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Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 28 de September de 2006 19:39

No próximo sábado vai começar a sair como suplemento ao Expresso a obra Bíblia, o Livro dos livros, do Pe Carreira das Neves.

O plano da obra é:


Livro 1 - Grandes Mitos I - 30 de Setembro

Livro 2 - Grandes Mitos II - 07 de Outubro

Livro 3 - Grandes Sagas I - 14 de Outubro

Livro 4 - Grandes Sagas II - 21 de Outubro

Livro 5 - Grandes Provações - 28 de Outubro

Livro 6 - Grandes Sacrifícios - 04 de Novembro

Livro 7 - Grandes Poemas - 11 de Novembro

Livro 8 - Grandes Profetas - 18 de Novembro

Livro 9 - Jesus de Nazaré: O que diz a História - 25 de Novembro

Livro 10 - Jesus de Nazaré: O que diz Jesus - 02 de Dezembro

Livro 11 - São Paulo - 09 de Dezembro

Livro 12 - Apocalipse - 16 de Dezembro


Podem ver mais informações aqui.

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 28 de September de 2006 19:44

Quem estiver interessado numa conferência de apresentação da obra, pelo Pe Carreira das Neves:

Terça-Feira, 3 de Outubro, pelas 21H30
Centro Cultural Franciscano
Largo da Luz
Entrada livre

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Rita* (IP registado)
Data: 29 de September de 2006 20:49

A Bíblia, meu livro mais precioso - 29/09/2006 - 09:19

Frei Patrício Sciadini, ocd

Quem lê a Bíblia encontra-se numa encruzilhada muito importante: ou deixar de ler a Bíblia ou mudar de vida.

Todos os anos quando chega o mês de Setembro, que para nós, no Brasil, é o “mês da Bíblia”, sinto-me imensamente feliz. Na Bíblia contemplo o rosto de Deus escondido que se faz manifesto nos profetas especialmente na pessoa de Jesus. Ele foi enviado pelo Pai para que fôssemos tirados da ignorância e pudéssemos contemplar claramente as maravilhas de Deus.

Nem sempre fui um apaixonado da Bíblia. Aliás, ela entrou muito tarde na minha vida. Não devemos esquecer que eu pertenço ao século passado e sou de antes do Concílio Vaticano II, quando ainda a Bíblia era um livro raro nas mãos dos cristãos e...um tanto perigoso...

Recordo ainda que, aos 18 anos, quando entrei para o Carmelo, não tinha uma Bíblia toda para mim. E nem a tinha lido. Um dia, me deu uma vontade imensa de ler esse livro sagrado e fui pedi-lo ao meu mestre, que me disse:
- “Por que você quer ler a Bíblia?”
A minha resposta foi uma só:
- “Queria saber o que há escrito nela”.
O mestre, um santo frade carmelitas, me respondeu com toda simplicidade, pegando em uma estante uma Bíblia em latim:
- “Cuidado! Leia com atenção, mas nem todos os livros!”.

Um conselho que me despertou mais curiosidade. E me aconselhou a não ler nem o Cântico dos Cânticos nem o livro do Levítico. Despertou a minha curiosidade, pois eu nem sabia que existiam esses livros. Foram os primeiros que, depois de muito trabalho e com a ajuda de outros, consegui encontrar. Não gostei do Levítico, mas amei e amo cada vez mais o Cântico dos Cânticos, onde há uma dança de amor linda entre Deus e nós, na procura de uma comunhão sempre mais profunda.

Hoje, a Bíblia é o meu livro preferido. Nele encontro as respostas a todas as minhas angústias e desejos, ânimo nas dificuldades, coragem, entusiasmo, fundamento para poder anunciar a mensagem mais bela de todas: Jesus Cristo, Salvador, Filho de Deus e nosso irmão, que veio para fixar sua morada entre nós. Na Bíblia encontramos o nível de relacionamento que devemos ter entre nós; através do amor e do perdão podemos viver em paz com todos.

