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Recasados e Eucaristia
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 05 de November de 2006 00:47

Recasados e Eucaristia


O matrimônio e a família são obras de Deus com a Criação, cuja essência e deveres são definidos pelo amor e cujas propriedades essenciais são a unidade e a indissolubilidade. O pacto matrimonial por sua índole natural é ordenado para o bem dos cônjuges e deve ser aberto à geração e educação da prole. A unidade significa que uma pessoa não pode estar ligada simultaneamente por dois vínculos conjugais. A indissolubilidade é a impossibilidade da dissolução do vínculo conjugal, a não ser pela morte de um dos cônjuges. A poligamia é contrária à igualdade e dignidade do amor conjugal, que é único e exclusivo.

E os católicos que se separam e se casam novamente?
Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica no n. 1650: “são numerosos os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e que contraem nova união. A Igreja por fidelidade à palavra de Jesus Cristo (“todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar o seu marido e desposar outro comete adultério”; Mc 10, 11-12), mantém-se firme em não reconhecer válida uma nova união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística, enquanto perdurar esta situação”.
Essa norma não é algo desumano. É apenas decorrência da verdade sobre os sacramentos cuja infidelidade a um, exclui a possibilidade dos outros. Não é discriminação, pois os sacramentos não são direitos nossos, mas dons de Deus que supõem as devidas disposições e coerência com os significados e finalidades de cada um deles.
Podem e devem participar da missa, ouvir a Palavra de Deus, perseverar na oração, fazer a sua comunhão espiritual, educar os seus filhos na fé, fazer obras de caridade e de justiça.
Tanto os sacerdotes, como toda a comunidade cristã devem dar prova de amor e solicitude para com todos os batizados, para que ninguém se considere excluído e separado da Igreja, apesar de sua situação conjugal estar em desacordo com o projeto de Deus sobre o matrimônio e a família. A Igreja deve trabalhar muito na evangelização e não apenas na sacramentalização. Todas as dificuldades da vida podem ser vencidas através de uma vida cristã coerente que envolve o físico, o psíquico e o espiritual, envolve a pessoa toda e todas as pessoas. É preciso que as paróquias tenham a Pastoral Familiar com seus três setores: pré-matrimonial, pós-matrimonial e situações especiais. Assim as pessoas poderão entender melhor o que vão fazer ao casar-se, ter ajuda para viver bem o casamento e ter o apoio necessário nas dificuldades.

A Igreja anula casamentos?
Não. Um casamento válido e consumado é para toda a vida. O que pode acontecer é que o casamento, por circunstâncias diversas, seja nulo. Para isso existem os Tribunais Eclesiásticos que, analisando as circunstâncias concretas em questão podem declarar que “houve casamento” ou que “não houve casamento”. Entre os motivos de declaração de nulidade matrimonial estão: falta do uso da razão, imaturidade, causas de natureza psíquica, exclusão da comunhão de vida, condições colocadas, dolo, erro de pessoa, medo reverencial, violência e outros. A parte interessada procura o Tribunal Eclesiástico que estudará caso por caso e dará as devidas orientações. Concluindo: a Igreja não anula e nem pode anular um casamento válido. Porém, se não houve casamento, a Igreja declara que esse casamento é nulo, ou seja, não houve um casamento verdadeiro por falta de elementos necessários que caracterizam a união matrimonial: união de amor para sempre, através do consentimento livre, aberto à vida e à educação dos filhos.

Por: Joaquim Justino Carreira é bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, Região Santana.

Destaque de Novembro da Revista Missões - www.revistamissoes.org.br

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 02:18

Oi Rita,

sempre achei muito cômodo isso de resumir a teologia no ficar repetindo o Denzinger, então, acolhendo o seu convite, vou para a reflexão sobre o tema.

Citação:
O matrimônio e a família são obras de Deus com a Criação, cuja essência e deveres são definidos pelo amor e cujas propriedades essenciais são a unidade e a indissolubilidade.

