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Mensagem de Bento XVI para o 44º Dia Mundial de Orações pelas Vocações
2007-04-28 00:06:10

Veneráveis Irmãos no Episcopado,
Queridos irmãos e irmãs!

O Dia Mundial de Orações pelas Vocações (29 de Abril de 2007 - IV Domingo de Páscoa) é uma bela ocasião para vos colocar diante da importância das vocações para a vida e missão da Igreja e para intensificarmos as nossas orações para o seu crescimento em número e em qualidade. Por ocasião deste evento gostaria de chamar atenção de todo o Povo de Deus para um tema cada vez mais urgente: a vocação ao serviço da Igreja-comunhão.


No ano passado iniciei nas audiências das quartas-feiras uma nova série catequética sobre o relacionamento entre Cristo e a Igreja. Sublinhei que a primeira comunidade cristã foi originariamente construída quando alguns pescadores da Galileia, após o seu encontro com Jesus, foram tocados pelo seu olhar e pela sua voz, aceitando, em seguida, o seu urgente convite: “Vinde comigo, e farei de vós pescadores de homens” (Mc 1, 17; cfr Mt 4, 19). Na verdade, Deus tem escolhido sempre determinadas pessoas para trabalharem com Ele, de modo mais directo, e executarem o seu plano de salvação. O Antigo Testamento mostra como no início Deus chamou Abraão para fazer dele “uma grande nação” (Gen 12,2); depois, chamou Moisés para fazer sair do Egipto os filhos de Israel (cfr Ex 3, 10). Deus escolheu outras pessoas, especialmente os profetas, para defender e manter viva a aliança com o seu povo. No Novo Testamento Jesus, o Messias prometido, convidou cada um dos apóstolos para ficar a seu lado (cfr Mc 3, 14) e envolver-se na sua missão. Por ocasião da Última Ceia quando lhes confiou a missão de perpetuar a memória da sua morte e ressurreição até à sua vinda gloriosa no fim dos tempos, dirigiu-se ao Pai e fez a conhecida oração: “Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, para que o amor com que me amaste esteja neles, e Eu esteja neles também” (Jn 17, 26). A missão da Igreja, portanto, baseia-se na comunhão íntima e fiel com Deus.

A Constituição Lumen gentium do Concílio Vaticano II descreve a Igreja como “um povo unido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (n. 4), no qual se reflecte o próprio mistério de Deus. Reflecte-se nela o amor da Santíssima Trindade; pela obra do Espírito Santo, os seus membros formam “um só corpo e um só espírito” em Cristo. Esse povo, organicamente estruturado sob a direcção dos seus Pastores, vive o mistério da comunhão com Deus e com os seus irmãos, de modo especial quando se encontra na Eucaristia. A Eucaristia é a fonte da unidade eclesial pela qual Jesus rezou antes da sua Paixão: “Pai ... que todos sejam um [...] a fim de que o mundo acredite que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). Essa intensa comunhão favorece o surgimento de generosas vocações para o serviço da Igreja: o coração daquele que crê, cheio de amor divino, é animado a dedicar-se totalmente à causa do Reino. Para que as vocações sejam incentivadas, é importante organizar um trabalho pastoral direccionado precisamente ao mistério da Igreja-comunhão. De facto, quem vive na comunidade eclesial caracterizada pela harmonia, pela co-responsabilidade acolhedora, facilmente aprende a discernir o chamamento do Senhor. O cuidado das vocações, portanto, necessita de uma constante “educação” para ouvir a voz de Deus, como Eli fez quando ajudou o pequeno Samuel a compreender o que Deus lhe estava a pedir e a executar imediatamente a ordem dada (cfr I Sam 3, 9). É óbvio que o dócil e atencioso escutar, apenas pode acontecer num clima de íntima comunhão com Deus. Isso acontece principalmente na oração. De acordo com a ordem explícita do Senhor imploramos o dom das vocações, em primeiro lugar, pela oração incansável e em comunidade, ao “Senhor da messe”. O convite está no plural: “Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9, 38). O convite do Senhor corresponde exactamente ao estilo do “Pai-nosso” (Mt. 6, 9), a oração que nos ensinou e que se constitui como “a síntese de todo o Evangelho”, na opinião da expressão conhecida de Tertuliano (cfr De Oratione, 1, 6: CCL I, 258). Uma outra expressão de Jesus é, nesse contexto, extremamente iluminadora: “Se dois de entre vós se unirem, na terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no céu” (Mt 18, 19). O Bom Pastor convida-nos, portanto, a rezar ao Pai celestial, unidos e perseverantes, para que mande vocações para o serviço da Igreja-comunidade.

