Bilhete para o Paraíso

Aconteceu um pequeno facto — como tantos outros muito emocionantes para mim, mas que não são conhecidos. No dia seguinte àquele primeiro dia em que tive que mendigar, pelo cor­reio chega um sobrescrito onde encontrei um dos meus folhetos (que ainda conservo); uma nota de cem francos estava agrafada nele e tinha escrito:

«Ontem à noite, na Boulevard Saint-Germain, encontrei um padre, e esse encontro fez-me regressar ao Deus da minha infância. Obrigado».

Por vezes, brincando digo:
«Já tenho o meu bilhete de entrada no Paraíso».


Abbé Pierre - Esteville. Janeiro de 1995.

Feliz Dia da Mulher!...


Meu lado mulher


se incomoda em receber mensagens
apenas um dia por ano (8 de março),


enquanto que meu


lado homem se enche com 364 dias.


Talvez seja necessária esta efeméride,


dor recente de uma antiga cicatriz.


Porque se vive numa sociedade machista:


matrimônio, o cuidado do lar; patrimônio,


o domínio sobre os bens.


O marido possui o carro, a casa e a mulher,


que inclusive, em alguns países,


incorpora o sobrenome da família dele.


Ele exige que limpe a casa todo dia.


Manda o carro para a oficina ao menor defeito.


À mulher, ser multifacetado,


cabe o dever de cuidar da casa,


dos filhos,


das compras e do bom humor do marido,


que nem sempre se lembra de cuidar dela.





Meu lado mulher nunca viu o marido


gritar com o carro,


ameaçá-lo ou agredi-lo.


Enquanto nem ela é sempre tratada


com tanto respeito.


Na Igreja Católica os homens têm acesso


aos sete sacramentos.


Podem até ser ordenados sacerdotes e,


mais adiante,


obter dispensa do ministério e


contrair matrimônio.
As mulheres,


consideradas pela teologia


vaticana um ser naturalmente inferior,


só têm acesso a seis sacramentos.


Não podem receber a ordenação sacerdotal,


mesmo tendo merecido


de Jesus o útero que o engendrou;


o seguimento de Joana,


de Susana e da mãe dos filhos de Zebedeu;


a defesa da mulher adúltera;


o perdão da samaritana;


a amizade de Madalena,


primeira testemunha da sua ressurreição.





Meu lado mulher


tem pavor da violência doméstica;


do pai que assedia a filha,


enviando-a a perdição da prostituição;


do patrão que exige favores sexuais de sua funcionária;


do marido que levanta a mão para profanar


o ser que deu a luz a seus filhos.
Diante do televisor ou de um molho de revistas


meu lado mulher se estremece:


Cala a boca, Magda! Ela é burra,


a imbecil que move as cadeiras no fundo do cenário,


se mete na banheira do Gugu,


se expõe na casa do brother,


se associa à publicidade de cervejas e carros,


como um adereço a mais de consumo.





Meu lado mulher trata de resistir


diante do implacável jogo da


desconstrução do feminino:


tortura do corpo em academias de ginástica,


anorexia para manter-se esbelta,


vergonha das gorduras,


das rugas e da velhice,


entrega ao bisturi para que amolde a carne


ao gosto da clientela da carnificina virtual,


o silicone para ressaltar protuberâncias.


E manter a boca fechada,


até que haja no mercado um chip transmissor


automático de cultura e inteligência que


se possa enxertar no cérebro.


E engolir antidepressivos para tratar


de encobrir o buraco no espírito,


vazio de sentido, ideais e utopia.





Meu lado mulher


se esforça por se livrar do modelo


emancipatório que adota,


como paradigma, meu lado homem.


Será que ela tenta não querer ser como ele?


Navega em mares nunca dantes navegados,


rumo ao continente feminino,


onde as relações de gênero serão de alteridade,


porque o diferente não se fará divergente.


Aquilo que é só terá plenitude em


interação com seu contrário.


Como acontece em todo verdadeiro amor...

