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O relato da criação no Gênesis
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 04 de February de 2007 23:25

Uma interpretação profética da história do mundo. A fé de Israel.

O exílio foi uma dura prova para Israel. O fracasso do projeto de um reino temporal, o sofrimento e a humilhação de viver sob o poder estrangeiro, o contato com outras culturas, outras crenças, tudo isso colocava sérias perguntas à fé de Israel.

Os profetas, intérpretes da ação de Deus na história, que ajudaram a sustentar a esperança de Israel nos tempos mais críticos, ajudaram-no tb a compreender a sua história no contexto da história de todos os povos. A derrota e o exílio forçaram Israel a superar uma visão simplista de sua história para compreender que a ação de Deus ia muito além de suas fronteiras. Os profetas autores dos livros sagrados quiseram mostrar, iluminados pela luz da fé, que Javé, o Deus de Israel, é o Deus de todos os homens e dirige a história de todos os povos.

O livro do Genesis

Os onze primeiros capítulos do Genesis mostram a ação salvadora de Deus no mundo, desde suas origens. Mas é inútil procurar nesse texto dados precisos sobre uma "pré-história do povo de Deus". O autor não tinha como conseguir esses dados. A revelação divina não acontece para satisfazer a curiosidade de ninguém, nem vem suprir uma tarefa que pertence a pesquisa histórica ou à ciência cosmológica. Ela vem para ensinar-nos sobre o significado religioso-espiritual dessa história impossível de ser escrita.

O relato da criação. O mito do paraíso.

Para combater os mitos pagãos, Israel cria seu próprio mito inspirado na sua fé. Essa estória não tem nada a te dizer sobre a maneira como se deu a aparição do homem no mundo, sobre a situação concreta dos primeiros homens, sobre a sua maneira de vida, nem mesmo sobre suas experiências precisas de fidelidade ou de pecado. Entretanto, elas podem te revelar, como Palavra de Deus, a presença do amor de Deus na história dos homens, a realidade do pecado, a vitória da graça de Deus sobre o pecado.

Algumas pistas para a interpretação dos símbolos relacionados no relato da criação:

* Adão - palavra hebraica que significa "homem".
* Barro, sôpro de Deus - situação do homem, ligado à terra, mas sentindo em si uma vida que o coloca em ligação com Deus.
* Costela de Adão - igualdade essencial do homem e da mulher, na dignidade e nos direitos.
* Paraíso - a realização plena do homem. Coincide com o que os profetas anunciavam para o futuro: paz, harmonia, plenitude das bençãos divinas.
* Árvore da vida - a Palavra, a sabedoria divina que permite a vida do homem ser plenificada pela vida eterna de Deus.
* Árvore do conhecimento do bem e do mal - a magia, que pretende o poder absoluto, a decisão autônoma sobre o bem e sobre o mal, sem referência a Deus. (Em hebraico, "conhecer" é o mesmo que "possuir", dominar a coisa conhecida.) O contrário da religião.
* Serpente - símbolo das divindades da fertilidade. A tentação de Israel em face dos deuses cananeus: apropriar-se magicamente da fertilidade, em lugar de recebê-la como dom de Javé.
* O fruto oferecido pela mulher - os reis de Israel foram arrastados à idolatria pelas mulheres estrangeiras do palácio.
* os espinhos da Terra, o suor do trabalho, as dores do parto, a morte - todas as limitações da natureza humana, na perspectiva, sem esperança, de um mundo em que o homem destruiu, pelo pecado, os meios de acesso à vida divina. Sem saída para a vida, essas limitações se tornam dolorosas e sem sentido.


O drama da vida no relato da criação.

O relato da criação é uma espécie de drama em três atos, e nenhum deles pode ser esquecido, senão o sentido de toda a estória vai ser deturpado:

* 1º ATO: O plano de Deus para o homem e para o mundo.
* 2º ATO: O pecado - atitude livre do homem - entra em cena, opondo um obstáculo ao plano divino.
* 3º ATO: Deus torna a entrar no cenário e, diante da situação criada pelo homem, revela novos aspectos do seu plano de salvação que vêm ao encontro da situação criada pelo pecado.

