dano colateral.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 12:36

Caro Zé,

Podes ter razão.

Agora estou muito apertado de tempo.

Vou reler cpom mais calma no fim de semana e depois conversamos.

João (JMA)

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 14:12

Aqui está um texto curioso, com o qual facilmente sintonizamos. Contudo, não me convence totalmente a sua argumentação.

Vejamos.

1. Começa por manifestar o acordo com o princípio geral, «amar o pecador e rejeitar o pecado»:

Citação:
«Isto dito assim, até faz sentido».


2. Em segundo lugar, como contraposição, denuncia-se um problema: que

Citação:
«a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz».

Este parece ser o núcleo do «post», ou a tese fundamental. Ora bem: aqui dá-se um enorme salto, que teremos ver se é sustentado pela argumentação que se segue. Desde já temos uma situação deveras complicada: um princípio teórico, com o qual se manifesta um acordo de princípio, que não é realizável sem problemas graves, «um cinismo atroz». Isto é obra!

Espera-se então que siga a apresentação de argumentos de tão ousada tese.


3. O primeiro recurso na argumentação é uma ilustração, um exemplo. Um padre que proclamava «Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser»!

a) Diria que o primeiro impacte é «brilhante»: temos uma ilustração do «cinismo atroz» denunciado anteriormente. Mas pergunto: é isto um exemplo de praxis da premissa inicial? É este um caso em que se ama o pecador e se rejeita o pecado?

Tenho que responder com um redondo NÃO, pelo que já estamos a perder o tempo. O primeiro argumento nada tem a ver com o dito até aqui. O exemplo apresentado não é uma praxis da premissa inicial, mas uma deturpação do mesmo princípio, uma má praxis.


b) Passado o efeito «choque» do padre cínico, vem depois a exposição de outros elementos que reforçam a argumentação, agora pela «positiva». E basicamente o que se diz está correcto (sobretudo o que diz respeito à incondicionalidade do amor cristão), muito embora houvesse algumas questões a colocar no que diz respeito à noção de pecado implícita.

Tendo em conta que o pecado é aquilo que nos desintegra como pessoas, não mereceria o «post» ser retocado? Por exemplo, «soa bem», mas parece-me susceptível de ambiguidades a frase em que se diz: «Amar o pecador, incondicionalmente, é amá-lo com pecado e tudo». Que significa este «com pecado»? Que visão antropológica está aqui implícita? Existem pessoas «com pecado e tudo» ou existem pessoas pecadoras? Não é apenas um jogo de palavras.


4. Pelo meio diz-se ainda, algo importante, que poderia ser uma espécie de sub-tese:
Citação:
«O nosso erro, consciente ou não, está em acharmos que temos um papel a desempenhar na relação entre o pecador e o pecado. Consideramos ser nosso "dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão...».

Ora bem: não me parece que a questão esteja na «relação com o pecado», mas sim na relação com Deus. Não se trata de nos metermos, mas de um convite no qual eu/nós, como pecador(es), também estou/estamos implicado(s). O «convertei-vos» é para todos. Mas, claro, a conversão é acção do Espírito Santo.

E porque o «convertei-vos» é para todos – logo, também para mim, para toda a Igreja que anuncia o Evangelho – não tem muito sentido usar a ideia da chantagem como uma «natural» praxis da premissa inicial. «Amar o pecador e rejeitar o pecado» não me autoriza a julgar quem quer que seja. De resto, a maior perfeição corresponde maior capacidade de amor, logo tal suposição de «amor condicional» ruiria por si mesma.


5. No fim, ficam algumas questões:


a) Afinal, o princípio inicial de «amar o pecador e rejeitar o pecado» continua ou não válido? No início dizia-se «até faz sentido»; agora não percebemos se continua a fazer sentido ou não. Veja-se a alínea c).


b) Mais importante: a «tese» de que o princípio posto em prática «cai, inevitavelmente, num cinismo atroz» está suportada pela argumentação? Creio que não. Nem o a ilustração inicial, nem a noção de exigência, nem a de chantagem correspondem a uma praxis do princípio inicial.


c) Aparentemente, a «alternativa» é a do amor incondicional. Mas é isto realmente uma alternativa ao princípio inicial?


