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Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: FRN (IP registado)
Data: 28 de March de 2004 23:13

Estou transcrevendo dois textos, repletos de informações pertinentes ao Dominus Iesu do Cardeal Ratzinger... este material pode ser utilizado como referencial e guia de estudo sobre a proposta apresentada pelo Cardeal - Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ou, se preferirem, Tribunal do Santo Ofício. O primeiro, infelizmente já não mais possuo as referencias textuais, quanto ao segundo, segue ao final deste.

Abaixo, apresento:

“Dominus Iesus de Ratzinger não é com certeza o Senhor Jesus, o Filho de Deus presente na Igreja
Considerações sobre o documento “Dominus Iesus”
por Lauri José Wollmann *

1. O primeiro momento

Diante de cada novidade que surge, podemos observar diferentes reações. O documento “Dominus Iesus” não escapou desta regra. Os meios de comunicação, de modo especial jornais escritos, tiveram um papel significativo na divulgação do documento.
Para muita gente foi como ser acordado com violência, no momento exato em que se estava sonhando o sonho do ecumenismo. “Novo milênio sem exclusões”, plebiscitos e tantas ou-tras realidades. Tudo parecia estar mais palpável. Até mesmo o clima criado em torno das olimpíadas contribuía para visualizar a possibilidade de que a Unidade é possível.
Mas o anúncio da nova ordem soou como um tiro de pistola em meio a um suave concerto.
As reações iniciais foram variadas: indignações, revoltas e também de desconforto por parte de alguns setores atingidos dentro de sua própria casa.
É muito provável que encontremos grupos que passarão a dizer que o documento tem ou-tros objetivos, que tem caráter mais voltado ao interno da Igreja Católica Romana. Outros ainda tentarão amenizar, dizendo que o alcance do documento não é tão grande. Posso até admitir que não terá efeitos imediatos sobre todas as comunidades. Porém, o documento atinge brutalmente todos aqueles que se colocaram a serviço do ecumenismo. O documen-to, ao enfatizar superioridade da Igreja Católica Romana, enfatiza justamente aquilo que em nada contribui para a Unidade. Num olhar retrospectivo, ele representa, no mínimo, a nega-ção de todos os esforços realizados por igrejas diferentes para alcançar sinais palpáveis e que celebram a Unidade, respeitando justamente o que de mais sagrado existe: a diversida-de a serviço da Unidade.

2. Uma análise do texto

Uma leitura mais atenta do documento Dominus Iesus, mesmo sem pretender avaliar todos os aspectos, revela alguns pontos críticos que merecem maior cuidado.

1. Chama a atenção do leitor a quantidade de citações (102 notas) de documentos, o que em princípio não representaria um problema. Contudo, esta farta fundamentação docu-mentária é tendenciosa, ou seja, utiliza textos cuidadosamente escolhidos para funda-mentar as pretensões do documento.

2. A constituição dogmática Lumem Gentium (LG) do Concílio Vaticano II representou com toda a certeza um avanço. Animou a muitos. Resgatou a imagem da Igreja como Povo de Deus e não como “sociedade perfeita”. Igreja que tem como elo de Unidade Jesus, o Filho de Deus, mediador entre o Pai e o mundo. Dentro do documento “Domi-nus Iesus” esta mesma “Lumen Gentium” é utilizada para garantir e legitimar princi-palmente que o “papa” é o sucessor de Pedro. A LG que tinha como ponto focal Jesus Cristo como mediador entre Deus e seu Povo, a Igreja como instrumento a serviço do Reino, na argumentação de Ratzinger a Igreja Romana é o Reino. De anunciadora do Reino passa a ser o Reino (cf. o cap. V no. 18). Deixa, portanto, de ser instrumento para se tornar fim.
3. Das 102 notas que tem 19 são da Encíclica Redemptoris Missio de João Paulo II. Este texto em sua proposta original mostrava a missão da Igreja como instrumento a serviço da Evangelização. Na declaração Dominus Iesus este texto é colocado como sustentação da exclusividade da missão conferida à Igreja Romana.

