Olá, gostaria de ouvir sugestões de dinamizações das missas, que captem as nossas crianças.

Cumprimentos

Ana

Ana,

Em algumas igrejas que frequento as crianças ficam brincando com os catequistas enquanto ocorre a missa. Somente aquelas que demonstram e manifestam vontade de participar da celebração aos ministros ou ao padre é que participam junto com seus pais ou responsáveis. (É entendido que a manifestação representa uma tomada de consciência e maturidade na fé.) Essas crianças normalmente participam com atenção e paixão, não costumam dar nenhum trabalho, que por suposto estão onde querem estar.

Nessas comunidades ficou entendido que brincar faz parte da educação das crianças, e também não é conveniente faze-las associar a missa com alguma atividade "aborrecida" em que tem que estar contra a vontade, nem muito menos banalizar o ritual com alguma brincadeira que lhe roubasse a dignidade - a missa deve ser uma celebração da comunidade toda, e não um evento de um grupo em separado (por isso é estranho os termos "missa de jovens", "missa das crianças", "missa da enfermos" etc). A missa é da comunidade toda e não convém, entendemos assim, transformá-la num evento de um grupo fechado. Nunca entendi qual a razão para fazerem uma missa de brincadeiras...

Espero que não fique magoada por partilhar isso contigo.

Fica com Deus.

Boa tarde.

Como é costumeiro, Firefox falou de forma correta.
E, entrelinhas, abordou a problemática fundamental.

A grande dinamização liturgica tem que ser a formação de base acerca da Liturgia, em especial da Liturgia da Palavra e da Liturgia Eucarística que, juntas, constituem a celebração eucarística, o centro, o coração da Liturgia católica.

Algumas reflexões de fundo devem ser colocadadas quando se fala em "dinamização" da Liturgia!

A recente abordagem feita por muitos agentes de pastoral em relação à Liturgia tende a ver esta como uma série de gestos, comportamentos e rituais, nos quais apenas se pretende ver um simbolo, ou conjuntos de simbolos de ideias teológicas diversas.
É uma visão redutora da natureza, função e necessidade da Liturgia.
Acentuou-se muito, desde o Concílio Vaticano II, a Liturgia como festa, como celebração feita por nós, de forma a produzir frutos em nós; e esqueceu-se a Liturgia como participação, entrada de nós em Deus, e de Deus vindo a nós, bem como a Liturgia tendo por autor o próprio Cristo, que nela age como Sumo Sacerdote.

Voltámo-nos demasiado para nós mesmos, para as nossas visões, apetencias, caprichos, gostos, e esquecemos que criar uma Liturgia segundo o nosso "eu", é falsear de inicio a própria Liturgia.
Em Liturgia, o objectivo é o "Outro", o oriente da Fé, Cristo!
Não pode a Liturgia se tornar uma proclamação do "eu", mas sim ser uma continua proclamação do Mistério de Cristo e da Esposa.
A Liturgia não é minha, nem tua, nem de um grupo, conforme já referiu o Firefox.
Em sentido próprio, nem sequer é da Igreja; é-o em sentido impróprio. A Liturgia é, antes de mais, acção de Cristo, em nós, Igreja, e por nós, Igreja (aqui sim, nossa em sentido impróprio), para nós, Igreja.

Permita-me abordar a Sagrada Escritura, comentando o quase sempre insuficientemente entendido texto que trata do episódio do bezerro de ouro, em Êxodo 32, 1-6.

