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A caridade tem limites?
Escrito por: francisca (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 17:15

a caridade tem limites?

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 20:36

Ora aqui está um bom tema para "discutirmos".

Eu pessoalmente acho que não. A imagem que me vem à cabeça quando penso em caridade é a da Madre Teresa de Calcultá. Acho que ela viveu a caridade sem limites e de uma forma mt clara. Existem outras pessoas que viveram e vivem a caridade mas penso sempre nela.

Obrigado pela tua caridade Francisca ao colocar aqui este tema.


Susete

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: francisca (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 21:55

:-)

Como tenho esta dúvida, gostava de a debater... è muito difícil cultivar a caridade - o verdadeiro acolhimento aos outros....

às vezes penso que há limites ou não?

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 10 de August de 2002 12:48


Talvez o único limite seja a nossa responsabilidade em relação aos que dependem de nós, incluindo nós próprios.

A caridade implica o dom total de quem somos. E isto não é brincadeira: "deixa tudo e segue-Me", vemos nós pelos Evangelhos.

Será que a nossa própria vida também deve ser doada? A resposta é um claro e objectivo sim. Mas Deus respeita a nossa vocação, alimentando sempre a nossa capacidade de corresponder a essa exigência evangélica. Aliás, devemos considerar que nós falhamos sempre no pouco que damos, pois Deus precisa de tudo! :o) O amor não se faz por menos, não é? Ainda para mais, quando amamos alguém, quando fazemos algo bom ou mau a alguém, principalmente aos mais pequeninos, Deus diz-nos que o fazemos a Ele mesmo! Até o que deixamos de fazer! Isso é incrível, cada vez exige mais de nós... Já imaginaram a caridade como oração, em contacto com Deus? Fazer Cristo presente no mundo, fazê-Lo acontecer?

Não devemos tomar esta exigência como uma frustração ou mágoa por não podermos corresponder. Claro isso pode acontecer, demonstrando a nossa autenticidade, mas não podemos deixar-nos desesperar... Podemos sempre corresponder, se estivermos verdadeiramente contritos em relação a isso. Se mantivermos presente essa contrição, tornada presente todos os dias pela oração, estaremos atentos a todo o bem que podemos fazer, nos pormenores de todos os dias. É uma das coisas que os Escuteiros aprendem a fazer (e deviam aprender MUITO mais esta dimensão espiritual do que significa "fazer uma boa acção todos os dias", enchendo-a de compaixão e sentido - mais um desafio pastoral).

Para mim, a caridade é fundamental. É o amor. De Deus vem, para Deus vai. Deus foi caridoso ao criar-nos com a capacidade de amar. O amor está na base de toda a Criação, tudo aquilo que foi inteligentemente desenhado por Deus. Ao libertarmo-nos dos nossos egoísmos, retribuímos esse dom de amor e tornamo-nos seres humanos. A compaixão, a ternura, a abnegação, a humildade, o altruísmo, a devoção, a coragem, a imaginação, a vontade, a atenção, a responsabilidade, o testemunho, a competência e tantas outras são todas qualidades e dimensões desse profundo amor de caridade que perpassa tudo quanto existe, tudo quanto podemos amar. Tudo isto está ao nosso alcance e é nossa missão existencial, faz parte de nós. Com o amor de Deus, cabe em nós o mundo inteiro... e arredores! ;o)

Agora, de uma forma mais prosaíca, temos que afirmar que realmente a temperança também se aplica aqui. Não se pode amar "loucamente" no que diz respeito à caridade, a não ser que estejamos prontos ou chamados ao martírio. Porque é disso que se trata... Tudo quanto seja menos que isso, deve ser compensado. Parece demais, não é? Mas é esta a exigência do Senhor... Podemos conviver bem com isso, se entendermos o quanto o mundo precisa de "operários" do amor. As nossas frustrações e incompetências devem ser confortadas pela oração, não somente para nos consolar, pois não somos nós que precisamos de consolo, mas aqueles a quem nos dói não ajudar. A oração deve ser o exercício da caridade que não se consegue levar a cabo, deve ser nela que uma e outra vez abrimos o coração à permanente invasão de amor de Deus e n'Ele encontramos o Todo-Poderoso que parece tão incompreensível perante o sofrimento do mundo, um sofrimento que sabemos ser nossa culpa mas do qual por vezes nos parece preferível não padecer de todo, ainda que isso implicasse também não podermos amar. Só para acabar com o choro daquela criança, só para devolver a paz àquela nação, só para... Mas como amamos e podemos amar mesmo muito, tudo se complica. Somos humanos, o nosso meio é o amor. Somos mais que animais, somos mais que máquinas... e somos ainda tão pouco. Desistimos de amar mais e mais demasiado facilmente... Aprendamos e não nos demitemos de todos os dias carregar a nossa Cruz e tanto quanto possível, a dos outros. Que mais é que dá verdadeiro sentido à nossa vida, senão sermos senhores da nossa liberdade, dominarmo-nos e depois entregarmo-nos totalmente aos outros? Que alternativa temos...? A miséria...

