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XIX Jornadas de Teologia
2007-03-29 22:57:56

I Dia das XIX Jornadas de Teologia
Iniciou, ontem, a XIX edição das Jornadas Teológicas subordinada ao tema Religião: uma marca de sucesso?
A semana abriu com o discurso do director da revista Cenáculo, Tiago Freitas, que apresentou os motivos que suscitaram a temática destas jornadas bem como a oportunidade de se fazer uma reflexão rigorosa e séria do assunto em três grandes áreas da sociedade contemporânea: no Desporto, na Publicidade e na Comunicação Social.


Para a reflexão acerca da presença do fenómeno religioso no Desporto foi convidado o Doutor José Luís Garcia. O conferencista procurou abordar as grandes questões que envolvem o mundo desportivo, apontando o factor económico e o “marketing” como dimensões essenciais para a sobrevivência e sustentabilidade do desporto em geral, ainda que o futebol seja o caso mais paradigmático desse fenómeno. O desporto, embora a sua reflexão se centrasse mais no futebol, é, em seu entender, “o palco para se perceber a mobilidade dos valores” e da sua rápida transmutação. A sua relação com a religião torna-se num tipo de religiosidade caracterizada como “a mais extrema de sempre”; cedeu de algum modo aos valores capitalistas em detrimento de valores como a coragem, a gratuidade, a bravura… Mas para o conferencista falar no desporto como religião ou religiosidade pode tornar-se ambíguo pois terá que colocar-se a pergunta: “Mas que religiosidade é esta que invadiu o mundo desportivo?” No seu ponto de vista, a velha áurea dos Jogos Olímpicos deu origem a uma nova áurea aliada ao capitalismo. Numa tentativa de especificar a mudança de paradigmas e de valores o conferencista recorreu ao conceito de pós-modernidade em que as sociedades estão mergulhadas na debilidade, num ecletismo fragilizado e de valores pouco profundos. Também deixou de fazer sentido a oposição entre ciência e religião, visto que sociologicamente essa posição não é verificável nem sustentável. Daí que o “elemento religioso esteja presente não apenas em toda a interpretação da vida social mas também da vida humana”. Por isso, o desporto, mais em concreto o futebol, não deixa de ser uma produção moderna de religiosidade, não constituindo de modo nenhum uma forma de religião porque esta requer uma comunidade estável, um código moral, um rito, uma crença e o futebol isso não tem nem possibilita sequer qualquer tipo de “religação” a algo. É um risco, por isso, ver no futebol um sentido religioso pois poder-se-ia correr o perigo da religião ser diluída e confundida com meros símbolos sentimentais do momento.

II Dia das XIX Jornadas Teológicas

Decorreu, ontem, o segundo dia da XIX edição das Jornadas Teológicas subordinadas ao tema Religião: uma marca de sucesso?
A conferência sobre "O discurso religioso na publicidade" foi proferida pela Professora Doutora Sara Balonas que estruturou o seu discurso numa parte mais teórica, apontando o que há de comum e de distinto entre religião e publicidade, e noutra mais prática com exemplos concretos onde essa relação próxima ou antagónica se verificasse. Assim, em seu entender, há um "antagonismo entre espírito e matéria" do ponto de vista publicitário. O espírito refere-se ao discurso religioso e a matéria ao objecto enquanto produto de consumo. A relação entre os dois é dada pela realidade simbólica ou por um conjunto de símbolos que a publicidade "comunica e comunga" do discurso religioso. A publicidade usa figuras da linguagem religiosa como a metáfora, as orações, os cânticos e a iconografia que tornam comuns determinados estilos espirituais, transpondo-as para o seu contexto próprio. Para a oradora, esta constatação cria uma certa cumplicidade na recepção da mensagem tornando-a eficaz. Há como que uma visão do mundo pela influência cristã que a publicidade traduz numa linguagem "acessível o inacessível". Se por um lado, nesta relação complementar, o religioso procura responder às grandes questões existenciais por um discurso que faça sentido, a publicidade procura fazer uma leitura da vida, das relações sociais e das suas formas estereotipadas. A conferencista referiu que muitos dos conceitos cristãos são descontextualizados do seu sentido específico para passarem a ser interrogatórios numa linguagem diferente que é a da publicidade. Esta é assim o "reservatório, a esponja que absorve diversos discursos e linguagens" contextualizando-os ao seu mundo. Daí que ela aponte para o sonho e para utopia por via do discurso simbólico como que a "estimular uma certa cumplicidade" na descodificação algo interno ou externo à pessoa que a recebe. Neste sentido procura ser um discurso conotativo e não denotativo. Assim, segundo a conferencista, as marcas publicitadas não revelam somente o objecto ou a intenção primeira do acto publicitário, mas também outros valores que o transcendem como a "comunhão, a esperança, a segurança..." Por isso a utilização de máximas, de provérbios, de linguagem trivial serve para exprimir um determinado objecto bem como determinados valores subjacentes. Há assim um aproveitamento inter-discursivo por parte da publicidade que gera determinados sentimentos protótipos a saber "o amor e a irreverência (tendência para a transgressão), a honestidade e solenidade, a segurança e o reconforto". Há ainda um discurso religioso marcado pelo humor que pode ser lido ou como um aproveitamento abusivo ou como consentido, marcando a fronteira e os limites entre o discurso religioso e o discurso publicitário. È necessário, por isso, que se estabeleçam limites éticos em certas narrações publicitárias na medida em que estão em jogo sensibilidades religiosas de uma determinada comunidade – conclui a conferencista.

Equipa das Jornadas Teológicas


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