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Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 02 de September de 2009 13:52

Este tópico toma o nome de um conjunto de livros de Ariel Álvarez Valdés.

Na leitura destes livros estão a surgir-me algumas dúvidas que gostaria de expor aqui, procurando a vossa ajuda para as esclarecer. Começo por uma com que me deparei hoje.

No livro III, o primeiro capítulo chama-se "Que significado têm os números na Bíblia?". A certa altura fala de Abraão e do seu herdeiro Eliézer (pág. 16 - Cf. Gn 15, 2). Ora porque é que Eliézer é o herdeiro de Abraão se este, não tendo filhos, tinha parentes de sangue próximos, nomeadamente Lot, filho de seu irmão? Mesmo tendo seguido caminhos distintos (Cf. Gn 13, 8 ss) mantinham uma relação próxima, visto que Abraão reuniu um grupo para libertar Lot, quando este foi aprisionado (Cf. Gn 14, 14 ss)? Um escravo tinha preferência, em questões de heranças, sobre um parente de sangue? Porquê?

Obrigada

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Anori (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 12:26

Talvez para mostrar a gratidão pelo escravo...

Talvez para mostrar a não menos importância do escravo, já que representa uma classe social desfavorecida, mostrando assim a legitimidade humana, tornando o escravo legitimo, tão legitimo que recebeu a herança, sobrepondo-se a questões de sangue...mas nesta interpretação não se aborda a questão numérica e sem ela provávelmente não se chega a à verdadeira mensagem...

Traduzindo a questão em números, Eliézer torna-se um grupo, os servos que herdam a mensagem.
Segundo a guematria, Eliézer, corresponde numericamenta a 318, os 318 servos convocados por Abraão para libertar Lot, o que representa enfrentar 4 exércitos. 318 homens face a 4 exércitos, assume-se claramente simbólico, na minha opinião querendo mostrar que os seus herdeiros serão sempre superiores aos seus inimigos.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 13:37

A preocupação (possível para a época) com o bem estar dos escravos já está expressa nos livros do Antigo Testamento, por exemplo Êxodo, Levítico e Deuteronómio (Ex 21, 2; Ex 21, 20; Ex 21, 26; Ex 21, 27; Lv 25, 6; Dt 5, 14; Dt 15, 13 e Dt 23, 16).

A questão da mensagem transmitida pelo valor numérico do nome Eliézer (abordado na pág. 16 do livro citado) é interessante mas não responde à questão. Se Abraão escolheu um escravo como seu herdeiro em detrimento de um parente de sangue, fê-lo reflectindo seguramente um costume do seu tempo e da sua gente, independentemente de Eliézer ter sido uma pessoa individual ou, simbolicamente um grupo delas.

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Anori (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 19:07

Citação:
Cassima
Se Abraão escolheu um escravo como seu herdeiro em detrimento de um parente de sangue, fê-lo reflectindo seguramente um costume do seu tempo e da sua gente, independentemente de Eliézer ter sido uma pessoa individual ou, simbolicamente um grupo delas.

Altera tudo o facto de Eliézer poder corresponder a um grupo. Sendo que os próprios casamentos eram realizados dentro da tribo, não creio na hipótese de se levar à letra Eliézer como servo herdeiro, colocando a riqueza nas mãos de um homem que pertence a uma camada social inferior, apesar da hipótese de gratidão e a possibilidade de excepções. A preocupação pelo bem estar dos escravos pelos senhores não se pode assumir como costume, é uma atitude individual. Na minha opinião faz mais sentido a leitura simbólica Eliézer- servos, herança- uma palavra, caminho...herdeiros do reino de Deus.

Talvez a confusão resida na palavra escravo vs. servo. Maria apresenta-se ela própria como serva, "a serva do Senhor..", servo considerado crentes, seguidores de Deus.



