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«Relatos de um Peregrino Russo» e a «oração de Jesus»
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de January de 2009 02:34

Os temas de espiritualidade não têm abundado neste fóruns. Aqui fica um tópico que, embora seja uma sugestão de livro, é também mais do que isso.

O livro em questão é também uma espécie de manual para entrar num tipo de oração, a chamada «Oração de Jesus» ou «Oração do Coração». Trata-se do livro Relatos de um Peregrino Russo ao seu Pai Espiritual, disponível nas Paulinas.

Um livro para ser lido devagar e praticado.


Aqui ficam algumas indicações:

a) «Sinopse» do site das Paulinas:

Citação:
O Cristianismo, nos seus primórdios, como referiu João Paulo II, respirava a dois pulmões – a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente –, e a Tradição Oriental, até hoje, testemunha as riquezas dessa Igreja indivisa. É, por isso, uma experiência enriquecedora e estimulante adentrar o mundo da espiritualidade ortodoxa, através da reflexão destes Relatos de Um Peregrino Russo ao Seu Pai Espiritual, considerado um dos seus melhores manuais de meditação. As descrições e as narrações que contém mergulham-nos na vastidão geográfica e cultural da Rússia, nas suas tradições de acolhimento simples e caloroso e na inquieta e intensa procura da comunhão com Deus. O peregrino partilha com o leitor o seu desassossego pela experiência de Deus, descrevendo as suas itinerantes errâncias, pelos caminhos, pelas florestas e pelos aglomerados urbanos, sempre na procura de um aconselhamento que lhe permita alcançar a proximidade do Deus vivo.
Contém o método da célebre Oração do Coração.

«Finalmente editado em português “de Portugal”, este é um texto de autor anónimo, datado da segunda metade do século XIX. No centro desta pérola da espiritualidade está a prática da Oração do Coração. Esta consiste na repetição da Oração de Jesus “Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim, um pecador”, até ao ponto em que o coração e a mente já o rezam por si, sem cessar. O peregrino narra a sua busca por sabedoria sobre esta prática, a qual nos passa através das suas experiências ou diálogos didácticos com homens devotos. Caminhamos aqui na fronteira entre o religioso e o esotérico, mas ainda do lado da tradição canónica cristã, apoiada por argumentos racionais que divertem tanto quanto iluminam. Uma obra que tem ainda a vantagem de servir de porta de entrada para a rica espiritualidade cristã oriental.»
Filipe d’Avillez, in Revista Os Meus Livros.


b) Do blogue «Coração Místico» (vale a pena ler, apesar de algumas gralhas):

Citação:
RELATOS DE UM PEREGRINO RUSSO .

O livro RELATOS DE UM PEREGRINO RUSSO é um clássico da espiritualidade cristã oriental. Foi escrito por um monge russo anônimo, no século XIX. O PEREGRINO RUSSO conta a história de um homem que queria aprender a rezar. Ele ouviu certa vez na Bíblia que deveríamos "orar sem cessar". Ele procurou muitos mestres, e nenhum o satisfez, até que encontrou um monge (um starets) que lhe ensinou a ORAÇÃO DE JESUS, a repetição do nome de JESUS... O homem então começou a repetir o nome de JESUS até que a oração tomou conta de sua mente e de seu coração.

A ORAÇÃO DE JESUS consiste em sentar-se em silêncio, aquietar a mente e dirigir a atenção ao coração, procurando trazer a respiração ali, sentindo seu efeito. E, ao fazer isso, murmurar ou pensar nas palavras: "Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim”. Como água em pedra dura, a repetição vai amolecendo o coração do peregrino, “aprofundando- se em sua carne”. Ele repete as palavras 3 mil, 6 mil, 12 mil vezes ao dia. E passa por vários estados, do desconforto e preguiça iniciais às primeiras sensações de calor no peito, a purificação vinda pelas lágrimas, o sentimento de união com o mundo, a abertura para a paz, até atingir a experiência do amor divino. Esse homem alcançou a oração contínua, aprendeu a "orar sem cessar". Ele repetia o nome de JESUS o dia inteiro, e até durante o sono o nome de JESUS estava em seu coração.

O PEREGRINO RUSSO conta a história de como esse homem aprendeu a "orar sem cessar", por meio da ORAÇÃO DE JESUS, que consiste na repetição do nome de JESUS.