A Bíblia deveria ser o livro de cabeceira não somente dos católicos, mas de toda pessoa de “boa vontade”, de todos os políticos e líderes, de toda pessoa que procura ser ela mesma. Quem lê a Bíblia encontra-se numa encruzilhada muito importante: ou deixar dse ler a Bíblia ou mudar de vida. Não se pode continuar a ler a Bíblia e não tomar decisões em favor de Deus e dos irmãos.

O “mês da Bíblia” é o mês em que nos deparamos diante do livro de Deus e queremos nele buscar a nossa maneira de agir e de ser. O que importa não é ter em casa uma dúzia de bíblias na estante, mas sim, ler, meditar a Palavra de Deus, que é lâmpada para os nossos pés, luz para o coração, orientação segura no nosso dia-a-dia. Hoje em dia, todos nós temos a possibilidade de ter a “nossa Bíblia”. É a casa de Deus e nossa casa.

Depois de ler a Bíblia, eu gosto muito de beija-la porque, como dizem os Padres da Igreja, quando se beija a Bíblia, beija-se o rosto de Deus invisível presente na Bíblia Sagrada.

Não devemos ter medo de estudar a Bíblia: ela nos ajuda a compreender como Deus de verdade toma pela mão o ser humano, sua criatura preferida, e o conduz ao encontro mais íntimo com ele na “tenda interior”, onde se revela a nós, pobres criaturas.

Leia, medite a Bíblia e sua vida será diferente. Viver uma só palavra da Bíblia é viver toda a Bíblia.




Última Alteração: 09:19:00

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 03 de October de 2006 11:08

Quero informar que a data da conferência de apresentação da obra, pelo Pe Carreira das Neves, foi alterada para a próxima semana.

assim que tenha a data correcta, informarei.

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 06 de October de 2006 09:26

Ora aqui está:

A 1ª Conferência do ciclo “Bíblia: o Livro dos livros” vai ter como título:
"Grandes Mitos"
O orador será o Padre Joaquim Carreira das Neves
Quarta-Feira, 11 de Outubro, pelas 21H30
Centro Cultural Franciscano
Largo da Luz
Entrada livre

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 11 de October de 2006 17:22

A ler antes ou depois de ir à conferência este artigo

Epafras

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 12 de October de 2006 20:06

Pois, quem escreveu o artigo melhor fazia em ter ido à conferência. Talvez ficasse mais esclarecido.

Trataram-se dos Grandes Mitos da Bíblia, e foi deveras interessante.

Mas pergunto-me: seguiste o meu conselho, Epafras, e compraste os livros?

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 13 de October de 2006 16:43

Caro JMA:

Agradeço o conselho mas não o segui; portanto não comprei os livros. Já conheço suficientemente bem a escola exegética do Padre Carreira das Neves, e é carreira que eu não apanho.

Mas acompanho as reacções que vão surgindo quer de não católicos, quer de católicos, como por exemplo esta:


O evangelho segundo Mário Robalo (inspirado pelo Pe Carreiras das Neves)

Mário Robalo anunciou no Expresso do passado Sábado a publicação de "Bíblia, o livro dos livros" (Revista Actual, Semanário Expresso, edição de 01/07/2006, p. 22). Esta obra será distribuida em conjunto com o Expresso a partir de Setembro.

Esta colecção de 12 volumes pretende ser uma "leitura da Bíblia, à luz das novas investigações teológicas, arqueológicas, filológicas e antropológicas", e apresentará uma interpretação do texto baseada na "análise critico-literária".

Mário Robalo revela que, nesta obra, "a questão da «queda» de Adão e Eva é tratada como «mito de origem»". A Criação será tratada da mesma forma. "No que respeita aos milagres de Jesus, estes não poderão ser tomados à letra".

O autor/organizador desta "obra científica" será o "teólogo católico Carreira das Neves".