d) Como se articulam o sentido do princípio inicial, que o autor aceita, e, usando as suas palavras, a inevitabilidade de uma prática cínica?


e) Tentando salvar a posição do seu autor, diremos que o problema é da praxis. Mas então pergunta-se: como se concebe um princípio válido sem aplicação prática?


f) Num esforço suplementar poderemos descortinar que a questão pode estar noutro aspecto: no mau entendimento do princípio inicial. Portanto, não na praxis, mas numa má praxis. Ah, mas então isso é outra conversa!!! Então, sim, eu estarei de acordo com muito do que se diz. Mas não assim.


Espero não ter sido «desmancha-prazeres», porque já notei que no blogue o «post» recebeu vários comentários positivos (e tenho apreciado vários outros escritos do mesmo autor). Aqui, o meu comentário centra-se sobretudo na argumentação, que me parece falaciosa (no sentido lógico do termo), mesmo usando elementos válidos.


De um modo positivo, e tendo em conta o título que o Zé deu a este tópico, creio que estamos de acordo em muitos pontos. Amar significa aceitar o outro tal como é, porque é assim que Deus nos ama. Deus não está à espera de que sejamos bons para amar-nos, mas «amou-nos primeiro», naquilo que somos, também pecadores. Mas não tem muito sentido dizer que Deus nos ama «com pecado e tudo». O pecado não é um «acrescento», um «mais», mas um «menos». Deus ama-nos tal como somos, ponto. Pecadores, porque limitados. Amar é, evidentemente, aceitar o outro tal como é, sem julgar nem forçar. Forçar ou limitar a liberdade do outro não é amor e Deus define-Se por ser amor. Não apenas se «define». É a sua «essência» ou «constituição». Por outro lado, é importante não esquecer que o nosso amor é o amor de alguém que é pecador, pelo que está sempre «condicionado».


Em relação ao princípio inicial de que partia o «post» que comentamos, parece-me que a analogia com uma relação com uma pessoa doente pode servir. É apenas uma analogia, porque aqui falham outros elementos, como a questão da responsabilidade. Independentemente de eu estar muito saudável, de ter a mesma doença que essa pessoa ou outras doenças, mais ou menos graves, eu aceito essa pessoa, mesmo na sua doença. Aceitar e amar essa pessoa não significa necessariamente dizer que me agrada ou considero talo doença um bem. Posso e devo, se é possível, ajudar essa pessoa a recuperar da doença, porque quero o melhor para essa pessoa, como o quero para mim. Outra coisa, bastante estúpida, por sinal, seria que eu decidisse amar essa pessoa apenas enquanto estivesse saudável.

Alef

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 15:07

Ui, Alef, que sacaste da artilharia pesada. :D
E penso que o comentaste como se fosse uma tese, sem dar desconto à emotividade de quem o escreve. Aliás, de vez em quando fazes isso a alguns posts. Porquê? Para combater a superficialidade? (isto não é uma crítica, nem tão pouco tens de responder. estou a pensar "alto")

Não tenho de defender o texto do autor, mas vou dar a minha opinião.

2- Acho que houve algum exagero na palavra "inevitavelmente". Bastava que fosse substituida por "muitas vezes" para que fosse muito mais consensual e, na minha opinião, acertado.

3-
a) É este um caso em que se ama o pecador e se rejeita o pecado? Quando alguém diz «Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser», fica a pergunta: porque é que as pessoas não são o que devem ser? Se a resposta for o pecado, não é isto então um exemplo em como a rejeição do pecado limita que se ame a pessoa do pecador?

5-
b) Creio que a tese não precisava de ficar provada, apenas ilustrada. Diz o Alef: "nem a noção de exigência, nem a de chantagem correspondem a uma praxis do princípio inicial". Concordo, mas acho que correspondem a uma má praxis do princípio inicial. E o que o Manel queria atacar era a praxis e não, suponho, o princípio.

c) não precisa de ser alternativa ao princípio, parece-me, mas sim ao que acontece na prática.

d) onde é que o autor indica haver uma inevitabilidade de uma prática cínica? Suponho que seja na palavra "inevitavelmente", mas esta tem de ser entendida, diria eu, como figura de estilo, a frisar o sentido.

f) uuups :P se não tivesse saltado à frente desta alínea quando li primeiro o teu texto, Alef, teria poupado escrever este comentário...

