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Re: mulheres
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 16 de December de 2005 23:53

a senhora não entendeu o que eu escrevi, releia.

Re: mulheres
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 17 de December de 2005 17:17

Eu posso falar com conhecimento de causa em ambos os sentidos.

A minha avó viveu os últimos anos da sua vida acamada em casa e o meu avô esteve num lar. Por isso conheço bem ambas as realidades. Falar é fácil mas passar por elas é difícil.

Bem parece-me que vou fazer mais uma partilha…muito oportuna.


A minha avó ficou acamada depois de uma operação à bacia, a operação foi fruto de uma “escorregadela” que deu em casa. Passado um ano e pouco, da operação da minha avó, o meu avô começou a perder algumas faculdades motoras, fruto de um queda que deu ao atravessar a estrada, 5 anos antes. Tendo sido submetido a 3 operações no espaço de 2 meses, sobreviveu, mas perdeu algumas faculdades como parte da audição, do paladar e da fala e da memória (quase toda), apesar de andar e muito, por todo o lado…adorava dançar e continuava a ter muita força de braços e pernas. O cenário apesar de terrível para a família era sem dúvida caricato, a minha avó lúcida acamada e o meu avô sem memória a passear por todo o lado.

Fizemos a opção de colocar o meu avô no lar porque não conseguíamos cuidar dele e a minha avô ficou na casa dela, contigua a áreas comerciais que exploramos e portanto poderíamos sempre vigiar. Uma das coisas que ela nunca quis foi sair da sua casa e sofreu muito com a ausência do meu avô. Só no último ano de vida é que foi para o lar, a seu pedido, talvez por supor que não viveria muito mais e quisesse ir viver para junto do marido.

O meu avô ainda viveu quase um ano após o falecimento da minha avó e apesar da sua falta de memória a minha mãe (nora) tentou dizer-lhe que a esposa havia morrido, nunca chegamos a saber se o compreendeu ou não, mas por algumas diferenças comportamentais estamos em querer que sim. Apesar de estar ser uma decisão controversa, os meus pais acharam que era a atitude mais correcta e digna.


A minha mãe apesar de ser nora cuidou dos meus avós com muita dedicação. Tivemos algumas enfermeiras e senhoras para cuidar da minha avó, mas ela rabugenta como era nunca gostava de nenhuma. Tinha de ser a minha mãe a mudar as fraldas, a mudar a cama, a dar-lhe banho, a cortar-lhe o cabelo, as unhas, ect….nunca teve feridas nem escoriações, mas posso dizer-vos que gastamos muito dinheiro em cremes, loções e outros produtos, camas articuladas e cadeiras de rodas. Há aqui um dado muito importante, a minha mãe tem formação em suporte básico de vida, vulgo primeiros socorros, algo que precisou de aprender, há mais de 30 anos, para o desempenho da sua profissão, administrativa num centro de saúde…(hoje já ninguém aprende isto…na altura devido à falta de enfermeiros eram as administrativas que faziam esse trabalho).

Mas voltando aos meus avós,…posso dizer-vos que o desgaste familiar era enorme, a gestão de tempo e espaço passou a ser a prioridade, claro que ao fim de uns anos entramos na rotina, mas durante 6 anos não houve férias, fins de semana, nem passeios prolongados, porque havia sempre a hora do almoço e do jantar para a minha avó.

Quanto ao meu avô íamos muitas vezes buscá-lo para almoçar connosco ao domingo. Chegamos a fazer isso várias vezes com a minha avó, mas a cadeira de rodas e o seu peso morto dificultavam a deslocação. E claro, sempre no Natal e na Páscoa. Nos primeiros anos ainda almoçamos e jantamos todos os dias, na casa da minha avó, mas isso tornava-se demasiado triste e acabava sempre em conflito, porque a cama da minha avó estava na sala de entrada, onde também ficava a mesa de jantar e por muito que tentássemos esconder a realidade ela não desaparecia simplesmente. Imaginem jantar em família, com uma senhora numa cadeira de rodas a chorar, uma cama articulada encostada à parede, um senhor sem memória e totalmente irrequieto, ao ponto de termos de o amarar à cadeira para que não se aleijasse e pudesse comer. Imaginem um filho adulto, que não tem muito jeito para partilhar emoções e sentimentos a assistir a este cenário de degradação dos seus pais. Um cenário de total impotência perante uma dura realidade que é a velhice, a doença e a dependência física.

Por isso podem falar o que quiserem, mas procurem não julgar, nem as situações nem as pessoas sem antes terem passado por elas.