Irmãos, se fôssemos o que devemos ser, como se transformaria o mundo...!

Afinal, tudo o que sabemos é que MAIS que a FÉ e a ESPERANÇA é o amor e a CARIDADE (de facto, em diferentes traduções da Bíblia para português, ora se traduz por amor ou caridade - não sei qual é o termo original do texto bíblico, mas certamente que se englobam no mesmo campo semântico, o que demonstra a sua íntima relação).

Ubi caritas et amor, ubi caritas Deus ibi est.
João

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: Francisco (IP registado)
Data: 11 de August de 2002 19:18


Só para responder à dúvida:
no Grego original, o termo caridade é «Charis», que deu Charitas em Latim,
também uma adpatação do grego. Traduzir caridade por amor, é fraco: fá-la
perder o sentido forte que tem de entrega total, de Deus e do homem, bem
entendido... Não é que o sentido da palavra amor não esteja também
incluído, mas é muito redutor... aliás, a própria citação latina que fazes
deixa entrever bem que não é a mesma coisa... Ubi Caritas et amor...
Por isso, não tenham medo de usar a palavre caridade, mesmo q esta seja
comummente usada como sinónimo de esmolinha... nós sabemos qual é o seu sentido.

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 01:44

:)
E deve haver limites ou não?

ana

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 09:15


Para Deus não há limites. É o amor incondicional e pronto. O martírio é consequência desse amor. Somos todos muito miseráveis ao pensar numa caridadezinha comedida como suficiente. A partir daí, na nossa vida sedentária, o que devemos deixar de fazer para nosso sustento é outra conversa... Mas nada tem de ver com o princípio evangélico. É a esse que nos devemos sempre referir.

João

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 12:46

"bem prega frei tomás. fazei o que ele diz e não o que ele faz"
adágio popular

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 13:15

Depende da "caridade".

Há a caridade verdadeira e há a caridade de fachada, geralmente praticada pelas conhecidas caras de jet - set que mais não fazem do que promover (ainda mais) a sua imagem, utilizando os mais necessitados.
A essa caridade de pacotilha, chamo demagogia, hipocrisia e exibicionismo, e para essa não devia haver limites, pelo simples facto que nem deveria existir sequer.


Na caridade verdadeira, a de verdadeiro acolhimento ao próximo, vendo e vivendo o seu mundo, não deverá ser imposto qualquer limite.
Se começarmos a impor limites ao BEM, que depois não venhamos gritar e chorar "baba e ranho" de que o Mundo vai cheio de maldade e que Deus nada faz...


Anna

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: Anabela Sousa (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 16:41

Olá a todos... Depois de alguns dias de ausência, cá estou eu de novo, pelo menos por mais uns dias, já que depois vou passar duas semanitas fora com a minha família!!!

Estive durante a semana que passou, numa colónia de férias com crianças que vivem demasiado envolvidas em problemas sociais! Não foi uma colónia qualquer... não tive remuneração monetária! A única recompensa foi ver o sorriso daquelas crianças deliciadas a fazer coisas tão básicas como comer uma gelatina, poder repetir uma sopa, ou um 2º prato, enfim... tudo aquilo que está o nosso alcance, e coisas às quais nós não damos valor!!!

Foi bom... foi muito bom... mas também complicado! Dormir uma média de 3h30m por noite não é fácil... Estar com aquelas crianças que nos pedem o que não têm o ano inteiro, não é fácil... Dar-lhes o que não temos (ou o que julgamos não ter), é complicado!!!

Mas eu consegui... Bebi na oração matinal, e na eucaristia do final da noite, a força que me faltava para conseguir... Conseguir estar, conseguir fazer, conseguir ajudar... E cheguei ao final da semana estafada, mas com vontade para outra semana. As crianças foram embora no sábado, e eu fartei-me de chorar. Podem chamar-me piegas... :) Mas não consegui conter-me... Eles também choravam... Queriam mais... e querem voltar no próximo ano! :)

Tiveram ali uma semana descontraída, com boas referências, enfim, qualquer coisa que lhes falta na vida para que eles possam ver que existe algo mais do que aquele mundo em que vivem...

Foi só um momento de partilha... :)

Quanto à caridade... bom... Eu considero que a caridade não tem limites!!! Não pode ter limites! Caso contrário chamar-se-ia solidariedade! Há que diferenciar: Caridade e Solidariedade não são a mesma coisa. Caridade é dar-me aos outros! Solidariedade é simplesmente dar!