Editado 1 vezes. Última edição em 03/09/2009 19:12 por Anori.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 21:23

Duas pequeninas coisas:

1. Não há confusão nenhuma. A Bíblia dos Capuchinhos tem a palavra "escravo".

2. A preocupação pelo bem estar dos escravos não é um costume nem uma atitude individual. É a Lei, à qual os judeus estavam vinculados.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 21:25

Renovo o pedido: alguém conhecedor dos usos e costumes daqueles tempos pode explicar-me esta questão das heranças?

Obrigada

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Anori (IP registado)
Data: 03 de September de 2009 22:30

Uma coisinha...

"Bíblia Sagrada"- Difusora Bíblica
A palavra usada é servo.


Não é abordando a questão pela metade que se vai lá. Por algum motivo o autor colocou esse momento da história da Bíblia no capítulo com aquele titulo.
As insinuações a que alguns se prestam são desnecessárias.



Editado 2 vezes. Última edição em 03/09/2009 22:44 por Anori.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 09:29

Renovo o pedido: alguém conhecedor dos usos e costumes daqueles tempos pode explicar-me esta questão das heranças?

Reafirmo, caso não esteja suficientemente claro mas minhas duas primeiras mensagens, que o que me interessa são os usos e costumes, as regras que regulam as heranças e a nomeação de alguém como herdeiro de outrem. Não a vertente religiosa.

Obrigada

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 09:45

A essa pergunta cassima infelizmente não te sei responder.

Mas há outras que me aquietam. Ao ler o livro do padre carreira das neves: "O que é a Biblia", que ainda não conclui de ler, ele escreve logo no inicio, que frases (que para mim também são inconcebíveis de entender na filosofia pacificadora de cristo), afinal segundo exegéses recentes, não foram ditas por Ele mas pela Igreja dEle. São exemplo dessas frases:

Lc 19, 27 * Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os cá e degolai-os na minha presença.»

Outras versões da biblia traduzem como "matai-os na minha presença".

Outros exemplos desse tipo de frases são:

Jo 8, 44 * Vós tendes por pai o diabo, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e não esteve pela verdade, porque nele não há verdade. Quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.

Mc 16, 16 Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado.

Mt 22, 13 O rei disse, então, aos servos: 'Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.

Ao passo que alguns destes exemplos nem eu gostava muito deles, (o primeiro é para mim muito mau mesmo), por outro lado deixa-me inquietado que se admita que algumas coisas foram aditadas pela Igreja de Jesus. Pergunto então qual o critério, para se saber o que foi ou não dito por Cristo? Espero ter a resposta ao ler mais do livro, no entanto deixo aqui a minha inquietação, enquanto não o acabo de ler.



Editado 1 vezes. Última edição em 04/09/2009 09:47 por vitor*.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 13:30

Olá Vítor

É uma pena que não saibas. Não conheces ninguém que saiba lá naquele instituto que tu vês da tua janela e onde já tiraste um curso (se bem que à distância)? :) Não é que esta questão seja importante mas despertou-me a curiosidade.

Os livros que tenho andado a ler são muito interessantes. Esclareceram-me diversas coisas, puseram-nas no seu devido contexto o que me fez olhar para alguns textos com outros olhos. E, ao mesmo tempo, arranjaram-me mais dúvidas. Também estou super interessada em ler esse que estás a ler, mas ainda não consegui deitar-lhe a mão.

Relativamente às questões que pões são bem pertinentes e não devem ser de fácil resposta. Concretamente sobre as afirmações da Bíblia que parecem tão contrárias à Pessoa de Jesus, posso dizer-te que já me debati com uma delas (Lc 19, 27), exactamente por causa da crueza da palavra "degolai-os". Mas repara que no final da frase há umas aspas (») que indicam que se está a encerrar a história. Portanto as palavras não serão proferidas por Jesus (se bem que o "Eu" esteja em maiúsculas...) mas pelo personagem da história. Para mim isso faz diferença.

