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Gestão espiritual ou material?
Escrito por: VM (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 13:13

Este fórum, tem mosrado que o Catolicismo e uma aspiração a uma vida mais espiritual e mais consciente, é cada vez mais vivo.
Cada vez mais participantes, mais questões e opiniões.
E a Internet, tal como S.S. Papa João Paulo II recomendou em relação à utilização das novas tecnologias na Evangelização, é um óptimo meio para desenvolver a Fé.
Mas para nós, vulgares participantes, será esta troca de mensagens e por mais válidas que sejam, suficiente como apoio no nosso dia-a-dia?
Será que o ecran será substituto suficiente para uma conversa olhos nos olhos com um Sacerdote?
Utilizamos este meio, porque a necessidade aguça o engenho?
Parece-me que sim, pois se procurarmos um Sacerdote numa Igreja, batemos normalmente com o nariz na porta. São poucos, para tantos crentes, e principalmente para os não crentes, inexistentes.
Vemo-los ao Domingo, a celebrar a Missa, e depois evaporam-se, correndo para mais uma, noutra Igreja. Até aqui, é relativamente pacífico e entendível.
Mas e durante a semana? 1 Missa por dia, e o resto do tempo?
São professores, directores de colégios e escolas, administradores de meios de comunicação da Igreja, médicos, presidentes das mais diversas organizações e comités, etc. - Concerteza, dando o seu melhor e mais honesto desempenho - não é isso que está em causa!
O que eu questiono, é se não será um desperdício de funções!
Não poderá a Igreja contratar gestores profissionais, leigos, e libertar Sacerdotes para contactos humanos com mais frequência?
O que é que atrai mais pessoas a Cristo? Uma obra de beneficência "controlada" e bem gerida 100% por um Padre, ou a disponibilidade para um desabafo ou uma Confissão (Reconciliação como se diz agora...)?
Estarei a ver mal o problema, a não ver o "quadro" todo?
Se eu estiver certo, será a altura de começar a abanar a casa?

Abraço Fraterno


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 14:13

VM,

Acho que é uma questão pertinente aquela que levantas. Na minha opinião, e dada a falta cada vez maior de sacerdotes nas Paróquias, é importante a Igreja repensar o papel do sacerdote, focando o seu papel naquilo que apenas o padre pode fazer: confessar e consagrar - sacramentos da Penitência e Eucaristia, respectivamente.

Tudo os outros sacramentos podem ser administrador pelos diáconos permanentes (Baptismo, Matrimónio, Santa Unção; a Ordenação e Confirmação normalmente são desempenhados pelo Bispo). Hoje, os padres administram a Paróquia, são os mestres de obras da Paróquia, são os gestores financeiros das mesmas, são eles que têm que gerir a construção de novas Igrejas, etc., ...

Mas como dizes, quando procuramos um padre para falarmos com ele, quase nunca está.

Na minha opinião, vejo apenas uma saída. Centrar as funções do padre naquilo que só ele pode fazer, e delegar responsabilidades nos leigos comprometidos. Tanto quanto sei, os padres são formados em Teologia (quando são), e, na sua formação, não têm cadeiras de gestão, seja de paróquias, de património ou de obras. Decerto que em todas as Paróquias há leigos com formação específica nestas áreas. Porque não delegar as tarefas da comunidade cristã naqueles que têm formação e competência na área e deixar o padre livre para aquilo que é a vocação própria dele: ser o pastor da comunidade, o seu líder espiritual.

Luis

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 14:56

Caro VM:

Tocas um ponto que me parece de grande importância. O que aqui escrevo não é bem uma resposta, mas algumas ideias que andam por cá quando penso no assunto. Impressiona-me ver que em tempo de tantas dificuldades de encontrar párocos, muitos padres que tiveram toda uma formação para serem párocos se gastem quase exclusivamente em assuntos burocratas e de gestão que outras pessoas poderiam assumir provavelmente com mais competência e até menos custos finais (porque muitos padres acabam por ter cargos “civis” para os quais não estão preparados, levando a gestões feitas em cima do joelho).

Por outro lado, é verdade que muitos párocos têm outros “jobs”, concretamente o de professores, como meio de subsistência, pois, mesmo que muitos venham dizer o contrário, há, de facto, muitos párocos que vivem mal. Também há os que têm uma vida opulenta e são gananciosos. É uma pena que os nossos bispos não tenham tido a coragem de implementar em todas as dioceses (em algumas as coisas estão melhor) planos justos de remuneração do clero.