4. Causa estranheza que das 102 notas, apenas uma cita um teólogo deste século. Trata-se de Leonardo Boff. Podemos situar nesta nota duas observações: a primeira está direta-mente ligada a uma questão de relacionamento pessoal entre Ratzinger e Boff; a segun-da está em continuidade com a primeira, ou seja, como Ratzinger ocupa cargo que ou-trora eliminava pela fogueira todo aquele que ousava pensar de modo diferente, ainda que teologicamente correto. Como hoje já não é mais possível simplesmente eliminar os diferentes, este mesmo Ratzinger “inventa” maneiras de eliminação. O livro “Igreja, Carisma e Poder”, que constitui o centro de toda a perseguição de Ratzinger a Leonar-do Boff, está em sintonia com outros teólogos, como Hans Küng, Edward Schillebe-eckx e tantos outros. Hans Küng, por exemplo, nega que “serviço de Pedro seja sinôni-mo de papado” (cf. Die Kirche, p.516).


5. Gera certa perplexidade o documento quando se olha para o agir de João Paulo II. Suas viagens são marcadas por encontros com o diferente: muçulmanos, judeus... esforço este que tem uma síntese, ao menos teórica, na encíclica “Ut Unum Sint”. Cabe aqui uma observação: Ratzinger cita apenas três vezes esta encíclica.

6. O documento Dominus Iesus coloca também a seu serviço textos bíblicos, nos moldes mais fundamentalistas possíveis. Evita o texto de Mateus 16.13-20, texto de larga apli-cação para justificar o primado de Pedro, preferindo o texto de João 21.15-19. Mas a leitura mais equivocada é quando identifica a Igreja com a videira, lendo João 15.1ss.


7. A materialidade do texto revela a intenção do autor. Apenas a Igreja Católica de Roma é considerada Igreja, sempre grafada em letra maiúscula, enquanto que as outras nem sequer são chamadas de igrejas.


Conclusões

Passado o primeiro momento, em que as reações de revolta e indignação são perfeitamente justificáveis, é preciso reorganizar o caminho a ser seguido. Propomos aqui algumas pistas para nortear reflexões e ações. Não se trata de nenhuma receita em forma de palavra final incontestável.

1. Haveremos de encontrar posturas diferentes de irmãos da Igreja Católica Romana. Al-guns farão de conta que nada aconteceu e continuarão a trabalhar pela Unidade, sem muito se importar com o documento. Com esta postura, passarão a ser alvo de críticas e até mesmo reprimendas por parte de seus superiores. Um segundo grupo permanecerá como que em estado de choque e sem muita força para reagir. E um terceiro grupo, nu-mericamente muito maior, se sentirá muito à vontade para aplaudir o documento e suas conseqüências. Este último grupo é particularmente forte, pois foi “plasmado” para ser o novo tipo de clero e episcopado. Formado para respostas “ad intra”, sem maiores pre-ocupações para com a dimensão social e profética da Igreja.

2. Encontraremos aqueles que tentarão dizer que o documento tem pouco alcance, alegan-do que se trata apenas de um documento de um cardeal. Esta seria uma maneira ingênua de ler os fatos, pois o documento traz toda força do próprio João Paulo II:

“O Sumo Pontífice João Paulo II, na audiência concedida, a 16 de Junho de 2000, ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com ciên-cia certa e com a sua autoridade apostólica, ratificou e confirmou esta Declaração, decidida em Sessão Plenária, e mandou que fosse publicada.
Dado em Roma, sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de Agosto 2000, Festa da Transfiguração do Senhor.
Joseph Card. Ratzinger
Prefeito”

3. Ao afirmar a superioridade e exclusividade da Igreja de Roma, chamando para si a responsabi-lidade da salvação, temos duas conseqüências imediatas:

a) a volta para o tempo do “extra ecclesiam nulla salus”;

b) todos os esforços realizados em prol do ecumenismo e seus resultados foram relativizados. Concordamos com Dom Glauco Soares de Lima, Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, que afirmou: “Estou convencido de que a Unidade dos cristãos, a Unidade da Hu-manidade, é uma construção que está sendo feita nas bases das igrejas e não nas suas cúpulas, por melhor que elas sejam. Assim, independente das notas, decretos, encíclicas etc, vamos con-tinuar a construção, que é um processo de amor orientado pelo Espírito Santo que se manifesta em nós”. A mesmo tempo que concordamos, alertamos para as implicações que o documento traz. Trata-se de um documento emitido pela Congregação Para a Doutrina da Fé e tem, ao mesmo tempo, o aval de João Paulo II. Considerando o episcopado e o clero gerado no tempo de João Paulo II e a “fidelidade cega” destes, as conseqüências não serão tão tênues.