Eu justifico essas aparentes contradições com a mensagem fundamental e a vida de Jesus, com a necessidade que os evangelistas sentiram de reforçar a mensagem, de acordo com os critérios e os destinatários da época, salientando bem que a recusa de Jesus traria consequências para cada um.

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 14:03

A formação que tive especializada foi em Doutrina Social da Igreja. Praticamente não falamos de Bíblia a não ser nos géneros literários que a compõem na primeira disciplina do curso.

Vou tentar falar com umas pessoas la do instituto. Mas acho que só dá para a semana que vem.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 14:37

Vítor, qualquer coisa que seja será bom. Obrigada.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 04 de September de 2009 17:55

Olá Cassima,

Sobre a questão que vc apresentou, não tenho a resposta mas tentarei ajudar de alguma forma. A passagem de Gen 15,2 não é mesmo muito clara, existem algumas pequenas diferenças de uma tradução para outra e podemos estar diante de algum costume anterior ao estabelecido posteriormente; dito isso, vamos ver o que podemos descobrir.

De início vc está certa, a ordem de herança estabelecida pela Torah é mesmo entre os familiares, conforme [www.torah.org]

Há alguma discussão entre os judeus sobre se as leis da caridade podem alterar ou não essa ordem, ou, dito de outro modo May One Disinherit Family in Favor of Charity? Suspeito que do ponto de vista legal isso tb não seria permitido, conforme [www.jlaw.com] : "any attempt to interfere directly with the order of inheritance prescribed by the Torah is ipso facto invalid", mas nem isso é de todo claro, pois esse texto que cito continua assim "...and it is only by way of a "gift" that the halacha permitted even a shechiv me'ra to alter the order of inheritance prescribed in the Torah." Ou seja, parece que se Abraão ia fazer de Eliezer herdeiro estaria presenteando-o e não o fazendo obrigado por alguma outra forma de lei.

Alguns intérpretes judeus da halakhah, ao que parece, consideram que a ordem de herança descrita na Torah deverá prevalecer sobre os desejos de uma pessoa, conforme [www.jlaw.com]: "...the Rambam derives a maxim that a person cannot change the order of inheritance described in the Torah - neither to bequeath a legacy to a person not entitled to inherit, nor to disinherit a person entitled to inherit. In this respect, inheritance differs from the general rule in monetary matters, which allows people to stipulate any conditions or rules of conduct of business they choose (kol tenai shebemamon kayom). The only modification permitted by the halacha is to provide a greater share, or even one's complete estate, to any of the persons entitled to inherit, even though this would disinherit others in the same class, providing that a first-born (bechor) is not deprived of his right to a double share."

Mas, para complicar tudo, é preciso lembrar que os judeus não determinam tudo seguindo apenas a genética, como se pode comprovar em [www.jlaw.com]: "Although somewhat counter-intuitive, Jewish law does not automatically employ genetics to answer all questions of lineage. This can be generally proven from three examples, each from a different area of law. The first example is from the laws of conversion. According to Jewish law, the rule is that one who converts to Judaism loses all legal ties based upon her genetic relationships, and it is as if she were born anew. Accepting this rule, the Talmud acknowledges that according to biblical law, one who converts can marry his mother or sister, or her father or brother, assuming they also convert. The rabbis in the time of the Talmud prohibited these marriages only because they feared that people would mock Judaism by saying that converts join Judaism in order to engage in these previously prohibited relationships. The rabbis did not prohibit these relationships on the grounds that they involved sexual relations between genetically close relatives.

The second example of Jewish law's rejection of genetics as entirely determinative is the dispute over whether genetic fatherhood has any legal status in animal husbandry law. A large number of decisors maintain that the law does not recognize any link at all between a male animal and its progeny. This is true, according to these same commentators, even though the Bible, when dealing with the prohibition against killing an animal and its child on the same day, says: "a male animal (oto) and its male child (beno) should not be slaughtered on the same day." Furthermore, according to these commentators, the refusal to acknowledge the male lineage is true even if one knows with certainty the paternity of the animal. A number of decisors disagree and maintain that Jewish law does assign legal significance to fatherhood in animals. The Shulchan Aruch leaves this dispute unresolved, and mandates that we should conduct ourselves in accordance with whichever is the stricter opinion, depending on the factual scenario.

