Enquanto, andei a estudar em Lisboa, via-me infelizmente obrigado a utilizar os transportes públicos. E digo infelizmente, porque como devem calcular, a capital em hora de ponta é um dissabor desgraçado.

Um coisa que à partida é banal, deixou-me a pensar. Um aviso numa estação de caminhos ferroviários. "Para, Escuta e Olha"

E se colecássemos esta sinaléctica nas nossas vidas, perante os sinais de Deus e perante as circunstâncias que nos envolvem diariamente?

"Pára" - Estamos habituados a tudo, menos a parar. Somos capazes de nos justificarmo-nos que as tarefas diárias não o permitem, que a vida social e profissional impossibiltam tal paragem...enfim (des)culpas não vão faltar. Mas, eu quando quero fazer uma coisa que me agrade, nem que para isso eu não durma e/ou nem que para isso, eu ponha a minha própria vida em risco. Verdade, seja dita. E falo por mim, só por mim. Tenho como regra falar por mim, não gosto e nem devo ser porta-voz dos outros. Apercebi-me que na minha vida, a verdadeira felicidade se encontra no mais íntimo do nosso ser e como tal, eu não a posso buscar de fora mas encontrá-la cá dentro de mim. Assim sendo, preciso de parar para fazer silêncio e estutar o meu interior...

"Escuta" - Estamos habituados a tudo menos ao silêncio. Não é, como se diz, no silêncio de um olhar se dizem as mais belas palavras de Amor? Pois bem, há-que fazer um esforço no sentido de não só fazer silêncio com os ruídos exteriores, mas muito mais que isso, calar os saltitantes sons interiores. Que sons interiores são esses? A agitação, a impaciência, o orgulho, a teimosia, etc..etc.. É um trabalho que leva tempo. É um crescimento que nos desenvolve enquanto seres espirituais e humanos.

"Olha" - O estar atento, o saber discernir e apurar a escuta. Ver o que à luz de Deus me convém, me realiza e me satisfaz no mais íntimo do meu ser. Não devo olhar como os meus olhos, mas esforçar-me por olhar a minha vida, com o Olhar de Deus. Que queres de mim, meu Deus?

Para terminar, fica aqui mais uma parábola:
"Um escultor quando decide fazer uma obra de arte, e pega no bloco de pedra ele começa por idealizar e só depois arranca. Se a pedra, fosse dotada de sensibilidade, de certeza que gritaria de dor pelo esculpir e pelo limar do artista. São arranques dolorosos de pedaços de pedra, que o escultor acha que não fazem falta. E tudo para conduzir à obra de arte.
A minha vida, é assim. Sendo eu o bloco de pedra e Deus o autor da minha vida - o escultor - verifico que, até que eu me transforme naquilo que Ele idealizou para mim, muito tenho de crescer. E crescer sem dor e sofrimento, não é crescimento.

Nuno Sousa, 25 anos

Gostei muito, Nuno

Tozé Monteiro, 39 anos!

Olá Nuno! Também gostei muito da tua partilha... Já agora, participas de algum grupo de oração? Ainda moras em Lisboa?

Quanto à minha experiência, posso dizer realmente que a necessidade que temos de parar é sentida na nossa mente e no nosso coração... Mas será que nos deixamos mesmo acalmar?
Digo isto porque para muitos ainda existirá sempre aquilo de que falas: a agitação, a impaciência, o orgulho, a teimosia... E estas coisas porque sentimos necessidade da experiência espiritual mas temos medo da pessoa em que nos transformaremos com ela: ficamos com a ideia de que seremos mais frágeis perante os outros, que a vida será complicada de suportar, ficando presos entre o ideal vivido na oração e a realidade com a qual temos de lidar... Depois, também temos medo de nos tornarmos demasiado dependentes de Deus, ou que Deus seja o refúgio para que não lidemos frente-a-frente os problemas.

Mas assim que assumimos a necessidade e o valor do ser cristão, a nossa entrega ao Mestre dos Mestres e nosso irmão mais velho, Jesus Cristo, ansiamos por demais a conversão e mais ainda, a santidade, a escultura perfeita de Deus em nós, confiando N'Ele a realização de todos os nossos anseios, que se tornam concretizados pela sua acção no nosso coração, que nos impele a metermos as mãos aos trabalho.

"Deus inventa-nos com nós mesmos." Varillon, SJ

E essa invenção quotidiana, esse processo contínuo após o nosso autêntico ressuscitar na conversão, é conseguido através da força alcançada na oração, que realmente e mais do que qualquer outra coisa na vida, nos dá alento, força e claridade para resolvermos na sua essência os problemas do mundo, que são os nossos e que nos dão a certeza de que Deus existe mesmo, e que é o Amor em absoluto.

João, 19 (anitos...) ;o)

Ola João, quanto às tuas perguntas: "Já agora, participas de algum grupo de oração? Ainda moras em Lisboa?" Neste momento, moro em Évora. Só morei em Lisboa, enquanto tirei o meu curso de Arquitectura. Relativamente, ao grupo de oração, pertenço às Comunidades de Vida Cristã da Região Sul - Évora, que são orientadas por sacerdotes jesuítas.

Achei piada à referência que fizeste: "Deus inventa-nos com nós mesmos." Varillon, SJ. Já conhecia o autor, mas o título do livro, por enquanto ainda não me é familiar.

E já agora deixo-vos aqui, uma pequena listagem que livros alusivos à oração e que são de uma riqueza inesgotável.