É muito bonito dizerem isso, mas, infelizmente, as coisas não tão claras assim se considerarmos o que o que ensina o direito canônico da nossa igreja. Infelizmente não foi possível ao Vaticano II escrever nenhum documento sobre a Moral Sexual, que era coisa que a igreja católica precisava e precisa rever com urgência! Em pleno século XXI somos obrigados a conviver com mentalidades para lá de atrasadas no que diz respeito à sexualidade. Resultado? Já se fala até de um "cisma branco", com cada vez mais católicos deixando de dar ouvidos ao que fala a igreja nos assuntos ligados ao sexo. Até quando isso? Tem gente que ainda acha que polução noturna é equivalente a assassinato e que beijar é pecado. O que de bom acontece vai muito por conta de alguns sacerdotes e teólogos mais esclarecidos que levam en consideração o que hj se aprendeu com a psicologia e biologia.

Voltando ao quote. Fosse o mais importante o amor, qual seria o sentido da proibição no CDC (Código do Direito canônico) para a impotência? A ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) parece às vezes tentar dizer que o sexo é um mal (celibato=pureza?), somente tolerado em vista das necessidades da reprodução. Reza o cânone 1084 do CDC:

1084 § 1. La impotencia antecedente y perpetua para realizar el acto conyugal, tanto por parte del hombre como de la mujer, ya absoluta ya relativa, hace nulo el matrimonio por su misma naturaleza.
§ 2. Si el impedimento de impotencia es dudoso, con duda de derecho o de hecho, no se debe impedir el matrimonio ni, mientras persista la duda, declararlo nulo.
§ 3. La esterilidad no prohibe ni dirime el matrimonio, sin perjuicio de lo que se prescribe en el ⇒ c. 1098.


Felizmente o parágrafo 3 veio ao fim para diminuir um pouco a suspeita anterior. Pena que outras coisas ainda insistem em apontar naquela direção. O cânone 1098 não ajuda muito, é outro texto que se fixa novamente nas idéias de reprodução - isso parece ter sido importante na idade média, seria motivado nos direitos de herança da nobreza? O cânone diz que se uma das partes descobrir que o outro era estéril depois do casamento, sem que tivesse tido conhecimento anterior disso, pode requerer a anulação.

Uma reforma no campo da moral sexual, fosse bem feita (!!!), faria uma enorme bem para todos os católicos. Já aconteceu caso aqui de um casal apaixonado que foi impedido de casar pq o homem era paraplégico, a igreja ficou muito mal.

Citação:
O pacto matrimonial por sua índole natural é ordenado para o bem dos cônjuges e deve ser aberto à geração e educação da prole.

Olha aí de novo a conversa sobre a geração. É o que transforma o sexo em um "mal menor"?

Citação:
Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística, enquanto perdurar esta situação”.

O que confirma a reclamação de que um erro no casamento é o único pecado sem perdão. Um assassino pode se arrepender e voltar a comungar, mas um católico que se separar e casar-se de novo nunca mais poderá ter comunhão plena na ICAR. A não ser, claro, que seja tão egoísta que cometa um pecado ainda maior de abandonar esposa e filhos para ficar "puro" e pronto para a mesa eucarística.

Muito melhor papel faz a Igreja Católica Ortodoxa, que nesse assunto do casamento está mil vezes a nossa frente em matéria de compaixão evangélica.

Citação:
Essa norma não é algo desumano. É apenas decorrência da verdade sobre os sacramentos cuja infidelidade a um, exclui a possibilidade dos outros. Não é discriminação, pois os sacramentos não são direitos nossos, mas dons de Deus que supõem as devidas disposições e coerência com os significados e finalidades de cada um deles.

Como dizem: pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Citação:
Podem e devem participar da missa, ouvir a Palavra de Deus, perseverar na oração, fazer a sua comunhão espiritual, educar os seus filhos na fé, fazer obras de caridade e de justiça.

Mas... serão sempre católicos de segunda classe. Muito triste.

