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"O Laboratório de Taizé"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 10 de October de 2005 02:18

Um artigo muito pertinente de Frei Bento Domingues, no «Público» deste domingo. Vale a pena ler.

Alef


Citação:
O LABORATÓRIO DE TAIZÉ


1. De Roma, boas notícias: Bento XVI encontrou-se com Bernard Fellay, superior da Sociedade de S. Pio X e sucessor de Marcel Lefebvre, o bispo cismático que desafiou a autoridade dos papas desde os anos 70. Encontrou-se, também, de forma inesperada, com Hans Kung. Este, embora tenha mantido plena comunhão com Roma, a Congregação para a Doutrina da Fé retirou-lhe, em 1979, a missão canónica de professor de Teologia. H. Kung e o Papa actual trabalharam juntos como teólogos no Vaticano II e foram ambos professores em Tubinga.

A situação era ridícula e tinha sido alimentada por Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Andava-se, por um lado, a construir pontes ecuménicas com as igrejas e comunidades cristãs. Por outro, criavam-se dificuldades, no interior da comunidade católica, que impediam o ideal de todo o ecumenismo que aponta para uma Igreja una e plural. Graças a Deus, Bento XVI acaba de afirmar, em Colónia, que não acredita, de modo nenhum, numa união das Igrejas que as obrigue a repudiar a sua própria história de fé. "[A união] não significa uniformidade em todas as expressões da teologia e da espiritualidade, nas formas litúrgicas e na disciplina. Unidade na multiplicidade e multiplicidade na unidade: como sublinhei na homilia para a solenidade dos santos apóstolos Pedro e Paulo, no passado 29 de Junho, a plena unidade e a verdadeira catolicidade - no sentido mais original da palavra - vão a par."

Estas orientações não deviam depender da vontade de uma pessoa, fosse ela progressista ou conservadora. Quando o irmão Roger, prior da comunidade de Taizé, visitou o patriarca Atenágoras, ter-lhe-ia dito que João XXIII não podia fazer tudo o que queria porque aqueles que o rodeavam nem sempre estavam de acordo com ele. O patriarca observou: "O Papa não faz o que quer? Então ainda gosto mais dele."

2. A 16 de Agosto, na igreja da Reconciliação, este irmão Roger, filho de um pastor protestante da Suíça e fundador da Comunidade de Taizé, durante a oração da noite, rodeado de monges, crianças e jovens, foi assassinado aos 90 anos, por uma mulher romena de 36.
O Papa prestou, em Colónia, uma comovida homenagem a este grande pioneiro. Situou-o na corrente do ecumenismo espiritual de Paul Couturier. Este acreditava num mosteiro invisível que reúne, dentro dos seus muros, as almas apaixonadas por Cristo e pela sua Igreja. São precisos, no entanto, sinais desse mosteiro. Taizé tornou-se o seu símbolo. Fica muito perto da celebre e antiga abadia beneditina de Cluny, não muito longe da cidade de Lyon (França). Curiosamente, a 20 de Agosto de 1940, depois de uma visita a essa abadia e procurando onde iniciar urna experiência monástica ecuménica, o encontro com uma anciã católica indicou-Ihe o lugar do futuro: "Compre esta casa e fique, aqui; estamos tão sós, tão isolado." Era o dia da festa de S. Bernardo, o grande abade de Claraval, que, muito jovem ainda, entrara para a abadia de Cister. Começava, na humilde povoação de Taizé, o laboratório espiritual para o nosso tempo (1).