4. Fica ainda uma pergunta de ordem prática: como será o relacionamento interno do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)? Se este é composto de Igrejas-Irmãs em condição de Igualdade, a Igreja Católica Romana negará a aceitação do documento Dominus Iesus ou as demais igrejas aceitarão uma condição de inferioridade?

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FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO

Por: JUAN G. BEDOYA, Madri,O PAÍS, S.L. - O Miguel Yust
Em: 16 / 10 / 2000



El Pais 05-10-00
Teólogos de 15 países assinam um manifesto contra a declaração do Papa sobre as igrejas
JUAN G. BEDOYA, Madri,
Entre os cristãos não está tudo tão claro como o vêm João Paulo II e seu teólogo principal, o cardeal Joseph Ratzinger. A última declaração do Vaticano, a Dominus Iesus (Senhor Jesus), sobre a unicidade da Igreja Católica como religião verdadeira, foi refutada ontem sem contemplação por 73 dos melhores teólogos do momento. Eles consideram seu estilo "mais próximo ao do Syllabus de Pio IX do que dos documentos do Concílio Vaticano II" e contém expressões certamente ofensivas aos crentes de outras religiões. Entre os signatários deste documento estão Hans Küng, Jon Sobrinho e Leonardo Boff.

* Joseph Ratzinger e Leonardo Boff

"Fora da Igreja não há salvação", disse o bispo são Cipriano de Cartago,no século III. A única Igreja verdadeira é a católica, sustenta agora o pontificado romano. Porém, o Concílio Vaticano II matizou esses princípios em 1965 com a proclamação da liberdade religiosa como um dos direitos > fundamentais do homem, tese que abriu espaço para o diálogo inter-religioso e importantes avanços para a convergência das numerosas igrejas que têm sua origem em um judeu crucificado pelos romanos há 2000 anos. Esta ruptura do processo ecumênico é um dos assuntos que mais preocupa os 73 teólogos signatários do manifesto Ante a declaração Dominus Iesus.
Sua tese é a de que João Paulo II e o cardeal Joseph Ratzinger retrocedem a tempos anteriores ao Vaticano II ["O estilo da Declaração está mais próximo do Syllabus de Pio IX do que dos documentos do Vaticano II ou dos textos de João XXIII, Paulo VI e João Paulo II"], e que o 'texto da Congregação Vaticana' [a Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo Ofício da Inquisição, presidida por Ratzinger] mostra uma visível falta de sensibilidade diante de algumas das conquistas realizadas ao longo de várias
> décadas de atividade ecumênica, tanto no terreno doutrinal - recorde-se a Declaração Conjunta Luterano-Católica sobre a Doutrina da Justificação da Fé - quanto pastoral.
Entre os 73 signatários desta séria refutação pública ao pontificado estão teólogos e teólogas de 15 países, entre eles, o alemão Hans Küng, que participou do Concilio Vaticano II como assessor, a convite de João XXIII; o brasileiro Leonardo Boff e o salvadorenho Jon Sobrinho, figuras representativas da teologia da libertação, um dos grandes movimentos do pensamento cristão nos últimos trinta anos; a norte-americana Ross Mary Radford-Ruether, professora de Teologia na Universidade de Berkeley (Califórnia); a colombiana Ana Maria Bidegain e grande parte dos teólogos espanhóis, entre eles, José Maria Castillo, José Maria Díaz-Alegria, Casiano Floristán, Juan-José Tamayo, Jesús Equiza, Benjamín Forcano, Enrique Miret, José María González Ruiz, José Ignacio González-Faus e José Gómez-Caffarena.