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 16:06

Caro Zé:

Ena, eu não quis guerra, mesmo que tenha achado graça à tua metáfora da «artilharia pesada». Não houve essa intenção inicial. Possivelmente o meu comentário saiu muito «formal», por me parecer que essa forma permite ver melhor o problema do «post» do Manuel, que é a própria estrutura da argumentação.

Possivelmente tens razão em dizer que não dei desconto à emotividade de quem o escreveu. Mas eu só posso comentar o que está escrito. Por outro lado, não me limitei a identificar o que considerei serem falhas argumentativas, pois também «ofereci» uma leitura «benevolente». ;-)

Alef

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 16:11

Não interpretei como guerra (e se quisesse comprar uma, escolhia alguém do meu tamanho, não alguém maior que eu :P). Queria apenas fazer passar a leitura benevolente, mas quando li a tal alínea 5f) que escreveste vi que não precisava... Só que pronto, já tinha escrito o comentário e pareceu-me "pecado" atirar fora. ;)

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 17:15

"
Citação:
Daquilo que me é dado perceber do Evangelho, o desafio cristão - e a sua originalidade - é o amor incondicional. E se é incondicional, não exige ao outro a renúncia ao pecado.[/
"

Uma brevíssima reflexão.


Concordo integralmente com esta análise. È por isso que o amor é subversivo - uma aceitação total e incondicional do outro, sem exigências nem renúncias de qualquer tipo.
SE deus nos dissesse - só te amo se deixares de pecar, isso não seria amor mas chantagem.

Se nós o dissermos ao outro, isso não é amor, é chantagem.

Mas [b]um amor
assim - tão radical, tão sem exigência nenhuma, tão completamente gratuito e despojado, é realmente perigoso.


Mas precisamente por isso pode transformar o outro. Não que a intenção seja transformar , mudar ou exigir ou converter.

A conversão do amor não é imposta, é interior. Quem é verdadeiramente amado, quem se sente intensamente amado, muda por dentro.

E só dessa forma tem sentido a um cristão ""dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão... ".
Pelo amor.

católica praticante



Editado 2 vezes. Última edição em 23/03/2007 17:15 por catolicapraticante.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 20:41

Zé nãs li as respostas apenas sua primeira mensagem e concordo contigo. È por aí mesmo.
Esse é o caminho da catequese:
tocado pelo amor, perceba o pecado como algo a abandonar.
Nunca acusar e saber-se pecador sempre, nunca superior , nunca melhor ... e nunca esquecer a pergunta de Jesus:
- Quem vai me amar mais?
O qual eu perdoei a maior dívida.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 29 de March de 2007 18:06

Zé,

como prometido, agora com mais tempo:

Citação:

Uma opinião tirada deste blog, que acho que deve mesmo ser lida e pensada:

A distinção, clássica e omnipresente na doutrina da Igreja, entre o pecado e o pecador, tem servido de fundamento a muito moralismo barato.
Todos percebemos a ideia subjacente: a pessoa é sempre digna de respeito; o pecado por ela cometido, não. Seriamos, portanto, chamados a amar o pecador e a rejeitar o pecado.
Isto dito assim, até faz sentido.

Até aqui, tirando as considerações sobre o preço do moralismo, tudo bem...

Citação:

Mas a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz.
Lembro-me de um padre que costumava dizer com frequência: "Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser!" E dizia-o inchado, como se tivesse descoberto a mais fiel das interpretações do evangelho. O que ele revelava, coitado, é que não amava ninguém.

Porquê? Será que o sentido dessas frases não é precisamente o mesmo das frases acima com a qual concordava? Será que não quer dizer "Eu não amo as pessoas pelo que elas são/fazem (o "pecado"), mas pelo que devem ser/fazer (ser cristãos)!"

Citação:

Daquilo que me é dado perceber do Evangelho, o desafio cristão - e a sua originalidade - é o amor incondicional. E se é incondicional, não exige ao outro a renúncia ao pecado.