3. Se é o enorme movimento de jovens que faz olhar para Taizé com espanto, não se pode esquecer que, na raiz de tudo, vive uma comunidade ecuménica de monges: comunidade de vida , comunidade litúrgica, comunidade de acolhimento e serviço com horizontes universais. E, hoje, é uma comunidade numerosa que lhe permite ser, também, uma fraternidade em missão sem se destruir. Mas onde ela mais se manifesta é como experiência imediata de comunidade litúrgica, comunidade de oração. Oração que é um microcosmos ecuménico onde convergem, harmoniosamente, os antigos hinos luteranos, os tropários orientais, as antífonas gregorianas e as mais recentes composições de canto litúrgico em vernáculo. A palavra de Deus é solenemente proclamada em diversas línguas; há longos espaços de silencio que assinalam o ritmo vital da oração comunitária e pessoal. Às formulas e expressões permanentes juntam-se orações, em diversas línguas, que exprimem os problemas e necessidades mais urgentes do mundo actual. Taizé recuperou os sinais litúrgicos mais expressivos, a começar pelo hábito coral, pelos ícones orientais, pelas luzes e pelo incenso. É a oração de ontem e de hoje; as melhores expressões da oração oriental e ocidental de ontem com os contributos da criatividade e espontaneidade de hoje. Tudo isto faz de Taizé uma autêntica escola de oração, onde muitos descobriram o sentido da liturgia como festa e a urgência da oração pessoal como escuta no silêncio e na contemplação.

Em Portugal, já existem muitos jovens que foram a Taizé. Mas qual é a sua capacidade de influenciar as comunidades locais onde estão inseridos? Às vezes, tenho a sensação de que se esquece a monástica comunidade ecuménica onde nasce aquela escola de oração. E, no caso português, é fácil este esquecimento. A vida monástica foi, entre nós, muito mal tratada e, na restauração das ordens e congregações religiosas, quase esquecida. Só as formas de vida religiosa que pudessem ter actividades sociais e pastorais eram desejadas. E pagamos caro esse esquecimento. Talvez seja por isto que as nossas formas de rezar sejam tão miseráveis, tanto nas suas expressões musicais como simbólicas. Hoje, a combinação e o ritmo de silêncio, palavra, música e signos litúrgicos, quase nem é sentida como uma necessidade essencial. E, no entanto, sem esta combinação, alicerçada numa comunidade de vida, não há espaço litúrgico que nos acolha, nos provoque e nos reconstitua como filhos de Deus e como irmãos.

(1) A expressão "laboratório de Taizé" é retirada da obra de Danièle Hervieu-Léger O Peregrino e o Convertido. A Religião em Movimento, Lisboa, 2005, Gradiva, que estuda, e forma muito original, a mobilidade religiosa contemporânea.

Frei Bento Domingues, O.P.
«Público», 2005-10-09

Re: "O Laboratório de Taizé"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de October de 2005 14:54

Desde há três anos, todos os dias sete de cada mês, na minha Paròquia um grupo de jovens faz uma oração aberta a toda a comunidade, seguindo o espírito das orações de Taizé.

Centenas e centenas de jovens encontram-se e rezam em conjunto. È frequente estarem presentes estudantes estrangeiros que estão a fazer erasmus na nossa cidade, jovens e adultos de outros moviementos e até de outras paróquias.

A Última Oração foi dia sete de Outubro e um ilustre Padre, idoso, que rezou connosco, maravilhou-se. "Como podem estes jovens estar num silêncio profundo, num recolhimento absoluto, durante mais de meia hora???"
O que os faz estar aqui?

Como podem estes jovens, a maior parte estudantes universitários escolher um momento de oração em vez da animação divertida da semana de recepção ao caloiro?




" Não há nada tão responsável do que a Oração".

Re: "O Laboratório de Taizé"
Escrito por: Maria João Garcia (IP registado)
Data: 10 de October de 2005 15:15

Olá! Como é que é possível? Só mesmo Deus para o conseguir!

Ainda não fui a Tai Zé, mas conheço pessoas que se realizam na minha paróquia e no facto de ter recebido duas húngaras no Encontro Europeu que se realizou em Lisboa.

É... maravilhoso! Não há palavras suficientes que descrevam o ambiente que vivi! Só mesmo Deus para nos iluminar! Ainda consegui ir a alguns workshops na Fil (estava a trabalhar) e a uma oração e foi muito bom. Todas as pessoas que estavam ali, na sua grande maioria jovens, procuravam Deus, procuravam o Caminho que Jesus nos ensina. As diferenças entre línguas e culturas não estragou nem um bocadinho o ambiente. Em cada rosto se via um brilho e uma alegria extraordinários. Eles eram o rosto de Deus! Estive numa oração no pavilhão da Fil, que é enorme e que estava repleto de pessoas, e na altura do silêncio, todos se calaram e rezaram. A maioria eram jovens! Como é que é possível dizer que não há jovens que amam Deus?