PARA TODAS AS MULHERES
2009!
O coração de uma mulher é o que faz o mundo girar !
Elas sabem que um abraço e um beijo podem curar um coração doente.
Mulheres fazem mais do que dar a vida.
Elas trazem alegria e esperança.
Elas dão compaixão e carinho.
Elas dão apoio moral à família e amigos.
As Mulheres têm muito que dizer e muito para dar.
Elas amam incondicionalmente.
Elas lamentam-se com a perda de alguém, no entanto são fortes quando os outros pensam que já não têm força.
Elas, se necessário fôr andam descalças, para que seu filhos não magoem os pés.
Elas brigam por aquilo que acreditam.
Mas levantam-se perante injustiça.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.
Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas não dão um "não" como resposta quando acreditam que existe outra solução.

PORQUE SERÁ QUE AS MULHERES SÃO TÃO IMPORTANTES ?
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Textos de Autor Desconhecido

Se você assim fizer, conseguirá obter tudo.
Concluindo: quer obter graças? Peça qualquer coisa em nome de Cristo, colocando em primeiro lugar a vontade dele, com a decisão de obedecer à Lei de Deus.
Deus fica muito feliz em poder doar graças. Infelizmente, na maioria das vezes, somos nós quem lhe amarramos as mãos.

(Chiara Lubich)

Sobre o trabalho de trapeiro em Emaús

...Quando nós mendigamos na rua para beber um copo, o senhor descompõe-nos...
Então, nós não aceitamos que o senhor mendigue para nós.

— E que propões tu?

— Eu sei roubar, mas sei fazer outra coisa. Quando eu saí da prisão ou do hospital, fui trapeiro, "ferro-velho" como diziam! Isso pode contar!

Diálogo com Auguste Le Gall
que deu a ideia ao Abbé Pierre
e aos primeiros construtores de Emaús
de se tornarem trapeiros para viverem.

Dezembro de 1952.

“Jamais mude o seu jeito de ser, para satisfazer quem você gosta, pois quem gosta de você, nao te muda, apenas te completa...”

Os Primeiros Tempos de Emaús

Boris Simon, testemunha dos primeiros tempos de Emaús, relata nos seus Chiffonniers d'Emmaus:

«Eu estava em vias de pedir que nos deixassem trabalhar aqui, onde a descarga é mais
suave. O padre, ao ouvir, olhava o torso de "Fernandel".

— Tens uma tatuagem muito bonita — disse ele.

O homem abriu a camisa, era o rosto de Cristo tendo, por cima, estas palavras:
"Ele sofreu" e, por baixo, "Eu também."

— É muito bonita — disse o padre com gravidade —, onde a fizeste?

— Nos trabalhos-forçados.

— Vamos entender-nos — concluiu o padre...»


Boris Simon - "Chiffonniers d'Emmaus". 1950

Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.

Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:

-Tio, dá um trocado?

- Não tenho, menino.

- Só uma moedinha para comprar um pão.

- Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e às boas lembranças de tempos idos.

- Tio, pede para colocar margarina e queijo também? Percebo que o menino tinha ficado ali.

- OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?

Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.

- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele. Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:

- Tio, o que está fazendo?

- Estou lendo uns e-mails.

- O que são e-mails?

- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.

Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:

- É como se fosse uma carta, só que via internet.

- Tio, você tem Internet?

- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.

- O que é internet, tio?

- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.

- E o que é virtual, tio?

Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.

- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.

- Legal isso. Gostei!

- Mocinho, você entendeu o que é virtual?

- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.

- Você tem computador?

- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tio?

Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino terminasse de literalmente “devorar” o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!

Sucesso é conseguir o que se quer...e felicidade é gostar do que se conseguiu.

(Autor desconhecido)

Companheiros de Emaús


...É um companheiro! Se ele não entrar, eu também não entro!

À Sentinela da guarda presidencial que queria proibir
a entrada no Eliseu do motorista do Abbé.
Paris. Junho de 1995.


Nós nunca aceitaremos que quem viva na comunidade seja considerado em função de outra coisa que não a sua qualidade de homem no momento actual. Quer seja crente ou não, quer venha do seminário ou dos trabalhos-forçados, é a mesma coisa...

