Citação:Claro que se uma pessoa morre de fome pode ter tido o que merecia.
Olá.
Não vou comentar a frase, pois ela fala por si, fora que não quero alimentar polémicas inúteis.
Não concordo com o autor, que diz que "cada pessoa precisa de mais amor do que merece".
A frase é falaciosa.
Na verdade, por detrás desta frase, está um "à priori"... o à priori de ser eu a determinar qual é ou não é o nível de amor, melhor, a qualidade intensiva de amor que o outro sugeito merece, ou não!! Desta sorte, sou eu mesmo que atribuo o outro como noção de bem, dentro do limite subjectivo da minha noção de bondade, não olhando à bondade ontológica objectiva do outro sugeito.
Aprofundo um pouco mais: se eu digo que determinada pessoa não merece um nivel de amor qualitativamente superior, mas digo que precisa dele, automáticamente estou a me colocar numa atitude de falsa compaixão, numa postura sofisticadamente farisaica, pois sei de antemão (na verdade não sei) que o outro não merece um nível superior de amor, mas mesmo assim afirmo que precisa dele, e por isso dou-lhe mais amor.
Mas, nesta condições, em que a verdade sobre o outro, expressa na minha inteligência através de um juizo, me diz que esse sugeito não merece um determinado nível de amor, então a minha vontade, objectivamente voltada para a procura do bem, bem esse que me é informado pela inteligência, a minha vontade, dizia, procura um bem, que não é o outro sugeito (uma vez que o sugeito parece não merecer o amor que eu lhe possa dar), mas eu mesmo, através de uma falsa compaixão, que, sob a forma de amor, se traduz na expressão concreta de um sentimento de superioridade moral em relação ao outro.
Como pode a minha vontade buscar um bem (amar o outro sem limites), se a relação de conhecimento que estabeleço com os entes, através de um juizo, me diz que esse ente não é merecedor de mais que determinado nível de amor??
Se a inteligência informa a vontade, e vice-versa, de que um ente não é digno de mais que determinado nivel de amor, mas mesmo assim dou mais amor do que o ajuizado pela inteligência, e procurado como bem pela vontade (o que é impossivel), então é a mim mesmo que me procuro, é a mim mesmo que me amo, pois desde inicio me coloquei na condição de juiz do outro, dizendo o que ele merece, ou não merece, em termos de amor.
Feliz Natal para todos, e um 2011 cheio de coisas boas
Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)