Caro Manuel,

se teologia fosse o que dizes ser, então se calhar eu estaria de acordo... o problema é que a teologia não é um bando de teorias mais ou menos filosóficas sobre Deus... E os Evangelhos não são exactamente o que aconteceu, tal e qual como aconteceu... ou achas isso credível? Reproduzir ipsis verbis as palavras de Jesus? Não significa que não sejam verdade. De facto, eles são a VERDADE... Porque eles revelam o próprio Deus feito Palavra. Mas ao sê-lo, eles são também teologia, porque manifestam o modo como os primeiros cristãos de facto ensinaram quem era Deus. Neste sentido, sem serem eles próprios um Deus, os Evangelhos são manifestação e revelação do Deus-Verbo... o mais curioso é que, no fundo, em certo sentido, para os Cristãos, isso acaba por ser bem mais claro e valioso do que a própria passagem de Cristo encarnado pela terra... é que Cristo está todo nos Evangelhos. Mas, ao mesmo tempo, os Evangelhos são já diferentes do que foi a própria passagem de Cristo pela terra, porque são mediados por anos e anos de pregação e reflexão e pelas próprias condições de produção escrita do texto. E nesse sentido eles são já manifestação de uma reflexão sobre Deus e sobre a mensagem de Cristo e a sua maturação. Por isso eles são já teologia (sem preconceitos)... Como se o Jesus dos Evangelhos fosse já diferente do Jesus da realidade histórica irrecuperável: por isso muitos autores distinguem entre Jesus (como personagem histórica) e Cristo (fruto da reflexão teológica que acreditamos certamente o próprio Jesus transmitiu mas que encontra a sua construção progressiva nas primeiras comunidades cristãs). Parece confuso... e se calhar é um bocadinho... Como se aparentemente Deus apenas o fosse pela necessária mediação humana. Como se Deus precisasse dos homens para o ser... E isso sim é já teologia... mas ao mesmo tempo, é o que Deus é... ;-)

Abraço fraterno,

Miguel

Na verdade, eu acho «lógico» e aceitável que as pessoas tenham a sua «imagem» psíquica e pessoal de YHWH e que essa imagem evolua ao longo dos tempos.
Mas isso não é revelação de Deus. Contudo, os chamados A.T. e N.T. são a revelação da «Palavra» de Deus aos homens e estes transmitem-na aos outros de acordo com as suas possibilidades. Cada um usa a sua própria linguagem, mas a mensagem chega completa.
A teologia também procura consensos, de acordo com as crenças dos intervenientes.
Há algo muito mais que a «Revelação». Há muita especulação. O mal é que os teólogos acabam por se convencer da sua inerência teórica.
Na bíblia também há erros (eu já notei alguns), mas são de origem humana. Por exemplo, erros de copistas, de tradutores, acrescentos de opiniões marginais que passaram a ser inseridos no contexto, etc. Há também cópias de livros do N.T. (por exemplo : o de Mateus) que não é uma tradução fiel do hebraico. Mateus escreveu em hebraico várias notas em dois livros. Um compilador grego juntou essa matéria toda e adaptou-a conforme os seus conhecimentos. Os erros são facilmente notados. Ele não tentou desvirtuar a verdade, apenas fez o trabalho da melhor maneira que lhe foi possível. Os originais hebraicos (ainda do conhecimento de S. Jerónimo) acabaram por se perder.
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Você usa termos como «Deus feito Palavra»; « Deus-Verbo»; «Cristo encarnado».
Todas estas expressões podem causar confusão.
Por exemplo em relação à «Palavra» e ao «Verbo» de Deus devo realçar que essa «Palavra» ou «VERBO» já existia antes de Jesus nascer. Não foi o facto de ter nascido Jesus que o «Unigénito» se transformou na «Palavra» ou o «Verbo». (Apoc.19,13) O «Verbo de DEUS» (assim é que está correcto) é o próprio «Filho Unigénito» de Deus que já existia antes de TUDO ser criado por seu intermédio. (Jo.3,16.18 e 1ª carta de João 4,9)
Quanto a «Cristo»! Houve muitos «Cristos» antes de Jesus. Cristo (ou melhor Messias) significa «Ungido». O «eleito de Deus» era "ungido" (untado) com óleo como prova da sua eleição. Foi o que aconteceu, por exemplo com Saúl, David etc.
O «ungido» de Deus que mais ficou na mente do povo de Israel foi o rei «David» e seu filho «Salomão». Com o exílio em Babilónia surgiu a esperança e sonho de um novo filho de David, um novo «eleito» de Deus, um novo «Messias» que salvasse Israel da escravidão e do exílio.
Jesus apresentou-se como esse «ungido», esse «Cristo» esse «Messias». Os seus discípulos aceitaram-no como tal. A maior parte de Israel não. (Isto dava pano para mangas).
Portanto, embora Jesus fosse o Filho Unigénito de Deus antes de se tornar homem, só passou a ser o «Cristo», o «ungido» a partir de começar a sua missão de fundar o «REINO» e de pregar as «Boas Novas», o «Evangelho» da Libertação. Como passou a fazer parte das «coisas criadas» (da humanidade), passou a ser o Filho Primogénito de DEUS. Era Unigénito (único) no princípio, e passou a ser Primogénito (principal), já que Deus adoptou a humanidade como seus filhos. Jesus também se tornou o primogénito de TODA a criatura, porque os próprios anjos também foram adoptados como Filhos de DEUS.
Quanto à condição divina do Filho, não devemos nunca esquecer que o Filho é o Filho, e o Pai é o Pai. O Filho procede do PAI. O Pai não procede do Filho. O Pai deu (submeteu) TUDO ao Filho. O Filho recebeu do Pai. No entanto quando dizemos TUDO, temos de ter em conta que há uma excepção : «Aquele que Lhe submeteu todas as coisas».
(Heb. 2,5;
1ª Cor. 15,27-28
I Coríntios 15,27)


_{Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.}