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Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 30 de May de 2005 23:49

Caros amigos,

Certo dia assisti numa das maiores livrarias de Lisboa à seguinte situação: Um jovem casal pretendia comprar um Bíblia. Não consegui perceber se para oferecer ou para ter em casa. Estavam indecisos entre uma de duas traduções de editoras diferentes. O preço das duas era semelhante. Acabaram por comprar aquela que tinha o tamanho das letras do texto um pouco maior...

Na sequência da pergunta que estava na página principal «Com que frequência leio a Bíblia?», reparei que ninguém respondeu que não tinha Bíblia em casa. Pelo que substituí essa pergunta por outra pergunta: «Que tradução da Bíblia utiliza?»

Neste tópico, gostaria de vos perguntar «Como escolher uma Bíblia?». Que critérios usamos para escolher uma tradução em detrimento de outra? Conhecemos os critérios dos tradutores? É por outros critérios que não a qualidade da tradução: preço, encadernação, tamanho da letra,...?

Fico a aguardar os vossos comentários. Convido-vos também a darem a vossa opinião sobre as várias traduções e edições.

Um abraço,
Luis

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 02:00

Aqui fica o meu «contributo», ao correr das teclas. Considero que há vários critérios a ter em conta:

a) A quem se destina a Bíblia a adquirir;
b) Qual o uso predominante que ela vai ter;
c) A qualidade das traduções;
d) Aspecto gráfico e qualidade da encadernação;
e) Preço.


A ordem destes critérios não terá que ser esta e a sua distinção é apenas «metódica». Por exemplo, há Bíblias que não recomendo pela má tradução e, neste caso, o «terceiro» critério impõe-se aos demais. Estou a pensar na Bíblia que usam as Testemunhas de Jeová («Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas»), uma tradução claramente errónea, para se adaptar à sua duvidosa teologia (comparem-se as traduções de Mt 26:26). Mas, certamente o Luís, ao lançar este tópico, tem mais em mente as Bíblias Católicas.

Mas antes de passar às Bíblias católicas, há a referir a conhecida «Versão Almeida», usada por muitos protestantes e popularizada pelos «Gideões Internacionais», que a distribuem gratuitamente (sobretudo o Novo Testamento). Apesar de haver uma versão recente relativamente melhorada (se alguém tiver o programa «Bible Works», encontra lá esta versão e outra mais antiga), o texto português é bastante fraco, demasiado arcaico, embora se entenda o porquê. Mas, tanto quanto me foi dado ver (e já usei muitas vezes a edição dos «Gideões Internacionais»), esta tradução não incorre nos problemas de falta de seriedade das Bíblias das Testemunhas de Jeová.


No que respeita às Bíblias católicas, passo a comentar os quatro critérios que apontei acima.


a) A quem se destina a Bíblia a adquirir

É um critério importante. Por exemplo,

- para grupos de adolescentes ou jovens pode ser bastante acertada uma tradução em português corrente, onde há menos preocupação com a exactidão técnica e mais com a familiaridade da linguagem; seria pouco recomendável neste caso a «Bíblia de Jerusalém» (BJ), que é uma boa tradução para quem estuda Sagrada Escritura (tradução muito fiel aos textos originais e com excelentes notas e introduções), mas o texto em português, além de ser brasileiro, acaba por ser algo «estranho» nalgumas passagens... Estou a lembrar-me de um episódio, que se passou mais ou menos assim: num grupo de jovens, num momento de grande silêncio e recolhimento, um dos jovens leu em voz alta uma passagem de S. Paulo (Rom 8:15). É claro que quando chegou ao «Abba, Papai!» ninguém se conteve e a gargalhada foi geral...

- para um grupo de oração ou grupo bíblico de uma paróquia, de pessoas que estão mais habituadas à tradução litúrgica (a tradução que se usa nas Eucaristias, que é diferente de todas), o melhor será uma Bíblia que tenha um estilo ou vocabulário parecido. Neste caso, salvo melhor opinião (não conheço todas as edições), parece-me que a Bíblia da Difusora Bíblica (também disponível no Paroquias.org) cumpre bem este requisito.

- para quem estude Teologia ou queira aprofundar o conhecimento da Bíblia, também ao nível «técnico», é bastante recomendável a «Tradução Ecuménica TEB/TOB» ou então a «Bíblia de Jerusalém». Ambas têm excelentes introduções e notas. A primeira tem a vantagem de ser uma tradução ecuménica. Ambas estão em Português do Brasil.



b) O uso predominante que vai ter

É um critério algo ligado ao anterior. Tem maior importância quando se trata de uso colectivo. Ao nível individual posso perfeitamente rezar usando a «Bíblia de Jerusalém» ou outra qualquer... O episódio que contei acima pode ilustrar a necessidade de ter em conta que Bíblia usar quando se trata de um grupo ou de uma assembleia...


c) A qualidade das traduções

Também já referi este aspecto. No âmbito católico, em Portugal temos bastante liberdade de escolha (o mesmo não se passa em Itália, onde as traduções foram «reduzidas» à da Comissão Episcopal Italiana (CEI), uma medida absolutamente lamentável, tanto mais que aquela tradução contém alguns erros de alguma importância ). Será bom ir lendo o que dizem os especialistas sobre as traduções, quando este critério for importante. Ao que parece, a Bíblia da Difusora Bíblica (ou dos Capuchinhos) é uma boa tradução.


d) Aspecto gráfico e qualidade da encadernação

Alguns exemplos...