A experiência em casa foi muito boa. Ainda me comunico com as minhas "hóspedes" que se tornaram amigas. O que mais me marcou foi na noite de fim de ano. Aquelas pessoas tinham andado entre três e quatro dias de autocarro para chegarem a POrtugal, tiveram uma semana cheia de actividades e naquela noite, conseguiram ainda fazer uma peregrinação até à Igreja (que não ficava muito perto) e sempre com uma alegria enorme estampada no rosto.

O melhor foi a experiência da oração. Á meia-noite em ponto, estavamos todos a rezar. Ninguém quis saber do fogo de artifício que havia lá fora. Pense-se bem: estamos a falar de jovens que estão habituados a passar as 12 badaladas a comer passas, a beber champagne e aos saltos. Naquele momento, isso não era nada, comparado com aquela experiência de estar com Deus. E como é arrepiante, unirmos todos as mãos e rezarmos o Pai Nosso cada um na sua língua! Só mesmo Deus!

De seguida fomos para uma festa onde nos divertimos imenso, sem tabaco e álcool até às tantas da madrugada. No outro dia, ou seja, dali a umas horas, já tínhamos todos regressado a casa, dormido muito poucas horas e às 10h30m estávamos na Igreja a celebrar a missa. A Igreja estava a abarrotar!

Que Deus ilumine cada vez mais pessoas e que, como afirmava S. Vicente de Pallotti, "Deus em tudo e sempre!".



Re: "O Laboratório de Taizé"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 11 de October de 2005 01:50

"Reconciliação e perdão, sempre

.
É preciosa aos olhos de Deus, a morte dos seus amigos”.

Foi com estas palavras da Bíblia que o irmão François começou a oração à meia-noite, poucas horas depois da trágica morte do irmão Roger.

Nesta altura nenhum de nós conseguia perceber ainda o que se tinha passado, e muito menos porquê…

Uma das coisas que nunca conseguiremos apagar da nossa memória foi o grito de terror que cortou o silêncio da melodia, e nos colocou o coração aos pulos, a tremer, e as lágrimas a deslizar, ainda sem termos a noção do que tinha realmente acontecido.

Que acto tresloucado tinha sido aquele, que motivos poderia alguém ter para tirar assim a vida de forma tão desumana a um velhinho de olhos doces e sorriso de criança?

Logo ele, que tinha dedicado toda a sua vida ao serviço dos outros e cujo horizonte era o entendimento, o reencontro com o outro e a vida em comunhão.

Não entendemos na altura, e agora passadas semanas ainda temos dificuldades em aceitar o que se passou…

No entanto, e apesar de toda a tristeza que sentimos, testemunhámos na Igreja da Reconciliação aquilo a que podemos chamar o milagre da Ressurreição.

No meio de uma dor dilacerante, os irmãos da comunidade continuaram a cantar “Laudate Omnegentes “, em acção de graças ao irmão Roger.

Naquele momento desceu sobre nós a paz de Deus e isso confortou os nossos corações.

Por mais radical que seja o mal, não é tão profundo como a bondade.
É aqui que reside a chave de tudo.

A violência gratuita, a violência cega, apenas a violência como expressão do mal não pode fazer-nos esquecer a bondade e o bem”.

Foi esta serenidade e força interior demonstrada pelos irmãos que nos abriu uma janela de esperança e permitiu que não perdêssemos a confiança em Taizé e tudo o que aquele lugar significa.

Como disse o já saudoso João Paulo II: ” Passa-se por Taizé como se passa perto de uma fonte. O viajante pára, mata a sede e continua o seu caminho. Os irmãos da comunidade não querem deter-vos. Querem, na oração e no silêncio, permitir-vos que bebais a água viva prometida por Cristo, que conheçais a sua alegria, que reconheçais a sua presença, que respondais ao seu chamamento, e depois que torneis a partir para dar testemunho do seu amor e servir os vossos irmãos nas vossas paróquias, nas vossas cidades e aldeias, escolas, universidades e em todos os vossos locais de trabalho”.