Havia no entanto algumas coisas boas: o meu avô adorava dançar, até sem musica ele dançava…devia estar dentro da cabeça dele, porque os passos ritmados estavam lá todos e fazia coisas giras como as crianças de 2 anos quando começam a descobrir as utilidades dos objectos. A minha avó de quando em quando conseguia articular algumas palavras e até se ria e nos fazia de rir (quando estava bem disposta!!!!). Cheguei a rezar o terço com ela algumas vezes, mas a coisa termina sempre mal, porque naturalmente, eu não fazia em dizia as coisas como ela achava que deveriam ser…mas havia coisas giras, por como saber sempre a que dia estávamos e em dia fazíamos anos. E essas são as melhores memórias que tenho dos meus avós: uma avó acamada mas lúcida, que nos amava muito e de vez em quando nos fazia rir, ela era detentora de uma fé inquebrantável e um exemplo disso mesmo para as nossas vidas, pois soube suportar a sua cruz com muita dignidade. E um avô sem memória, sem paladar e sem parte da audição, mas que dançava por todo o lado e pegava nas senhoras do lar ao colo para mostrar que ainda tinha força.


Eu e a minha irmã fomos educadas numa família alargada e sempre respeitamos os mais velhos, mas esta passagem pela velhice dos meus avós, deu-nos um outro olhar e um maior carinho pelos mais velhos, mesmo quando são manipuladores, chatos e mal cheirosos.

Não podemos é cair no erro de medir algo que é único, pessoal e intransmissível - O AMOR. Nem tão pouco criticar os outros e julgá-los. “Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra”.

Re: mulheres
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 18 de December de 2005 12:04

Querida Tony:
Muito obrigada pela tua partilha, que me tocou especialmente porque me fez reviver a experiência de acompanhar e cuidar de dois avós acamados e completamente dependentes ao longo de mais de três anos que permaneceram em casa dos filhos (onde acabaram por falecer).
Algusn dos episódios que relataste fizeram-me lembrar de alguns jantares em família bastante angustiantes…E olha, ainda ontem , ao fazer compras de natal, fiquei um pouco triste aoa pensar que já tenho menos duas prendinhas para dar, ainda que quase simbólicas, pois as prendas que escolhia pra eles eram coisa muito práticas que lhes dessem um maior conforto ou um pequeno prazer fisico – por exemplo, um creme delicado relaxante para fazer uma boa massagem depois de um banho e evitar escaras ou um docinho especial…
Desta vivência profunda e prolongada resultou a minha convicção de NUNCA fazer julgamentos superficiais, apressados e, a maior parte das vezes injustos, sobre as famílias que fazem a opção de colocar os seus idosos dependentes ou gravemente doentes com patologias que exigem cuidados continuados ou mesmo cuidados em final de vida, em instituições que lhes forneçam esses cuidados.
Houve um altura em que o seu estado de saúde era tão grave ( e uma coisa é ter um idoso gravemente doente e acamado, outra é ter dois idosos de noventa anos acamados ao mesmo tempo) que se colocou a hipótese de um lar)/instituição de terceira idade onde estiveram durante algum tempo. E isto depois de correr N sítios tentar escolher o melhor, etc, etc, ver o verdadeiro negócio da china que é a exploração das necessidades de cuidar dos velhos, etc, etc….Devo dizer-te que o conhecer por dentro como funcionam essas instituições foi chocante.
Tenho a certeza de que se os avós tivessem ficado institucionalizados nunca sobreviveriam tanto tempo nas condições de saúde precárias em que se encontravam

Mas a possibilidade de passarem os seus últimos nãos de vida junto da sua família deveu-se à abnegação dos cuidadores, muito em particular da filha única e do genro , mas também, não sejamos hipócritas, ao facto da família cuidadora ter recursos económicos suficientes para contratar pessoas que ajudaram nos cuidados, poder pagar as despesas médicas, ter uma casa com condições arquitectónicas , ter acesso a cuidados médicos e de enfermagem ao domicílio, etc, etc… E ajudou também os filhos cuidadores serem já reformados, não terem de ir todos os dias para o emprego, serem eles próprios pessoas saudáveis – ou seja , terem disponibilidade emocional, mas também económica e tempo para fazerem essa escolha.

Criticar as famílias por colocarem os seus familiares idosos num lar é um discurso desligado da realidade e que revela muita falta de Caridade.

È verdade que há lares ( e alguns de cariz religiosos) que são uma vergonha, é verdade que , mesmo nas melhores instituições faltará sempre o carinho, o miminho e o atendimento personalizado que se tem na sua própria casa…

Mas a maior parte das famílias que coloca os pais num Lar nem sequer tem de facto hipóteses de fazer outro tipo de escolhas – não por falta de amor ou por egoísmo, mas porque tomam essa decisão em função dos interesses dos seus familiares idosos.

As respostas institucionais são escassas, caríssimas ( mas menos caras do que manter um doente em casa) e pouco articuladas, mas muito necessárias.

E são essas respostas que devem ser pensadas e reinventada, porque temos uma população de velhos e essa tendência, em termos demográficos é irreversível.