A caridade tem na base o Amor de Deus, a solidariedade baseia-se na boa vontade!!! Não confundam as coisas!!! Como dizia o João: "Para Deus não há limites. É o amor incondicional e pronto." As coisas são mesmo assim! Para quem vive a radicalidade do Evangelho e do Amor de Deus, nada tem limites, vai-se até às últimas consequências (E sim, os mártires são um exemplo disso!).

Fiquem na Paz de Cristo!

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 20:36

ora aqui está um bom exemplo de caridade.

Obrigado Anabela ;)

Susete

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 12 de August de 2002 22:39

boa anabela. belo testemunho!

ana

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 06:01


Muito bem Anabela, espero que tenha sido mais uma experiência enriquecedora e motivadora!

E Ana, esse bem podia ser o SEU adágio favorito, pois parece ser o que pretende com esse seu "humanamente possível"...

Falemos de caridade e deixe-se disso. O que eu considero ofensivo não é o insulto fácil e desbaratado, com esse posso eu bem, apesar de doer, já que vem de uma católica. Realmente, para mim, é o desrespeito para com coisas sagradas que é ofensivo, e mesmo revoltante. Isso aplica-se principalmente à Igreja... É interessante, a Deus não levo tanto a peito quando O ofendem, pois sei que Ele é melhor que isso! Agora, insultar pessoas de carne e osso que podem ver a sua vida destrutida por causa disso, não se respeitando a sua obra ou memória, é mais grave... Logo, se me quiserem chatear, já sabem quem devem insultar! :o) Porque NÓS SOMOS IGREJA... Se a respeitarmos, respeitamo-nos a nós próprios... E se a desrespeitarmos, desrespeitamo-nos a nós mesmos... e a milhões e milhões de irmãos!! Percebeu definitivamente, Ana? "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei, Ama o próximo como a ti mesmo"... Uau...

João

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 06:24


Já agora, quais são as vossas "ideias" em relação àquele maior dos mandamentos, "Ama o próximo como a ti mesmo"? Como já percebemos, toda a caridade parte disso, que resume um pouco o Evangelho, que jamais pode ser resumido para ser acolhido em verdade.

Alguns pensamentos...

Esta exigência é tão inquietante! É que nunca sabemos "o que é o amor?" até descobrirmos que devemos "Amar-nos uns aos outros COMO ELE nos amou" e, n'Ele, encontrarmos a plenitude do amor. Assim, será não só ter muito amor próprio, mas descobri-lo através do próprio amor que Deus tem por nós e que nos faz valorizarmo-nos ainda mais, e depois fazer desse amor, que vem a nós por Deus, reflectido para Ele e todos os outros, uma imensidão de sacrifício e felicidade!!

Assim, passa por uma relação tremendamente íntima com Deus (a sério, TREME-SE mesmo! ;o) ), que é assumida pelas próprias circunstâncias da vida de cada um e é nelas interpretada e desenvolvida. Assim como chegámos a Deus pelo que somos, com o que vivemos e aprendemos, também O transmitimos aos outros, testemunhando uma transformação total de vida, uma conversão de coração completa e uma intensa radicalidade naquilo que vale a pena... a Cruz!

Mas... como é que é possível amar a outro como me amo a mim? E a minha sobrevivência? O que devo fazer, matar-me? Bem gostava de não ter de fazer esta pergunta, para não ter consciência de que a resposta é um pesado "sim"... Pois o que fazemos quando partimos o pão, não nos "matamos"? O que fazemos quando ficamos a pé toda a noite, em vigília ou voluntariado, não nos "matamos"? O que fazemos quando dedicamos toda a nossa vida a Deus, não nos "matamos"?

Acho que é muito necessária a consciência do martírio... Devemos fazer tudo por compreender que somos mártires desde o Baptismo, ou pelo menos, mais a sério e concretamente, a partir do Crisma. Devemos compreender que aqueles que morrem mesmo, os que têm a graça de serem chamados a testemunhar com tanto AMOR a sua fé, de uma forma que nos deixa a todos envergonhados, são os que "formalizam" na carne essa vocação que é de todos. Como é que podemos ser católicos e não aceitar isto? Fica bem nas relações públicas? Não, fica mal, é o martírio que é admirado, porque é a exigente prova de autenticidade que coloca em causa os valores do mundo e que este, a bem dizer, admira tanto ou quer admirar tão pouco, que acha escandaloso e hipócrita professarmos uma fé e não viver como tal, assim como se Deus fosse um moralismo conservador de "bons costumes" ou um taumaturgo às nossas ordens. Essa exigência é-nos muito benéfica. Até porque só assim o mundo será Salvo.

João

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 11:13

Claro que nos matamos em muitas renuncias que fazemos... Mas damos vida também.


ana

Re: A caridade tem limites?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de August de 2002 04:27


Era precisamente esse o sentido: em vez da minha sobrevivência, ou seja, a minha vida, coloco a dos outros... esperando que eles façam o mesmo.

Como diria Jesus, "ninguém me tira a vida: eu entrego-a livremente".

João



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