- Uma Bíblia (de letra) pequenina pode ser muito útil para levar numa mochila, mas pode tornar-se de uso difícil para pessoas com dificuldades de visão e para leituras mais longas...

- Para crianças e adolescentes, pode ser mais conveniente um Novo Testamento, de bom grafismo (evitar letras pequeninas) e encadernação (não de luxo, mas que não se estrague facilmente). Aos idosos também será também conveniente uma Bíblia de letras grandes...

- Em Portugal reina em geral o mau gosto (com poucas excepções) em tudo quanto é capas de livros religiosos. Há dias um amigo estrangeiro pediu-me que lhe comprasse um Novo Testamento em português. Achei então que devia comprar uma boa tradução e pedi para ver a edição dos Capuchinhos. Fiquei horrorizado com a capa verde-lagarta. Mas como as outras edições disponíveis não me convenceram ao nível do texto, lá me decidi, bastante contrariado, pela dita edição, entregando-o meio envergonhado ao meu amigo, pedindo-lhe muitas desculpas pelo mau gosto estético lusitano de quem fez tal coisa. E ele lá me consolou, dizendo que o forraria com algum papel... Como é que algo tão bom se apresenta tão mal?


e) Preço

A este nível, o bom senso é sempre o melhor guia... Se ao oferecermos uma Bíblia queremos que ela seja usada, não iremos oferecer uma edição luxuosa, que, na melhor das hipóteses, servirá de adorno, mas não será usada...



Para finalizar: em caso de dúvida, eu indicaria (não tenho comissão!) a Bíblia da Difusora Bíblica (também conhecida como «Bíblia dos Capuchinhos»). É também a que uso habitualmente. É uma tradução muito respeitada, que os especialistas louvam como boa ou muito boa, que alia uma considerável «leveza» do texto a boas notas e introduções (embora mais elementares que as da TOB/TEB ou BJ). Enquadra-se bem em distintos espaços e para as mais variadas pessoas. A apresentação gráfica interior é muito boa. [O meu único reparo vai para uma edição do Novo Testamento, de um verde-lagarta «de se fugir». Mas o interior é de boa qualidade. As edições da Bíblia integral, em vários tamanhos têm boas capas.]

Tenho pena não poder dizer nada sobre a «Bíblia Pastoral» da Paulus, que já folheei, mas por pouco tempo. Uso com alguma frequência uma congénere, da mesma editora, noutra língua. Se a portuguesa seguir o mesmo padrão, creio que quem a usar também está bem servido.

Obviamente, estamos aqui a tratar dos aspectos «externos» das edições da Bíblia. Mais importante que estes aspectos, é que leiamos, estudemos e rezemos a Bíblia, que para os cristãos é Palavra de Deus que se actualiza para cada um de nós por acção do Espírito Santo. Isto é «óbvio», mas será sempre «prudente» esta ressalva ;-)

Alef

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Aristarco (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 11:07

:)

Alef

Tenho em casa a Bíblia de Jerusalém e fui confirmar o texto de Rom 8, 15 e (graças a Deus lol) a expressão que aparece é «Abba! Pai!» (pelo menos nesta edição é assim que está).

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 11:40

Caro Aristarco:

Também tenho uma «Bíblia de Jerusalém» (melhor, o Novo Testamento), mas neste momento não a tenho por perto, pelo que não pude confirmar a dita passagem e o episódio em questão (creio que datado dos anos 80) foi-me contado pelo animador do dito grupo. Constava assim numa edição mais antiga? Não sei. Fica-me agora a dúvida de alguma coisa não bater certo... Algo a averiguar mais tarde... Obrigado pela «actualização»!