Claro que não exige a renuncia ao pecado... No episódio da mulher adúltera Cristo diz-lhe no final: Vai e continua a pecar, que fazes muito bem... :o))
É só uma pequena confusão: uma coisa é amar quem "peca" outra coisa é apoiar que as pessoas permaneçam em situação de afastamento de Deus.

O cristianismo exige do Cristão que faça todo o esforço para renunciar ao "pecado", e Deus está lá para o apoiar em todas as tentativas.

Não confundamos o nunca deixar de amar - próprio do Cristianismo - com o pactuar com aquilo que está errado - próprio do disparate.

Citação:

Isto parece perigoso à primeira vista.

Não. Parece só existir uma grande confusão.

Citação:

Mas não é. É "apenas" evangélico. O nosso erro, consciente ou não, está em acharmos que temos um papel a desempenhar na relação entre o pecador e o pecado. Consideramos ser nosso "dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão...
Ora, não é isto que Jesus faz.

Claro que não. Ele veio ao mundo para ver as vistas, e deixar cá uns palpites, não foi para nos mostrar o caminho para o Pai.


Citação:

Jesus AMA. E o pecador decide, em liberdade, o que quer e/ou pode fazer em relação ao pecado. E qualquer que seja a decisão dele, que faz o Meste? Ama-o, pois claro. Incondicionalmente.

Totalmente de acordo.

Citação:

Outra coisa bem distinta é que eu, tocado pelo amor, perceba o pecado como algo a abandonar. Mas esse é o meu caminho.

Claro que é a própria pessoa que tem de perceber isso. E racionalmente pois Deus deu-nos a razão para a usarmos. Se, por absurdo, eu me afastasse do "pecado" por imposição dos outros e não por convicção, onde ficava a minha qualidade de ser humano liver, capaz do bem e do mal?

Citação:

Amar o pecador, incondicionalmente, é amá-lo com pecado e tudo. Pôr como condição a sua renúncia ao pecado, não é amá-lo; é chantageá-lo. Ou desculpa de mau pagador para justificar arzinhos de superioridade...

De facto, fatiar uma pessoa em duas partes e só gostar uma delas é um disparate. E também do âmbito da lei penal...
Não subscrevo as frases, mas concordo com as ideias.

Não conheço o autor, pelo que só me refiro a este texto: continuo a achar que dele se pode retirar que o Evangelho é assim uma colecção de máximas de um pensador genial, e não a Boa Nova a anunciar aos povos.

Particularmente a desvalorização que faz ao esforço de evangelização: são todos um bando de convencidos que andam aí a meter-se no meio da minha relação com Deus... eu sózinho cá hei-de encontrar o caminho.

De modo que discordo claramente com a "teoria da desnecessidade de evangelização" que, para mim, resulta do parágrafo da "mediação".

João (JMA)

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 09:49

Na parabola do filho pródigo há um pormenor que nunca vi referido em lado nenhum e no entanto me parece muito instrutivo.
O filho pródigo abandona o Pai para levar uma vida desregrada. O Pai não deixa de ama-lo profundamente e recebe-o de braços abertos quando ele se arrepende, mesmo sendo um arrependimento imperfeito, não pelo mal feito mas pelas consequencias dele.
O Pai ama sempre o filho mas... espera que ele volte, espera ansiosamente que ele regresse do mau caminho. Não o segue por esse caminho, nesse caminho o Pai ausenta-se completamente. O pecado representa uma ausencia de Deus, uma ausencia de amor, ausencia voluntaria nossa. Somos nós que voltamos as costas a Deus. Deus deixa-nos seguir o nosso caminho sem Ele, respeita a nossa liberdade e não impõe a sua presença. E também não apoio os nossos desmandos.

O erro do Manuel, desse defunto blog é grande. Só amamos o pecador se não o apoiarmos no seu pecado. Qualquer pai ou mãe sabem que é o seu amor pelos filhos que os leva a corrigir os seus erros.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 10:59

Camilo

Não me parece que o Manuel diga que temos que apoiar o pecador no pecado para o amar. O que não devemos é dizer que amamos o pecador se ele abandonar o pecado.