Abbé Pierre - Em privado com os primeiros companheiros de Emaús. 1950.

Emaús: Definições e Fundamentos


A definição fundamental de Emaús é: acolher, viver em conjunto; livres pelo pão ganho no trabalho; trabalho desejado para além das nossas necessidades para termos o direito de sermos capazes de nos tornarmos provocadores no seio da sociedade, voz dos homens sem voz.

Assembleia dos Companheiros, 1984



Emaús é um pouco o carrinho de mão, as pás e as enxadas antes das bandeiras.
Uma espécie de carburante social com base na recuperação dos homens espezinhados.
Todo o movimento reside nesta ideia:
Salvamo-nos quando nos tornamos salvadores.

Abbé Pierre - Conferência no Palácio Gaumont. 5 de Fevereiro de 1954.



Nós somos uma força de fermentação da consciência cívica.

Abbé Pierre - "Faim et Soif"



Não somos um asilo apenas, porque ganhamos o nosso pão.
Não somos uma obra: pessoas dedicadas de um lado, assistidas do outro.
Mas, além disso, não somos não importa que empresa.
Porque entre nós, quando fazemos o balanço, os nossos lucros medem-se pelo número de comensais infelizes que conseguimos acolher, pelo número de famílias desesperadas que conseguimos salvar.
Aqui, aprendemos a resolver os problemas ajudando os outros a resolvê-los...

Abbé Pierre - Em Privado em`Emaús. 1990.



Depois de ter vivido, alimentado, pago as reformas e a segurança social de mais de quatro mil companheiros, restam cerca de três mil milhões de cêntimos todos os anos. Homens perdidos com coisas perdidas que atiram à cara das pessoas que têm tudo: «Nós, com o vosso lixo, conseguimos fazer isto. Que não faríamos se vós, no vosso escalão, vivesses no mesmo espírito?»

Abbé Pierre - "Éclats de Voix".1993.

Sobre a Acção Humanitária

É conveniente dar a conhecer incessantemente o sofrimento, impô-lo ao conhecimento. Esta é a primeira condição para que nasça uma acção verdadeira, quer dizer, não apenas uma acção que conforte, mas uma acção que destrua as causas da miséria. Deixará então de ser abafada a voz dos homens sem voz. E a fome daqueles que sofrem será substituída pela fome de justiça...

Abbé Pierre - «Faim et Soif». Agosto de 1954.


Não podemos, sob o pretexto de que nos é impossível fazer tudo num dia, não fazer absolutamente nada!

Abbé Pierre - «Testament». 1994


A ajuda humanitária é agir e testemunhar. Em primeiro lugar uma questão de homem a homem, de mulher a criança perdida, de jovem a velho isolado, de reformado a desempregado deses­perado. De humano a humano...

Abbé Pierre - Prefácio do «Guide des actions humanitaires». 1993.

O Apelo de 1 de Fevereiro de 1954

Meus amigos, socorro!
Uma mulher acaba de morrer gelada, esta noite às três horas, no passeio da avenida Sébastopol, tendo consigo o papel com o qual tinha sido expulsa.
Todas as noites, eles são mais de dois mil, enrolados sob o gelo, sem tecto, sem pão, mais que um quase nu.
Perante tanto horror, as cidades apressadas, isso já nem sequer é muito urgente.
Escutai! Em três horas, acabam de ser criados dois pri­meiros centros de acolhimento; um na tenda, junto do Panteão, na rua de Montagne-Sainte-Geneviève, o outro em Courbevoie.
Já regurgitam. Temos que abrir mais por todo o lado.
É preciso que mesmo esta noite, em todas as cidades de França, em cada bairro de Paris, sejam penduradas tabuletas ilu­minadas onde haja mantas, colchões, sopa e onde se leia sob o título «Centro fraternal de acolhimento» estas simples palavras:

«Tu que sofres, quem quer que sejas, entra, dorme, come, re­cupera a esperança, aqui és amado!»