Alef

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 20:59

Como é obvio concordo em tudo com o Alef. Na minha paroquia tenho à venda a Biblia dos Capuchinhos. Para o grande publico tem boas introduções, informações historicas e boas notas exegéticas. Tem sido a que tenho aconselhado.
Pelo que tenho notado, as pessoas manifestam algum incómodo quando compram uma Biblia, e depois descobrem que no grupo, mais ninguém tem aquela tradução, e coibem-se de ler alguma passagem nas reuniões. Por isso, aconselho esta, e tenho-a na Paróquia.
A que menos gosto, é a Biblia Pastoral da Paulus, que é a que mais diverge das outras.
Gosto muito das notas exegéticas da Biblia de Jerusalem, mas aquele português do Brasil, é de facto mau.
A BAC Tem um excelente Novo Testamento Bilingue Grego Castelhano, que é o que habitualmente uso

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 22:44

Bem, eu sou suspeito para recomendar a Bíblia dos Capuchinhos, da Difusora Bíblica, pois é a que temos on-line. :-)

A Bíblia Pastoral da Paulus tem alguns "senãos" que eu desgosto.
1. Utiliza «Javé» como tradução do tetragama. Prefiro a utilização de «Iahveh» ou SENHOR Deus, como são o caso da Bíblia de Jerusalém e da Bíblia dos Capuchinhos.
2. O Prólogo do Evangelho de S. João não usa «Verbo» mas sim «Palavra» e fica um tanto cacofonico.
3. Penso que é das poucas Bíblias que conheço que não faz referência às pessoas que participaram na tradução, ficando assim na dúvida que caminho ela faz para chegar até nós.

Penso que esta tradução vale sobretudo pela notas.

Em castelhano, existe outra Bíblia muito boa: A Bíblia do Peregrino; já editada pela Paulus no Brasil (em brasileiro) (ver notícia).

A minha sugestão, para quem pretende ir um pouco mais além da simples leitura bíblica, é que utilize mais que uma tradução, por exemplo, a Bíblia dos Capuchinhos e a Bíblia de Jerusalém. Se tiver conhecimentos de alguma língua estrangeira (inglês, francês, castelhano,... ), utilize também uma edição em língua estrangeira pois ainda noutro dia discutíamos num tópico aqui ao lado, que em português temos apenas o termo "carne" quando os ingleses têm "flesh" e "meat".

Por acaso é interessante o que o Pe. João Luis diz sobre o incómodo de quem participa num grupo bíblico e tem uma tradução diferente dos restantes pessoas, pois noutro dia aconteceu-me precisamente o contrário: no grupo onde estávamos existiam três versões distintas; nas passagens que diferiam muito entre traduções, após a primeira leitura do texto bíblico, repetia-se a leitura nas diferentes traduções enriquecendo assim o sentido do texto.

Um abraço,
Luis

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 31 de May de 2005 22:55

Esqueci-me de algo importante: existe outra tradução em português que é o texto utilizado na Liturgia. Se não estou em erro, a tradução é da Vulgata ou uma adaptação desta.

Visto ser consensual a qualidade da Bíblia dos Capuchinhos, porque não utilizá-la no texto litúrgico?

Luis

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Carlos Nascimento (IP registado)
Data: 05 de June de 2005 00:11

Olá a todos

Falando do Novo Testamento gostaria de sugerir uma edição do Apostolado de Oração. É uma tradução baseada no texto de Matos Soares mas actualizada, como a própria introdução indica recorreu-se a várias outras traduções, entre elas a da Difusora Bíblica.
Na prática o texto é em tudo semelhante ao da Difusora. Tem algumas notas de rodapé, uma escala para leitura diária de forma a que se leia todo o NT num ano sem quebra temática, começando no começo do ano litúrgico, ou em 6 meses.

Na questão da encadernação pode dizer-se que é de boa qualidade, capa dura em pele vermelha (mas não tão viva como o verde referido pelo Alef -:), duas fitas marcadoras para acompanhar a leitura dos Evangelhos e a partir dos Actos dos Apóstolos (para a leitura em 6 meses)

Já ofereci a alguns familiares conseguindo assim que lessem todo o Novo Testamento ou pelo menos os 4 Evangelhos.

Cumprimentos

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 05 de June de 2005 00:35


Ë assim mesmo, um católico oferece livros católicos...

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 04 de January de 2006 11:48

Na minha opinião, para um católico que gosta pouco da Bíblia e que quer comprar uma só tradução aconselho a Bíblia de Jerusalém. Como esta é muito cara, também aconselho a seguir a Biblia Pastoral. Ambas as traduções são da Publicação Paulus brasileira, mas também há nesta última, a grafia portuguesa de Portugal, impressa em Portugal.

Quanto às traduções dos Capuchinhos são boas para os «católicos mais fanáticos». As traduções não são más, embora muito inferiores às duas anteriores e têm uma abundância de explicações tal como a Bíblia de Jerusalém. Posso afirmar que as explicações abundantes no fundo da página da Tradução dos Capuchinhos do Novo Milénio, está mais de acordo com as crenças católico-romanas e seus mitos, mas é menos fiável que as mesmas explicações, muito mais cuidadas e fiáveis da Bíblia de Jerusalém.

