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Reencontrar Deus em LISBOA
2004-12-27 18:04:07

"Reencontrar o gosto da vida e o gosto de Deus." O irmão Émile, um dos monges da comunidade de Taizé que estão em Lisboa a preparar o Encontro Europeu de Jovens promovido por aquela comunidade monástica do sudeste de França, expressava deste modo ao PÚBLICO, ontem, um dos objectivos da iniciativa.

O título da carta que será debatida pelos jovens - "Um Futuro de Paz" - dá "um belo guia para o encontro", diz o irmão Émile, responsável da comunidade para os contactos com a comunicação social. Escrita pelo irmão Roger, fundador da comunidade, a carta será discutida durante os dias do encontro, cujas actividades principais decorrem na Feira Internacional de Lisboa (Parque das Nações), a partir de terça-feira e até dia 1 de Janeiro.

"A nossa sociedade perdeu o entusiasmo pelo futuro. Onde reencontrar esse entusiasmo?", pergunta Émile. "É preciso sair do desânimo e do derrotismo." Daí que a comunidade de Taizé organize, desde há 27 anos, o que designa como "peregrinação de confiança através da terra". "É preciso tornar acessíveis aos jovens fontes de esperança e de confiança."

Também a paz "está por compreender em todas as suas dimensões", incluindo a dimensão bíblica. Citando o filósofo Paul Ricoeur, no encontro de há dois anos, em Paris, o irmão Émile acrescenta: "A mensagem deste encontro pode ser: não construam a vossa vida sobre o medo."

O irmão Émile, um dos cerca de 60 monges de Taizé que estarão em Lisboa, diz que a comunidade está "muito feliz" com o número de participantes aguardados. Mesmo se se comparar com Barcelona - que acolheu 80 mil jovens no encontro de 2000, por exemplo.

"Apesar da grande distância a que Lisboa está do centro da Europa, estamos mesmo espantados com a adesão de muitos países." Refere o caso dos dois mil sérvios ou dos quase mil ucranianos - alguns dos quais chegam já depois de amanhã, deslocando-se depois à embaixada do seu país em Lisboa para votar nas eleições presidenciais de domingo.

A participação correu bem também no terreno: as famílias da região de acolhimento - Lisboa, Santarém e Setúbal - responderam com generosidade e os mais de 20 mil jovens estrangeiros serão acolhidos em casas particulares. Nas 27 edições do encontro europeu, esta é a segunda vez que isso acontece, depois da Polónia.

Ao nível ecuménico - a comunidade de Taizé reúne monges católicos e de diversas origens protestantes - há igualmente resultados. Várias paróquias protestantes também se mobilizaram para acolher jovens e, no dia 1 de Janeiro, os ortodoxos celebram uma eucaristia: a quase totalidade dos dois mil sérvios e outros tantos romenos são cristãos ortodoxos.

Aprofundar a fé, olhar para os desafios da sociedade e valorizar o encontro de culturas são as grandes linhas propostas pelo programa do encontro. "A paz é também o gosto da diferença, da curiosidade pelo outro", diz o irmão Émile. Na tarde de 31 de Dezembro, os participantes farão essa experiência mais imediata quando se encontrarem por países ou regiões, com a pergunta "como ser portador de paz no lugar onde se vive".

O mesmo acontecerá no dia 1 de Janeiro, quando os jovens participantes serão convidados a almoçar com as famílias que os recebem: é "um sinal de abertura ao outro, no dia da paz", diz o irmão Émile.

E o que pode ficar deste encontro? O irmão João, um dos dois portugueses que integram a comunidade de Taizé, diz que, depois dos encontros que se realizam ano após ano, em muitas cidades europeias, "é bonito ver as famílias que acolheram jovens falar dos laços que criaram". "Muitos desses laços continuam no tempo, através das cartas que se escrevem e das visitas que as pessoas se fazem."

Também para os cristãos e para a Igreja local a iniciativa pode ser um impulso: ver como se podem fazer "coisas bonitas com poucos meios, como diferentes grupos se podem descobrir, como pode continuar uma oração regular, aberta à cidade".

Muitos dos jovens que têm ajudado na preparação do encontro não estão próximos da Igreja, mas aqui sentem-se acolhidos e valorizados, diz o irmão João. "Isto permitiu-lhes descobrir os seus dons e a sua capacidade de criar com outros. Há pessoas que não participam em outras propostas da Igreja e que descobriram que aqui são valorizadas. Fica o desafio de as comunidades locais os saberem acolher."

Fonte Público

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