Citação:camilo
A perspectiva ortodoxa só com muito contorcionismo pode ser considerada compativel com os textos evangelicos e é o resultado da dependencia que essa igreja sempre sofreu dos reis e cezares dos paises aonde esteve implantada.
É claro que a igreja católica romana nunca foi dependente de reis e nem esses nunca escolheram bispos e papas, não é?
Já que não conhece muito da história da nossa igreja, aviso que a tradição da igreja católica do ocidente era bem mais permissiva antes e foi preciso que ocorresse uma evolução progressiva para a indissolubilidade. O Concílio de Arles, por exemplo, que reuniu quase todos os bispos ocidentais, tratou da questão do divórcio e na época aceitou a separação, ficando apenas como conselho, não como imposição, que os esposos não se casassem de novo enquanto suas antigas esposas estivessem vivas. Foi somente a partir do séc. XII que a doutrina romana estabeleceu terminantemente a indissolubilidade do matrimônio sacramental por força de lei. Já o pronunciamento do Concílio de Trento, como em quase em tudo, será muito mal interpretado se não for considerado no seu contexto histórico. Não vou entrar em detalhes agora, por hora basta isto.
Quanto ao "contorcionismo" a que se refere... A esse "contorcionismo" a grande maioria dos teólogos católicos romanos também dá o nome "misericórdia", razão pela qual até o dia de hoje não existe nenhuma condenação do magistério romano contra a interpretação ortodoxa. Tonto. Nenhum concílio nunca disse uma palavra contra a interpretação ortodoxa e a história demonstra que a doutrina romana aceitaria a comunhão com os orientais sem exigir deles esse ponto da doutrina romana.
Destarte, sem nunca negar a santidade do matrimônio e a sua indissolubilidade, a igreja ortodoxa mostra por sua vez muito mais solicitude pastoral que o Vaticano e, baseada no princípio teológico da ecônomia, passa a exercer a misericórdia quando falharam todos os outros meios para a solução de uma situação familiar desesperada. (Aqui um aviso que não acho desnecessário no seu caso, que parece não saber muito de teologia: o princípio de economia citado ali não tem nada a ver com dinheiro.)
Citação:camilo
Diga-se de passagem que os paises de influencia ortodoxa são tambem aqueles aonde a taxa de divorcios é a maior em todo o mundo.
O mesmo camilo de sempre com suas estatísticas malucas. Para não perdermos mais tempo, adianto: e se fosse? e daí? Só mesmo vc para querer fazer teologia com base em estatísticas.
Citação:camilo
As criticas do firefox são criticas ao textos evangelicos e a Jesus Cristo que afirmou:
"Lc 16, 18 * Todo aquele que se divorcia da sua mulher e casa com outra comete adultério; e quem casa com uma mulher divorciada comete adultério.» "
Já que pretende praticar a leitura literal do texto bíblico faria bem se ao menos o conhecesse melhor. A tradição da igreja oriental é baseada num costume da igreja primitiva de conceder dissolução do matrimônio ao cônjuge inocente e abandonado com base no texto de Mateus, e admite também a possibilidade do divórcio e de novo matrimônio.
"todo aquele que repudiar sua mulher, exceto por motivo de fornicação, e desposar outra, comete adultério", Mt 19:8
Claro que vc desconhece que existe toda uma discussão teológica sobre se o ensinamento de Jesus sobre o divórcio constitui um imperativo ético, um chamado à plenitude do ideal, ou, como você quer, uma proibição jurídica. Essas coisas te passam por alto, prefere procurar estatísticas que apoiem suas teorias.
Creio eu que se trata de um chamado à plenitude. A passagem se encontra no sermão da montanha, junto com outros chamados à plenitude, e pareceria estranho se Jesus começasse a decretar leis jurídica ali. Todo o sermão da montanha representa uma contradição entre a justiça antiga (legal) e a justiça nova trazida por Cristo:
"Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus" (Mt 5:20)
Em todo o sermão o radicalismo de Jesus sempre aparece nesse contexto de superação da prática comum da legislação judaica. A legislação sobre o divórcio fundava-se no Deuteronomio (Deut 24:1-4), que facilitava sobremaneira aos maridos a possibilidade da separação: bastava o marido encontrar uma mulher mais bela e alegar que a esposa queimou uma panela de comida para conseguir o divórcio. Naquela sociedade as mulheres quase nem tinham direitos, eram gente de segunda ou terceira categoria. Jesus sempre se preocupava em melhorar suas vidas, ele veio para os mais fracos e naquela época elas eram. A posição de Jesus bate de frente contra uma tradição exageradamente ampla e libertina, e não tenho dúvida de que foi também uma proteção a mais para as mulheres.
Eu gostaria de saber como o camilo interpreta o apóstolo Paulo, que permitia a separação de matrimônios contraídos com infiéis, mas como tenho receio do que poderia ler aqui vou me adiantar para explicar que da minha parte entendo que Paulo está recorrendo de novo à questão levantada por Mateus: nas Escrituras é freqüente interpretar uma profanação da relação com Deus como adultério. Acho isso interessante, mostra a comunidade primitiva procurando guardar o ensinamento de Cristo sem se prender ao literalismo, .
Perguntou se tenho alguma crítica contra o texto evangélico, então respondo: quando é bem interpretado não tenho, ou pelo menos não me lembro de nenhuma. Contra o seu dogmatismo, bem, nesse caso já percebeu que tenho algumas.
Citação:camilo
Para um ladrão ficar perdoado não basta confessar-se, na medida do possivel tem de devolver o que roubou. São pequenos pormenores, não são?
A morte de alguém não é pormenor, nem é menos grave do que um casamento.
Crie juízo.
Editado 2 vezes. Última edição em 06/01/2008 10:09 por firefox.