Mas o que eu aconselho, para quem gosta de conhecer de verdade acerca de qual é a vontade de YHWH é adquirir várias traduções, quer católicas quer protestantes (incluindo a das T.J.).
Todas têm os seus defeitos e o seu mérito.
Quanto à das T.J. deve ser adquirida, quando já possuirmos uma certa bagagem.
Pode ser útil quando queremos saber a tradução literal, quando essa tradução não interferir com as suas crenças ( a das T.J.).
Todas as traduções, quer de católico-romanos, quer de protestantes e a das T.J. (a do Mundo Novo) espelham as crenças dos tradutores.
Por fim devem ainda adquirir cópias dos originais em grego e hebraico e se possível procurar estudar essas duas línguas e a história dos povos em que se enquadram os escritos bíblicos.

Mas para começar, pode ouvir alguns livros da Bíblia em seu leitor de MP3, quando se desloca para o seu trabalho quotidiano, aproveitando assim bem o tempo.



Pode encontrar links da «Bíblia em Português para seu leitor de MP3» neste tema.
Também há lá links para copiar gratuitamente livros da bíblia noutras línguas, incluindo do A.T. em hebraico e o N.T. em grego (coiné).


Obrigado.




Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 04 de January de 2006 13:26

Sinceramente, eu considero que a tradução das Testemunhas de Jeová, agora também em português é fraudulenta. Basta ver a forma como aí se «traduz» a palavra «Kyrios».

Muito curioso (divertido, até!) é o caso de Lc 23:43, que se traduz assim:

«Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso».
Como este «hoje estarás» perturba as crenças das Testemunhas de Jeová, para quem os mortos ficam a dormir até ao fim dos tempos, mudaram a pontuação:

«Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso».
Isto, sim, é criatividade! Que necessidade haveria de colocar o «hoje» referido ao «digo»? Não está ali precisamente a vincar o «hoje» do «estarás»? Esta falsificação não aparece em nenhuma das traduções que conheço, católicas e protestantes. Todas as versões gregas que consultei no «Bible Works» colocam uma vírgula (correspondente aqui aos dois pontos) a seguir ao «légô» e não a seguir ao «sêmeron». Ou seja, os dois pontos têm que ser postos antes do «hoje» e não depois!

Para comparar traduções bíblicas, uma boa referência será o caro mas excelente programa «Bible Works», já referido acima. Mais de 90 versões bíblicas, em 28 línguas. É possível processar e agregar outras bíblias, embora isso dê algum trabalho.

Alef

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 04 de January de 2006 22:13

Caro Manuel,

Não concordo de forma alguma quando dizes que as "traduções dos Capuchinhos sãos boas para os católicos mais fanáticos". A mais recente edição da Bíblia Sagrada da Difusora Bíblica é unanimamente reconhecida como a melhor tradução em português da Bíblia Sagrada. Tanto a Bíblia de Jerusalém como a TEB, são traduções para o francês e posteriormente para o português do Brasil. Não deixam de ser muito boas, mas não são certamente para o comum dos cristãos, até pelo preço de venda ao público. Quanto à Bíblia Pastoral dos Paulus também não a reconheço melhor que a da Difusora Bíblica (Capuchinhos), basta conhecer como ela chegou até nós: dos textos originais traduziu-se para o italiano, do italiano para o português do Brasil e, posteriormente, para português de Portugal.

Não admira que recentemente a Editora Paulinas tenha editado a Bíblia Sagrada Africana e tenha ido buscar (com a devida autorização) o texto da 4ª edição da Bíblia Sagrada da Difusora Bíblica. Os comentários, introduções aos livros e notas de rodapé são tradução de uma versão em inglês editada também pelas Paulinas. Pelo que li, é uma versão muito boa, pena é que, por agora, só esteja à venda em Angola e Moçambique.

Quanto à versão das Testemunhas de Jeová, és a primeira pessoa a reconhecer tal texto como Bíblia: O exemplo que o Alef deu é mais que suficiente para desmascarar tamanha fraude literária. Além disso, não concordo quando dizes que todas as traduções se alterem para justificar as crenças das várias Igrejas cristãs. Nesse caso, como se justifica a existência de uma TEB? Vais-me dizer que a Bíblia Sagrada da Difusora Bíblica tem interpretações diferentes da TEB? Nesse caso, podes dar exemplos concretos?

Luís Gonzaga

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 05 de January de 2006 10:38

Amigo Gonzaga,
Quanto ao preço, e à quantidade de explicações é de facto a Bíblia dos Capuchinhos a melhor, mas está feita apenas segundo as crenças Católico-Romanas. Raramente mostra o outro lado. Eu não acredito no dogma da infalibilidade do papado, e acho os dogmas absoletos. Ora essa tradução peca por isso.
=========
Amigo Alef
Quanto ao exemplo dado da tradução do grego :

« em verfdade te digo hoje estarás comigo no paraíso »

tenho que que lhe dizer que as T.J. não estão mais erradas que os que traduzem de outro modo. É verdade, que isso vai ao encontro das suas crenças, como às crenças dos Adventistas. Mas se é verdade que no grego que chega às nossas mãos há uma vírgula antes de hoje, também é verdade que essa vírgula é de introdução póstuma, porque no tempo dos Apóstolos não se usava esse tipo de pontuação. Por isso só o contexto e as crenças do tradutor é que podem levar para uma ou outra tradução, sendo ambas possíveis.