The third proof comes from the laws of orla. According to Jewish law, it is not permissible to use the fruit growing on a newly planted fruit tree during the first three years of the tree's life. Although there is considerable talmudic debate on the topic, all decisors agree that a graft from a tree which is six years old and not obligated in orla, onto another tree two years old and obligated in orla, legally makes the grafted branch part of the two year old tree. This is true even though the branches are still growing fruit of the old tree and genetically unrelated to the host.

Discussions of the last three types of host motherhood have generated a considerable amount of literature among the current periodicals of Jewish law"


Depois de tudo, a mim parece que o relatado no texto bíblico, isto é, que Eliezer seria o herdeiro de Abraão, foi apresentado não tanto como dado legal quanto como modo de expressar uma tragédia. Abraão tinha uma promessa de linhagem e essa ainda não existia. Não sei se ajudei, mas imagino que já percebeu que essas questões relacionadas com as leis judaicas podem ser difíceis mesmo para judeus, acho eu ;)

As disputas de halakhah, interpretações da lei judaica, são cheias de sutilezas. Jesus era um mestre nelas. Isso é fascinante, não?

Um grande abraço.
Paz e Bem.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 05 de September de 2009 13:47

Olá firefox

Grande mensagem. :) Obrigada! Pode não responder totalmente à minha pergunta, mas já dá umas indicações, nomeadamente à questão da herança, tal como estabelecida no Antigo Testamento.

Curiosa aquela questão dos convertidos e a limpeza das ligações familiares.

E é fascinante, sim, como tudo em Jesus! :)

Um grande abraço para ti também.

Cassima



Editado 1 vezes. Última edição em 05/09/2009 14:00 por Cassima.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 06 de September de 2009 21:21

Quanto à minha questao acho que nao vou levar em grande consideraçao as palavras do padre carreira das neves. Existem algumas razões para o fazer:

A primeira é que O Padre Carreira das Neves diz na introdução (muito extensa) ao seu livro que " segundo exegeses recentes tais frases não foram ditas por Jesus, mas pela Igreja de Jesus". Há uns tempos atrás confrontado com Lc 19,27 eu próprio procurei informação exegética sobre essa frase e nada encontrei. No livro na parte a que se dedica ao NT e ao evangelho de Lucas o Padre e eminente biblista Carreira das Neves nada menciona (o que acho lamentável dado que não se deve proferir frases dessas à toa. Uma falha do livro e do seu autor, portanto)

A segunda razão é que não interessa se gostamos ou não das frases. Não devemos escolher essas mesmas frases, elas foram ditas à partida pelo próprio Jesus e racionalmente não consigo encontrar nenhum critério académico ou não, que possa desmentir categoricamente esse facto. Lc 19,27 é de facto a frase mais dura dos evangelhos, mas também eu próprio já me tinha dado conta que ela está entre aspas e isso serve-me de conforto e sossego. É que Cristo não dá exemplo da Justiça de Deus, mas da Justiça que os homens na terra podem alcançar: a dos homens.

A terceira razão é que me parece que o esforço exegético, por vezes vai longe de mais na tentativa de adequar os valores da biblia, aos valores da nossa sociedade, mais especificamente aqueles que estão consagrados na carta os direitos do homem. Respeito o padre Carreira das Ñeves, e os exegetas que levam carinhosamente o esforço de compreender a biblia a bom porto. Mas não me parece o caminho correcto tentar escolher o que é bom e o que é mau nas palavras de Cristo.

A menos que nos proporcionem um critério infalível, para que possamos saber o que é dito por Jesus e o que não é, vou continuar a acreditar, que as palavras de Cristo são infalíveis e não vou fazer acepção das mesmas. Aceito Cristo e as mesmas como são. Como Ele É.