Citação:
Tanto os sacerdotes, como toda a comunidade cristã devem dar prova de amor e solicitude para com todos os batizados, para que ninguém se considere excluído e separado da Igreja, apesar de sua situação conjugal estar em desacordo com o projeto de Deus sobre o matrimônio e a família.

Nem vou comentar isso, para não ofender o pobre bispo. Todos devem ter muita paciência com o pobre coitado "em desacordo com o projeto de Deus"... e ele não deve se sentir inferiorizado... Tudo tão simples. Não sei por ainda reclamam. Os judeus tb só precisavam seguir a lei, não sei onde estava a dificuldade.

A ICAR precisa encontrar urgentemente um outro modo de valorizar o sacramento do matrimônio sem ter que humilhar as pessoas para isso. A lei maior é a caridade!

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 02/01/2007 02:21 por firefox.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 02:27

O uso da caricatura e de exemplos isolados de casos infelizes como armas de arremeso em debates não me parece um bom metodo de debate. No entanto em devido tempo tentarei desmontar o seu raciocinio que lhe digo desde já considerar falho de consistencia precisamente por assentar em grande parte em caricaturas.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 03:22

Olá camilo,

Citação:
O uso da caricatura e de exemplos isolados de casos infelizes como armas de arremeso em debates não me parece um bom metodo de debate. No entanto em devido tempo tentarei desmontar o seu raciocinio que lhe digo desde já considerar falho de consistencia precisamente por assentar em grande parte em caricaturas.

Ótimo, não esperava mesmo outra coisa num debate.

Feliz ano novo.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 09:40

Caro Firefox.

o tema da comunhão dos recasados é um tema muito debatido e que mais tarde ou mais cedo será ultrapassado, permitindo-se a comunhão os recasados que estejam em comunhão com a Igreja. Não tenho dúvidas que há muitos que o estão...e por isso comungam.

O assunto é complexo mas foi bem definido recentemente por alguém que amo.

Imaginem que jesusu está a jantar com os amigos (coisa que fazia com frequência) e que chega ao grupo um casal para participar na refeição.
Jesus acolhe-os com ternura , convida-os a sentar-se á mesa e a partilhar em comunidade aquele momento.

Mas depois alguém lhe sussura que são recasados. E aí jesus diz-lhes - oKey, podem sentar-se á mesa, conversar, cantar, orar, participar na festa, tudo menos comer...
Faz sentido?
Jesus faria isto?



Editado 1 vezes. Última edição em 02/01/2007 09:42 por catolicapraticante.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 13:34

Querida irmã e amiga,

Citação:
o tema da comunhão dos recasados é um tema muito debatido e que mais tarde ou mais cedo será ultrapassado, permitindo-se a comunhão os recasados que estejam em comunhão com a Igreja.

Também eu penso assim, a nossa igreja não está morta, ela caminha, embora às vezes em passos lentos. Basta lembrar que antigamente a comunhão nem era dada aos leigos, tantas eram as "exigências", e uma pessoa comungava, qdo muito, uma vez por ano; a comunhão em duas espécies era somente para religiosos; e por aí iam as coisas... O Espírito soprou e hj falamos até de protagonismo dos leigos, muitos comungam diariamente, etc.

Citação:
Não tenho dúvidas que há muitos que o estão...e por isso comungam.
O assunto é complexo mas foi bem definido recentemente por alguém que amo.

Imaginem que jesusu está a jantar com os amigos (coisa que fazia com frequência) e que chega ao grupo um casal para participar na refeição.
Jesus acolhe-os com ternura , convida-os a sentar-se á mesa e a partilhar em comunidade aquele momento.

Mas depois alguém lhe sussura que são recasados. E aí jesus diz-lhes - oKey, podem sentar-se á mesa, conversar, cantar, orar, participar na festa, tudo menos comer...
Faz sentido?
Jesus faria isto?