ALGUNS TRECHOS DO LIVRO RELATOS DE UM PEREGRINO RUSSO

"Por graça de Deus sou homem e sou cristão; pelas minhas ações sou um grande pecador. Meus bens são: as costas, uma sacola com pão duro, a santa Bíblia no bolso e só... Por estado, sou peregrino da mais baixa condição, andando sempre errante de um lugar a outro. No vigésimo quarto domingo depois de Pentecostes, fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia. Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi estas: 'Orai incessantemente' (1Ts 5,17). Foi esse texto, mais que qualquer outro, que se inculcou em minha mente, e comecei a pensar como seria possível rezar incessantemente, já que um homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida".

"É preciso lembrar-se de Deus em todo tempo, em todo lugar e em todas as coisas. Se fabricas alguma coisa, deves pensar no Criador de tudo o que existe; se vês a luz do dia, lembra-te Daquele que criou a luz para ti; se olhas o céu, a terra e o mar e tudo o que eles contêm, admira, glorifica Aquele que tudo criou; se te vestes com uma roupa, pensa Naquele de quem a recebeste e lhe agradece, a Ele que provê a tua existência. Em resumo, que todo movimento seja para ti um motivo para celebrar o Senhor: assim rezarás sem cessar e tua alma estará sempre alegre".

"A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais freqüência a Deus que nos ensine a rezar sem cessar. Rezar mais e rezar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela como rezá-la sem cessar; mas leva algum tempo".

"Dá graças a Deus, irmão muito amado, por haver-te Ele revelado essa invencível atração que existe em ti até a oração interior contínua. Reconhece nisso o chamamento de Deus e tranquiliza-te pensando que assim ha sido devidamente provado o acordo de tua vontade com a palavra divina; te ha sido dado comprender que não é nem a sabedoria deste mundo nem um vão desejo de conhecimento o que conduz à luz celestial —a contínua oração interior—, senão ao contrario, a pobreza de espírito e a experiencia ativa na simplicidade do coração".

"Como se aprende a oração, veremos neste livro que se chama Filocalia. Nele está contida a ciencia completa e detalhada da oração interior contínua, exposta por vinte cinco Padres. É tão útil e perfeito, que se lhe considera como o guia essencial da vida contemplativa, e, como disse o bem-aventurado Nicéforo, 'conduz a salvação sem trabalho nem dor'".

"Abriu o starets a Filocalia, escolheu uma passagem de São Simeão o Novo Teólogo e começou: 'Permanece sentado no silencio e na solidão, inclina a cabeça e fecha os olhos; respira suavemente, mira pela imaginação o interior de teu coração, recolhe tua inteligencia, quer dizer teu pensamento, de tua cabeça ao teu coração. Diz, ao ritmo da respiração: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”, em voz baixa, ou simplesmente em espírito. Esforça-te em lançar fora todos os demais pensamentos, sê paciente e repete com frequência este exercicio'".

"A oração de Jesus, interior e constante, é a invocação contínua e ininterrupta do nome de Jesus com os lábios, o coração, a inteligência, no sentimento da sua presença, em todo lugar, em todo tempo, até durante o sono. Ela é expressa por estas palavras: 'Senhor, Jesus Cristo, tende piedade de mim'".

"Ao cabo de certo tempo notei que a oração se originava sozinha dentro de meu coração, quer dizer que meu coração, batendo com toda regularidade, se punha em certo modo a recitar as palavras santas a cada batida; por exemplo: 1-Senhor, 2-Jesus, 3-Cristo, e assim com o demais. Deixava de mover os labios e escutava com atenção o que dizia meu coração, lembrando-me de quão agradavel é isto segundo me dizia meu falecido starets".

Alef

Re: «Relatos de um Peregrino Russo» e a «oração de Jesus»
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 19 de January de 2009 15:26

Citação:
Sinopse
O Cristianismo, nos seus primórdios, como referiu João Paulo II, respirava a dois pulmões – a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente –, e a Tradição Oriental, até hoje, testemunha as riquezas dessa Igreja indivisa.

Porquê? Porquê ela? E como testemunha isso se ela própria é o resultado de uma cisão, visto que eles e nós nos separámos?

Se a Oração de Jesus consiste na repetição incessante do nome de Jesus ou dessa pequenina frase, não se aplica a ela as críticas que tantas vezes tenho visto aplicadas ao Terço?