"Eu creio sim Eu creio sim e vivo alegre a minha fé"



Editado 2 vezes. Última edição em 06/09/2009 21:25 por vitor*.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 06 de September de 2009 23:18

Vítor

A tua mensagem fez-me lembrar algo que li na revista Actualidade Bíblia, n.º 4: O Jesus Histórico.

No final do 1.º artigo sobre a infância de Jesus de José Pérez Escobar, na página 14, estão esquematizados os 5 pontos que condensam os principais Critérios de Historicidade:

1. - Critério de 'dificuldade':
Consideram-se históricos os dados relativos às acções ou ditos de Jesus que haviam criado dificuldades à Igreja primitiva.

2. - Critério de 'descontinuidade':
Acções ou ditos de Jesus que não podem derivar do judaísmo da sua época nem da Igreja primitiva.

3. - Critério de 'testemunho múltiplo':
Acções ou ditos de Jesus que são testemunhados em mais de uma fonte literária independente ou em mais de uma forma ou género literário.

4. - Critério de 'Coerência':
Acções ou ditos de Jesus que se harmonizam bem com os dados considerados históricos segundo os três primeiros critérios.

5. - Critério de 'recusa e execução':
Acções e ditos orientados a explicar a sua morte e crucifixão como rei dos judeus.

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 08 de September de 2009 10:17

Penso que a bíblia deve ser apreciada de forma critica. Aceito como diz o padre Carreira das Neves que a bíblia também deve ser literatura(ou seja que não alinha em parte, com a historicidade das coisas), mas já me custa a aceitar que se creia que a na bíblia está tudo da forma como Deus quis que estivesse. Não faz sentido e por mais que dê voltas à cabeça, não consigo pensar que Deus quis que alguém escrevesse que Deus mandou matar alguém(Saul).

Eu não nego que a inspiração de Deus existe, mas ela é filtrada pela nossa humanidade e só passa de Deus, aquilo que a minha alma consegue alcançar com a sua experiência, cultura onde estou inserido e vivência. Assim se explica que o homem ao querer demonstrar a grandiosidade da justiça de Deus, a filtre sobre critérios humanos daquela época, dizendo que Deus mandou matar. A humanidade e o homem ser pessoal ao evoluir vai compreendendo melhor os critérios de Deus e interpretando melhor a inspiração de Deus.

Deus não quis que o autor escrevesse: "Deus mandou matar" e nem tudo para mim na bíblia está como ele quis. No entanto o produto final da bíblia tal como ela está no sentido em que dela se pode retirar a verdade religiosa fundamental, essa sim surge inteiramente da vontade de Deus.

Por vezes penso que a Igreja perde-se em enunciados, fideistas, de pouco fundamento critico, como o querer forçar "a que tudo na bíblia está como Ele quis". Não está.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 09 de September de 2009 13:45

Olha Vítor

Não consegui perceber essa crítica à Igreja. Porque (a não ser que tenha percebido mal e esteja redondamente enganada!) a mensagem que a Igreja passa é que a Bíblia deve ser lida tendo em conta a época, a cultura, as pessoas, os destinatários, em que foi feita. Exactamente como tu dizes. E que o que verdadeiramente interessa e nunca está errada na Bíblia é a mensagem da salvação.

Ponho aqui alguns textos que fazem parte da introdução da Bíblia dos Capuchinhos que está aqui no Paróquias.org (e que aconselho todos a ler).