O autor do Genesis quer mostrar a história do mundo como a História da Salvação. Para mostrar a presença do amor de Deus na história do mundo, ele escolhe um caminho bem simples: projeta na história do mundo a experiência vivida por seu povo, a história de Israel. Mas, sendo basicamente a mesma experiência de graça e de pecado de todo homem perante a Deus, e agindo sob a inspiração divina, essa estória ultrapassa os limites da experiência de um povo para ser o relato da situação de todo homem diante de Deus.

* 1º ATO: O plano de Deus - dirigindo a trama há o grito de não-aceitação da situação do mundo: ela não corresponde ao plano de Deus.
* 2º ATO: O pecado - assim como Israel colocou obstáculos à realização das promessas divinas, tb a humanidade toda coloca obstáculos para a construção do Reino de Deus.
* 3º ATO: A restauração do plano divino - da mesma maneira que as infidelidade de Israel não conseguiram frustrar as promessas divinas, graças ao amor e à misericórdia de Javé, que sempre se dispos, com paciência e amor de pai e de mãe, a reconduzir Israel com segurança para o Reino. Aliás, esse plano de restauração vai manifestar toda a sua riqueza na encarnação de Cristo.

Por isso que o relato da criação, como está no Genesis, é um sinal de esperança. A graça de Cristo excedeu o poder do pecado, a esperança cristã supera toda a visão pessimista da situação do homem no mundo.



Editado 1 vezes. Última edição em 04/02/2007 23:31 por firefox.

O relato da criação no Gênesis
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 04 de February de 2007 23:31

O relato da criação e o problema do mal

O relato da criação NÃO é um relato histórico, é um relato sapiencial. Seria competamente inútil procurar a "árvore da ciência do bem e do mal" nos manuais de botânica. Trata-se claramente de um termo simbólico, como o são os demais termos que aparecem no relato: a felicidade, o pecado, a morte... São todos esses temas de reflexão da sabedoria oriental.

Que ninguém estranhe o fato da narração bíblica não considerar a evolução das espécies nem o poligenismo. Os primeiros capítulos do Genesis são o registro de uma tradição espiritual, os ensinamentos ali não são históricos, são espirituais. Nenhum daqueles homens tinha nenhum conhecimento desses assuntos científicos modernos. Tampouco cabe pensar que estamos diante de um relato para mentes primitivas escrito por um autor "mais bem informado" do que seus contemporâneos, por ter tido uma visão milagrosa do que acontecera. Não tem o menor sentido esperar que os autores bíblicos resolvam problemas científicos da nossa época, como os assuntos referentes a origem da humanidade, que era totalmente desconhecidos para eles.

O que podemos procurar, em contrapartida, nos relatos bíblicos da criação, são ensinamentos sobre problemas comuns tanto para eles quanto para nós, porque assim, em vez de levarmos o texto ao ridículo, e ao invés de destacar anacronismos nos textos, encontraremos a sua eterna modernidade.

Por que existe o mal no mundo? O mal não foi criado nem por Deus, nem por um segundo princípio independente de Deus, mas foi introduzido no mundo pelo próprio homem ao abusar da liberdade que Deus lhe deu. Mas o autor bíblico não se expressava em termos abstratos, ele pertencia a uma cultura narrativa (por isso mesmo que Jesus, que pertencia a mesma cultura, se expressava através de parábolas).

Os escritores biblicos não inventavam as narrações que iam empregar para se expressar, mas colecionavam seu material a partir das tradicoes populares de Israel, que por sua vez tiveram contato com os povos vizinhos. Por exemplo, o mito babilônico da criação contava que o deus Ea criou o bem e o mal. Ea tb criou o homem com barro, mas nele pôs tendências más ao misturar o barro com o sangue de Kingu, um deus caído. ("O poema babilonico de la creacion", em "La sabiduria del antigo Oriente", J.B.Pritchard) Israel pode ter se apropriado desse tipo de relato para narrar uma criação em sete dias. Para deixar claro que existe um só princípio, Deus aparece criando tudo, inclusive sol e lua, que em muitos povos são considerados deuses. Para dizer que Deus não criou o mal, cada dia da criaçãos e conclui com "Deus viu que isso era bom". Depois só faltava acrescentar a narração do pecado de Adão e Eva.