Ora esta obra científica, organizada por um teológo católico, não é, de acordo com as próprias palavras de Mário Robalo, compatível com a doutrina católica. Por outro lado, a credibilidade de alguns dos métodos 'científicos' utilizados foi posta em causa por um tal Cardeal Ratzinger. Em resumo:


A incompatibilidade entre conclusões apresentadas e a doutrina da Igreja

Os exemplos apresentados demonstram que estes volumes se irão afastar da doutrina e dos ensinamentos da Igreja:


- A Criação, tal como narrada nos livros do Génesis, não é um mito

Na Encíclica Humani Generis sobre as opiniões falsas que ameaçam a doutrina católica (n.ºs 38-39), o Papa Pio XII ensina que:

"... é deplorável a maneira extraordinariamente livre de interpretar os livros históricos do Antigo Testamento.

...os onze primeiros capítulos do Gênesis, embora não concordem propriamente com o método histórico usado pelos exímios historiadores greco-latinos e modernos, não obstante, pertencem ao gênero histórico em sentido verdadeiro, que os exegetas hão de investigar e precisar;... contêm ... uma descrição popular da origem do gênero humano e do povo escolhido. Mas, se os antigos hagiógrafos tomaram alguma coisa das tradições populares (o que se pode certamente conceder), nunca se deve esquecer que eles assim agiram ajudados pelo sopro da divina inspiração, a qual os tornava imunes de todo erro ao escolher e julgar aqueles documentos.

...o que se inseriu na Sagrada Escritura tirado das narrações populares, de modo algum deve comparar-se com as mitologias e outras narrações de tal gênero, as quais procedem mais de uma ilimitada imaginação do que daquele amor à simplicidade e à verdade que tanto resplandece nos livros do Antigo Testamento, a tal ponto que os nossos hagiógrafos devem ser tidos neste particular como claramente superiores aos antigos escritores profanos
."


- A narração da Queda não é um mito

Como refere o Catecismo da Igreja Católica (#389-390), "...A Igreja , que tem o sentido de Cristo, sabe bem que não pode tocar-se na revelação do pecado original sem atentar contra o ministério de Cristo. A narrativa da queda utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial, um facto que teve lugar no início da história do homem. A Revelação dá-nos uma certeza de fé de que toda a história humana está marcada pela falta original, livremente cometida pelos nossos primeiros pais".


- Os milagres de Jesus aconteceram realmente

"Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro" (Jo 19, 35).

Leia, por favor, o seguinte excerto da Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II (n.º 19):

"A santa mãe Igreja defendeu e defende firme e constantemente que estes quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus. durante a sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu "(cfr. Act. 1. 1-2).


- As limitações do método crítico-histórico

Num texto apresentado pelo Cardeal Ratzinger em 1988 - Biblical Interpretation in Crisis: On the Question of the Foundations and Approaches of Exegesis Today -, este critica os métodos histórico-científicos em voga, colocando em causa a objectividade dos resultados atingidos:

"Após 200 anos de trabalho de exegese ... torna-se claro que esta história não é simplesmente uma história de progresso de conclusões imprecisas para conclusões precisas e objectivas. Parece muito mais uma história de de inter-relações subjectivamente reconstruidas ... que correspondem exactamente aos desenmvolvimento da história espiritual... os seus pressupostos filosóficos tornam-se aparentes ... o observador descobre para sua surpresa que estas interpretações, que eram suposto ser estrita e puramente "históricas", reflectem o seu próprio espirito dominador... Esta descoberta não deve levar ao cepticismo sobre este método, mas antes ao reconhecimento honesto dos seus limites..."

Fonte: Fiat lux

Na próxima conferência podes confrontar o Padre Carreira das Neves com estas questões se é que já não foi confrontado.

Epafras.

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 13 de October de 2006 18:57

Caro Epafras,

Estes volumes não se afastam da doutrina e dos ensinamentos da Igreja.

Em 1º lugar se leres a Bíblia que está online neste site, vais ler muitas interpretações iguais às posições do Pe Carreira das Neves.