Citação:
Introdução Geral da Bíblia dos Capuchinhos


A SAGRADA ESCRITURA, PALAVRA DE DEUS AOS HOMENS
Deus falou aos homens através de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas sobretudo por meio de seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2). Desse modo, a Palavra de Deus tornou-se linguagem humana sem deixar de ser Palavra de Deus, assim como o Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se, tal como Ele, às limitações e condicionamentos da palavra humana, excepto no erro formal. Tais condicionamentos são:

Condicionamentos de tempo Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um deles.
Condicionamentos de espaço Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos, cada qual com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helénico e outros no Império Romano. E um livro também é filho do meio em que nasceu.
Condicionamentos de raça Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do nosso. É preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.
Condicionamentos de cultura Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade e cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo isso marcou a Bíblia e deve ser tido em conta, pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspiração de Deus, não foram privados da sua personalidade.

(...)

INSPIRAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA A Inspiração é o que caracteriza e essencialmente distingue a Bíblia de todos os outros livros humanos. Acreditar na Inspiração da Sagrada Escritura foi sempre um dogma de fé para os Judeus e para a Igreja.
(...)
Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria." (n.° 11) Portanto, segundo a constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da acção transcendente de Deus que suscita, dirige e envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenação com ela.
Esta acção divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para a produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os géneros literários que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal acção favorece a sua livre espontaneidade; porque o homem é tanto mais livre e activo quanto mais o Espírito Santo o acompanha. Deus, quando actua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros sagrados.

A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA Diz também a Dei Verbum: "E assim como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Letras." (DV, 11)
A verdade da Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor da Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na Bíblia qualquer verdade, mas só a que interessa à salvação do homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se de uma verdade não puramente especulativa, mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência, mas ao homem todo; uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e variados géneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens; uma verdade que está em toda a Bíblia e não apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos baptizados e não de cada um individualmente.

A INTERPRETAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA "Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras." (DV, 12)
Para esse fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, os sentidos bíblicos e certas regras teológicas de interpretação.

Cassima

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: vitor* (IP registado)
Data: 10 de September de 2009 12:53

Cassima

Eu tenho bem presente essa introdução da bíblia dos capuchinhos, que aprecio muito, mas segundo o o padre carreira das neves e a mesma introdução da bíblia dos capuchinhos, os autores sagrados da bíblia escreveram aquilo que Deus quis que eles escrevessem e nada mais.

É algo que não faz sentido tendo em conta o que é dito na Dei Verbum.

Parece-me que se os autores sagrados tivessem escrito a bíblia segundo o que Deus quis e "só" o que Deus quis, então não haveria outro autor da bíblia senão Deus, algo que na mesma Dei Verbum é dito que não acontece. Não faz sentido. Posso não estar a entender, mas gostava muito de entender. Se alguém me puder explicar, agradecia.



Editado 2 vezes. Última edição em 10/09/2009 13:00 por vitor*.

Re: Que sabemos da Bíblia?
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 10 de September de 2009 13:57

Vítor, compreendo o que queres dizer: Se na Bíblia só se escreveu o que Deus queria, parece que o homem teve pouca liberdade de escolha na tarefa. Mas acho que tudo depende como se vê a acção do Espírito Santo sobre o Homem. Orienta-o ou força-o?

Eu vejo as coisas da seguinte forma: Para escrever a Bíblia Deus escolheu os homens para escreverem "tudo aquilo e só aquilo que Ele queria", ou seja, Deus seleccionou o tema, o âmbito, impôs os limites (a salvação e o relacionamento de Deus com os homens). Os homens, "na posse das suas faculdades e capacidades" escolheram a forma como escreveram, determinaram os estilos, inventaram ou seleccionaram as personagens (a mensagem particular e específica de cada texto tendo em vista a salvação e o relacionamento de Deus com os homens).

Um exemplo que espelha isso (se bem que possa parecer infantil) é um teste numa escola. O professor escolhe o assunto sobre o qual o aluno deverá escrever, estabelece o âmbito de dissertação. O estudante escolherá a forma de o fazer (ficção, ensaio, reportagem jornalística, prosa, poesia, com pessoas reais ou fictícias, etc.) e poderá contar com o apoio e orientação do professor nas dúvidas que tenha para executar a tarefa.

Cassima

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