Não. Claro que não. Por isso é que alguns padres, depois de procurados por alguns recasados e de conversar com eles, acabam em algumas situações permitindo a comunhão. Cada caso é um caso e o comportamento na pastoral às vezes é diverso daquela atitude legalista de gabinete canônico. Conheço pessoalmente um caso: o casal tinha uma vida edificante e eles eram exemplo de fé para a comunidade, depois que o padre constatou que a comunhão não iria escandalizar ninguém acabou prevalecendo a caridade. Não tenho dúvidas que futuramente essa será uma prática comum.

Considerando agora a teologia católica, não há consenso entre os teólogos moralistas se o ensinamento de Cristo sobre a indissolubilidade do matrimônio (Mat 19:8-9) constitui um imperativo ético, um chamado à plenitude do ideal, ou manifesta uma incapacidade jurídica de dissolução. No primeiro caso, o divórcio e o novo matrimônio seriam sim um fracasso em relação à vocação de Deus, mas um pecado que poderia ser perdoado por sua misericórdia. No segundo caso haveria uma impossibilidade jurídica de contrair novas núpcias. Sobre o segundo caso haveria ainda outra pergunta: pode haver alguma exceção à regra? O próprio texto bíblico já abre pelo menos uma, "exceto por motivo de fornicação", por isso não vejo como se pode dizer que a indissolubilidade do matrimônio seja uma coisa absoluta.

A doutrina na igreja católica ocidental, principalmente depois do concílio de Trento, chegou a uma condenação radical. No contexto do séc XVI, o texto canônico iniciava a frase assim: "Se alguém disser que a Igreja se engana...", coisa típica da época, e continuava "quando ensinou e ensina inspirada na doutrina evangélica e apostólica que não se pode desfazer o vínculo do matrimônio de um dos cônjuges, e que nenhum dos dois, nem sequer o inocente, que não deu motivo para o adultério, pode contrair novo matrimônio enquanto viver o outro cônjuge, e que adultera tanto o que, depois de repudiar a adúltera, casa-se com outra, como a que, depois de repudiar o adúltero, casa-se com outro: seja anátema". Não seria nada fácil resumir a história dessa condenação, mas a maioria dos teólogos concorda que o anátema do concílio não significa um dogma de fé cuja negação constituísse uma heresia em sentido estrito, trata-se mais de ensinar que agir de modo diferente representaria um comportamento contrário à vida eclesial, alheio à unidade e ao sentimento da igreja. Cabe lembrar que aquele concílio tinha como meta e finalidade única a reafirmação da verdade católica contra as afirmações protestantes. Ou seja, há de fato um consenso de que o divórcio nunca será um ideal, mas daí para a afirmação de que a prática atual da nossa igreja é absoluta vai um abismo. Ainda temos muito que aprender com o exemplo da igreja católica oriental.

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 02/01/2007 13:41 por firefox.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 14:42

Por causa de estudos tenho andado a ler Historia do Direito Moderno. O engraçado é que metade das coisas que encontramos estranhas na nossa Igreja surgiram nessa altura quando se considerava que o mundo espiritual e o mundano se influenciavam mas nao se deveriam misturar.

Agora quanto ao tema dos recasados... isto só faz pensar numa coisa que valor acrescenta o sacramento do matrimónio a uma relação? Ou será que casar é a mesma coisa que juntar-se?

Concordo que em muitos casos, os divorciados deveriam ser acolhidos e permitido o acesso aos sacramentos, agora penso por exemplo no caso da Elisabeth Taylor que casou 7 ou 8 vezes. Não faço a mínima ideia se ela é ou não cristã mas será que ela estava consciente do sacamento que recebia? Será que muitos dos casais estão conscientes das responsabilidades, sacrificios e partes menos boas inerentes a um casamento?

Quantas vezes é que já ouvimos pessoas a dizer que simplesmente acabou ou quejá não havia amor. Ora desculpem lá, mas quem é que pode dizer que se ama o/a esposo/a sempre com a mesma intensidade? Isto mais ou menos faz-me lembrar os meus namoros na adolescencia em que me cansava de estar com a mesma pessoa e queria algo novo, excitante, da adrenalina de me apaixonar, de conquistar.