Os párocos são pessoas de habilitações qualificadas e têm gastos avultados, nomeadamente em livros e deslocações. É justo que tenham um salário condigno. E isso deveria ser tratado por todas as dioceses e paróquias. O sistema de um ordenado fixo estabelecido pelas dioceses e pago pelo Conselho Económico (ou Comissão Fabriqueira) das paróquias parece ser o mais indicado. Seria bom que os párocos estivessem em condições de não ter que “cobrar” por cada missa que celebram. A tentação da simonia é sempre uma tentação... Os estipêndios das missas e de outros actos de culto deveriam ser entregues ao Conselho Económico. O Conselho Económico poderá variar o ordenado em função dos actos de culto, mas é necessário pôr de parte essa terrível expressão que é “pagar a missa”. De resto, tenho visto que há constantes abusos por parte de muitos párocos, concretamente no que diz respeito às chamadas “missas colectivas”. Algumas situações são a meu ver escandalosas.

Pelo que vou percebendo, muitos dos problemas existem porque são os próprios párocos que querem manter estes sistemas caducos. Muitos ainda continuam a fazer de proprietários agrários, situação a que não escapa pelo menos um dos nossos bispos. Ver em pleno século XXI párocos preocupados com as podas das vinhas do passal (terrenos de cultivo anexos à residência paroquial) e com as côngruas em medidas de cereal é, a meu ver, algo que dá que pensar. Isto existe em boa parte das paróquias rurais portuguesas!

Há, é verdade, falta de párocos, sobretudo no interior, centro e sul de Portugal, mas há também mau aproveitamento dos “recursos” existentes. Será que para que uma livraria seja católica precisa de ter um director que seja pároco? E os exemplos poderiam ser muitos.

Tocas depois um outro aspecto, ligado a este: a disponibilidade dos párocos para acompanhamento espiritual. Tenho a forte sensação de que hoje há uma crise a este nível, não só por falta de disponibilidade de tempo dos párocos, mas também me parece que muitos fogem a este tipo de trabalho, que pode parecer pouco “rentável”. Espero não estar a ser injusto, mas parece-me que muitos párocos fogem a isto. E é pena. Os párocos não são apenas gestores, mas são pastores nas suas paróquias. Isto significa saber gastar tempo a ouvir pessoas, não apenas no sacramento da Reconciliação, mas noutras ocasiões, mais ou menos formais.

Parece-me também que há uma crise na teologia do sacerdócio. O Concílio Vaticano II restituiu o lugar aos leigos, mas ainda não houve espaço para reflectir sobre o papel do sacerdote na Igreja hoje. Creio que uma das razões para o abandono de tantos padres, sobretudo nos anos 70, se deveu em boa parte a um certo esvaziamento do papel do padre na Igreja. A perspectiva sacramentalista que imperava antes do Vaticano II é muito redutora, mas muitos não encontraram um “paradigma espiritual” que preenchesse o vazio entretanto deixado. A meu ver, este paradigma só será recuperado pela via espiritual e não do “profissionalismo” de gestão.

Não quero que isto pareça um ataque generalizado aos párocos – não o é –, mas há também um elemento que não aproxima as pessoas dos párocos. É que em geral as homilias são muito más! O nacional-porreirismo chegou às homilias! Ouvi o meu pároco gabar-se de que não é preciso preparar uma homilia, basta que se deixe falar o Espírito Santo... Pois bem, se ouvissem algumas homilias dele, ficariam a duvidar da própria existência do Espírito Santo...

Acho inconcebível que tantos padres presidam a uma missa dominical pública sem ter preparado minimamente a homilia, que tomem as pessoas da assembleia por ignorantes ou caiam no “rame-rame” das homilias moralistas, normalmente para falarem mal dos males do tempo e contra os que não vão à missa e passam o tempo na discoteca... Que infantilismo!

Não preparar uma homilia é uma falta de respeito pelas pessoas da Assembleia e uma grave irresponsabilidade. Por tendência natural, as pessoas não buscam tais padres para assuntos mais pessoais.