Eu estudei o caso, e para lhe dizer a verdade acho que neste ponto as T.J. até têm razão.
Ora veja. Cristo disse a Madalena (João 20,17)

«17. Disse-lhe Jesus: Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.»
(extracto duma tradução católica copiada da NET versão 2; confira isto em várias traduções católicas.)

3 dias depois de Jesus ter dito isso ainda não tinha subido ao céu, portanto só se considerar a sepultura (o HADES) o paraíso a que se referia Cristo!...
Pelos vistos, embora pareça mentira, e vá contra as crenças seculares, a tradução das T.J. (neste ponto) até está mais correcta. Não devemos ter preconceitos, isto é, conceitos preconcebidos.
No entanto essa tradução que tem o cuidado de pôr entre parentesis rectos o que acrescenta com a desculpa que é para facilitar a compreensão, há casos que nem sempre procede assim. Já notei acrescentos nessa tradução que passam despercebidos.
Por exemplo, no livro de Daniel, logo no início do 1º capítulo., verso 2

. «2 Com o tempo, Jeová »

«Com o tempo» está a mais, e foi introduzido para justificar a sua cronologia que dizem ser bíblica. O ano de 1914 é a base principal da sua fé, porque razões que não cabe aqui explicar. Eles acrescentaram cerca de 20 anos no tempo decorrido entre a destruição do Templo de Jerusalém e o início da sua reconstrução, para fazer dar 70 anos. É certo que pelo facto de não haver achados arqueológicos que provem a existências desses 20 anos, não prova que eles não tenham existido. Mas é a própria Bíblia que prova que eles (T.J.) estão errados, porque 18 anos após o inicio da construção do templo os 70 anos das profecias respeitantes ao cativeiro e à desolação ainda não tinham acabado como podemos verificar em Zacarias cap. 1 verso 12
«12 De modo que respondeu o anjo de Jeová e disse: “Ó Jeová dos exércitos, até quando não terás misericórdia com Jerusalém e com as cidades de Judá, que verberaste por estes setenta anos?” »
Como vê, a tradução das T.J. tem pelo menos o mérito de servir para desmascarar os seus erros doutrinários.



Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 12:29

A tradução 'Jeová' mostra bem o quanto a tradução das TJ é no mínimo 'diferente'...

Quanto a Lc. 23, 43: É verdade que não havia vírgulas em grego na época dos Evangelhos e que sendo assim o advérbio se pode ligar a quer a 'digo' quer a 'comigo': kai eipen autôi Amên soi legô sêmeron met' emou esêi en tôi paradeisôi. Mas, de facto, quer dizer isso mesmo: que se pode ligar a qualquer uma das duas palavras. No entanto, é evidente que a posição do advérbio não é inocente: o facto de vir após o verbo da oração subordinante, de que a seguinte de facto depende, indicia que o advérbio deve pertencer com maior probabilidade a esta segunda oração subordinada completiva, para usar a terminologia mais tradicional... Normalmente, nas construções com completiva, quando a subordinante antecede a subordinada, normalmente repito, deve considerar-se que a oração subordinada, porque depende do verbo da subordinante, 'inicia' imediatamente após este verbo. Por isso, penso que a tradução católica, pelo menos neste caso, é a mais correcta... mas reconheço a possibilidade de outra interpretação. O que não me indica praticamente nada sobre a sentido teológico do passo... Utilizar o Evangelho de João, que pouco tem a ver com o de Lucas, para justificar este último, é que não é nada interessante...

Abraço fraterno,

Miguel




Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 14:30

«Utilizar o Evangelho de João, que pouco tem a ver com o de Luc.....»

===
Sim, João 20,17 quando Jesus disse: «pois ainda não subi para o Pai» tem pouco (mas alguma coisa) a ver com Lc. 23, 43, mas podemos concluir que se Jesus ainda não tinha subido para o Pai, o Paraíso de que Jesus falava se não encontrava junto do Pai.
Também sabemos que Jesus depois de morrer, nesse dia passou a estar 3 dias e 3 noites numa sepultura. Se pregou a alguém foi a espíritos prisioneiros.
Os mortos são apresentados ignorantes (sem inteligência nem sabedoria); sem amor, nem ódio, nem inveja, (tudo isto pereceu juntamente com eles).
Você acha que este estado que é apresentado pela bíblia como o dos mortos, um Paraíso? Só relativamente às dores que o malfeitor estava suportar na cruz. Mas isso acontecia também com o outro! O que estava em causa era o Reino de Jesus.(Lucas 23, 42-43).
Se mesmo assim ainda houver dúvidas é melhor esperarmos pelo dia em que tudo se esclarecerá, isto é quando nos encontrarmos com o REI desse reino (Jesus Cristo).

Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 15:10

Caro Manuel,

Não me parece, de facto, que estejamos no mesmo registo em Lucas e em João. Não é o mesmo texto, não conheciam certamente o texto um do outro e não estão com a preocupação de tudo bater certo, do género a contar dias... De resto, por exemplo a data que ambos dão para a morte de Cristo é diferente, o que mostra bem o quão falacioso será querermos utilizar de forma demasiado literal a Bíblia. Estamos a falar de metáforas e de catequeses que Lucas e João deram às suas comunidades e não de uma transcrição ipsis uerbis, do género gravação, do que Jesus Cristo terá dito sobre a cruz... logo porque, se disse alguma coisa, não o disse em grego, certamente, mas em aramaico; depois, porque, pelo menos Lucas não estava lá a ouvir e mesmo que alguém lhe tivesse contado é muito duvidoso que, pelos anos 80 do século I, alguém lhe tivesse dito exactamente as palavras de Cristo ipsis uerbis. Não significa que o que está na Bíblia não seja a Verdade. Não é mas é a verdade literal.... O que torna as coisas ainda mais bonitas... Mais logo à noite posso escrever mais, mas tem isto em conta... e sem preconceitos ;-)

Abraço fraterno

Miguel

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Manuel Pires (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 18:31

Mas a Bíblia para ter alguma credibilidade, deve ser vista como um todo uno.
Quanto ao dia da mote de Jesus, para mim tudo aponta para o dia 14 de Abib ( Nisã).
Ora veja. João disse que era grande aquele sábado (o sábado a que se seguia ao da Morte do Senhor). Logo Jesus foi morto no dia anterior ao sábado. (João 19,31) =Lucas 23,54

Ora isso não implica que seja no 7º dia da semana.
O dia 15 de Abib ( Nisã) era sempre um sábado e caía em qualquer dia da semana. A Bíblia até lhe cama de o sábado.
Eu já escrevi acerca disto noutro lado. Levitico 23,15 : «Depois, contareis sete semanas completas, a partir do dia seguinte ao do sábado, isto é, do dia em que tiverdes feito o rito da apresentação do molho de espigas. »
Ora este sábado escrito a vermelho é o dia 15 de Abib (Nisã), o dia seguinte ao da morte do Senhor. O dia seguinte é o dia 16 de Abib (Nisã), dia da apresentação do molho de espigas. Neste dia começava a festa das semanas. (7 vezes 7 dias= 49 dias)
No dia 50º celebrava-se uma festa : Pentecostes significa o 50º dia..

Logo, tanto Lucas como João colocam o dia da morte do Senhor no mesmo dia, precisamente no mesmo dia, embora alguns eruditos digam o contrário.

O que é que os leva ao engano?
Em Lucas 22,7, na noite em que Jesus comeu a última ceia, Lucas chama dia dos ázimos. Aqui, usa uma expressão popular e não é rigoroso quanto às escrituras, pois o 1º dia legal dos ásimos é dia 15 de Abib (Nisã), o tal sábado de que falei atrás (que pode não ser o 7º dia semanal). No entanto como os Judeus, nessa altura, na ceia, já estavam a retirar todo o fermento, Lucas chamou-lhe por extensão de dia dos ásimos, como era costume, entre o povo, no tempo de Jesus.
É de notar que o dia começava ao pôr do sol, e não à meia noite. Portanto, Jesus comeu a última ceia no mesmo dia em que foi morto. Esse dia (o da preparação) era o dia 14 de Abib (Nisã) também chamado dia de Páscoa, porque era nesse dia que se sacrificava o cordeiro pascal. Os fariseus sacrificavam o cordeiro á tarde do dia 14, à hora em que Jesus foi morto e comiam-no na noite do dia 15 (já no dia de Sábado).
Mas os samaritanos sacrificavam-no ao pôr do sol, isto é depois de terminar o dia 13 e comiam o cordeiro na mesma noite que Jesus comeu a última ceia; há aqui uma pequena diferença da interpretação da Lei entre Samaritanos e Judeus.
Não sei se chegou a perceber a razão do equívoco que levou os «eruditos» a interpretarem mal a forma de se expressarem Lucas e João acerca do dia da morte do Senhor.
Até os "craques" se enganam. Afinal são homens como os outros?!!!
Afinal de contas, ambos (tanto Lucas como João) colocam o dia da morte de Cristo, precisamente no mesmo dia.
Os «eruditos» é que não se preocupam em descobrir a forma de linguagem deles. Já lá vão quase 2000 anos e as pessoas não vivem esses acontecimentos como o viviam os judeus. O facto de a ICAR passar a festa para o «domingo» seguinte e de se desligar totalmente das tradições judaicas levou a esse desconhecimento.


Rom.: Ídolo & sexo!... Veja tb.: O Messias de YHWH é a minha religião. YHWH Deus amou-nos primeiro.