Vamos lá ser honestos e deixar de ser monocromáticos... existe os cinzentos. Nem todos os recasados são os coitadinhos dos excluidos e nem todos os rescasados e divorciados são fornicadores incansaveis e premiscuos.

Por isso acho que em boa fé, concordo que com a teoria dos casamentos nulos, quantos casamentos nunca o foram? Por isso acho que os tribunais eclesiásticos deveriam ser mais celeres nas decisões. Por outro lado não concordo com casamentos de 15 anos, exceptuando casos de violencia domestica ou infidelidade, se diga que simplesmente acabou o amor! Então aí simplesmente pergunto como comecei, o que acrescenta o sacramento do matrimónio?

Pergunto eu, que ainda e apenas tenho quase um ano de casado, não será nestas alturas de cansaço, de desânimo e de querer desistir que se deve olhar para cima e dizer "Olha, preciso da tua ajuda!"

Não sei se estou certo ou errado mas acho que temos aqui no fórum exemplos de casamentos longos que seguramente passaram por crises como todos os outros matrimonios.

Em comunhão

Em comunhão

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 02 de January de 2007 16:22

Tilleul


Gostei muito do que escreveste!

Tens um ano de casado, quando tiverem um filho ficam mais juntinhos!:) Muitos casais não se separam olhando ao futuro dos filhos, se por acaso adoram os filhos...
Problemas no casal todos têm. Há problemas pequninos que com um beijinho passa tudo:) e há problemas muito grandes, difíceis de esquecer...

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 03 de January de 2007 06:12

Oi Tilleul,

Citação:
Agora quanto ao tema dos recasados... isto só faz pensar numa coisa que valor acrescenta o sacramento do matrimónio a uma relação? Ou será que casar é a mesma coisa que juntar-se? Concordo que em muitos casos, os divorciados deveriam ser acolhidos e permitido o acesso aos sacramentos, agora penso por exemplo no caso da Elisabeth Taylor que casou 7 ou 8 vezes. Não faço a mínima ideia se ela é ou não cristã mas será que ela estava consciente do sacamento que recebia? Será que muitos dos casais estão conscientes das responsabilidades, sacrificios e partes menos boas inerentes a um casamento?

Amigo, ainda bem que concorda que em muitos casos a comunhão para os recasados devia ser permitida. Quanto ao outro lado da moeda, que parece ter te incomodado, diga sinceramente, vc realmente acha que a Elisabeth Taylor está preocupada se vai poder ou não receber a comunhão? Quem se apoia em exemplos desse tipo para negar a comunhão devia considerar que isso se parece muito com mandar purgante a todos em um hospital pq alguém tinha prisão de ventre.

Citação:
Vamos lá ser honestos e deixar de ser monocromáticos... existe os cinzentos. Nem todos os recasados são os coitadinhos dos excluidos e nem todos os rescasados e divorciados são fornicadores incansaveis e premiscuos.

Considere que os "fornicadores e premiscuos" não estão lá muito ligando para o que a igreja diz, então pouco importa a eles se vão ou não poder comungar. Quem sofre, geralmente, ou pelo menos quem sofre mais, são justamente os que tentam viver uma vida espiritual a sério. São a esses que a igreja está punindo com todo rigor.

Citação:
Por outro lado não concordo com casamentos de 15 anos, exceptuando casos de violencia domestica ou infidelidade, se diga que simplesmente acabou o amor! Então aí simplesmente pergunto como comecei, o que acrescenta o sacramento do matrimónio?
Pergunto eu, que ainda e apenas tenho quase um ano de casado, não será nestas alturas de cansaço, de desânimo e de querer desistir que se deve olhar para cima e dizer "Olha, preciso da tua ajuda!"