Cassima



Editado 1 vezes. Última edição em 19/01/2009 15:27 por Cassima.

Re: «Relatos de um Peregrino Russo» e a «oração de Jesus»
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 19 de January de 2009 16:20

Cassima:

1. Creio que o sentido da frase é o de que na Tradição Oriental encontramos muitos elementos que antes faziam parte de toda a Igreja e que com o tempo se foram perdendo ou apagando na Tradição Ocidental. De facto, algo já se vai fazendo nesta «recuperação». Um bom exemplo é a recuperação do lugar da «epiclese» (invocação do Espírito Santo) na celebração da Eucaristia, aquando da consagração do pão e do vinho. Da Tradição Oriental podemos aprender algo mais da solenidade dada à Liturgia, que na Tradição Ocidental prima pela sobriedade (ao contrário do que habitualmente se pensa). Temos bastante a aprender na atenção, teologia e devoção ao Espírito Santo. Uma das coisas que alguns Orientais dizem que apreciam da Tradição Ocidental é o lugar dado à Palavra de Deus (um dado para mim surpreendente). Os papas recentes têm sonhado com o regresso à comunhão plena destas duas tradições, mas há ainda muito trabalho e oração a fazer...

2. A oração de Jesus tem alguns pontos de contacto com o terço, mas é um tipo de oração muito diferente. A proximidade está essencialmente na repetição contínua de uma dada fórmula, mas depois as diferenças são muito significativas. Na «oração de Jesus» a oração faz-se ao ritmo da respiração (não é propriamente uma recitação), sem qualquer outra preocupação com qualquer tipo de estrutura. É uma oração também conhecida na tradição ocidental e praticada, há séculos, por algumas pessoas. No caso do terço, há uma estrutura, sobretudo na forma com a meditação dos mistérios: a fórmula repetida é muito mais complexa, há alternância de fórmulas e de «tema» e presta-se à recitação comunitária. Quanto àquilo a que chamas as críticas ao terço, não vejo muito sentido nessa expressão. Nenhum tipo de oração é um fim em si mesmo e não tem muito sentido dizer que este tipo de oração merece estas críticas ou aquelas, sobretudo se se trata de métodos há muito aceites na Igreja. Se uma pessoa não se dá bem com o terço, não tem que o criticar; use outro método. Em qualquer método de oração o que importa realmente é o fim: a união com Deus. Se isso se faz através do terço, da «Lectio Divina», da «oração do pobre», da «oração de Jesus», da «liturgia das Horas», de Ladainhas ou da contemplação de um texto bíblico, é bastante menos importante. Nem a toda a gente agrada isto, porque acham que com isto diminuo a importância do terço, mas repito: um dado método de oração (de que o terço é um exemplo) não é um fim em si mesmo. Podemos usar um ou outro método e alternar, não esquecendo a finalidade última.

Alef

Re: «Relatos de um Peregrino Russo» e a «oração de Jesus»
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 22 de January de 2009 14:16

Alef

Eu conheço muito mal a realidade ortodoxa. Mas estive há uns tempos num país ortodoxo e observei algumas coisas. Poucas, mas algumas... Visitei muitas igrejas, como turista, contudo não tive oportunidade de assistir a nenhuma celebração.

Mas deu para perceber que do ponto de vista devocional temos algumas semelhanças. Reparei que eles têm uma grande devoção aos santos e a Maria. Inclusive, numa igreja observei uma grande concentração de pessoas em bicha para irem tocar e rezar a um ícone que eles consideravam milagroso (acho que de Nossa Senhora).

As igrejas deles não têm estátuas, mas estão repletos de frescos, ícones, pinturas murais e cheguei a ver um alto-relevo.

Acho que eles têm também um grande desconhecimento em relação a nós (que reflectirá o nosso sobre eles). Por exemplo, várias pessoas do grupo sabiam como se benzem os ortodoxos, a pessoa que nos acompanhava, de instrução superior e ortodoxa, não sabia como os católicos se benzem.

Não conhecia essa particular devoção deles ao Espírito Santo, mas mesmo que agora já não esteja tão divulgada, no passado também teve algum peso cá, de que sobraram algumas tradições e usos. E não nos esquecendo dos Açores e da Festa do Divino Espírito Santo.

Cassima



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