* Repercussões negativas

O manifesto é uma análise consciente da Declaração Dominus Iesus. Sobre a unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja, escrita pelo cardeal Ratzinger, ratificada por João Paulo II no dia 16 de junho deste ano e publicada no último dia 5 de setembro. Recebida com numerosas críticas, especialmente entre as outras religiões cristãs, o próprio Papa se viu obrigado a fazer algumas retificações ao documento durante a oração do Ângelus que seguiu à canonização de 123 novos santos no último domingo, na praça de São Pedro, no Vaticano. Depois de negar que na Declaração Dominus Iesus a Igreja católica menospreza as demais religiões, João Paulo II manifestou que também nelas a salvação é possível, e que o documento de Ratzinger 'tinha sido interpretado de modo equivocado'. João Paulo II também marcou o documento com esta outra declaração: "A única Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica".
Subsistir não é a mesma coisa que ser. Antes do Vaticano II a formulação era: "A Igreja de Cristo é a Igreja católica", de forma que os teólogos se detêm nesse afirmação do Vaticano para centrar aí "boa parte do mal-estar produzido pela Declaração em ambientes cristãos". "A substituição levada a cabo pelo Vaticano II era mais que uma mera mudança de vocabulário", dizem.
"Com a nova formulação, o Concílio pretendia evitar a identificação exclusiva e excludente da 'Igreja de Cristo' com a 'Igreja católica'. Que a Igreja de Cristo subsista na Igreja católica não impede que subsista também em outras comunidades cristãs. Se se evitou a identificação entre Igreja de Cristo e a Igreja católica romana, foi para reconhecer a eclesialidade das demais comunidades cristãs. "O reducionismo que se observa no Dominus Iesus nos parece preocupante", concluem.
O grosso dos signatários do manifesto são espanhóis (43, no total), entre eles, as teólogas Margarita Pintos e María Martinell, além de Casimira Martí, Alfredo Tamayo-Ayesterán, Juan Antonio Estrada, Andrés Torre-Queiruga, Secundino Movilla, Jesús Peláez, Rufino Velasco, Luis Diumenge, Carlos Domínguez, Joan Botam, Gilberto Canel e Joan Llopis. Alguns teólogos, professores em centros católicos, expressaram seu apoio verbal ao documento, mas manifestaram o desejo de que seu nome não fosse mencionado, por medo de represálias por parte da hierarquia.

* A arrogância retificada

O Pontificado não agiu com sutileza na declaração sobre o Senhor Jesus. Não se trata de uma encíclica papal, mas de um documento da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio da Inquisição) presidida pelo cardeal Ratzinger, porém, antes de ser publicado, João Paulo II despachou com o cardeal e ratificou o texto ["com ciência certa e com a sua autoridade apostólica", diz-se ao final da declaração], para que não restasse sombra de dúvida. E foram duas as vezes em que o Pontífice teve de prestar esclarecimentos, para não falar de retificações, sobre o Dominus Iesus.
João Paulo II teve de recuar diante das críticas, quase lamentações, surgidas das outras religiões cristãs que também se sentem parte da igreja única fundada por Cristo, e teve de ouvir também pressões de fundo da própria hierarquia, entre outras a do famoso cardeal Carlo María Martini que, contrariamente ao que tem proclamado Ratzinger, sustenta que "a salvação é possível à margem de qualquer igreja, se cada um seguir a graça de Deus e a consciência moral".
A de ontem, porém, é possivelmente a refutação que mais pesará ao cardeal Ratzinger em seu papel de defensor da fé. Trata-se de professores de Teologia das principais universidades em todo o mundo e de autores cristãos bastante conhecidos. A presença entre eles de Hans Küng, como Ratzinger alemão e teólogo no Concilio Vaticano II, deve ter-lhe sido especialmente amarga. Não há o que negar. O cardeal continua sendo a autoridade máxima nessa questão, porém já não pode desferir os mesmos golpes de alguns anos atrás.

* Duas teorias sobre a salvação J. G. B., Madri

O Cardeal Ratzinger não deixa margem a dúvidas. Essa é a conclusão que produz a leitura do documento Dominus Iesus. Em oito oportunidades o cardeal, depois de grandes discussões teológicas e inesgotáveis citações, termina sua argumentação afirmando que o acima exposto "deve ser firmemente aceito como verdade de fé católica" (as aspas são do original).
A discussão entre o Cardeal encarregado de velar pela doutrina católica e os 73 teólogos que ontem o refutaram atinge níveis doutrinais em torno da verdade (e se alguma Igreja a possui de forma absoluta) e da salvação, assunto este sobre o qual o Papa já reduziu expectativas há um ano, ao revisar outra versão eclesial apocalíptica sobre o céu, o inferno ou o purgatório.
Acima de tudo, deve-se acreditar firmemente que a Igreja peregrina é necessária à salvação, escreve Ratzinger. O Cardeal reconhece que a idéia da unicidade salvífica não se contrapõe "à vontade salvadora universal de Deus", mas os teólogos replicam que "essa maneira exclusivista de tratar a categoria de salvação irritou, e acreditamos com razão, não poucos crentes das grandes tradições religiosas da humanidade".

