Caros amigos,
Tenho dedicado algum tempo à pesquisa na internet sobre a oração do rosário. Na verdade, apesar de serem significativos e concordantes os textos a respeito da sua fundamentação e importância, escasseiam aqueles que se reportam à sua concretização prática. Por isso, vinha perguntar-vos se está definido nalgum local as partes do terço que são obrigatórias e as que são facultativas. Outra questão que me poderão esclarecer tem a ver com as três «Ave Maria» pelas intenções do Papa. De acordo com este site, e com outros portugueses, estas devem ser recitadas apenas no final. No entanto, a bibliografia de língua inglesa (cf. Catholic Encyclopaedia) é unânime em colocar essas orações logo ao início. Portanto, a este respeito, devo concluir que a ordem é opcional ou varia consoante a tradição de cada região?
Desde já, obrigado!

Boa tarde, Kairos-Nephesh.

Parece-me que a ordem não é rígida, mas varia conforme as tradições do lugar. Acho até que uma rigidez do tipo que falamos aqui iria contra o espírito da oração do terço, que prima justamente pela simplicidade do coração. É nesse sentido que costumo dizer que a oração do terço é das mais "simples" mas, ao mesmo tempo, das mais difíceis de se praticar. Acho-a difícil no sentido que é exigente por pressupor uma boa dose de "esvaziamento de si", de vários racionamentos nossos e do desejo de controlar tudo, para então se entregar e participar na contemplação dos mistérios. Algumas pessoas se dão bem com a oração do terço, outras não. Não há aí, entretanto, nenhum juízo de valor, e inclusive é bem sabido que Sta Teresinha (de Lisiex) não se dava bem com a oração do terço, o que não deixa de ter alguma ironia, visto que há até um "terço das rosas" que costuma ser associado ao nome dela - ver o texto autobiográfico da "História de uma Alma".

Por já ter estudado o assunto, suponho que sabe que a oração do terço nasceu dentro da espiritualidade monástica, e essa tem forte ligação com a espiritualidade oriental, embora existam algumas nuances diferentes entre o monaquismo ocidental e o oriental. Faz parte da tradição monástica a recitação dos salmos, que inspirou o Ofício Divino que é hoje também praticado por muitos fiéis laicos. Para os mais simples, muitos não sabiam ler, os monges substituiram os salmos por orações breves e bem conhecidas. O uso de jaculatórias, pequenas frases ou versículos que eram repetidos para criar um clima de meditação constante, tornou-se comum no que aqui conhecemos como "terço bizantino". Sobre isso procure ler sobre a "oração do nome de Jesus", sobre a qual existe um bom material nesse site de espiritualidade ortodoxa.

O uso das Ave-Marias, Glórias-ao-Pai e Pai-Nossos foi, de certa forma, assim "natural" entre os ocidentais, por serem orações breves, simples e bem conhecidas de todos. A contemplação dos mistérios fortaleceu mais o vínculo do coração com Jesus, que é sempre o centro de toda oração cristã. A prática, portanto, da oração do terço encontra uma boa instrução nas palavras que explicam a Oração do Coração (ver o site que indiquei) e nos que tratam sobre oração contemplativa. Sobre a oração contemplativa muita coisa poderia ser dita, o tratamento varia conforme as muitas escolas de espiritualidade católicas, mas a mim agradou o modo como os jesuítas tratam da contemplação. Sobre a espiritualidade jesuítica talvez encontre algo que te agrade nesse site Eides. Espero ter ajudado.

Paz e Bem.

"O rosário é a minha oração predilecta" Papa João Paulo II

"bendita a monotonia de avé-marias que purifica a monotonia dos meus pecados" S. Josemaria

Em Portugal, Nossa Senhora pediu-nos que rezássemos o terço todos os dias e, no primeiro sabado de cada mês que se fizesse a devoção do primeiro sábado. Se alguem nao souber o que é isto do 1º sabado, estou disponivel para explicar.

Citação:

tomas.cb
Em Portugal, Nossa Senhora pediu-nos que rezássemos o terço todos os dias

Não quero ofender susceptibilidades, mas quando os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a rezar, Ele ensinou-lhes o "Pai-Nosso".

Quanto a Maria ter pedido para rezar o terço, não sei. O que se passou em Fátima não é doutrina de fé.Foram visões privadas concedidas apenas a três crianças. Portanto os católicos podem rejeitar completamente todo aquele aparato, (o que é o meu caso), embora respeitem quem lá vai, e quem reza o terço, (o que também é o meu caso).

Só sei que Maria, nas bodas disse aos serventes: "Fazei tudo o que Ele vos disser". Ele, Jesus, claro.

Respeito e amo Maria como exemplo de fé, exemplo de disponibilidade, e por ter sido a "Cheia de Graça", a Mão de Deus. O mais bonito título que Lhe podemos dar.

Abraços

M.

Então mas se Fátima para ti não tem nenhum significado especial.

As palavras de Nossa Senhora que citaste referem-se a Deus.
Pergunto: Como acaba o terço?
Pergunto: porque é que Nossa Senhora disse "Faça-se em mim segundo a Sua palavra" quando o anjo anunciou a encarnação de Deus?