"32 1Vendo que Moisés demorava a descer do monte, o povo reuniu-se à volta de Aarão e disse-lhe: «Vamos! Façamos para nós um deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, esse homem que nos persuadiu a sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido.» 2Aarão respondeu-lhes: «Tirai as argolas de ouro das orelhas das vossas mulheres, dos vossos filhos e das vossas filhas, e trazei-mas.»
3Eles tiraram as argolas que tinham nas orelhas e levaram-nas a Aarão. 4*Recebeu-as das mãos deles, deitou-as num molde e fez um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.» 5Vendo isso, Aarão construiu um altar diante do ídolo, e disse em voz alta: «Amanhã haverá festa em honra do SENHOR.» 6*No dia seguinte de manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão. O povo sentou-se para comer e beber e depois levantou-se para se divertir"

É frequente entender este texto como um acto de idolatria, semelhante aos denunciados nos restantes textos biblicos, em que se presta culto a outros deuses, que não o Deus de Israel.
É costumeiro afirmar-se que, neste episódio, o povo passou a adorar outro Deus diferente de Iahwé, um deus bezerro de ouro.

Mas não é assim. O povo não trocou o Deus unico por um outro deus qualquer.
Prestando atenção ao texto, percebe-se isso mesmo. Atente-se nas palavras de Aarão, depois de edificar o bezerro, no v.5: "Vendo isso, Aarão construiu um altar diante do ídolo, e disse em voz alta: «Amanhã haverá festa em honra do SENHOR.»"

De facto, estamos diante da criação de uma liturgia segundo as nossas necessidades e expectativas que tem como objecto o mesmo Deus, e não de uma idolatria em que este Deus seja trocado por outro deus.
Não se trata de uma apostasia, mas de uma idolatria cultual, em que o culto devido, sempre voltado, por natureza, para o Transcendente, para o Mistério, se torna um culto que outra coisa não pode traduzir senão a nossa própria fotografia.

O povo não disse a Aarão, segundo a narrativa bíblica, para adorar outro deus, mas para criar uma nova modalidade cultual, onde a arca, como pedestal da divindade, era substituida pelo bezerro. Segundo os paralelos orientais, o bezerro era considerado um pedestal da divindade invisivel.

Dinamizações liturgicas nas quais se pretende tornar a Liturgia mais atractiva...
Haverá liturgia mais atrativa do que a liturgia onde continuamente nos procuramos rever, satisfazer as nossas necessidades de conforto, de segurança?

Não são, muitas vezes, estas dinamizações liturgicas uma deseducação do sentido da Liturgia católica, enquanto acção de Outro, totalmente Outro, diferente, que a nós se dá e continuamente se comunica?

Não testemunha, por outro lado, a Liturgia da Igreja esta Tradição que se pode realmente entender como fruto do diálogo de 2000 anos entre Cristo e a Igreja, a qual, na Liturgia, com o Espírito, fala a uma voz?

Dinamizações liturgicas que pretendam dar um cunho mais atrativo através de certas inovações não estarão apenas a tornar atrativas essas inovações em si mesmas, em vez de se focarem no essêncial? E o que é o essêncial? Cristo que se dá, que se comunica, que se vive e se celebra nos rituais, nos gestos da Esposa, nos gestos de Cristo agindo na pessoa do presidente da celebração.

A grande dinamização das missas é a formação acerca da espiritualidade da Liturgia, que deve começar, urgentemente, nas catequeses, e não certas experiências ludicas, que em vez de remeterem para o Mistério, ficam-se no bonito da inovação em si, na brincadeira mascarada de culto: uma liturgia adulterada, falseada, travestida!!

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo (S. Agostinho, Confissões)



Editado 1 vezes. Última edição em 26/09/2010 18:53 por Rui Vieira.

Olá Ana Ferreira.

As edições salesianas publicaram vários livros sobre esse tema, para além de publicarem mensalmente a revista "Catequistas" que tem vários conselhos uteis sobre esse tema.
Sugiro que coloques também esta questão no fórum das edições salesianas:
forum das edições salesianas
e no
forum do abcdacatequese

o abcdacatequese.com tem um seção no arquivo dedicada a esse tema:
Eucaristia com Crianças - abcdacatequese

é possível encontrar outras coisas uteis para a missa com crianças no abcdacatequese.com noutras seções do site.



Editado 1 vezes. Última edição em 05/10/2010 06:55 por camilo.

Obrigada pela ajuda