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Papa Pede Perdão em Atenas Pelos "Pecados Contra Os Ortodoxos"
2001-05-05 09:23:01

A primeira visita à Grécia de um Papa desde 1054 foi agitada. Houve cartazes nas ruas de Atenas a chamar-lhe "anti-Cristo". Dirigentes religiosos protestaram contra o convite formulado pelo Governo socialista de Costa Simitis. Mas o arcebispo primaz Christodoulos respondeu ao pedido de desculpas do pontífice propondo um diálogo teológico sincero e a "unidade" de todos os cristãos



Após quase mil anos de guerras, disputas teológicas, acusações mútuas, muitos equívocos e sofrimento, o Papa protagonizou ontem em Atenas uma espectacular aproximação à Igreja grega, uma das igrejas ortodoxas mais intransigentes, durante a primeira etapa da sua 93ª peregrinação internacional. De forma humilde, e perante o chefe da Igreja ortodoxa grega, arcebispo Christodoulos, que o recebeu no seu arcebispado na capital grega, João Paulo II pediu perdão pelos "católicos que pecaram contra os ortodoxos".

Uma declaração surpreendente, durante a primeira e histórica visita "em peregrinação" à Grécia de um Papa desde o Grande Cisma de 1054, protagonizado por Roma contra os cristãos do Oriente. "Por todas as ocasiões passadas e presentes onde os filhos da Igreja católica pecaram pela acção ou pela omissão contra os seus irmãos e irmãs ortodoxos, possa o Senhor conceder-nos o perdão que nós Lhe pedimos", acrescentou o Sumo Pontífice, que sublinhou o desejo de "promover o caminho da unidade com todas as Igrejas".

Nesta sua viagem impregnada de simbolismo, o Papa prepara-se ainda para criar mais um novo facto da história das religiões, ao tornar-se também no primeiro líder da Igreja católica a penetrar no interior de uma mesquita quando visitar Damasco, segunda e última etapa deste seu périplo inserido nas comemorações do Jubileu do ano 2000.

A Igreja grega vinha exigindo um arrependimento ao Vaticano pelas "crueldades que os seus fiéis infligiram aos ortodoxos durante a Quarta Cruzada". Ao desviar-se do seu objectivo inicial, a Terra Santa, esta cruzada dirigida por francos e venezianos atacou, saqueou e massacrou em Constantinopla (actual Istambul) no início do século XIII, provocando o início da agonizante decadência da esplendorosa capital do cristianismo oriental, que acabará por ser conquistada pelos turcos otomanos, de religião muçulmana, em 1453.

"O gelo foi quebrado!", comentou de forma entusiasta, e citado pela AFP, um comentador da televisão pública grega. Christodoulos, conhecido pelas suas firmes posições "antipapistas", aplaudiu com outros dignitários ortodoxos a confissão de arrependimento do chefe do Vaticano. Antes, o arcebispo de Atenas e primaz da Grécia tinha pronunciado um discurso sobre a "verdade no amor", onde dissecou os motivos que "envenenam desde há mil anos" as relações entre as duas Igrejas, com referência particular para os "actos de violência inaceitável contra os povos ortodoxos", numa referência às Cruzadas, e a questão dos uniatas, os católicos de rito oriental que reconhecem a jurisdição papal.

Numa resposta ao gesto de humildade papal, Christodoulos desejou um "diálogo teológico sincero" e sugeriu que a visita do Papa deve permitir "o início de desenvolvimentos positivos sobre a grande questão da unidade de todos, para a glória de Deus". E ofereceu um grande ícone da Virgem a João Paulo II, para "rezar pela unidade das nossas duas Igrejas".

A polícia ergueu um dos maiores dispositivos de segurança jamais montado no país, para dissuadir os "integristas ortodoxos" que se têm insurgido contra a visita. Esta foi precedida de ruidosas manifestações anti-Vaticano. Responsáveis religiosos saíram à rua, com as suas vestes negras, erguendo cartazes que chamavam ao Papa "anti-Cristo" e mostravam o saque pelos cruzados de Constantinopla. Os mais exaltados criticavam a peregrinação com que João Paulo II tenta imitar o percurso do apóstolo Paulo da Síria até Malta.

Com 80 anos, o Papa, vergado pelo peso da idade e por diversos problemas de saúde, beijou um pedaço de terra grega que lhe foi apresentado num lenço logo à saída do avião. Nesse preciso momento, muitos sinos ecoaram e muitas bandeiras negras terão sido erguidas nos mosteiros, um sinal de protesto destas comunidades religiosas que não esconderam a sua profunda hostilidade face à visita papal.

Especialistas do Vaticano definiram esta peregrinação à Grécia como uma das deslocações mais delicadas do Papa, num país "hostil", onde 97 por cento da população de dez milhões de habitantes se declara ortodoxa, e onde a pequena minoria católica não deverá ultrapassar as 60 mil pessoas. Nenhum elemento da Igreja ortodoxa compareceu no aeroporto para acolher o peregrino, e as ruas estavam quase desertas quando João Paulo II foi conduzido ao encontro do Presidente da Grécia, Constantin Stephanopoulos, principal "arquitecto" desta deslocação.

Na sequência das fervorosas manifestações "antipapistas" que precederam a visita, cerca de 150 "calendaristas", segundo a AFP, reuniram-se numa capela junto da Acrópole. Adeptos do calendário juliano, preterido pelo calendário gregoriano adoptado pelo mundo ocidental em 1582, voltaram a exigir a saída do Papa da Grécia, rodeados por agentes de segurança.

No final da tarde, João Paulo II teve a oportunidade de contactar pela primeira vez com os seus fiéis, quando se encontrou na catedral católica de Atenas com cerca de 270 católicos da Grécia e 200 crianças. Para hoje, está prevista uma celebração religiosa num estádio com 18 mil lugares.

Fonte Público

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