Em 2º lugar, o que apareceu nestes livros para o grande público é aquilo que se discute nas reuniões dos Biblistas Católicos e não só.

São não apenas as opiniões do Pe Carreira das Neves mas o estado da discussão nas academias e comissões bíblicas.

Discussão onde participam muitos cardeais, desde o então Ratzinger, a Bruno Forte, a Carlo Maria Martini, a Walter Kasper, etc.

Em 3º lugar, o Pe Carreira das Neves é Professor de Teologia e como tal os seus escritos são objecto de verificação.

Já escreveu sobre todas estas matérias apresentando tais pontos de vista e nunca lhe foi chamada a atenção de que se tinha afastado da doutrina e dos ensinamentos da Igreja.

O que obrigatoriamente aconteceria se fosse como dizes.

Quanto à advertência de Ratzinger com o método histórico-crítico, posso-te dizer que as mesmas advertências e outras foram feitas pelo próprio Pe Joaquim quanto a esse método.

Em total sintonia, portanto.

Mas não há nada como assistires à próxima conferência logo no início de Novembro que terá como título, se não me engano, "Grandes Sagas e Grandes Provações".

João (JMA)

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 24 de October de 2006 18:23

Na próxima semana terá lugar uma nova conferência do ciclo "Bíblia, o Livro dos livros".

"Grandes Sagas e Grandes Provações"

Padre Joaquim Carreira das Neves

Dia 02 de Novembro de 2006 às 21.30h

Centro Cultural Franciscano
Largo da Luz, nº11
Lisboa (Carnide)
Telefone: 217140515

Para mais informação contacte lux.mundi.2006@gmail.com

João (JMA)



Editado 1 vezes. Última edição em 24/10/2006 19:41 por JMA.

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Cunha (IP registado)
Data: 07 de November de 2006 20:54

Devo dizer que tenho comprado os livros e tenciono fazer a colecção. Só tenho "pena" é que os comentários do Padre Carreira das Neves sejam poucos, no meu ver, pois o texto bíblico correspondente também aparece nos próprios livros, com letras bastante grandes (ideal para quem tem problemas de visão). Mas gosto dos comentários; quanto aos desenhos, gostos não se discutem. :D

Cunha

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 13 de November de 2006 14:51

Não tenho assistido a estas conferências, pelo que não sei exactamente do que lá se tem tratado, sobretudo no que diz respeito ao modo.

Mas gostava de deixar aqui uma nota.

Em meu entender, não ajuda muito em falar simplesmente dos textos bíblicos referidos neste tópico como sendo mitos. Salvo melhor opinião -- e gostava de a ver devidamente fundamentada --, chamar mitos a todos estes textos é um erro pedagógico e uma imprecisão científica.

Erro pedagógico, porque não se tem em conta o que as pessoas normalmente entendem por mito, originando isso confusões desnecessárias nas pessoas. A prova está no artigo que o Epafras referiu, um artigo que parte precisamente de um mau entendimento do que realmente se quer dizer na teologia católica (e, claro, de muitos pressupostos, que são «penalties atrasados). Quando se fala em «mito» as pessoas colocam as coisas imediatamente em termos de «ser ou não verdade histórica», desvirtuando-se tudo. Não é essa a questão fundamental.

Erro científico, porque considero que, pegando num exemplo, os relatos bíblicos da criação não são mitos em sentido próprio. Um dos aspectos fundamentais do mito é a sua repetição periódica. O mito não é apenas um «acontecimento» de um passado remoto, mas repete-se aqui e agora. Leva normalmente associada a noção do eterno retorno. Qualquer uma destas coisas é estranha à Bíblia, embora isto necessitasse de maior explicação. O tempo na Bíblia não é cíclico e isto não é coisa pouca.