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Rute (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 19:20

Caro Miguel,

Cito: "A tradução 'Jeová' mostra bem o quanto a tradução das TJ é no mínimo 'diferente'... ".

Não percebo...

Admito todas as críticas e reservas em relação ao Novo Testamento, porém o exemplo a propósito do qual surge o teu comentário é, parece-me, o de Zacarias. Ora bem, no texto de Zacarias na tradução dos Capuchinhos surge a expressão "SENHOR" onde na tradução das TJ surge "Jeová". Neste caso não percebo a catalogação eufemística de 'diferente', a tradução dos capuchinhos deixa bem claro que "SENHOR" corresponde no texto hebraico ao tetragrama do nome divino, na tradução das TJ tens a opção pela transposição do tetragrama para uma das formas possíveis em português (usada, por exemplo, pelo nosso grande Eça, há quanto tempo não lês os Contos? :-) "Adão e Eva no Paraíso", genial! Mas em relação ao Eça sou suspeita, acho tudo genial!!!)

Não discuto a opção, é verdade que a opção dos capuchinos está mais próxima da versão grega da Septuaginta a das TJ pretende estar mais próxima do original. Correspondem a opções teológicas talvez, mas também editoriais e de crítica textual, acho eu... Qual é o "melhor" texto? Enfim...

Admito as diferenças de tradução (embora nenhuma me pareça particularmente relevante ao nível teológico, aliás as TJ utilizam qualquer tradução da Bíblia em línguas em que não têm a sua própria tradução...) mas acho que não escolheste um exemplo que deixe isso tão claro, como dizes...

Um abraço
Rute



Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 10 de January de 2006 21:13

Cara Rute:

Não quero substituir-me ao Miguel, mas deixar aqui algumas breves ideias, a propósito das Bíblias das Testemunhas de Jeová («Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas», TNMES):

- As diferenças de tradução podem ter enorme relevância a nível teológico e isso é particularmente grave na TNMES, sobretudo em aspectos cristológicos. Por exemplo, acho flagrante a forma «ad hoc» como traduzem a palavra grega «Kyrios», para «tornear» tudo o que possa indicar a divindade de Jesus Cristo (mesmo assim não conseguem...). Depois, há muitos casos em que exploram algumas possibilidades gramaticais ou semânticas que só aparecem na TNMES e muito provavelmente alheias ao entendimento dos primeiros cristãos. Tal é o caso da tradução da palavra «staurós», que traduzem por estaca (para as Testemunhas de Jeová, Jesus Cristo não foi crucificado numa cruz, mas numa estaca de tortura) ou o caso de Mateus 26:26 (capicua!): «Isto é o meu corpo», que traduzem por «Isto significa o meu corpo».

[Ainda sobre Mt 26:26, tenha-se presente que o texto corresponde a uma frase hebraica ou aramaica, onde o verbo «ser» não existe, pelo que tal expressão em aramaico/hebraico literalmente poderá traduzir-se por «Aqui o meu corpo». Mais um elemento hermenêutico que ajuda a mostrar o descrédito da TNMES.]

- Não se «compreende» muito bem por que razão no Novo Testamento da TNMES aparece tantas vezes a palavra «Jeová», quando isso não acontece uma única vez nos textos originais. Se fosse tão importante pronunciar o nome de Deus, não estaria o tetragrama transliterado para o grego, como acontece com outras palavras hebraicas ou aramaicas, tais como «Abbá», «talita kum», «ephata» ou «Amen»?

- Em relação ao termo «Jeová», «Javé», «Iavé» e suas variantes, parece-me que é uma discussão algo inútil e bastante fraco o tipo de argumentação das Testemunhas de Jeová, quer ao nível da justificação da necessidade de pronunciar o Nome de Deus, quer as «evidências históricas» sobre a forma «Jeová» em detrimento de outras... Na Bíblia «o nome» significa a pessoa. Por outro lado, «nomear» significa de alguma maneira ter poder sobre o nomeado. Por isso, evitavam mencionar Deus pelo seu nome, YHWH, usando então outras formas como Adonai, Elohim, etc. Como ao chegar ao tetragrama liam «Adonai», os sinais vocálicos colocados mais tarde por debaixo do tetragrama são os de «Adonai»... Suponho que o Miguel pode explicar isto mais pormenorizadamente.

Alef

Re: Como escolher uma Bíblia?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 11 de January de 2006 01:59

Cara Rute,

Gostei muito da resposta e de facto aparentemente pareces ter razão: Jeová está muito mais próximo do “famoso” tetragrama do que simplesmente Senhor. Para mim, no entanto, há algumas questões que importava também ter em conta além das questões que apresentas...