Acolhendo a experiência pastoral de todos os séculos passados, o Concílio Vaticano II salientou com grande clareza a importância de educar os futuros sacerdotes para uma autêntica comunhão eclesial. A esse respeito Presbyterorum ordinis orienta: “Exercendo, com a autoridade que lhes toca, o múnus de Cristo cabeça e pastor, os presbíteros reúnem, em nome do bispo, a família de Deus, como fraternidade bem unida, e por Cristo, no Espírito, levam-na a Deus Pai” (n. 6). A Exortação Apostólica pós-sínodal Pastores dabo vobis repete a afirmação do Concílio quando insiste que o sacerdote é “ servidor da Igreja-comunhão porque – unido ao Bispo e em estreita relação com o presbitério – constrói a unidade da comunidade eclesial na harmonia das diferentes vocações, carismas e serviços” (n. 16). Será indispensável que cada ministério e cada carisma no seio do povo cristão estejam direccionados à comunhão plena. É tarefa do bispo e dos sacerdotes promovê-la em harmonia com as outras vocações e os outros serviços eclesiais. A vida consagrada está, por natureza, ao serviço dessa comunhão, como foi salientado pelo meu predecessor João Paulo II na Exortação Apostólica pós-sinodal Vita consecrata: “À vida consagrada pertence seguramente o mérito de ter contribuído eficazmente para manter viva na Igreja a exigência da fraternidade como confissão da Trindade. Com a incessante promoção do amor fraterno, especialmente sob a forma de vida comum, a vida consagrada revelou que a participação na comunhão trinitária pode mudar as relações humanas , criando um novo tipo de solidariedade” (n. 41).

No centro de cada comunidade cristã está a Eucaristia, fonte e cume da vida eclesial. Aquele que se coloca a serviço do Evangelho e se alimenta com a Eucaristia progride no amor a Deus e ao irmão, contribuindo para a construção da Igreja-comunhão. Podemos afirmar que o “amor eucarístico” motiva e alicerça a actividade vocacional de toda a Igreja porque, como escrevi na encíclica Deus caritas est, as vocações para o sacerdócio, para os ministérios e serviços, desabrocham no Povo de Deus onde há pessoas nas quais Cristo pode ser visto através da sua Palavra, nos sacramentos e, especialmente, na Eucaristia. Isso acontece porque “na liturgia da Igreja, na sua oração, na comunidade viva dos crentes, nós experimentamos o amor de Deus, sentimos a sua presença e aprendemos deste modo também a reconhecê-la na nossa vida quotidiana. Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor” (n. 17).

Finalmente, voltemo-nos para Maria que deu apoio à primeira comunidade onde “todos tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração” (Act 1, 14) para que Ela ajude a Igreja a ser ícone da Santíssima Trindade no mundo de hoje. Um sinal eloquente do amor divino para todas as pessoas. Que a Virgem Maria, que respondeu prontamente ao chamamento do Pai, dizendo “Eis a escrava do Senhor” (Lc 1, 38), interceda para que no seio do povo cristão não faltem os servidores do amor divino, ou seja, sacerdotes que, em comunhão com os seus bispos, anunciem fielmente o Evangelho e celebrem os sacramentos, cuidem do Povo de Deus, e estejam preparados para anunciar o Evangelho a todas as pessoas. Que a sua ajuda faça crescer nos nossos dias o número de pessoas consagradas, que contra a corrente, vivam os conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência, dando profeticamente testemunho de Cristo e da sua mensagem libertadora de salvação.

Prezados irmãos e irmãs, chamados pelo Senhor às diferentes vocações particulares na Igreja, confio-vos, de modo especial, a Maria para que Ela, que, mais do que todos, compreendeu o significado das palavras de Jesus: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática” (Lc 8, 21), ensine a ouvir o seu divino Filho. Que Ela vos ajude a dizer através da vida: “Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (cfr Heb 10, 7). Com esses desejos, asseguro-vos um lugar nas minhas orações, abençoando-vos de todo o meu coração.

Cidade do Vaticano, 10 de Fevereiro de 2007
BENEDICTUS PP. XVI

Fonte Vaticano

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