* Sobre a verdade

"Algumas expressões da Declaração Dominus Iesus nos parecem, no mínimo, discutíveis do ponto de vista doutrinal e certamente ofensivas aos crentes de outras religiões", escrevem também os teólogos. Eles se referem, de um modo direto, à afirmação de Ratzinger de que "às orações e ritos não-cristãos não se pode atribuir uma origem divina ou uma eficácia salvadora ex opere operato , próprias dos sacramentos cristãos." Ou quando diz, textualmente que "os não-cristãos objetivamente se encontram em uma situação gravemente deficitária em comparação àqueles que, na Igreja, detêm a plenitude dos meios de salvação."
Outra questão é a verdade religiosa. Para Ratzinger ela é inquestionável, e deseja que o seja também para os demais. Segundo ele, a única Igreja verdadeira é a católica, que tem 2000 anos de existência. Proclama, portanto que "deve ser firmemente tida como verdade de fé católica a unicidade da Igreja". "Assim como há um só Cristo, um só é seu corpo e uma só sua Esposa: uma só a Igreja católica e apostólica". "A salvação está na verdade", concluiu.
A esse respeito, os teólogos criticamente lhe perguntam: "Só é possível a salvação quando se conhece e se possui a verdade? A salvação não é assegurada também àquele que busca a verdade?" Acreditamos que teria sido mais acertado que, em relação à salvação, a Declaração exortasse [as pessoas] ainda que não sejam cristãs, a seguir os ditames da própria consciência e a buscar a coerência entre vida e crença", concluem. >
© DIÁRIO Direito autorais O PAÍS, S.L. - O Miguel Yuste 40, 28037 Madrid,

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Espero que ambos os textos sejam de alguma validade para os amigos...

Cordialmente,

FRN - SP/Brasil

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: PedroB (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 11:08

Os meus Parabens pelo texto antecedente.

O mesmo efectivamente levanta a questão do ambito, fim e interpretação do caminho do Ecumenismo.

Do texto resultam claramente duas tendencias,que podemos chamar defendidas pelo Cardeal Ratzinger e uma outra pelo teólogo Kung.

Seria importante saber em qual alguns dos ilustres forunautas se revêm.

Eu sem duvida que na do Cardeal Ratzinguer

Tomo a liberdade de questionar a Ana, O Alef, o J Avlis, o VMTH e outros a informarem o forum qual a sua posição.

Aguardemos as respostas.

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 14:01

PedroB:

Parece que gostas de caricaturas: «Do texto resultam claramente duas tendencias,que podemos chamar defendidas pelo Cardeal Ratzinger e uma outra pelo teólogo Kung.»

Não é exactamente isso que está em causa. Já me manifestei neste fórum sobre o assunto, embora a propósito de outros tópicos.

Alef

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: TZM (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 14:35

PedroB

E para Cristo, quantas igrejas há? e qual é a verdadeira? Já fizeste essa pergunta a ti próprio?

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: PedroB (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 14:42

Alef

Efectivamente gosto de caricaturas.
Claro que tem toda a razão. Não se trata de diferentes tendencias mas sim de diferentes "teorias".

Confesso que, como sou novo neste forum não tive a oportunidade de ler a sua posição sobre o assunto. Estou certo no entanto, até porque já li diversas intervenções suas muito bem estruturadas que será uma posição devidamente fundamentada.

Claro que a minha intervenção tinha também alguma quota parte de provocação (no bem sentido claro).

De resto, basta ter um bocado de atenção às participações de alguns dos participantes neste forum para concluir, por exemplo (não obstante as diferenças) que o Alef e o ana preconizam uma posição mais próxima da do Teólogo Kung. Já o VMTH, o J Avlis e eu próprio (e se calhar todos com diferenças) defendemos a posição do Cardeal Ratzinger.