"O segredo que conduz o Papa" - Aura Miguel
"O regresso do filho pródigo" - Henri Nouwen
"Alegria de Viver" - François Varillon, s.j.
"Vida em Oração" - Dário Pedroso, s.j.
"Dia e Noite" - Jean Lafrance
"Quando orardes, dizei: Pai" - Jean Lafrance
"Se tu soubesses o Dom de Deus" - Luis Rocha e Melo, s.j.
"Silêncio de Maria" - Inacio Larrañaga
"Reza ao Pai no teu íntimo" - Jean Lafrance
"Perseverantes na Oração" - Jean Lafrance

Abraços a todos,

Nuno Branco, 25 anos

Não sei se conhecem um tem um pouco a ver com esta questão, chama-se "Parar: como parar quando temos de continuar". O autor é David Kundtz e a editora é Sinais de Fogos(tem umas colecções de livros muito interessantes). A colecção é "Outro olhar". O autor foi padre durante 19 anos. Aconselho.

Vou pedir ao Lugo que fale um pouco o livro porque ele já o leu.

Abraços,
Susete

A Susete descartou-se muito bem desta: primeiro diz que conhece um livro e depois dá-me o "toque" para vir cá falar dele ;-)

Como a Susete já disse, estou neste momento a ler um livro com o título "Parar: como parar quando temos de continuar". Não, não é um manual de vida alentejano hehehe

Vem na sequência duma coleção de livros que me tem enriquecido muito (interiormente, porque ao preço que os livros estão, não há carteira que aguente) todos da mesma colecção.

Não são livros de cariz católico, alguns, bem pelo contrário, mas acho que devemos alargar os nosso horizontes até para compreender melhor aquilo a que acreditamos. Recomendo estes livros a qualquer pessoa que sofra do mal geral a que demos o nome de "falta de tempo", ou que se sinta em situações de stress.

Mas, para explicar melhor o que quero dizer, e partilhar convosco o que me vai na alma... durante o fim de semana preparo um pequeno resumo, e depois coloco-o aqui num novo tema de discussão.

Lugo

Nuno, "Deus inventa-nos com nós mesmo" é uma frase do F. Varillon, não o título de um livro. Esse autor é espectacular! Para além daquele que já referiste (mas que penso cujo título completo seja: "Alegria de Viver, Alegria de Crer" - pelo menos em francês), posso indicar o fabuloso "Viver o Evangelho", de onde retirei aquela frase, e "O Sofrimento de Deus".

Permitam-me aconselhar igualmente um livro que mudou a minha vida:
"ENCONTRO COM JESUS CRISTO" de João da Silva Gama, Editorial A.O..
Editado em finais de 2000, trata da própria experiência de fé do autor, professor de Filosofia e Psicologia no Ensino Secundário em Portugal, tradutor e co-autor de manuais de Int. à Filosofia, refere-se às exigências e necessidades da fé de hoje, sendo interpelado por várias frentes (predominam o ateísmo, o comunismo e um "mau-catolicismo") e apresentando soluções na fé em Cristo, acaba por criar reconciliação entre ideologias contrárias, onde a fé é atacada. O livro é um contributo para que o leitor dele retire proveito quase imediatamente, tendo sido tal escrito um desafio colocado ao autor por pessoas crentes e não-crentes, que admiravam a fé do autor e que a queriam compreender melhor. Passando por várias citações de diversos autores, de livros e artigos de revista ou jornal, contributos valiosíssimos para a compreensão daquilo para que serve e o que deve ser a fé.
Um leitor estudante do ensino secundário acolhê-lo-à bastante bem, por várias referências que o autor faz às questões que lhe foram apresentadas pelos alunos nas aulas, acerca das obras filosóficas e a posição dele enquanto pessoa. Recomendo vivamente a todas as idades, em particular entre os 15 e os 40!

Quanto aos livros da colecção "Outro Olhar" da Editora Sinais de Fogo, precisamos ter sempre algum cuidado pois alguns tratam dos temas numa perspectiva esotérica e por vezes supersticiosa... Pelo menos, foi a impressão com que fiquei ao passar os olhos por alguns deles... Mas se quiserem ver do que estou a falar vejam os links que tem a Editora Sinais de Fogo no seu site (www.sinaisdefogo.pt) e depois digam lá se não "tresanda" a Nova Era. Não nos esqueçamos que não deixam de ser algo de bastante "comercial" e por isso o que interessa é agradar o consumidor mais do que propôr uma exposição realmente interpelante e incomodativa de Deus. Apesar disso, deverão ser livros de alguma sabedoria... E no meio de muitos talvez sejam inocentes uns quantos... E comprovem isso por verem nos livros de Neale Donald Walsch as informações sobre como obter mais informações ou aderir ao seu culto de crescimento pessoal e espiritual (www.conversationswithgod.org), ou seja, afinal livros que denotam proselitismo (norte-americano ou noutros casos, oriental) que atraírão o mais desarmado e necessitado. Não digo que não sejam contributos importantes e enriquecedores para a espiritualidade, mas é que com a ignorância e egoísmos por aí abundantes, as pessoas tendem a confundir religião com "espiritualismos" e terapias.

Deixem que o Senhor vos ilumine e sejam participativos e criativos nas celebrações e na oração! Que elas vos "desintoxiquem"!

Boa leitura, boa oração, boa vida!
João

João,

Como tinha prometido, coloquei um novo tópico aqui no fórum com o título «Conversas com Deus». Nele, comento alguns dos tópicos que referes na tua mensagem.

Um abraço,
Lugo