Para os literalistas, esse tipo de leitura é inconcebível. Eles preferem se exercitar em explicações fantásticas, negando a existência dos dinossauros, ou atribuindo-os a mutações genéticas causadas por Satanás. (Pasmem! Já ouvi isso sim!) O dilúvio teria sido mesmo causado por um volume absurdo de água que apareceu e desapareceu fantasticamente. O sol parou no céu, a ninguém foi arremessado no vácuo espacial pela inércia, nem houve desacerto nenhum nos sistemas astronômicos. E assim por diante. A explicação para tudo? Que para Deus tudo é possível. Mas uma outra explicação talvez fosse que, para evitar ter que mudar de opinião, qq ginástica mental é possível.

O relato da criação no Gênesis
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 04 de February de 2007 23:42

O relato da criação e o mito de Adão e Eva

Qual o problema de Adão ser um personagem de um mito? Para quem faz uma interpretação literal talvez isso se torne um problema, mas não será para um leitor mais afinado com o espírito do texto bíblico. Aliás, acrescente-se que Adão não sequer é um nome próprio, é um substantivo, uma palavra hebraica para designar "homem". Para ir ainda mais longe, no relato a palavra sempre aparece com o artigo antes: "o homem".

Tenho claro para mim que o relato do Gênesis é uma profissão de fé, e não de uma cosmogonia. Quem tem que dizer sobre o modo como foram se sucedendo os fenômecos da gênese do mundo, sobre a evolução, é a ciência. O papel da fé é outro! A fé pertence apontar a causa última, extramundana, de todo esse processo. E, principalmente, indicar o sentido dessa relação de dependência de tudo quanto existe para com Deus, para a vida do homem. Esse é o papel do relato da criação.

A Bíblia apresenta a criação e seu sentido para a vida do homem de uma maneira poética, por meio de um poema litúrgico. Um poema para ser proclamado nas assembléias do culto divino.

A distribuição das "tarefas divinas", nos dias da semana, obedece a um engenhoso artifício literário, e às concepções cosmológicas da época:

DIA ----------- SEPARAÇÃO
1º ----------- luz, trevas
2º ----------- águas acima do firmamento e águas inferiores
3º ----------- terra, mar

DIA ----------- ORNAMENTAÇÃO
4º ----------- sol, lua estrelas
5º ----------- passáros (ar) e peixes (água)
6º ----------- animais da terra e o homem

DIA ----------- DESCANSO DE DEUS
7º ----------- Modelo do descanso do homem, no sábado, e fim do trabalho humano na criação.

A criação é descrita como uma passagem do CAOS para a ORDEM. Daí as duas obras fundamentais de separação e ornamentação. Para cada dia de separação houve um dia de ornamentação correspondente, concluindo com o "descanso de Deus", e o "descanso do homem", significando a contemplação. Trata-se do "descanso EM Deus" de que falava Sto Agostinho: "Senhor, criaste-nos para Ti, só encontramos descanso em Ti."

Paz e Bem.

Re: O relato da criação no Génesis
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 10 de March de 2007 18:33

Muito importante:

1) Antes reinava o caos ...
2) YHWH Deus criou a ordem ....
3) O Homem (Adão aliado-se à serpente-dragão) reestabeleceu o caos ...

4) Uma nova ORDEM foi prometida por YHWH DEUS. (Génesis cap. 3)

5) O Cristo já deu o primeiro passo: (Esta é a BOA NOVA, e a base da minha esperança de que YHWH vai cumprir as suas promessas).

6) Em primeiro lugar essa ORDEM foi estabelecida no CÉU. (Apocalipse 12)

7) Esperemos que em breve a ORDEM seja também estabelecida na terra. Esse dia é o dia do nosso DESCANSO. (Hebreus cap 3 verso 7 a Hebreus cap 4 verso 11)

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: O relato da criação no Gênesis
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 23 de March de 2007 11:30

A teologia bíblica da criação afirma a alteridade da natureza ou do mundo em relação a Deus. A natureza e todas as suas criaturas não são Deus, ao contrário de alguma filosofia grega, que defende a unidade do ser, da filosofia e teologia gnóstica e do movimento religioso moderno NEW AGE.
Pe. Carreira das Neves

João (JMA)

Re: O relato da criação no Gênesis
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 04 de April de 2007 12:53

A humanidade, qual igreja de Cristo, tem uma cabeça que é Cristo.
E a cabeça de Cristo é Deus.

Citação:
1 Cor 11, 3 *
Mas quero que saibais que a cabeça de todo o homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, e a cabeça de Cristo é Deus.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.



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