O paradoxo da questão, e daí a minha provocação, tem a ver com o facto daqueles que muitas vezes são colocados nas franjas da Igreja Católica, estão, em questões essenciais como a que está em causa, muito mais próximos posição da autoridade da Igreja.

Saudações Católicas

Pedro B

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 15:03

PedroB:

Estás enganado quanto aos meus gostos por Hans Küng no que diz respeito ao Ecumenismo. Li bastante do que escreveu sobre o assunto, em confronto com a questão dos "cristãos anónimos" de Karl Rahner, e não concordo com muitas das coisas que diz.

Quanto ao que o Cardeal Ratzinger diz, com todo o respeito, o Cardeal Ratzinger também caiu em imprecisões e erros de nível eclesiológico. Horror, o que estou a dizer! Mas é verdade e a prova disso é que o Cardeal Walter Kasper veio a público denunciar a visão eclesial do Cardeal Ratzinger, que reduzia as dioceses a "repartições" da Santa Sé, o que teologicamente é um erro colossal. O Cardeal Ratzinger respondeu num artigo, matizando um pouco, mas insistindo nalguns pontos "polémicos" e o Cardeal Walter Kasper retorquiu. Então o Cardeal Ratzinger voltou apenas para dizer que tinha havido um mal entendido e que não queria continuar a discussão para evitar mal entendidos e causar dano (ou escândalo) à Igreja. Toda a discussão foi publicada pela revista católica americana "America" ([www.americamagazine.org]; os artigos só estão disponíveis para assinantes da revista).

A "Dominus Jesus" tem pontos muito importantes, mas é problemática sobretudo no tom e no unilateralismo com que toma uma parte da Tradição, sabendo nós que existem dois filões, a que já aludi ([www.paroquias.org])e a que o Luís Gonzaga já fez referência ([www.paroquias.org]), indicando um bom artigo sobre o tema ([www.nationalcatholicreporter.org]).

Alef

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: PedroB (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 15:52

Alef

Muito Obrigado pelos seus esclarecimentos.

Registo que não concorda com muitas das posições de Hans Kung.

De resto a sua resposta é bastante esclarecedora.

Fico de facto curioso por ler a troca de argumentos entre os Cadeais Kasper e Ratzinguer.

Pedro B

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 21:24

Em primeiro lugar, devo dizer que não estudei a Dominus Iesus detalhadamente, apenas a li de forma superficial quando foi publicada. Nessa altura, fiquei com a ideia que a Dominus Iesus tinha sido um "Tiro no pé", se não pelo conteúdo, pelo menos pela forma e oportunidade. Creio que a Dominus Iesus traz mais aspectos negativos que positivos, nomeadamente, no necessário caminho ecuménico.

É importante relembrar os católicos que Pedro, embora detenha o primado, é apenas um dos doze. Ora, Jesus envio vários discípulos e apóstolos. Hoje, a Igreja Católica Romana, embora se mantenha apóstolica de pleno direito, nõa encerra em si toda a Igreja Apóstolica, na medida em que outros apóstolos e os seus sucessores encontram-se para lá da Igreja Católica.

Ora, será que Jesus Cristo queria que os seus apóstolos estivessem divididos, e de costas voltadas? É certo que não! Por isso, é necessário continuar a trabalhar no sentido ecuménico, ultrapassar os obstáculos que se deparam, e Dominus Iesus, pareceu-me um obstáculo colocado propositadamente no caminho, provavelmente com o intuito de travar o caminho.


Quanto às "tendências" no caminho ecuménico, não me parece que possamos dividir as coisas entre Cardeal Ratzinger e Hans Küng. Pelo menos, no sentido que se pretendeu dar. A meu ver, o Cardeal Ratzinger não tem qualquer interesse que se avance no Ecumenismo. Só assim se explica a Dominus Iesus. Hans Küng é um ecuménico de "gema", se é que se pode chamar.

Embora conheça apenas uma parte do trabalho de Hans Küng, penso que dificilmente a Igreja Católica seguirá a sua proposta ecuménica. É demasiado ambiciosa e radical (de raiz). Talvez o caminho proposto por Karl Rahner gere mais concensos na Igreja. Aliás, Küng já criou demasiado anti-corpos na Igreja, mas é de louvar alguém que ousou dizer sempre o que pensa, independentemente das consequências que isso pode acarretar (não são poucos os teólogos a afirmar que, não tivesse Küng defendido certas posições, provavelmente hoje seria cardeal!).

