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FIÉIS DÃO MENOS ESMOLAS NAS MISSAS
2002-02-07 21:04:08

A entrada em vigor do Euro não foi nada benéfica para as contas da Igreja Católica portuguesa.

Embora não haja números concretos, a maior parte das dioceses aponta para uma quebra de receitas nas caixas de esmolas e nos ofertórios das missas, em Janeiro, na ordem dos 50 por cento, em relação a igual período do ano passado. O assunto está a ser levado a sério pelos responsáveis eclesiásticos, prevendo-se mesmo que integre a agenda da reunião da Conferência Episcopal Portuguesa, marcada para logo à noite em Fátima. Sendo certo que, já no último trimestre do ano passado, ao que tudo indica devido à recessão económica, se tinha registado uma "baixa significativa" no volume das ofertas doadas pelos católicos nas igrejas portuguesas, tanto nas caixas dos diversos altares como no ofertório das missas, a verdade é que, com a entrada em circulação da nova moeda, verificou-se um corte "quase drástico" no montante das oferendas. O fenómeno está a atingir praticamente todo o País, mas com especial incidência no Norte, Interior Centro e Alentejo. Em Braga, a maior diocese de Portugal, com 550 paróquias, e uma das que mais contribui para o 'bolo' financeiro da Igreja portuguesa, as previsões mais optimistas apontam para a recolha, em Janeiro, de metade da receita 'angariada' no mês de Dezembro. O cónego Eduardo Melo Peixoto, vigário geral da arquidiocese de Braga, disse ao Correio da Manhã que, embora não haja dados definitivos, "é concreta e bastante significativa a redução no volume de esmolas desde a entrada em circulação do Euro". A causa deste fenómeno não está ainda apurada, mas tudo indica que as pessoas, na sua generalidade, não tenham ainda uma noção concreta do real valor de uma determinada quantia de euros ou cêntimos.

'Onda rosa'

Em nenhuma diocese se coloca a hipótese de anular obras em curso ou alterar projectos já delineados, mas admite-se a possibilidade de renegociar alguns prazos de pagamento, tomando por certo que esta quebra de receitas "é uma situação passageira". O monsenhor Silva Araújo, capelão da igreja dos Congregados, uma das mais frequentadas da cidade de Braga, disse ao CM que, "no passado, a moeda mais pequena valia cinco escudos, mas agora vale apenas dois (um cêntimo) e ainda há uma que vale quatro (dois cêntimos)". "As despesas são exactamente as mesmas, acrescidas até dos valores da inflação, e os donativos das pessoas têm sido muito inferiores", disse o capelão. "As pessoas ao darem, por exemplo, dez cêntimos pensam que já estão a dar uma boa esmola, sem reflectirem que são apenas vinte escudos". Mas pior que os das cidades, estão os párocos das aldeias. Um deles, do arciprestado de Vieira do Minho, disse-nos mesmo, em tom de brincadeira, que "a onda rosa, afinal, está em plena força, porque quando olhamos para o prato do ofertório vemos sobretudo moedas cor-de-rosa (as de um, dois e cinco cêntimos)”. Como já foi referido, não é possível falar de valores concretos, mas pode ter-se uma ideia aproximada do 'golpe' que o euro provocou nas finanças eclesiásticas. Numa missa com 150 fiéis, o ofertório rendia, em média, doze a quinze mil escudos (cada pessoa colocava no prato cerca de cem escudos). Com o euro em circulação, a colecta pelos mesmos 150 fiéis dificilmente ultrapassa os 30 euros (seis mil escudos).

Lisboa é excepção

As dificuldades sentidas, sobretudo nos meios rurais, já levaram alguns sacerdotes a explicar, nas homilias, o valor de algumas moedas, nomeadamente as de 50 cêntimos e um euro, sublinhando que é a essas moedas que corresponde o valor de cem e duzentos escudos (o valor habitual das esmolas). As maiores quebras de receitas, nos ofertórios e nas caixas de esmolas, têm-se verificado nas dioceses de Braga, Vila Real, Bragança, Guarda, Évora e Beja. Nas restantes, embora com muito menor incidência, os indicadores também apontam nesse sentido. A grande excepção parece ser a diocese de Lisboa. O padre Jardim Gonçalves, porta-voz do Patriarcado, disse ao CM que "ainda nenhum pároco comunicou qualquer alteração no montante das oferendas", realçando que, pelos dados de que dispõe, "as pessoas continuam a oferecer à Igreja o mesmo que ofereciam até agora". Não tendo nenhuma explicação para o facto, o padre Jardim Gonçalves admite que isso possa dever-se a "um maior índice de esclarecimento das pessoas dos grandes centros no que toca à nova moeda". Esta ideia é, aliás, sublinhada pelo padre Mário Rui Pedras, arcipreste de Lisboa, para quem "as esmolas sempre foram magras e não foi com a entrada em vigor da nova moeda que deixaram de o ser". Os responsáveis do Santuário de Fátima dizem que "ainda não há dados que permitam fazer qualquer comparação", mas em S. Bento da Porta Aberta (perto do Gerês), o segundo Santuário onde são depositadas mais esmolas a seguir a Fátima, a direcção da Irmandade não esconde "alguma preocupação" resultante de uma "acentuada quebra no volume das esmolas depositadas no santuário ao longo do mês de Janeiro".

Fonte CM

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