Confessemos nossos pecados - 17/03/2008
A condição primeira de uma vida santa é reconhecer as próprias misérias e fragilidades. Quem conhece suas limitações, fraquezas ou incapacidades, habilmente as contorna para vê-las superadas e alcançar vitórias. Esse é o desafio dos vencedores. A estrada que trilhamos está pontilhada de desafios, obstáculos e limites a vencer. Desdenha-los é estacionar no caminho, atrasar a jornada ou nunca atingir o ponto de chegada. Assim, muitos se perdem pela estrada e dificilmente conhecerão a meta paradisíaca dessa viagem existencial.
Um bom recurso, portanto, é o conhecimento dos percalços e a superação destes. No campo espiritual isso se chama pecado e exige nosso reconhecimento, ou seja, a confissão deles, a conversão para o caminho mais seguro. “A vida cristã deve tender sempre à conversão”, disse o Papa recentemente, quando falava sobre o assunto.
Aliás, neste encontro ouviram-se preciosas pérolas, que registro a seguir. “Se a confissão não for regular se corre o risco, pouco a pouco, de diminuir o ritmo espiritual, até enfraquecê-lo sempre mais e, talvez até mesmo estagná-lo”. Eis aqui a razão da crescente insensibilidade humana para com as riquezas espirituais que a fé nos proporciona. Sem a visualização constante dos males que dificultam nossa caminhada, sem o reconhecimento dos nossos limites e imperfeições e, principalmente, sem a correção destes, dificilmente chegaremos lá, nos campos da infinita misericórdia do Pai.
Portanto, -disse o Papa- “quem se confessa experimenta aquela ternura divina para os pecadores arrependidos, que tantos episódios evangélicos mostram com acenos de intensa comoção”. Recordemos algumas delas. O episódio de Zaqueu, arvorado em sua prepotência. Desceu de seu pedestal e encontrou a Salvação. O episódio do filho pródigo, do cego de nascença, do jovem rico que titubeou em sua conversão, do paralítico à beira da piscina do “Enviado”, do jovem já morto a caminho do cemitério – “Eu te ordeno, levanta-te!” – e tantos outros que encontraram em Jesus a vida nova redimida de suas limitações terrenas.
Mas nada se compara ao episódio da confissão de uma pecadora arrependida. Com um frasco de caríssimo perfume, ela ungiu os pés de Jesus, molhou-os com suas lágrimas e os enxugou com os próprios cabelos, sempre ajoelhada a seus pés. Cena que sintetiza a graça de uma confissão plena, verdadeira, onde o precioso perfume do amor contagia o ambiente humano e as lágrimas sinceras do arrependimento aliviam os pés cansados do Cristo peregrino entre nós. Muitos ainda ousam criticar: é uma pecadora que ali está; é um desperdício jogar fora esse perfume e não dar seu valor aos pobres! Será que Jesus não percebe essa perda de tempo, de recursos? A resposta final encerra a polêmica: “Seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor, mas ao que pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7,47). Em outras palavras: “A quem muito ama, Deus tudo perdoa”.
A prática da confissão exige um único pressuposto: arrependimento. Essa é a tônica que transparece dos corações sensíveis às próprias misérias e não se deixa endurecer diante da vaidade e prepotência do seu ego. Um perigo a que se sujeitam os que conduzem suas existências à luz dos méritos pessoais, como cegos diante da luz divina. São os que possuem o coração “endurecido no pecado”, disse o Papa, que ainda acrescentou: “Quem, ao invés, se reconhece frágil e pecador, se confia a Deus e d’Ele obtêm graça e perdão”.
E disse mais: “No coração da celebração sacramental não está somente o pecado, mas a misericórdia de Deus, que é infinitamente maior do que toda nossa culpa”. Jesus então conclui: “Tua fé te salvou: vai em paz”.
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