Sendo assim, parece-me preferível falar em relatos de linguagem mítica, o que é muito diferente de dizer que são mitos. Os escritores sagrados inspirados lêem a presença de Deus na própria história e para isso usam categorias, símbolos, imagens, que eram comuns, como eram os mitos mesopotâmicos. Mas, usando uma linguagem muito parecida, dizem coisas muito diferentes, opostas até, como bem mostrou há pouco tempo o Miguel (rmcf).

Alef

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 13 de November de 2006 15:31

Eu julgo que por mito se quer dizer 'narrativa', como em grego. Nesse sentido, não me parece incorrecto falar-se de mito. Não vejo necessidade de nenhuma especial adaptação do vocábulo e acrescentar-lhe uma 'linguagem', para garantir a diferença entre os textos bíblicos e os "mitos". Acontece, no entanto, que tecnicamente, de um ponto de vista literário/filológico nada os distingue: vê, por exemplo, os mitos gregos, a maior parte completamente desligados de realidades rituais (por exemplo) ou repetitivas, e de onde o eterno retorno está quase sempre (nem sempre, é certo) ausente. E observa os mitos historicizantes latinos, criados e difundidos por Énio, Tito Lívio, Vergílio, etc etc. Ou os lindíssimos mitos celtas, recentemente publicados também em PortuguÊs.

Quando se fala em mito, está-se, fundamentalmente, a referir literatura (oral ou escrita, popular ou erudita) que remete para um passado mais ou menos longínquo e heróico, que muitas vezes serve de explicação ao presente ao àquilo que não se compreende, procura apresentar literariamente as bases de uma sociedade, acontecimento ou fenónemo, mas sem necessidade de repetição. Para te dar apenas dois autores, Malinowski refere-se ao mito como um tipo de linguagem (!!!) anterior à formulação da linguagem segundo categorias filosóficas/racionais. Também para Mircea Eliade o mito era, para os que o produziam e transmitiam, uma narrativa situada num passado brumoso mas prestigiante, espécie de tempo ou idade de heróis (ou o que se lhes queira chamar), diferente (quase sempre para melhor) do 'nosso' tempo ou da nossa raça. O mito é ainda pertença de uma colectividade que se revê nas suas informações, podendo ou não partilhar elementos com a religião (embora não necessariamente). Neste sentido, e se retirarmos a muitas narrativas bíblicas o seu sentido religioso, perceber-se-á que, cientificamente falando, estes textos são tão mitos como qualquer outro texto do mesmo ambiente cultural. Cientifica e culturalmente, Adão e Eva são tão mito como Epimeteu e Pandora. Quando falamos em termos religiosos, aqueles textos bíblicos não deixam de ser, tecnicamente falando, mitos. Mas, ao sê-lo, acreditamos também que, utilizando as linguagens e modos de raciocinar próprios da sua cultura, o autor bíblico procura falar de Deus, e procura expressar as suas descobertas acerca de Deus, utilizando as mesmas técnicas que surgiam também em outras religiões, acolhendo assim no seu texto a "revelação divina".

Normalmente noto um grande medo no uso das palavras e percebo que hoje se sinta receio pela aplicação de "mito" aos textos bíblicos, porque as semânticas das palavras mudam e porque mito adquiriu hoje o sentido de 'falsidade', 'oposto à razão' (quando não é! É antes uma forma da razão se exprimir, sem uma linguagem mais "positiva"). De resto, parece-me que a rejeição da designação técnica 'mito' tem sobretudo a ver com esta ideia de falsidade/mentira que lhe está associada. Ora, esta ideia está errada: um mito não tem de ser falso, do mesmo modo que a literatura não é mentira. Até, em bom rigor, um mito está tão afastado da realidade quanto um texto científico, que possui linguagem de premeio. Tudo depende do paradigma de análise que estamos a utilizar.

Eu gosto da palavra mito: porque permite de forma clara inserir os textos no seu contexto; porque permite descobrir com clareza e sem premeios retóricos como Deus nos fala através das condicionantes de linguagem/reflexão das culturas de produção dos vários textos; porque permite compreender na beleza da metáfora escrita e na confiança depositada no escritor e nos seus modos de escrita, toda a beleza de Deus...