Mas não nos limitemos a bater no ceguinho. Acho que é necessário ajudar muitos párocos que vivem afogados no activismo. O activismo é terrível, porque activismo chama activismo. Há pessoas que só conseguem “viver” se estiverem a “fazer coisas”... A “redenção” dá-se pelo espiritual. Vai sendo tempo de quebrar os resquícios clericais do “padre-faz-tudo” para uma igreja de corresponsabilidade, onde todos têm a obrigação de ajudar-se mutuamente a viver a sua vocação. Os padres têm que dar espaço e ajudar os leigos a ser bons leigos e vice-versa. Há muito a fazer para que o princípio de subsidariedade funcione nas nossas comunidades cristãs. O padre não pode estar a tocar órgão electrónico no altar (arghhh!), mas é preciso que surjam alternativas credíveis. Os párocos não têm que trocar o trabalho de párocos, para o qual estão preparados, por um qualquer papel burocrático ou profissão liberal que lhe sirva de “ganha-pão”, mas é necessário que tenha os meios mínimos para poder viver como a mediania dos cristãos que serve.

Eis algumas medidas, apresentadas de um modo simples, que eu considero importantes para a reforma deste estado de coisas:

- formação de grupos bíblicos e grupos de oração nas paróquias, para adultos;
- implementação séria de planos que já existem nalgumas dioceses (como é o caso de Lisboa), onde os párocos têm uma remuneração ajustada e justa;
- conveniente preparação da Liturgia Eucarística dominical, com a participação das pessoas e conveniente preparação das homilias;
- formação contínua dos párocos, nomeadamente em aconselhamento espiritual.

Alef

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: TZM (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 16:09

É bom estarmos todos quase de acordo sobre esta nova forma de sermos comunidade! Isto sim é diálogo construtivo.


Há contudo uma questão pertinente sobre a qual me parace a igreja não reflecte o suficiente: como ajudar as pessoas a descobrirem o seu lugar na igreja, na medida da sua disponibilidade, capacidade . idade, etc?

Que tal uma igreja de ministérios e comunidades e menos de estruturas , departamentos e secretariados?

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: VM (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 17:09

Exactamente meus amigos e Irmãos!
Julgo que estamos a tocar numa ferida que a todos afecta.
Mas como é que vamos conseguir mudar as coisas? A fazer abaixo-assinados? Começar por onde? Quem manda? Telefonamos ao Papa amanhã de manhã e damos-lhe a conhecer essa nossa pretensão? Onde arranjar voluntários leigos, competentes e honestos?
Não estejamos com utopias. Para ajudar mais na Paróquia, tenho no mínimo de parar de trabalhar na minha função profissional durante algumas horas por semana. E "desenrascava" em cima do joelho. E quem põe comida em cima da mesa e paga a renda da casa? Considerava isso um passatempo porque seria rico, ou um part-time em caso de ser remunerado - e logo apareceria o "outro" a dizer: tachista!!!
Eu falo mesmo em ir ao mercado de trabalho, abrir concursos para gestores e dar-lhes emprego. Desempregados Católicos não faltam. E sem querer transformar a Igreja numa empresa com fins lucrativos, não abdicar de uma gestão competente, que engloba receitas e despesas. E contas prestadas. E até se sabe, que há Paróquias onde se nota já essa tendência para um certo profissionalismo de missão, nomeadamente em Lisboa, como disse o Alef. E por aquilo que sei, até não funciona mal. Mas também sei, que assim que "topam" um Padre mais livre, pimba: arranjam-lhe logo outro fogo para apagar.
E lá se vai o tempo para ler, meditar e preparar uma boa homilia, entre outras coisas.
(às vezes tenho vontade de pegar num Padre que conheço, e obrigá-lo a assistir a uma homilia numa celebração Anglicana a que por motivos pessoais me "obrigo" a ir esporadicamente. Faz-me inveja! Dá vontade de filmar, por-lhe legendas, e pedir ao Padre para passar o filme em vez de adormecer as pessoas durante a Missa...)

Abraço Fraterno


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 18:53

Entao ha falta de padres e ainda dao aulas nas escolas e universidades? Eu conheco alguns. Por exemplo a universidade da Beira Interior tem la 2 padres.
Ou eles andam a procura de onde ha dinheiro e nas paroquias, nao recebem tanto?
No Canada, os padres so servem para dizer a missa. Se estao numa igreja, a igreja paga-lhe o devido salario, nao precisam de ir dar aulas...
Quanto a serem gestores, sao por que eles querem. Nao e permitido o padre ser o gestor da igreja...!!!
Ha padres muito bons! Mas alguns nunca o deviam ser...sao difamadores, mentirosos, ate nos tiram a fe!