Reposta às duas perguntas: Nossa Senhora em toda a sua vida nunca fez nada para si mesma mas para maior gloria de Deus. O terço, se reparares, termina com uma cruz, ou seja, mais uma vez Ela encaminha-nos para Deus.

Rezo por ti.

Olá tomas.cb

Sei de tudo isso que dizes.

Não tenho nada contra Fátima nem contra o terço.

Só que não consigo REZAR com o terço, e provavelmente o problema estará em mim.

Também aquele aparato todo em Fátima, os vendilhões, as pessoas de joelhos, ou de rastos, (incluindo crianças), os joelhos em sangue, o dinheiro que entra nas contas do santuário etc. causam-me alguma repulsa.

Como também já disse por aqui, conheço muita gente que vai a Fátima com intenções de "manipular" Nossa Senhora.

Até sei de um caso de uma senhora que lá foi para pedir que o namorado da filha a deixasse etc.

Outros vão pedir milagres como se Maria os pudesse fazer. Outros vão com a intenção de dizer adeus à imagem. outros esquece-se de Cristo.

Sei que tudo em Maria aponta para Cristo, mas infelizmente para muitos Maria está acima de Cristo. Sei disso por testemunhos que ouvi pessoalmente.

É claro que também muitos vão a Fatima com o perfeito entendimento de que é realmente Jesus que conta.

Há muita falta de evangelização.

Em suma, não sou ninguém para julgar quem quer que seja. Apenas emito a minha opinião que vale aquilo que vale, e, repito-o, respeito imenso quem vai a Fátima, e quem reza o terço. Há gente muito boa que o faz, e que me dá autênticas lições de vida . Quer de solidariedade, quer de abnegação, quer de paciência, quer de amor, e que chegam a patamares que eu nunca chegarei.

Se calhar, estou a ter em conta apenas os "maus exemplos". Não sei. Provavelmente o problema será meu.

Quanto a rezares por mim, agradeço. Até peço que o faças. Não estou a ser nem irónico nem nada disso. Há uma grande falta de orações no mundo. Quase toda a gente pensa apenas em si, esquecendo os outros. O facto de saber que alguém reza por mim, traz-me algum consolo.

Um abraço amigo

M.



Editado 1 vezes. Última edição em 31/12/2009 09:59 por M. Martins.

M. Martins!

Antes de mais, desejo que o ano de 2010 seja Santo e peço a Nosso Senhor mais fé e alegria para ti (não estou a dizer que não tens, apenas peço mais).

Eu, pessoalmente, tenho uma devoção grande à oração do terço e, penso que, ao rezar esta mesma oração, devemos ter em conta que Nossa Senhora não faz nada para seu aproveitamento mas para maior glória de Deus.

Relativamente à questão das pessoas de joelhos, partilho contigo que até há muito pouco tempo concordava contigo. Actualmente discordo do que dizes face a pessoas que caminham ajoelhadas e sofrem porque apercebi-me de que muitas fazem aquilo por amor a Jesus e a Maria, ou seja fazem um sacrifício.
Sabemos que num sentido original, sacrifício é um dom feito a Deus. No entanto, nem todos os dons oferecidos a Deus são sacrifícios. Num autêntico sacrifício, a oferenda é subtraída ao uso humano e de alguma maneira destruída, para significar que é um dom que se faz a Deus. Nos sacrifícios pré-cristãos, se ofereciam um animal, este era morto sobre o altar e, frequentemente, consumido pelo fogo. Se ofereciam vinho, este era derramado no chão, diante do altar. Esta destruição do dom (nós o devolvemos a Ti, oh Deus!) e essencial à ideia de sacrifício.
Há um nome especial para o dom que se oferece a Deus em sacrifício: vitima. Originalmente, a palavra latina "victima" significava especificamente o dom que se oferecia a Deus em sacrificio. E o mesmo sentido que "vitima" tem a palavra "hostia" in a fé explicada, Leo J. Trese

Repara que Jesus, na cruz entregou-se pela redenção dos pecados e salvação dos homens.

Existem pessoas que fazem o acto em questão com verdadeiro amor e outras que, como referiste, fazem sem amor, pensando que estão a fazer algo de bom.

Concluo este assunto com duas coisas:

1- "Faz o que deves e está no que fazes" S. Josemaria
2- Procura ver o que de mau e bom existe na Igreja. Incentiva o que está bom e procura ajudar a melhorar o que está de menos bom. Uma coisa que me faz confusão é a existencia de pessoas que criticam a Igreja por X e por Y mas depois, no fundo, não mexem uma palha para que X e Y melhorem.

Rezo mesmo por ti. Não estás esquecido na minha oração (se quiseres que reze por alguma intenção em particular manda por mensagem privada).

Tal como Jesus disse, eu procuro fazê-lo: Todo aquele que quiser ser entre vós o primeiro, seja vosso escravo. Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida para resgate de todos (Mt 20, 26-30)

FORTE ABRAÇO C/ ORAÇÃO E AMIZADE,

tomas.cb