Luis

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 23:04


Em relação aos debates entre os Cardeais Kasper e Ratzinger, recomendo este artigo muito interessante, especialmente para ti, Alef. Realmente é horroroso o que disseste... Já investigaste bem? Eu sei o que leste na "America", tenho conhecimento de como as coisas se desenrolaram nessa revista, mas pareces ter um ponto-de-vista fornecido pela mesma, como se o Cardeal Ratzinger não soubesse bem o que diz, vindo então o Cardeal Kasper "denunciar" (?), encolhendo-se o Cardeal Ratzinger. De facto, houve um mal-entendido (porque o Cardeal Ratzinger não «reduz as dioceses a "repartições" da Santa Sé», como dizes), mas procedeu em primeiro lugar do Cardeal Kasper que saltou para a denúncia/acusação com essa ideia, sem dar oportunidade para o Cardeal Ratzinger se explicar melhor (justamente o considerou como tendo o tom de um "ataque"). Entretanto verificou-se o mal-entendido, juntamente com a constatação de que defendem perspectivas eclesiológicas diferentes. Como a revista nem tem fama de primar pela ortodoxia editorial (é verdade) nem seria o meio mais eficaz para os Cardeais se entenderem, terminou-se a discussão. Este artigo é bastante razoável e explica bem a questão. Também tem uma exortação à fidelidade dos leigos e empenho na qualidade das celebrações e na defesa da Igreja.

[www.ratzingerfanclub.com]

Uma citação:

«(...) It is a conflict between those, on the one hand, who are concerned to safeguard the unity of traditional faith and morals, and those, on the other hand, who are concerned with keeping current with the changing times. It is a conflict that rather ominously pits Cardinal against Cardinal in public debate. The conflict has escalated to the point where opponents of "rigidity," "fossilization," "legalism," and the "centralization" of authority in Rome seem to be working with an understanding of the Church that is practically alien, if not unintelligible, to non-revisionist Catholics. (...)»


E já agora, não recomendo NADA o National Catholic Reporter!! Veja-se estes exemplos do mau conteúdo e orientação que tem (não obstante o que excepcionalmente se encontra que seja útil).

Voltarei a comentar este tópico numa outra oportunidade.

João Oliveira

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 23:18

João, de facto o debate não foi iniciado na revista "America", mas esta deu-lhe muito destaque e de alguma forma "alimentou-o". Terás tudo lido os artigos do debate?

O meu ponto de vista não me foi dado pela "America", mas pelos artigos que Ratzinger e Walter Kasper escreveram! Li os artigos na altura em que saíram (infelizmente não os tenho neste momento comigo, mas vou tentar consegui-los de novo) e só posso confirmar que achei as críticas de Walter Kasper muito justas. Não tenho nada de pessoal contra o Cardeal Ratzinger (acho-o um bom teólogo em muitos temas e li várias coisas dele, sobretudo de Teologia Fundamental e Dogmática), mas acho que nesse ponto concreto da eclesiologia se equivocou, possivelmente não por "tese", mas por pressupostos insuficientemente clarificados. Walter Kasper é um grande teólogo (e acho que de mais fôlego) e não iria meter-se numa discussão deste calibre de ânimo leve, só para satisfazer os critérios alegadamente heterodoxos da revista "America"... Ou será? O grande problema é que, de facto, Ratizinger tem uma visão muito mais centralista da Igreja, onde as dioceses perdem muita da sua importância teológica e "prática"...

Alef

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 29 de March de 2004 23:31

João Oliveira,

Como tu dizes, apenas por o National Catholic Reporter ter caído no "Index" dos sites católicos (outrora reservado apenas aos livros... ) não quer dizer que não tenha o seu valor. Consigo compreender o Danger do Catholic Culture, pois ainda há católicos que acreditam em tudo o que lêem e há muito que abdicaram do seu espírito crítico.

O que não se aplica propriamente aos participantes deste Fórum :-)

Luis

Re: Considerações sobre Dominus Iesu
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 30 de March de 2004 10:09

agora já há index de sites... a igreja católica está a ficar moderna....



Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.