Amigo, acha realmente que proibir comunhão vai resolver problemas de casamento? Que idéia! Mas já que citou a hipótese de violência domestica, eu conheço alguns casos assim. Recordo-me de um em especial, em que gente "bem intencionada", católica, claro, que sem saber de nada, mas com a cabeça cheia de idéias mal formuladas sobre a vida dos outros, e inspirada em algum ideal tirado de novela, pressionava uma esposa que era surrada quase diariamente para que ela não pensasse em se separar e nem em dar parte na polícia, mas suportasse tudo com amor e paciência para "salvar" o casamento. Foi preciso a intervenção de alguns "não-católicos pervertidos" para por fim àquela barbaridade.

Citação:
Não sei se estou certo ou errado mas acho que temos aqui no fórum exemplos de casamentos longos que seguramente passaram por crises como todos os outros matrimonios.

Fico feliz por vc. Só queria lembrar novamente que cada caso é um caso, cuidado para não generalizar a sua experiência que, se pode ajudar a muitos, pode tb cometer injustiça com uns poucos. Os poucos com quem devemos nos preocupar, na minha opinião, pois são os que mais sofrem.

Paz e Bem.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 03 de January de 2007 10:37

é estranho que vc recorra sistematicamnte a exemplos extremos e que configuram uma visão deformada e se incomode quando o Tilleul faz o mesmo.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 03 de January de 2007 18:00

Oi camilo,

Citação:
camilo
é estranho que vc recorra sistematicamnte a exemplos extremos e que configuram uma visão deformada e se incomode quando o Tilleul faz o mesmo.

Na verdade, eu não me incomodo, ao contrário, isso faz parte de um debate. Agradeço de coração pela intervenção do Tilleul e peço a ele perdão se dei a entender que o desaprovava. Reconheço que a intenção era boa e ele levantou outro lado na questão. Eu tb acho que existe uma preocupação da igreja qto a salvaguardar o valor do sacramento, e, pode não parecer, concordo 100% com isso. Lembre-se que elogiei o tratamento que a igreja católica oriental dá para o assunto. Ela se apoia no princípio da oikonomia, mas até agora ninguém se mostrou particularmente curioso sobre qual ele seja, talvez pq não pareça ser "coisa nossa" (grande engano):

“Em consideração à fraqueza humana, a Igreja Ortodoxa autoriza o divórcio quando se encontram esgotados todos os meios para salvar um casamento. Ela tolera um novo casamento a fim de evitar novos dramas humanos”. (...)

As Igrejas Ortodoxas aplicam nestes casos o princípio da oikonomia. A oikonomia tem como base a experiência do bom administrador da casa, que sabe cuidar com vigor e ternura de sua família. Segundo B. Häring, a “oikonomia significa a completa obra salvífica de Deus, que é entendida como o bom Pai de família, numa espiritualidade que é modelada no louvor do Administrador (oikonomos) repleto de misericórdia da Igreja, confiante no Bom Pastor, que conhece a cada um e o chama pelo nome e, em caso de necessidade, deixa o pastoreio das 99 ovelhas sadias e, com seu vigor, amor e vontade salvífica, vai ao encontro da única ovelha desgarrada do rebanho”.

A oikonomia é uma ação pastoral e pedagógica da Igreja, que se deixa conduzir pela “condescendência misericordiosa de Deus, que se abaixa até a miséria do homem para levantá-lo até si com uma paciência respeitosa dos seus ritmos de crescimento e da sua nem sempre vencível fraqueza”.

O serviço que se ocupa dos casais em crise é confiado ao pai espiritual da Igreja, que é o bispo. Ele faz de tudo para que não aconteça a morte moral do matrimônio. Se essa morte acontece, os sujeitos da ação sacramental matrimonial, que são os próprios cônjuges, não podem ser relegados ao abandono da Igreja. A morte moral de um matrimônio equivale, pela sua própria natureza, à total ruptura destruidora da base indissolúvel do matrimônio. Isso ocorre, quando um dos cônjuges torna impossível a vivência da prática religiosa do outro cônjuge, ou ainda quando a sua integridade física e psicológica é ameaçada. O trabalho misericordioso consiste num acompanhamento muito próximo das partes em causa, que pode durar de dois a cinco anos de penitência, com a conseqüente exclusão dos sacramentos. Essa prática serve como penalidade medicinal aos divorciados, para que possam se emendar e revitalizar a sua vida interior em prol de novas núpcias na Igreja. Os cônjuges devem demonstrar claramente, durante esse longo período de tempo, que estão dispostos a retornar à prática da fé, tendo em vista reparar os motivos de escândalo relacionado sobretudo ao adultério cometido.