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 19:11

Alef

Verdade tudo o que dizes...alguns nao preparam, nao sabem preparar uma homilia, nem nunca deviam ser padres!
Mas acredita-me que quem vai mais a missa, sao os pobres ignorantes...!!! Nao vemos la os doutores, engenheiros...pois ha padres que sabem muito menos do que eles! Alguns nao estao preparados para serem padres. Ou nunca mais evoluiram, mas tambem os ha sabios e ilustres...
Por exemplo, conheco um padre Brasileiro...Rev. Pe. Antonio Tapparello do Rio Grande do Sul, Brasil. Um autentico mensageiro da fe, do amor de Deus, dos povos e da humanidade! Chorava com os que choravam, ria com os que riam. Onde sabia que havia fome levava comida, onde sabia que havia tristeza, levava o consolo. O dinheiro para ele nao era nada. Nao queria dinheiro, so queria ver um povo feliz e uma igreja cheia todos os Domingos. O povo de Edmonton, Canada, chora por ele. Construiu uma linda igreja, um templo digno de admiracao. Saiu para ser professor num seminario no Mexico, hoje e Superior da Congregacao CS. em Chicago.

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Maria Fernanda (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 19:20

Escolhemos o tópico que bule mais connosco. Este é um deles. Consegui mesmo inteirar-me de todo o conteúdo, pois só tive de ler poucas intervenções e todas com interesse. E todas levantam as premissas que permitem a conclusão de TZM – a importância de ser-se comunidade.
Tenho de vos pedir que continuem a deixar que participe como uma espécie de visitante, curiosa sim, mas acima de tudo desejosa de ser recebida tal como sou. As primeiras reacções que suscitaram a minha entrada no fórum souberam-me a uma gostosa ressonância que eu... bem, não esperava.

Oriunda de uma família católica, mas afastando-me da Igreja, o Curso de Cristandade, frequentado quase como um dever de não recusar o pedido a quem me convidou, foi, inicialmente, um reencontro e, em breve, uma desilusão, o aprofundar, se não o consolidar do afastamento.
Reuniões (ultreias?), afinal em que se reproduzia muito pouco o amor cristão e tanta crítica de comportamentos de presentes e até ausentes...

Cheguei a ouvir de um sacerdote, face a opinião emitida e que contrariava a sua: «A mulher para os tachos e panelas». Em latim, claro, que eu obriguei a ouvir traduzido, numa atitude de orgulhosa auto-estima, alegando poder ser-me dito em português, francês, inglês... talvez mesmo espanhol ou italiano, sendo frase curta, mas não latim já que a minha formação não era em teologia. E regressei à minha tese depois de confirmar que guardaria essas tarefas, repartidas pelo marido, para a minha casa. Não foi a única... talvez nem a mais desagradável porque ultrapassei e superei o que poderia ter sido um vexame... Já vira outros sofrerem-nos por incapacidade de oposição, não raro acorrendo em seu socorro. Mas este episódio foi a gota que transbordou.

Hoje, o sacerdote da minha paróquia sabe que pode contar comigo sempre que quiser... dentro das fronteiras da cristã não católica e que respeita, a ponto de pedir a minha colaboração escrita na Folhinha Paroquial com um ou outro tema.

Aqui está, VM, um sacerdote a lidar com uma não crente... Serão todos assim? E todos os não crentes terão esse privilégio de respeito?

Deixem que conte outra de afastamento. Por motivos, que não recordo já, escrevi a um sacerdote, tendo em vista um encontro para um necessário e urgente desabafo. Que nunca foi concretizado.

Como vos parece a minha escrita? Enfatuada? De dicionário em punho? Discurso demasiado complexo? Pouco natural?

Fui recebida, precisamente, com o conselho de que escusava de me expressar com tantas preocupações na escolha das palavras, que poderia fazer uso de um discurso simples ao escrever-lhe... Sabem? Eu escrevera de forma corrida, como agora, como penso que é o que faz cada um que aqui escreve. Senti-me... Provavelmente dir-me-ão que sou demasiado sensível... Não! Alguém em quem eu iria confiar me apodara de fingimento; não fui e ainda não sou capaz de interpretar de outro modo.

Concordo plenamente, portanto, com as medidas apontadas por Alef, nomeadamente a última.
Julgo que me é permitido ter opinião. Tenho ouvido de católicos — também de evangelistas (nem sei bem se evangelistas; acho que sim, embora haja cá duas Igrejas protestantes) — fundamentações de que... a orientação oficial da sua igreja é essa. E isso, eu só não estranho em sectarismos de seitas que proliferam pelo mundo, pois há um limite para o seguidismo numa Igreja que, quer queiramos, quer não, é o produto dos homens à sua cabeça. Ao fim e ao cabo, com esta atitude não se está a negar esta nova Igreja constituída por todos os católicos?

