Re: O Terceiro Segredo de Fátima
Escrito por: Taliban (IP registado)
Data: 18 de May de 2004 11:04
O Dinheiro comanda a vida....
Sob o comando de John Haffert, milionário norte-americano, falecido em 2001, o Exército Azul (Blue Army), uma espécie de multinacional mariana à escala planetária, com milhões de membros, torna-se na mais poderosa organização mundial em defesa da mensagem de Fátima
Fátima, “o altar do mundo”, também é um altar americano, já que a difusão universal daquele santuário mariano e da história das aparições se deve muito à acção dos católicos da única super-potência da terra.
Em 1947, o medo do comunismo, por um lado, e a esperança na consagração da Rússia - conforme a interpretação da mensagem de Fátima - por outro, levam o padre Harold Colgan, em Plainfield, New Jersey, a pedir aos paroquianos que assistam à missa com uma peça de vestuário azul.
Segundo Carlos Evaristo, autor de um livro com duas entrevistas (1992/93) feitas à irmã Lúcia, quando os fiéis aparecem na igreja vestidos de azul, o padre Harold terá exclamado: “Contra o exército vermelho de Moscovo, temos aqui o exército azul de Fátima”. E assim nasce o Exército Azul.
Nessa época, de acordo com a mesma fonte, John Haffert, então um jovem jornalista devoto a Fátima, influenciado pela irmã Lúcia, com quem consegue falar, graças à interferência do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, começa a distribuir petições pelos EUA. O objectivo é pedir aos católicos americanos que rezem o terço todos os dias pelo Santo Padre e pela conversão da Rússia. Autor de “O obreiro da paz”, uma biografia sobre D. Nuno Álvares Pereira, fundador da Ordem do Carmo, John Haffert visita Fátima, em 1946. Antigo aluno num seminário carmelita e sobrinho de um superior daquela Ordem, o jovem jornalista, com carta branca do tio, percorre os locais onde D. Nuno Álvares Pereira esteve. “Na sua pesquisa, descobriu uma lenda piedosa, que conta como D. Nuno, à frente da Ala dos Namorados, durante o percurso que o levaria até ao campo de Aljubarrota, em Agosto de 1385, viu os cavalos do seu exército ajoelharem-se na Cova de Iria. Então, intitulou D. Nuno como precursor de Fátima”, afirma Carlos Evaristo.
John Haffert, acrescenta a mesma fonte, começa a escrever livros sobre Fátima, autênticos best-sellers mundiais, com milhões de exemplares vendidos.( e muito dinheiro ganho.
Aureolado de prestígio por ser o primeiro norte-americano a falar com a vidente Lúcia, o jovem devoto reúne “milhões de petições” a favor da causa mariana. Ao ponto do idoso padre Harold ver naquele ex-seminarista, filho de pais milionários e com dons de bom organizador, a pessoa ideal para comandar o Exército Azul.
Angariador de fundos
Considerado o maior benemérito de Fátima pelo “muito dinheiro que angariou para a construção da basílica”, John Haffert constrói, nos anos 50, o “Domus Pacis”, ou “Casa da Paz”, sede do Centro Internacional do Apostolado Mundial da Oração, designação pela qual também é conhecido o Exército Azul.
Transformado hoje em hotel de primeira classe, a dois passos do santuário, o “Domus Pacis” destinava-se a formar padres bizantinos católicos, para que “quando a Rússia se convertesse, fosse evangelizada por um exército azul de sacerdotes de rito oriental”. ( não é este o hotel da Opus Dei?)
Mas um acontecimento inesperado vai criar um cisma nos americanos católicos, a grande parte dos quais orientados pelo Exército Azul. Em 1981, João Paulo II, sobrevivendo a um atentado, desperta para a mensagem de Fátima. “Então o Papa consagra o mundo e não apenas a Rússia, porque o mal (o comunismo) já se tinha espalhado por outros países. Lúcia concorda com ele”, diz Carlos Evaristo.
Se este último ponto coincidia com o de John Huffert, já a consagração do mundo, em detrimento de ser apenas a Rússia – e pelo catolicismo – como ainda “piedosamente” acredita a maioria dos fiéis norte-americanos, abre brechas na unidade da acção do Exército Azul. “Haffert, dando provas de humildade, revê a sua posição e concorda com o Papa (que a consagração da Rússia foi feita em 1984, na Praça de S. Pedro, em Roma).
Mas muitos dos seus seguidores discordam e acusam a irmã Lúcia, Huffert e outras pessoas de obediência cega a forças obscuras no Vaticano ligadas ao KGB e à Maçonaria”. Fátima e os segredos da Cova de Iria descem então ao “reino obscurantista” do fundamentalismo católico.
Figura de proa desse movimento ultraconservador, o padre Nicholas Gruner, presidente do Comité Nacional para a Virgem Peregrina do Canadá, defende que a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria ainda não foi feita. Ou seja, a Igreja, na sua opinião, ainda não cumpriu o pedido de Nossa Senhora de Fátima. Segundo Carlos Evaristo, o objectivo de Gruner é “desacreditar as autoridades legítimas de Fátima e silenciar a voz da irmã Lúcia”. Exemplo do “fundamentalismo” deste padre canadiano, impedido de celebrar missa pelas mais altas instâncias eclesiásticas, é a capa de um dos seus livros, que este jornal reproduz na primeira página do “Viver” desta edição, em que se vê a torre da basílica de Fátima a desabar, como se o “inferno” caísse sobre o santuário.
Quanto a John Huffert, companheiro inseparável de D. João Pereira Venâncio, bispo de Leiria, durante muitas das viagens da Virgem Peregrina pelo mundo, em especial na década de 60, é uma figura polémica, adorado quase como um santo por alguns, mas olhado com desconfiança por outros. Os seus detractores, em especial os que o acusam de ter ganho “milhões” à custa dos acontecimentos de Fátima, recordam os dois “boeing 737” adquiridos por si para levar peregrinos norte-americanos a Fátima, o que parece ser verdade.
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As petições de Alan e Junette
Alan e Junette Merwin, um casal de californianos, naturalizados portugueses desde Agosto passado, vivem há 11 anos na Cova da Iria, na Avenida Beato Nuno, como devotos à causa mariana. Afirmam ter recebido cerca de três milhões de petições de todo o mundo, em especial dos EUA, ao longo da última década, dirigidas a Nossa Senhora de Fátima, que depois entregaram na Capelinha das Aparições.
Veterano do Vietname, onde combateu como marine, Alan Merwin, um corpulento homem de meia idade, de feições serenas, confessa que deve a sua conversão ao catolicismo a John Haffert. Quanto à sua mulher, Junette, descendente de pais açoreanos, geriu um hospital nos EUA antes de se reformar. Engenheiro, mas também com experiência de administração de empresas, Alan Merwin, antes de se fixar em Portugal foi responsável pela construção da base aérea de Rota, no Sul de Espanha, uma das mais importantes bases dos EUA na Europa. O casal é membro da Real Irmandade da Ordem de São Miguel da Ala, a mais antiga ordem militar portuguesa, fundada por D. Afonso Henriques. Amigos de D. Duarte Nuno, herdeiro da Coroa Portuguesa, Alan e Junette falam de Portugal com respeito e admiração. À mesa, entre um gole de café e um biscoito, evoca-se Agostinho da Silva, a história do Quinto Império, os Descobrimentos e a globalização.
Damião Leonel