A meteorologia anuncia um mês de frio intenso terrível. Enquanto durar o Inverno, que se mantenham esses centros! Perante os seus irmãos morrendo de miséria, deve existir uma só opinião entre os homens: a vontade de tornar possível que isso dure.
Peço-vos! Amemo-nos o bastante desde já para fazer isto. Que tanta dor nos tenha dado esta coisa maravilhosa: a alma comum da França. Cada um de nós pode vir em ajuda dos «sem-abrigo», precisamos para esta noite e o mais tardar para amanhã:
— 5000 cobertores;
— 300 grandes tendas americanas;
— 200 fogões catalíticos.
Entregai-os rapidamente no edifício Rochester, n.° 92, na rua de la Boétie. Apresentem-se com voluntários e camiões para a descarga esta noite às 23 horas, em frente da tenda de la Montagne-Sainte-Geneviève.
Graças a vós, nenhum homem, nenhum rapaz se deitará esta noite nos passeios ou nas estações de Paris. Obrigado.

Apelo de 1 de Fevereiro de 1954, lido por um locutor
na Rádio-Difusão Francesa um quarto de hora antes
do jornal das 13 horas e proferido imediatamente depois
na Rádio Luxemburgo.

Sobre o Apelo do Inverno de 1954

Fiz a figura de um garoto que, tendo brincado debaixo da mesa, tivesse carregado num botão e feito explodir uma bomba atómica...

Abbé Pierre - A propósito da extraordinária mobilização da opinião pública (trezentas mil cartas e mil milhões de francos antigos de dádivas) a favor dos sem-abrigo depois do Apelo do Inverno de 1954. «L´Histoire em direct». France Inter.1993.


Passou-se qualquer coisa de extraordinário porque algumas frases foram proferidas, assim, na rádio, de improviso, de surpresa. Essas palavras eram banais, normais. Quando as relemos, espantamo-nos com a sua simplicidade. Palavras cem vezes repetidas por outros com outras qualificações, mas que não tinham tido eco.

«L'Abbé Pierre vous parle». Recolha das conferências do Abbé Pierre.1960.


Quando nós gritámos «socorro», isso não era uma palavra que viesse de cima, de pessoas com cargos que tivessem autoridade. Também não era uma palavra que viesse de uma comissão de senhoras ou de senhores, talvez muito distintos e admiráveis, mas que, quando são chamados a vir em socorro da miséria, falam dela como de qualquer coisa que vêem da varanda, porque não estão junto dela. Eles dizem: "Estas pessoas são tão infelizes! Precisam que as ajudemos!" Mas dizem-no de fora, dizem-no de cima...

«L'Abbé Pierre vous parle». Recolha das conferências do Abbé Pierre.1960.

A riqueza verdadeira

Um dia um homem que acredita na vida após a morte, e que valoriza o ser mais que o ter, hospedou-se na casa de um materialista convicto, em bela mansão de uma cidade européia.

Depois da ceia, o anfitrião convidou o hóspede para visitar sua galeria de artes e começou a enaltecer os bens materiais que possuía, de maneira soberba.

Falou que o homem vale pelo que possui, pelo patrimônio que consegue acumular durante sua vida na Terra. Exibiu escrituras de propriedades as mais variadas, jóias, títulos, valores diversos.

Depois de ouvir e observar tudo calmamente, o hóspede falou da sua convicção de que os bens da Terra não nos pertencem de fato, e que mais cedo ou mais tarde teremos que deixá-los.

Argumentou que os verdadeiros valores são as conquistas intelectuais e morais e não as posses terrenas, sempre passageiras.
No entanto, o materialista falou com arrogância que era o verdadeiro dono de tudo aquilo e que não havia ninguém no mundo capaz de provar que todos aqueles bens não lhe pertenciam.

Diante de tanta teimosia, o hóspede propôs-lhe um acordo:
- Já que é assim, voltaremos a falar do assunto daqui a cinqüenta anos, está bem?

Ora, disse o dono da casa, daqui a cinqüenta anos nós já estaremos mortos, pois ambos já temos mais de sessenta e cinco anos de idade!