Abraço fraterno,

Miguel

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 13 de November de 2006 15:54

Caro Miguel:

Claro, mas nota que tiveste o cuidado de restringir o âmbito da tua abordagem ao ponto de vista literário/filológico. Mas eu creio que o mito é mais do que isso.

Se bem me lembro, o mesmo Mircea Eliade não esquece esse aspecto.

Também não deve ser esquecido o carácter «importado» de alguns dos relatos bíblicos, que, num contexto diferente acabam por ter uma função algo diferente, de alguma forma instrumental em relação a uma visão do mundo e de Deus completamente diferente. Não se trata meramente de uma versão diferente dos mitos babilónicos.

Concordo contigo que se trata essencialmente do problema da conotação de «falsidade» que se atribui à palavra «mito». E geram-se confusões desnecessárias, como as reacções do camilo ao que escreveste a propósito dos mitos mesopotâmicos. Para não dar lugar a confusões desnecessárias (é verdade que nem todas as pessoas têm que conhecer estas distinções) e por outras razões já apontadas, falar em textos de linguagem mítica parece-me mais acertado.

Alef

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 13 de November de 2006 16:32

De acordo com o que dizes.

Mas, põe-te no lugar do Pe. Carreira das Neves. É um teólogo, com exigências científicas. Eu compreendo-o: não pode deixar de chamar "mito" aos textos do início do Génesis, porque o são tecnicamente; por outro lado, sabe a agitação que isso provoca nos fiéis. Utilizar a expressão 'textos de linguagem mítica' seria possível, mas não é tecnicamente a mais precisa. Embora, provavelmente bem mais pedagógica.

O problema é que as pessoas sentem que lhes estão a atacar o seu património. E por isso reagem sem tentarem compreender por que razão o Pe. Carreira das Neves (e 99% dos teólogos bíblicos e historiadores das religiões) chama mitos àqueles textos. Para as pessoas, isso só pode querer dizer 'ataque à Igreja'. Quando não é nada disso!!!! A verdade é que os cristãos hoje dizem, na sua maioria, pelo menos em Portugal, que de facto "Adão e Eva não existiram", "aquilo é uma maneira de falar da criação de Deus", é uma forma poética e não científica de dizer que Deus é o criador de tudo". Contudo, está tudo um bocado mal colado. As pessoas ouviram isso e até reproduzem isso, mas não perceberam bem as bases para se dizer isso: isto é - acabam sempre por explicar tudo, como uma espécie de justificação a posteriori para mostrar que nós não estamos errados e que afinal a Bíblia até está certa. Por isso, mesmo defendendo o carácter menos histórico do Génesis, quando se fala a alguém ou até a um seminarista de 'mito', ficam horrorizados, porque não percebem que estamos a falar numa linguagem científica e não a tentar desculpar nada.
A Igreja não defende actualmente uma abordagem diferente do Génesis porque foi obrigada a arranjar uma nova teoria interpretativa que não fosse contra o darwinismo!! Fê-lo porque as modernas técnicas hermenêuticas e de compratística levaram a perceber e a defender isso mesmo!!
De facto, nós não defendemos essa nova abordagem do Génesis, porque fomos apanhados pelo Darwin e agora temos de dar uma desculpa bem torneada para que ninguém note. Hoje dizemos que Adão e Eva e o relato da criação não são história, não porque fomos apanhados em contradição, mas também e sobretudo porque, de facto, a análise científica dos textos assim leva a concluir. E a Igreja di-lo, claramente.

O carácter "verdadeiro" dos mitos bíblicos é uma adição ao seu carácter mítico e não depende do texto em si mas exclusivamente da fé. Não deixando de ser mitos, esses textos adquirem aos olhos do crente uma significação outra, que não é necessária, mas que para nós que acreditamos é intrínseca. Mas o texto é sempre o texto.