Quanto ao pormenor que observas, há que ter cuidado para não entrares em contradição com o próprio Evangelho no seu todo. Então se Jesus vem a dizer explicitamente que vem para os doentes, se Jesus chega a ser censurado precisamente porque anda misturado com pecadores públicos, dizes tu que Deus se ausenta completamente de junto do pecador?

Quanto ao modo de lidar com os filhos, não me parece que as coisas sejam assim tão lineares. É certo que quando é preciso corrigir os filhos deve ser o amor a mover os pais. Não é certo que a função do amor obrigue a corrigir todos os erros e a não pactuar com nada. Ou achas que os pais devem expulsar de casa os filhos que fazem coisas que os pais consideram erradas?

pontosvista

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 11:45

eu disse que nós é que nos afastamos de Deus, não que Deus se afasta de nós. Nós é que saimos da casa do Pai, não é o Pai que nos expulsa mas o Pai não vai atrás de nós para nos apoiar nos desregramentos.
Acho que nesta parabola a casa do Pai não deve ser vista como um local real mas sim uma "disposição de alma". Nós filhos, voltamos à casa do Pai quando nos arrependemos dos nossos pecados. Repara que nesta dimensão alegórica não é Jesus que vai ter com os pecadores, Jesus não sai do caminho do bem, o Pai está ansioso à espera a ver se vê o filho ao longe, a espreitar o menor sinal de arrependimento. Quando vê o filho pródigo nem sequer deixa a hipotese de uma vergonha de ultima hora o faça hesitar e voltar para trás, corre para o abraçar. Mas é o filho que vem visitar o Pai. Não consta na Biblia que Jesus andasse a visitar os bordeis ou as tabernas a pregar a quem não queria ouvi-lo. Jesus anuncia publicamente, a quem acorre a Ele, acolhe-o. Quem não acorre também não se impõe.
A tua interpretação é literalista e na parabola os lugares fisicos representam "estados de alma".

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 11:54

Camilo

De acordo. Mas não percebo qual a contradição com o post do Manuel.

pontosvista

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 12:13

O Alef dissecou bem os erros do Manuel, eu apenas pretendi ilustrar a contradição entre as ideias deste e a mensagem do Evangelho.
O erro dele centra-se na frase:
Mas a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz
juntamente com a frase:
Pôr como condição a sua renúncia ao pecado, não é amá-lo
pode resultar num erro grave. A 2ª frase até é correta, 100% correta, mas enquadrada pela primeira pode resultar no contrario do amor. O amor implica ajudar o irmão, e ajuda-lo não é apoia-lo nos desregramentos, não é sairmos nós da casa do Pai. Ajuda-lo, ama-lo com os seus defeitos, aceita-lo com os seus defeitos, mas também deixar claro que são defeitos. Se um amigo meu andasse na rua com as calças rotas, imaginemos que as tinha rompido num arame sem dar por isso, eu avisava-o que estava de rabo à mostra. Deixa-lo andar de rabo à mostra dizendo que está com uma excelente figura não é ser amigo.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 15:08

Camilo escreveu:
Ajuda-lo, ama-lo com os seus defeitos, aceita-lo com os seus defeitos, mas também deixar claro que são defeitos. Se um amigo meu andasse na rua com as calças rotas, imaginemos que as tinha rompido num arame sem dar por isso, eu avisava-o que estava de rabo à mostra. Deixa-lo andar de rabo à mostra dizendo que está com uma excelente figura não é ser amigo.

*Eu penso como tu, Camilo; um verdadeiro amigo, avisa-nos, corrijo-nos, tenta modificar-nos para melhor se for possível. O verdadeiro amigo não é aquele que aceita como nós somos. Por vezes temos defeitos que podemos corrigir para sermos mais pessoas. Mas também encontramos pessoas que gostamos delas como elas são, até as tentamos imitar.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 16:01

ZÉ escreveu:

É este um caso em que se ama o pecador e se rejeita o pecado? Quando alguém diz «Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser», fica a pergunta: porque é que as pessoas não são o que devem ser? Se a resposta for o pecado, não é isto então um exemplo em como a rejeição do pecado limita que se ame a pessoa do pecador?

«Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser»,

* Presumo que isto quer dizer;

<< Poder haver transformação na pessoa, mesmo sendo pecadora. Se acolhemos alguém é para ter o nosso carinho, o nosso amor e com o nosso exemplo poder modifiacar-se! >>

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 17 de April de 2008 20:29

Citação:
camilo
Acho que nesta parabola a casa do Pai não deve ser vista como um local real mas sim uma "disposição de alma". Nós filhos, voltamos à casa do Pai quando nos arrependemos dos nossos pecados.

Creio que está cometendo um erro teológico ou, ao menos, uma grave imprecisão que dificulta a interpretação da real mensagem na parábola. É um tipo de erro comum, mas nem por isso menos importante:

A parábola não enfoca o arrependimento do filho pródigo, a mensagem central da parábola é o enorme amor do pai que acolhe o filho sem lhe perguntar nada. Vale notar, o texto não fala muita coisa (aliás não fala praticamente nada) sobre o arrependimento do filho que retorna à casa. De fato, ele não retornou à casa do pai porque estava arrependido, não há nada no texto que afirme isso, mas retornou movido por puro interesse: ele estava com fome e na casa do pai tinha comida.

A "falta de arrependimento" do filho e o acolhimento "incondicional" do Pai tornam essa parábola muito mais séria do que se pode pensar em princípio. Entre outras coisas:
- não sei se se pode falar da confiança do Pai no filho, talvez isso nem seja importante, pois o pai conhecia todas as fraquezas do filho e nem por isso deixou de amá-lo.
- pode-se imaginar um amor todo-poderoso que dá esperança de renovar tudo que abarca? Sim, e não também, porque é tb realista - não desconhece as fraquezas e limitações do outro, mas nem por isso diminui.
- o pai sabia que o filho iria se machucar quando estava saindo como saiu de casa, mas ainda assim respeitou a liberdade de escolha do filho.
- o pai acolheu de braços abertos o filho ingrato quando esse voltava, sem exigir nada e apesar de tudo (70 x 7), e até explicou a situação ao filho mais velho que tinha dificuldade de entender tanto amor. O filho mais velho não tinha um coração tão amoroso quanto o pai.

Há muito espaço para reflexão, mas acredito que uma chave importante está em que todos nós temos parte com esses dois filhos, cada um de nós tem parte com o filho mais novo e também com o filho mais velho. É uma parábola que diz muito de cada um de nós, mas diz principalmente sobre o Pai. Por vezes a imagem que essa parábola apresenta nos parece tão estranha que tentamos alterar o sentido dela para torná-la mais "palatável" com a nossa imagem moralista de deus. Um deus limitado à nossa concepção de "justiça" e feito à nossa imagem. Essa parábola serve também para isso, para quebrar esses ídolos pessoais.

Paz e Bem.

Re: Amar/aceitar/julgar/liberdade
Escrito por: Willian Mota Melo (IP registado)
Data: 18 de April de 2008 03:50

...Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela. Os olhares de juiz nos enchem de culpa. Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade. Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, mas falta a eles a misericórdia e o amor.

... Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade.
Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar sua sombra sem julga-la, apesar de não se mostrar complacente com ela. Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, de um tal olhar pousado sobre nós. Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, de usarmos máscaras. Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, com seus desejos e seus medos. Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos e suas ignorâncias. Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também capaz de dureza e indiferença. Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoavel. Sob este olhar nossa vida pode crescer. Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona em uma imagem faz-no ficar parados, enquanto que o outro olhar nos impulsiona a dar um passo adiante desta imagem que os outros têm de nós.

(Jean Yves Leloup)

Achei esta reflexão maravilhosa! talvez possa enriquecer o debate

Um abraço a todos
Que consigamos entender que diante do olhar benevolente de Jesus não há coração
inquebrantável.



Editado 1 vezes. Última edição em 18/04/2008 03:57 por Willian Mota Melo.

Ir para a página: 12Próximo
Página actual: 1 de 2


Desculpe, apenas utilizadores registados podem escrever mensagens neste fórum.
Por favor, introduza a sua identificação no Fórum aqui.
Se ainda não se registou, visite a página de Registo.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.