O hóspede respondeu prontamente:
- É por isso mesmo que poderemos discutir o assunto com mais segurança, pois só então você entenderá que tudo isso passou pelas suas mãos mas, na verdade, nada disso lhe pertence de fato. Chegará um dia em que você terá que deixar todas as posses materiais e partir, levando consigo somente suas verdadeiras conquistas, que são as virtudes do espírito imortal. E só então você poderá avaliar se é verdadeiramente rico ou não.

O homem materialista ficou contemplando as obras de arte ostentadas nas paredes de sua galeria, e uma sombra de dúvida pairou sobre seu olhar, antes tão seguro.
E uma voz silenciosa, íntima, lhe perguntava:
- Que diferença fará, daqui a cem anos, se você morou em uma mansão ou num casebre?
- Se comprou roupas em lojas sofisticadas ou num bazar beneficente?
- Se bebeu em taças de cristal ou numa concha de barro?
- Se comeu em pratos finos ou numa simples marmita?
- Se pisou em tapetes caros ou sobre o chão batido?
- Se teve grande reserva financeira ou viveu com um salário mínimo?
- Que diferença isso fará daqui a cem anos?
Absolutamente nenhuma!

No entanto, o que você fizer do seu tempo na Terra, fará muita diferença em sua vida, não só daqui a cem anos, mas por toda a eternidade

1° Não se preocupe
De todas as atividades humanas, preocupar-se, é a menos produtiva.

2° Não se deixe dominar pelo medo
A maior parte das coisas que tememos nunca acontecem.

3° Não guarde rancor
Ele é uma das cargas mais pesadas da vida.

4° Enfrente um problema de cada vez
Seja como for, só poderá tratá-los um por um.

5° Não leve os problemas para a cama
São maus companheiros do sono.

6° Não compre os problemas dos outros
Eles podem lidar com eles melhor do que você.

7° Não reviva o passado
Ele já passou. Concentre-se no que se passa na tua vida e seja feliz agora.

8° Seja um bom ouvinte
Só quando escutar obterá idéias diferentes das tuas.

9° Não se deixe abater pela frustração
A auto compaixão só interfere com as ações positivas.

10° Contabilize todas as coisas boas
Mas não esqueça as pequenas.
Muitas coisas boas pequenas fazem uma grande

Ser Crente

Para ser credível, o crente não deve ser "simplesmente crente", mas um "crente apesar de tudo", quer dizer, com os olhos bem abertos, frente às realidades que interpelam os homens e os ferem.

Abbé Pierre - «Mon Zénith à Moi», Canal Plus. 8 de Dezembro de 1991.

Das Infelicidades da Igreja

As maiores infelicidades da Igreja vêm da engenhosidade com a qual os fieis mais abastados se entregam a assegurar ao seu clero condições de vida suficientemente semelhantes às suas para que estejam seguros de que páginas inteiras do Evangelho não sejam nunca lidas.

Quando de um banquete antes do qual o Abbé Pierre
tinha ficado chocado por ver chegar prelados e fiéis
em luxuosas limusinas.

Montereal, Verão de 1989.

Sobre o Celibato dos Padres

Ao continuar a impor o celibato aos padres, a Igreja comete um grave erro. Para além de se privar de numerosas vocações reais e indispensáveis, ela invoca uma regra que não é nem constante na história, nem mesmo no Evangelho. Nos textos sagrados de Mateus (Capítulo VIII, versículo 14), Marcos (Capítulo I, versículo 29) e Lucas (Capítulo IV, versículo 38), podemos ler:

«A sogra de Pedro, na cama, tinha febre».

São Pedro era portanto casado..


Abbé Pierre - Esteville. Janeiro de 1995.

Sobre a SIDA

Quando o Papa, no Uganda, dirigindo-se a polígamos, declarou que só existia um remédio seguro contra a SIDA, a continência - por outras palavras: a abstenção de todo o prazer carnal -, foi absurdo. Para povos em que toda a cultura assenta sobre o facto de ter filhos, esta linguagem não tem qualquer sentido. O da fidelidade teria algum...

Abbé Pierre - Esteville. Janeiro de 1994.