Acho que me desviei do tópico. Sobretudo, há sempre o perigo de falar sobre assuntos concretos de organização e hierarquias que não conheço bem. Mas aí espero que me elucidem.

Mas sim, acima de tudo, a gestão espiritual que requer sabedoria e compreensão, um saber ouvir, ouvir, ouvir, até à exaustão do querer de quem nos fala e, depois, um saber dizer muito acertado que ecoe no agora ouvinte como um tímido conselho de alguém que sofre ou rejubila com ele/ela e não como um douto que tudo sabe e tem consigo a capacidade de iluminar todos os caminhos... Claro que, com as nuances da personalidade, formação e cultura de quem procura uma palavra de conselho... ou consolo.


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 15 de March de 2004 20:26

Maria Fernanda,

A tua presença neste Fórum tem sido um sinal de que a Primavera está próxima, pela brisa e frescura do que dizes, e como o dizes. Espero que continues a sentir-te bem entre nós, tal como nós te sentimos connosco. O estilo, a forma e o conteúdo do que escreves, só a ti te diz respeito, e nós estaremos aqui para continuarmos esta agradável conversa.

Um abraço em Cristo,
Luis

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Maria Fernanda (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 01:42

Muito obrigada Luís. Bem hajas.

Um abraço também, numa quase «inveja» (não é a palavra que desejaria porque não gosto do conceito, mas não me ocorre outra) por ser incapaz de ir até onde vais... Creio que me traria uma maravilhosa paz de espírito, independentemente dos inconformismos e dúvidas que nos permitem a aprendizagem durante toda a nossa vida.

Maria Fernanda


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 02:45

Maria Fernanda, tenho lidado com padres...Sao poucos os que sabem escutar, eles sabem e falar, orgulhosos, sabem eles tudo...
Esse que escuta uma nao crente como dizes, e um grande padre, um bom homem, podes crer...nao e com vinagre que se apanham moscas, mas com mel...Minha linda, continua a ajudar esse bom padre!...Deus ia a procura de uma ovelha desviada e deixava as outras...!!! Tu es uma ovelha que andas fora do rebanho...mas ele pode conseguir muito, com o seu saber...!!!

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: VM (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 10:24

Irmã Maria Fernanda:

Vais permitir-me uma conclusão pessoal, sem te zangares com o meu atrevimento, está bem?

- Não acredito que sejas uma "não crente"! Acredito que estás à procura da tua "rocha" no meio do rio. Acredito que gostarias de SENTIR uma Igreja mais viva, mais solidária, mais lógica talvez, mais participada por nós que somos a Igreja Dele verdadeiramente.

Por favor, não te afastes da Igreja. Aquilo que na tua opinião, está mal, tenta melhora-lo, dentro da Igreja! Se te afastares, apenas podes criticar de fora da casa e perdes (e perdemos todos) a possibilidade de "pressionar" junto de quem manda. Bolas, Fernanda, nós não somos estúpidos! A Igreja TEM que nos ouvir. Eu tenho a intenção de imprimir as opiniões deste tópico, e entregá-las pelo menos a 3 Sacerdotes que conheço. Porque, a grande maioria dos Padres, também não são estúpidos. Antes pelo contrário. Julgo é, que andam tão ocupados que não têm tempo para se aperceberem o que vai andando à volta deles, o que nós sentimos.

Para ti em especial, peço-te que leias (se é que ainda o não fizeste já), uma opinião do Alef do tópico "hipócrisia da Igreja Católica" deste Fórum, acerca da dependência da nossa espiritualidade em relação à dos outros.

Alef:
Desculpa meter-te ao barulho, mas gostei tanto da maneira como expuseste o assunto, que não me canso de recomendar a leitura da mesma, de a imprimir e distribuir a catequistas, e de meditar nela, principalmente quando na celebração da Santa Missa, vejo pessoas a "despachar" as orações na mecha, para "aquilo" acabar depressa...


Abraço Fraterno


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 10:26

VM, estás desculpado ;-)
Alef

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 15:34

Maria Fernanda

Deus fala connosco, nos por vemos e que nao damos atencao!...Esteja alerta. Ponha essa dor que sente nas maos de Deus e ficara mais aliviada...!!! Tambem ja me senti revoltada, mas ainda nao estou bem curada, mas ja me sinto melhor. Ha coisa de 3 semanas que senti um toque de Deus e fui a missa e quando sai, senti-me melhor...Deus e pai!