Uma outra dimensão de análise é quando se parte da necessidade de repensar os cuidados aos idosos par se fazer um certo tipo de discurso sobre o papel das mulheres, aproveitando o envelhecimento populacional e os custos sociais, económicos que implicam nele implícitos, para retomar um certo tipo de valores sobre o papel da mulher como cuidadora, o papel da mulher no lar, o natural papel da mulher par o cuidados, e bla bla bla bla…


Como se o problema social de cuidar dos idosos não fosse uma questão social global, que diz respeito a todos nós e sobretudo é esfera política, mas fosse apenas um problema das mulheres, que a elas compete resolver com a invisibilidade do se trabalho, retirando essa componente da discussão pública e remetendo-a para a esfera da desigualdade das relações de poder.

Re: mulheres
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 18 de December de 2005 14:46


Já viram que esta época é altura em que nos lembramos dos nossos entequeridos?

Eu nunca tratei de familiares idosos, por estar longe deles. A minha mãe também esteve num lar, visto a minha irmã ter os quartos no 2. andar. Mesmo assim, ela queria por-lhe uma cama na sala, mas a minha mãe não quis. Os meus avós nunca precisaram, morreram ao fim de dias de doentes, o meu pai morreu no mesmo dia que se sentiu doente.

Também tive avós maravilhosos, principalmente um avô, que eu era a netinha preferida dele. Quando eu era pequenina,pegava na minha mão e levava-me a passear as ruas da vila e no fim sempre me comprava línguas de gato. Ainda hoje adoro e tenho uma filha igual. Nunca vou a Portugal que não compre as minhas línguas de gato:)

Re: mulheres
Escrito por: tony (IP registado)
Data: 18 de December de 2005 16:49

Tens toda a razão CP quando te referes às mulheres. É um problema global, de ambos os géneros e não só das mulheres. Atendendo a que a população está cada vez mais envelhecida, o sistema nacional de saúde deveria pensar em alternativas e medidas para os mais idosos. A disseminação das pulseiras e mais recentemente dos telemóveis de emergência com localização por satélite (que apareceu recentemente num telejornal), podem ser duas ferramentas de auxílio. Mas também as ajudas económicas e legais são muito importantes. Aqui volto a puxar o tal discurso de aliar a falta de emprego e baixos investimentos que existem no país para repensar algumas áreas sociais, económicas e populacionais, como a baixa natalidade e os idosos. Se por um lado é preciso criar politicas de incentivo à natalidade por outro há muitos avós que tem condições para ajudar a criar os netos, pena é que as famílias sejam cada mais constituídas por pequenos núcleos, o que se deve em grande medida à mobilidade populacional.

Nem todos os avós estão incapacitados. Aliás está provado que é após a reforma que surgem muitos dos problemas de saúde entre os mais velhos. Há uma teia muito complexa que é preciso equacionar como um todo e não desligada fio a fio como nós habitualmente fazemos.

Re: mulheres
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 18 de December de 2005 23:00

quanto ao preço dos lares. Os lares são estruturas caras, tanto mais caras quanto mais condições tiverem. Estamos num pais livre, qualquer um associar-se, criar uma IPPS, arranjar um lar, fazer acordos com o estado e manter um lar. Depois verá quanto custa mante-lo e como pode mante-lo em funcionamento, depois verá se tal é um negocio da china ou não. Se fosse não havia a falta de lares que há.

Uma amiga minha é enfermeira e em tempos esteve num centro de saude aonde parte do seu trabalho era ensinar as familias dos idosos e doentes a tratarem dos seus familiares. Há coisas que têm de ser os profissionais de saude mas tambem há muitas que os familiares podem aprender.

A semana passada fui visitar um idoso com 88 anos. Vou visita-lo quase todas as semanas. Está em casa, quase cego. A filha unica reformada passa todos os dias à porta para ir ao café, nunca entra, estão zangados por questões de dinheiro. É uma vizinha que toma conta deste senhor.

Um vizinho meu tinha 4 filhos. 2 já reformados. Quando adoeceu foi um sobrinho que cuidou dele.
Disponibilidade emocional.

Acho uma piadona a estes neologismos politicamente correctos para eufemizar em grande parte dos casos a simples falta de amor. O amor funciona mais de cima para baixo que de baixo para cima.

Re: mulheres
Escrito por: huguenote (IP registado)
Data: 18 de December de 2005 23:41

Gostaria só de pedir a cada um para ouvir uma música da Mafalda Veiga, O velho do campanário sentado no jardim!

Isto da idade tem a ver muito com a mentalidade!Tenho uma certa fobia com as pessoas idosas que se acomodam!Elas são livros autênticos!São uma experiência de vida!Não são pessoas para se colocar de lado...Quando visitei várias vezes um lar!Fazia referência a isso!Mas também não concordo com ao dizerem que ficam abandonados num lar...infelizmente há casos em que isso acontece...Mas também felizmente à o inverso!:-p
Paz e bem

Re: mulheres
Escrito por: Anam (IP registado)
Data: 19 de December de 2005 12:08

E eu sei do que falo, pois sou irmã de um doente acamado.
São os meus pais que cuidam dele, mas, volta não-volta, o meu irmão tem de ser internado para dar umas férias aos meus pais, senão...eles rebentam!!!


Anna e Sara

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