1. No Antigo Testamento, é o próprio Deus que revela o seu nome a Moisés (Ex. 6, 2-3), o que tem imenso significado teológico e mostra tanto do que Deus de facto é: revelar o nome a alguém é já, na mentalidade hebraica, revelar-se todo permitir de algum modo uma apropriação. É aqui que surge o tetragrama em hebraico, que transliteramos YHWH, porque em hebraico, como nas línguas semitas de maneira geral, não se grafavam as vogais. Acontece que Exodo 20, 6, um dos mandamentos da lei concedida por Deus aos homens, referia a necessidade de não pronunciar o nome de Deus em vão. Certamente depois do exílio, preocupados com o cumprimento estrito da lei e com a necessidade de não ofender a Deus, receando certamente o retomar do que muitos haviam considerado como uma punição, os Hebreus começaram a entender esta ideia de forma muito literal e por isso abstinham-se mesmo de pronunciar o nome de Deus em toda e qualquer ocasião. O nome de Deus torna-se assim inefável. Por isso, quando na Bíblia surgia o teragrama, os Judeus substituiam-no por outro vocábulo que para eles remetia para Deus, permitindo que eles não pronunciassem o seu nome. Sendo assim, a própria fonética do nome de Deus caiu em desuso e acabou por ser efectivamente esquecida mais tarde provavelmente durante a Alta Idade Média: na prática os judeus esqueceram como haviam de ler o tetragrama, precisamente porque não tinham vogais!! De qualquer modo, na prática esse esquecimento não constituia problema, precisamente porque eles nunca pronunciavam o nome que Deus tinha revelado a Moisés mas substituíam-no sobretudo por Adonai e Elohim (e muitas vezes nem por estas!!!!!), que significavam ‘Senhor’.

2. Quando os Hebreus começaram a utilizar os nekodot (uma espécie de sinais de pontuação que se colocam por baixo das consoantes hebraicas para lhes indicar o tom, isto é, o som vocálico que deveria ser associado a cada consoante), algures na Idade Média, decidiram colocar por baixo do tetragrama, sem preocupação linguística, os pontos correspondentes aos sons vocálicos de Adonai: a-o-a. Estes pontos não serviam para ler o tetragrama, mas para recordar o leitor de que ali deveria ler antes Adonai. Pode parecer esquisito, mas enfim...

3. Contudo, quando os cristãos começaram a olhar para os textos hebraicos, sobretudo no século XVI, e se não me engano em 1518, eles, que não eram falantes de hebraico nem conhecedores de linguística hebraica, interpretaram literalmente o tetragrama e a relação com os nekodot que lhe estavam subscritos. Como os Cristãos deixaram de sentir tantos problemas em dizer o nome de Deus, a verdade é que juntaram YWHW às vogais de Adonai que lhe estavam subscritas (a/e-o-a) e interpretaram o tetragrama do seguinte modo Y – a/e (neste caso o a passa a e junto de Y) – H – o- W – a- H: Yehowah: Jeová. E este foi, efectivamente o nome que se expandiu e não me admira mesmo nada que Eça o use.

4. Contudo, actualmente, os nossos conhecimentos de linguística hebraica são bem maiores do que eram na altura... Hoje, os especialistas julgam que o tetragrama tem a sua origem na raiz hebraica HYH (‘ser, tornar-se’) ou com outras formas do verbo ser, o que se relaciona bem com próprio texto bíblico que refere que Deus ‘é aquele que é’, ou “aquele que traz as coisas à existência”. Já no século XIX, percebeu-se que a pronúncia JEHOWAH- Jeová era um completo disparate linguístico que advinha da conjugação do tetragrama e das vogais de Adonai, como disse acima. De facto, os linguístas do século XIX perceberam que em textos gregos dos séculos I-III d.C. (altura em que a pronúncia mais correcta do tetragrama não estava ainda esquecida) se encontrava a transliteração do tetragrama hebraico. Como o grego tem vogais, tornou-se clara a pronúncia do nome de Deus que correspondia ao tetrgrama. Estão entre estes autores, Josefo, BJ 5, que refere o nome de Deus como “Iaou” (lê-se Iau), e mais tarde Clemente de Alexandria, Strommata 5.6.34 que o refere como “Iavé”. Mais tarde a descoberta dos textos ugaríticos permitu confirmar o nome de Deus pelo menos como “Yau”. Hoje a forma Yahweh/Javé é considerada a mais provável, por cristãos e por judeus... Os TJ teimam em algo que não faz, linguisticamente, qualquer sentido...

5. Muitas vezes os tradutores, perante a alguma polémica que rodeia o nome de Deus, e tendo em conta a tradição que não pronuncia o tetragrama, acabam por fazer exactamente como os judeus e substituem o tetragrama por SENHOR em maiúsculas (para indicar o tetragrama e para distinguir de Senhor, em minúsculas que traduz efectivamente Adonai ou Elohim).

Mas, no fundo, isso acaba por ser apenas um pormenor...

Abraço fraterno

Miguel




Editado 2 vezes. Última edição em 11/01/2006 02:01 por rmcf.

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