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 18:12


A questão tem que ver que se faz aquilo que se pode com o que se tem. Não estou a ver agora a Igreja em Portugal com um staff, com católicos autênticos, com padres de formação intelectual elevada, motivada por uma fé leal na busca da verdade e do amor... Não estou a ver isso tudo, porque tudo cresce orgânicamente. É preciso é entregarmo-nos incondicionalmente a Jesus Cristo e sua Igreja, só partindo daí podemos realizar algo de significativo, começando pela nossa salvação em santidade, em comunidade.

Uma grande parte do problema está nas famílias! São as famílias que têm deixado de ter filhos, que têm deixado de os educar com uma fé vibrante e de os ter entregue nas mãos de Deus para a vida religiosa. E isto porquê, também? "Questões económicas"! E falta de conhecimento e obediência à doutrina da Igreja, também pelas omissões na formação dos Padres e das suas omissões na transmissão da doutrina e de direcção espiritual, face às críticas e influências da sociedade consumista , imediatista e conformista. Certo está que Portugal nunca primou pela riqueza económica ou intelectual, mas infelizmente, salvo algumas excepções, poucos são aqueles que transmitem nas homilias uma mensagem de conversão, verdadeiro alimento espiritual. Esta é uma forma preferencial de "gestão espiritual" da comunidade, é mesmo muito importante e é realmente inadmissível que não seja preparada. Não podemos continuar a entregar os sacramentos a pessoas sem discernimento, essencialmente pelas omissões da pregação!

A abordagem do VM é bastante positiva, o diálogo directo com os Padres. Se queremos que falem connosco, temos de ser nós a procurá-los, ou será que ainda não nos habituámos a isso?

Já agora, não sei o que o TZM quer dizer com Igreja de "ministérios e comunidades" e como pretende que funcione em unidade sem o tipo administração realizada pelos departamentos e secretariados, centralizados pelo menos nas dioceses. Não percebo como isso funcionaria na prática, não me parece concretizável segundo a ideia que tenho do que possa ser.

Concordo com as soluções propostas pelo Alef, mas em matéria de estudos bíblicos vejo que o melhor a fazer é aliá-los a uma educação litúrgica, sacramental, falando sempre de conversão, de uma maior fidelidade, de lançar novos desafios à comunidade no plano social e evangelizador... Encontrar a força da fé, no testemunho da comunidade, partir para a vida com os meios de santificação que Deus oferece (o compromisso com uma comunidade e a direcção espiritual de um Padre são muito importantes). Estamos cheios de católicos "mornos". Vejo que não se defende abnegadamente a Igreja e não se proclama Jesus Cristo Salvador (indo além de esbarrar nas "opiniões" dos outros) porque não se acredita de todo o coração!

E não se enganem, é a falta de fé o grande problema. O VM abriu o tópico falando do recurso à Internet. Eu acho-o cada vez mais indispensável na formação dos jovens de hoje, principalmente pelo que encontro fora de Portugal, nomeadamente nos EUA. Passam muito tempo a ver TV ou no PC, muitas vezes numa alienação gritante. Despertá-los para a leitura e partilha de textos cristãos e materiais de evangelização seria uma boa maneira de os deixar irem-se informando, com o seu próprio caminho, respondendo às suas questões, desde que devidamente orientados para os recursos certos. E nesse ponto de vista, vejo a Internet bastante ignorada, havendo iniciativas particulares louváveis, de grupos de jovens, paróquias, mas nada de realmente significativo e mobilizador a uma escala nacional, como um portal orientado especificamente para a evagenlização, com boa disposição, bons recursos... Faz falta sim! Vejam por exemplo um [www.phatmass.com] ou um [www.internetpadre.org], por exemplo. Imaginem se a vida de fé e cultura dos católicos portugueses tornasse realidade projectos semelhantes... (entre muitos outros de excelente qualidade) Mas mais do que existirem na Net, o importante em que esta troca de informação e unidade na fé seja transmitida a todos, de forma prática.

A nós, portugueses, falta-nos talvez os recursos económicos e a educação, mas o principal obstáculo parece-me ser a nossa falta de fé...

[isto são apenas uma série de reflexões, escritas à medida do que me fui lembrando]

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 20:49

João,

Compreendo a tua preocupação com o decréscimo da natalidade, mas não sei até que ponto que este decréscimo pode ter a ver com a (falta de) qualidade da formação geral dos católicos: leigos e sacerdotes. Nos outros países da Europa, a natalidade também tem decrescido e o cenário é diferente.

