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Dois Cardeais Portugueses Que Nunca (?) Existiram
2001-05-22 18:57:39

A tradição apontava, até há pouco tempo, os nomes de 39 cardeais portugueses desde o século XIII (excluindo os actuais D. José Policarpo e D. José Saraiva Martins).

Mas, afinal, há dois deles, do século XIII, sobre os quais os historiadores têm muitas dúvidas em dizer que tenham sido cardeais, ou portugueses, ou sequer que tenham existido.

É o caso do assim chamado Mestre Gil (ou Egídio), que em obras clássicas como a "História da Igreja em Portugal", de Fortunato de Almeida, é apresentado como sendo o primeiro purpurado português, nomeado em 1216. E também o daquele que seria o terceiro na ordem, Ordonho Alvarez, que teria sido bispo de Frascati, nomeado em 1278.

"Há uma tradição que os costuma citar como cardeais, mas não há qualquer base documental", diz ao PÚBLICO a historiadora Maria João Branco, professora da Universidade Aberta, que tem uma tese sobre o poder real e eclesiástico nos reinados de Sancho I e Afonso II. O primeiro cardeal português sobre o qual há certezas absolutas é Pedro Hispano, que viria a ser Papa com o nome de João XXI.

Também o historiador inglês Peter Lineah, num estudo publicado em Cambridge sobre a Igreja Católica hispânica no século XIII, afirma que as referências ao cardeal Gil não são de confiança. Há uma outra figura, também do século XIII, o cardeal Gil Torres, ou Gil Hispano, que, esse sim, foi cardeal, nomeado pelo Papa Honório III, mas de quem "não se sabe se é português".

O que acontecia nesta época, explica Maria João Branco, é que havia vários homens que defendiam os interesses dos reinos hispânicos junto do Papa. "Daí a dizer-se que eram portugueses vai um passo muito grande." E poderão ser essas ligações à Cúria Romana a explicar as referências de cardeal que a tradição apontava a Mestre Gil ou a Ordonho Alvarez. Este último foi arcebispo de Braga, nomeado pelo Papa Nicolau III como cardeal em 1279, mas não seria de origem portuguesa.

Ou seja, o número de 39 estará correcto, mas apenas se já contarmos com os dois cardeais nomeados há três meses pelo Papa João Paulo II.

Fonte Público

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