É com esta responsabilidade que saímos de Taizé, com a missão de não deixar desaparecer o espírito de Taizé, de simplicidade e comunhão, cultivada ao longo de décadas pelo irmão Roger. Nas suas próprias palavras: “é preciso não parar no caminho”.

(...)

Taizé sempre foi um lugar de confiança, união e alegria. Agora é também um lugar de esperança, esperança de que a morte do irmão Roger não tenha sido em vão, e que o seu legado de reconciliação e bondade não seja esquecido.

Não foi fácil viver aquela semana em Taizé, fomos diversas vezes assaltados por dúvidas, medos e em muitas ocasiões vimos a nossa confiança fraquejar.

Nada que já tivéssemos vivido na vida nos poderia preparar para aquilo que vimos, sentimos e continuamos a sentir.

De certa forma, entrámos na História, pois Deus deu-nos a oportunidade de testemunhar este acto hediondo, comprometendo-nos ao mesmo tempo a não deixar que Taizé seja esquecido. É esta a nossa missão que temos de saber potenciar ao serviço dos outros, na nossa comunidade.

Da maneira mais difícil, Deus deu-nos uma lição de humildade e entrega total a uma causa.

Naquele momento vislumbramos algo parecido com o que Jesus Cristo passou. O irmão Roger morreu, no seio da sua bem amada comunidade, em oração e rodeado por muitos jovens em quem sempre depositou a sua confiança.

No seu último livro publicado há apenas um mês, diz: “Quanto a mim iria até ao fim do mundo se pudesse fazê-lo, para afirmar e voltar a afirmar a minha confiança nas jovens gerações”.

É por isso que sabemos que Taizé não termina aqui. Nos nossos corações e de todos aqueles que partilharam à distância a nossa dor fica a certeza de que há ainda muito caminho por percorrer. E percorrê-lo-emos juntos, empenhados e iluminados pela presença do irmão Roger.

Deixámos Taizé tranquilamente, como aliás tentámos viver toda a semana depois do que aconteceu. Seria assim que o irmão Roger teria querido.

Depois da sempre comovente oração da luz na véspera da nossa partida, conseguimo-nos reconciliar connosco próprios, com o lugar e em gestos tão simbólicos como “passar a luz” a quem está ao nosso lado na oração, percebemos que a nossa confiança se vai fortalecendo e que vamos ter a força necessária para enfrentar novas etapas da nossa caminhada.

Nunca saberemos por que tudo isto aconteceu, mas com o passar do tempo saberemos por que quis Deus que presenciássemos tal coisa.

O primeiro passo para podermos recomeçar é perdoar a autora deste acto tresloucado. Foi isso mesmo que, nas palavras do irmão Alois, fizeram os irmãos da comunidade no discurso tocante na despedida ao irmão Roger:

Em face do mal a bondade do coração é uma realidade vulnerável. Uma vez que o irmão Roger não desejava que se pronunciassem muitas palavras nas igrejas, gostava de terminar com uma oração.: ”Deus de bondade, nós confiamos ao teu perdão Luminita Solcan que, num acto doente, pôs fim à vida do nosso irmão Roger. Com Cristo sobre a cruz dizemos-te: perdoa-lhe Pai por que ela não sabe o que fez “.É esta a primeira lição que devemos retirar daqui: A lição da reconciliação e do perdão.

O irmão Roger estará sempre presente nas nossas orações e pedimos que através dele tenhamos a força para que as nossas aspirações à paz e à confiança sejam como as estrelas, pequenas luzes a iluminar a noite.

Através de uma oração muito simples podemos pressentir que nunca estamos sós: o Espírito Santo é em nós o amparo de uma comunhão com Deus, não apenas por um instante, mas até à vida que não tem fim”.

Rita Cardoso
(do Grupo de Jovens de Coimbra, presente em Taizé) Texto de uma oração




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