A Internet é um meio fantástico para a Evangelização. Ainda há algumas semanas o escrevi num artigo para a Ecclesia - "S. Paulo e os blogs". A realidade portuguesa é totalmente diferente dos outros países. Mesmo comparando com o Brasil. Posso estar enganado, mas ainda falta alguns anos até podermos ver um Catholic Exchange, ou um Encuentra, em Portugal.

Mas permite-me defender a minha dama. Se compararmos a dimensão da equipa do Phatmass, ou da equipa do Encuentra, com a equipa do Paroquias.org, eu penso que os resultados não ficam aquém do se faz lá fora.

Se já fizemos tudo? Claro que não! No passado Verão, fizemos o plano de actividades do Paroquias.org para os próximos dois ou três anos, e tomámos consciência do muito que falta fazer. Seria preciso dedicarmo-nos a tempo inteiro a este projecto, pelo menos durante um ano. Mas neste momento, tal dedicação não é viável pelas condicionantes da própria realidade portuguesa. Pelo que vamos implementando as novidades na medida das nossas limitações, e contamos com a ajuda de todos os que queiram e possam colaborar. Mesmo assim, acreditamos que, com a ajuda do Espírito Santo, havemos de conseguir ;)

Luis

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 16 de March de 2004 23:12


Apontei a questão das famílias como núcleo essencial para o desenvolvimento de vocações, mas falei nisso de passagem. Enfatizei mesmo as questões culturais e económicas.

Acho que faltará algo mais que "alguns anos" para chegarmos a um Catholic Exchange! :o) O que me interessam são os conteúdos, não vejo que estejamos minimamente perto de lá chegar...

Claro que os esforços da Equipa do Paroquias.org são de louvar! Bem hajam! ;o)

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 17 de March de 2004 13:30

ESpero que nunca lá cheguemos.

Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Maria Fernanda (IP registado)
Data: 17 de March de 2004 22:18