Mas percebo as tuas reservas: no fundo, é também uma questão de catequese.

Abraço fraterno,

Miguel

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 11 de March de 2007 16:00

Eu estou muito sensibilizado pelo facto de ainda hoje haver pessoas que lêem a Bíblia, não apenas para si, nem para obter lucros comercias, mas que se preocupam em pôr à disposição de todos a sua leitura diária para dela tirarem proveito espiritual.

Estou a falar do «podcast» de
RupertTeixeira

O link é:
"http://www.rupertteixeira.com"

Pode ser gravada e ouvida com o iTunes.

Também pode ser feito o download a partir da sua caixa de correio «eMail» depois de fazer a subscrição gratuita.

Os ficheiros estão num formato género MP4 (não MP3), mas como eu, podem facilmente convertê-los para MP3, de forma a ouvir a leitura em qualquer leitor de Mp3 e em qualquer lado.

Estou muito bem impressionado com este amigo, porque ele não se limita a pôr à disposição um trabalho alheio (embora já do domínio público) mas o seu próprio trabalho. Esta leitura é em português do Brasil.
Também encontrei vários "podcasts" onde é lida a bíblia diáriamente, em Inglês.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Bíblia, o Livro dos livros (PodCasts)
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 15 de March de 2007 10:14

Posso acrescentar mais.
A tradução da Bíblia que é lida por Rupert Teixeira é a tradução usada por protestantes e publicada
pela Sociedade Biblica Tridentina que podem consultar aqui e até fazer aqui o seu download gratuito.
É muito louvável o trabalho deste cristão.
Contudo, esta tradução protestante não contem os sete livros deuterocanónicos bem com os complementos gregos dos livros de Ester e Daniel, para estimular ainda mais os católicos romanos, pois apreciam muito estes livros. Se encontrarem podcastes onde é assim lida uma tradução Católica Romana da Bíblia seria muito útil essa informação e um valor acrescentado.

Em inglês também devo testemunhar acerca dos seguintes podcastes de leitura Bíblica diária.

1 Year Daily Audio Bíble.

The Bible PodCast

(mas há muito, muito mais ... )

Eu fiz a subscrição através do Yahoo e faço o download dos ficheiros em MP3 a partir dali com a extensão do FireFox Portátil chamada DownThemAll (comando: dTaOneClick), mas são oferecidas outras opções.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 15 de March de 2007 10:32

Eu disse em cima que a tradução da Bíblia lida diariamente era publicada pela Sociedade Bíblica Tridentina.

Não tinha a intenção de a confundir com qualquer outra organização que possa conter esse nome.
Mas limitei-me a fazer uma tradução livre do seu real nome em inglês que é :

TRINITARIAN BIBLE SOCIETE

que publica apenas o texto escrito e o põe gratuitamente à disposição na forma electrónica "zipada".

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de March de 2007 10:46

Caro Manuel:

«Trinitarian Bible Society» traduz-se por «Sociedade Bíblica Trinitária».

«Tridentino» relaciona-se com «Trento», cidade italiana onde decorreu um Concílio com o mesmo nome. «Trinitário» relaciona-se com «Trindade».

Alef

Re: Bíblia, o Livro dos livros
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 15 de March de 2007 16:53

Alef,

Muito obrigado pelo esclarecimento !

Aproveito a oportunidade para apresentar mais um podcast.

Este é católico e fornece a leitura das partes bíblicas que são lidas diariamente nas missas. Só é pena serem em Inglês que podem servir de proveito para alguns como por exemplo a Rita que usa o Inglês diariamente, no Canadá (suponho).

Que isto seja um bom incentivo, para começar.

Daily Mass Readings Podcast

Eu já fiz o «download» de tudo o que está disponível até ao dia 31 de Março.

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.




Editado 1 vezes. Última edição em 15/03/2007 16:56 por Manuel Pires.

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