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Irmão Roger Desafia Católicos, Protestantes e Ortodoxos à
2004-12-27 18:07:02

O irmão Roger, fundador da comunidade monástica de Taizé, que a partir de terça-feira promove em Lisboa o Encontro Europeu de Jovens, escreve que "restabelecer a comunhão" entre cristãos separados "é hoje urgente".

Na carta "Um Futuro de Paz", que será debatida pelos cerca de 40 mil participantes do encontro, o prior desta comunidade que reúne monges católicos e protestantes diz que essa tarefa "não se pode adiar permanentemente até ao fim dos tempos".
No texto, traduzido em 55 línguas, o irmão Roger manifesta a ideia de que a procura da paz "está na própria origem da construção da Europa", diz que "o amor de Deus pode desabrochar num coração marcado pela dúvida" e afirma que "a oração não afasta das preocupações do mundo".
A reconciliação entre os cristãos divididos é o tema central do fundador de Taizé, comunidade que foi buscar o nome à pequena aldeia da Borgonha onde o então jovem pastor calvinista Roger Schutz se fixou em 1940: "Jesus Cristo veio à terra não para condenar, mas para abrir aos homens caminhos de comunhão."
Os cristãos são, hoje, "chamados a avançar juntos sem se separarem uns dos outros", mesmo se ao longo da história, "surgiram separações entre os que, afinal, se referiam ao mesmo Deus de amor", acrescenta, para afirmar: "Restabelecer a comunhão é hoje urgente, não se pode adiar permanentemente até ao fim dos tempos." E o irmão Roger pergunta: "Será que fazemos tudo para que os cristãos despertem para o espírito de comunhão?"
Confiança no futuro
Já há quem faça essa experiência: são cristãos que "desejam tornar Cristo presente a muitos outros" e que "sabem que a Igreja não existe para ela própria mas para o mundo, para depositar nele um fermento de paz". A Igreja não pode, mesmo, ser espaço de "severidades recíprocas, mas só transparência, bondade do coração, compaixão".
A carta "Um Futuro de Paz" será retomada durante todo o próximo ano nos encontros que reúnem em Taizé milhares de jovens - chegam a ser sete mil por semana. A estes jovens o irmão Roger, de 89 anos, quer incutir uma mensagem de confiança no futuro: "Deus tem para vós desígnios de paz e não de calamidade; Deus quer dar-vos um futuro e uma esperança", escreve, citando o livro bíblico de Jeremias.
São "inúmeros" os que "aspiram" e "procuram (...) preparar um futuro de paz e não de infelicidade". São jovens que "não se deixam arrastar por uma espiral de melancolia", que "sabem que Deus não nos criou para sermos passivos e que a vida não está submetida aos acasos da fatalidade".
Perante o "cepticismo ou o desânimo" que se verificam mesmo em processos como o da unificação da Europa, o irmão Roger diz que "é preciso não parar no caminho". Sobre a construção europeia, escreve: "A procura da paz está na própria origem da construção da Europa. Mas esta não nos interessaria se tivesse como única finalidade criar um continente mais forte, mais rico, e se a Europa cedesse à tentação de se fechar dentro das suas fronteiras. A Europa torna-se plenamente ela própria quando se abre aos outros continentes, solidária com as nações pobres."
E acrescenta: "A sua construção encontra sentido como patamar ao serviço da paz de toda a família humana. Eis a razão pela qual, se o nosso encontro de fim de ano se chama ‘‘‘‘Encontro Europeu’‘‘‘, gostamos ainda mais de o considerar como uma ‘‘‘‘peregrinação de confiança através da terra’‘‘‘."
Oração e simplicidade
A fé - ou as dúvidas sobre ela - são outro tema da carta (cujo texto integral pode ser encontrado na internet, em www.taize.fr). "Muitos se interrogam: o que é a fé? A fé é uma confiança muito simples em Deus, um indispensável impulso de confiança, permanentemente retomado ao longo da vida. Em cada um de nós, pode haver dúvidas. Elas não têm nada de inquietante."
Afirmações que não surpreendem tendo em conta que, entre os jovens que buscam Taizé, há muitos que se entendem como descrentes ou pessoas em busca de Deus. "Há quem tenha feito esta descoberta surpreendente: o amor de Deus pode também desabrochar num coração marcado pela dúvida", escreve o irmão Roger.
Citando Dostoievski - "Sou um filho da dúvida e da descrença [mas] não há nada de mais belo, de mais profundo, de mais perfeito que Cristo" -, o irmão Roger diz que este "homem de Deus deixa pressentir que o incrédulo coexiste nele com o crente" mas nem por isso "o seu amor apaixonado por Cristo" fica diminuído.
A oração, marca identitária de Taizé para os jovens que procuram a comunidade, merece também uma referência na carta: "Bastam poucas palavras, por vezes desajeitadas, para entregar tudo a Deus, tanto os nossos medos como as nossas esperanças."
Oração e simplicidade de vida tocam-se profundamente: "Simplificar a vida permite partilhar com os mais carenciados, de forma a aliviar a dor, onde quer que exista doença, pobreza, fome..." Preocupações que a oração não afasta: "Pelo contrário, não há nada de mais responsável que a oração: quanto mais vivermos de uma oração muito simples e humilde, mais somos levados a amar e a expressar o amor através da nossa vida."

Fonte Público

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