Para VM e indirectamente para Alef

Bem, eu já vos li ontem; normalmente, até sou rápida a responder. Mas não estou nos melhores dias para escrever seja o que for.
Então, porque havia de me zangar ou de achar que era um atrevimento da tua parte, VM! É precisamente o contrário; uma gentileza grande, até. Eu sou crente, no sentido em que se não acreditar em seja o que for que ultrapasse o mero materialismo, então é que eu própria também deixei de existir... Não são tanto as pessoas que me confundem com os seus comportamentos... Bem, talvez sejam também... Não iria atrever-me a querer um Deus a intervir, quase como um regedor de orquestra... Mas, fico tão desiludida perante tudo o que vejo à minha volta; e não são só os católicos, é todo o mundo... Não que me considere melhor (nem pior) que os outros; mas é um círculo de relações interpessoais em que cada um só pensa em si... Às vezes, penso que ser-se honesto, quer dizer, nunca aceitar que se atropele tudo e todos, viver segundo o servir quem está sob a nossa hierarquia e não nos deixarmos espezinhar ou comprar pelos que estão acima de nós é tornarmo-nos demasiado incómodos e tentarem destruir-nos. Não sei se estou a dizer coisa com coisa... Vês, como não estou nada nos meus dias de escrita... E todavia continuo porque me apetece falar convosco. Eu concordo com tudo, tudo o que dizes o Alef, mas mesmo tudo. Temos de ser nós, mas é tão frustrante... É o bater em pedra dura quando não se passa de uma aguazinha de nada que nem chega para matar a sede de ninguém... Mas, e alguém já o disse aqui, nem sei se algum de vocês, tenho de me sentir feliz com as coisas que me foi dado ter (antes ser que o ter vem na sequência); é ter de amigos que nos têm dito coisas maravilhosas. Sou crente, pois... Mas a Igreja consegue transmitir este sentido de uma vida em total repúdio com a maledicência, a mentira, a criação de climas de mal estar em ambientes de trabalho... de inveja? Não só só os católicos, repito; mas custa mais a aceitar neles. Eu sei Alef e não costumo apontar o dedo; nem sequer lhes digo, aos próprios, as obrigações segundo o status de católicos - seria falta de educação, não é?
Mas o fingimento, o escudar-se numa bondade e certeza, só porque o são... Já vos disse aqui algures que sou demasiado senhora do meu nariz - orgulhosa pois - para que não se atrevam diante de mim, muito menos para mim... Mas faz-se com tantos que não têm capacidade de fuga, de defesa ou mesmo de ripostar. E farto-me de dizer que não são só os católicos... mas faz falta esse exemplo de vida deles. E, se não são só os católicos - vou escrever uma heresia - então não teria sido melhor que esse Homem, esse Cristo - tudo o que nos deixou é maravilha - em vez de vir e ir-se embora não tivesse deixado mais raizes visíveis, reconfortantes, credíveis. Eu não gosto muito das sumptuosidades da Igreja, Acho que deviam ser proporcionadas aos sacerdotes condições de vida condigna, isso acho; tabém penso que algumas proibições impediriam alguns males, mas, enfim... também poderiam vir outros vícios se não existissem essa orientações... Há ainda algumas coisas na Igreja , quer dizer nas orientações oficiais da Igreja que não souberam avançar com os novos modelos sociais. Por exemplo, no que respeita à interrupção da gravidez, penso que poderiam afastar-se da vida civil e deixar o seu ponto de vista para os católicos. Mas não podemos atirar pedras, não. A única coisa que devemos é tentar dar um exeplo de vida cristã, despida de egoismo.
Vou-vos contar uma coisa que me deixou tão feliz e que nem me apercebi de que tinha sido tão gratificante para quem o fiz. Estava numa loja e uma senhora idosa, ao atravessar a rua, atemorizou-se com a proximidade de um carro e caiu no meio da rua. Coitado do condutor que, sem culpa nenhuma, punha as mãos à cabeça. Assumi o«comando das operações», desculpem lá a expressão mas diz em síntese. O dono do carro ficou convencido a pagar a despesa do espelho lateral partido e foi-se embora. O condutor da ambulância convenceu-se de que, apesar das aparências, teria de levar a senhora ao posto médico - cerca de 20 quilómetros àquela hora - porque era idosa, sofrera um choque e o facto dos arranhões exteriores parecerem insignificantes, naquela idade, não poderia lavar daí as suas mãos. Não é que, quando se viu na ambulância, a senhora quis que eu fosse? E disse o meu nome; conhecia-me, portanto o que não é difícil numa terra pequena e dado o lugar profissional que ocupo. A dona da loja quase que se escandalizava com o incómodo possível; eu, antes de saltar para a mabulância, fiz sinal ao meu marido que, sem esperar sequer que falasse, aquiesceu logo: certamente, eu vou para casa. Liga o telemóvel para o caso de necessidade de comunicares qualquer coisa. E fui.
Levei-a depois a casa. Morava sozinha, contou-me das amigas com quem costumava passar o serão. Fui, já com o meu marido, chamá-las e foram logo ter com ela e só então a deixámos; temos mantido o contacto e, no Natal, enviou-nos uma caixinha de bombons e flores... E disse que era para os seus filhos verdadeiros porque os outros não querem saber dela. Agora ando a tentar aproximá-los, sem ferir ninguèm, sem acusar ninguém, Deus me perdoe até tentando descobrir o que cada um tem de bom para os aproximar... Tenho-me sentido feliz. E não custa nada... Até vou arranjando tempo e de forma que não pareça propositado. Dá-me ideia que quem enriquece sou eu... E só conto porque ninguém sabe quem sou - vantagens do virtual - e não vêem nisto gabar-me seja do que for. É mesmo só contar que é tão simples, tão fácil...
VM, acho que está a passar o momento de melancolia... Eu também, com toda a sinceridade, tenho estado triste, nestes dois dias sem saber porquê.
Escrevam sempre que vos apetecer; fazem-me bem. Nunca pensei... E escrevam também a chamar a atençaão para os disparates que possa dizer.
Um abraço a ambos.
Maria Fernanda
Eia! reli e ficou tão grande sem dizer grandes coisas... Mas, se cortar ou tentar refazer, vai sair pouco coerente e, verdade se diga, nem me apetece.


Re: Gestão espiritual ou material?
Escrito por: Maria Fernanda (IP registado)
Data: 17 de March de 2004 23:58

Ainda para VM e Alef


E faltou-me confessar-vos uma coisa... Nunca parei para ler fosse o que fosse na página principal. Venho logo para aqui.
E não é por pensar que não entenderia...
Simplesmente, porque não me apetece. Devo-vos este entendimento do que sou, acho.

Só agora reli o texto anterior e está cheio de gralhas. Desculpem, mas passou-me mesmo, à medida que ia escrevendo

Com amizade
Maria Fernanda


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