É importante ressaltar que a morte moral do primeiro matrimônio é sempre vista em caráter excepcional. O recurso da condescendência pode ocorrer apenas uma outra vez nessas Igrejas, permanecendo, todavia, o ideal da indissolubilidade do matrimônio, não porém aplicado em modo absoluto como na Igreja Católica (romana).


Desculpe-me ainda se aproveito esse post para tentar esclarecer um pouco sobre as posições "deformadas" que eu apresento aqui dos assuntos religiosos que dizem respeito a nossa igreja. Sinto-me parte dela e já disse em outro lugar: sinto que ela é mais evangélica qdo acolhe e corrije como mãe do que qdo julga e condena como juiz. Acho que sou parte desta igreja e carrego com ela os erros e acertos, então procuro me informar sobre ela e não me sinto obrigado a elogiar tudo só pq foi dito por algum padre. Não vejo os padres como seres especiais diferentes e acima dos leigos pobres coitados, somos cristãos juntos! "Só existe um único pastor." Se estou enganado em algum assunto, e este é um fórum de debates, então me corrija, apresente argumentos, me mostre o texto bíblico ou as passagens dos pais da igreja. Reconheço o valor dessas fontes e vai descobrir que as acolho bem. Qdo critico não faço como alguém de fora da igreja mas como um membro dela, e como membro acho que é um desserviço estar a dizer sempre amém para tudo qdo sente que algo está errado; e se vê gente sofrendo e não acha que nada está errado talvez seja um sinal para começar a se informar melhor. Dizer que apresento "visões deformadas" sem dizer como ou porque não vai mudar nada, não costumo ceder a esse tipo de chantagem. Ainda sobre o assunto do tópico:

O texto do c. 915 afirma que: “Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditados, depois da imposição ou declaração da pena, e outros que obstinadamente persistem no pecado grave manifesto”.

O egrégio Pontifício Conselho compara esse texto com o texto do Código dos Cânones das Igrejas Orientais, o qual afirma: “Devem ser impedidos de receber a divina Eucaristia aqueles que são publicamente indignos”.

O Pontifício Conselho apresenta três condições para justificar o pecado grave manifesto:
“a) O pecado grave, entendido objetivamente, porque da imputabilidade subjetiva o ministro da Comunhão não poderia julgar; b) A perseverança obstinada, que significa a existência de uma situação objetiva de pecado que perdura no tempo e à qual a vontade do fiel não põe termo, não sendo necessários outros requisitos (atitude de desacato, admoestação prévia, etc.) para que se verifique a situação na sua fundamental gravidade eclesial; c) O caráter manifesto da situação de pecado grave habitual”.

Em seguida, a declaração do Pontifício Conselho alega que seria prudente não recusar publicamente a sagrada comunhão aos recasados, sem antes ter com eles uma longa conversa, evitando-se assim motivos de escândalo ainda maior.22 Antes de toda e qualquer negação, o diálogo é um direito dos fiéis. Assim, ter dos pastores uma convincente explicação sobre o verdadeiro sentido dessa norma, mesmo não a compreendendo, ajuda-os ao menos a respeitá-la.

Por outro lado, não é prudente que o ministro extraordinário da distribuição da comunhão negue a eucaristia a um divorciado. Tal ministro, naquele exato momento, não está em condições de avaliar, objetivamente, até que ponto o fiel é indigno de recebê-la. Pode acontecer o caso em que o fiel tenha se confessado e se emendado, minutos antes da celebração eucarística. Deste modo, estaria o fiel habilitado de direito e de fato para a comunhão eucarística. É melhor dar a comunhão a esse fiel, mesmo que esteja na dúvida de consciência, do que provocar um motivo de escândalo. A negação da Eucaristia pode inclusive desencadear um processo contra o ministro, por motivo de difamação (GS, 26; c. 220).

Contudo, mesmo tentando amenizar a problemática com palavras suavizantes, a declaração é taxativa, quando afirma que: “Qualquer interpretação do c. 915 que se oponha ao conteúdo substancial, declarado de modo incessante pelo Magistério e pela disciplina da Igreja ao longo dos séculos, é claramente fonte de desvios”.


Ou seja, só tenho que louvar a Deus e agradecer qdo encontro um teólogo na nossa igreja que tem espírito para escrever isso:

"No meu modesto modo de pensar, essa declaração tem grande prestimosidade eclesial, porque exorta os pastores a serem fiéis ao Magistério da Igreja, não se desviando de sua doutrina e não provocando confusão no inteiro Povo de Deus, sobretudo numa questão delicada e complexa quanto a comunhão dos divorciados recasados. O problema, no entanto, é mais profundo. Se a exegese do c. 915, particularmente do texto: que obstinadamente persistem no pecado grave manifesto, fosse relacionada somente aos divorciados recasados, esse texto permaneceria estacionado apenas na sua superficialidade. (...)

Penso que deveríamos ser mais ousados e confrontar mais os documentos da Igreja com a praxe pastoral, para não excluir da eucaristia pessoas que não merecem ser excluídas. Essa problemática deve ser encarada na ótica do Bom Pastor, para que todos possam merecer um atendimento espiritual qualificado, com prudência e misericórdia. Sem a devida análise e escuta atenta dos que vivem em uniões irregulares, em especial dos divorciados recasados, não estamos autorizados a condená-los eternamente ao martírio em que vivem. A meu ver, nós, que somos Igreja, deveríamos ter um olhar benevolente diante do martírio que sofrem certos casais, fazendo de tudo para ajudá-los nesse empreendimento. A caridade é maior do que qualquer norma ou lei, desde que o fato não seja um escândalo para a comunidade. Cada caso é um caso e, por isso, deve ser analisado atentamente, independente da questão de poder comungar ou não na eucaristia. A comunidade onde a pessoa reside e participa também precisa ser trabalhada, tendo como modelo a misericórdia de Jesus diante da pecadora pública (Jo 8,1-11). Se nem Jesus a condenou, nós teríamos a coragem de negar a eucaristia a uma pessoa que vive o martírio de um matrimônio falido na Igreja, ou que vive na expectativa de um matrimônio em que uma parte não esteja ainda preparada ao consentimento?

Que o Espírito do Senhor amplie o espaço de nossas tendas, em favor da condescendência, do resgate da dignidade humana de cada divorciado recasado, como criatura que deve ser amada e respeitada por todos os cristãos.
"


PS: não estou conseguindo colocar links na msg, é algum defeito ou estou fazendo errado? (será que agora vai?)

fonte: [www.itf.org.br]



Editado 4 vezes. Última edição em 03/01/2007 18:23 por firefox.

Re: Recasados e Eucaristia
Escrito por: riparius (IP registado)
Data: 09 de January de 2007 07:58

Um casal deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que um casamento não termine. Mas por vezes a separação é o melhor para ambos e para os filhos.
O que está escrito nos Evangelhos não deve ser tornado lei, mas deve ser estudado e reflectido. Não sei se Cristo apenas queria acabar com uma pratica banalizada naquela altura, mas sei que Deus não quer que os seus filhos sejam infelizes. Os tribunais eclesiasticos são uma forma de fariseismo. Cada um só responde perante Deus. A igreja só tem dois caminhos, ou se afunda cada vez mais em leis, dogmas e códigos de conduta, afastando de si os crentes, ou dá liberdade e responsabilidade aos crentes para tomarem as suas decisões sem se sentirem excluidos. Tolerância, misericórdia, compaixão, solidariedae, amor, entreajuda são palavras que devem ser usadas mais vezes. Foram estas as únicas leis que Cristo nos deixou.



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