Estive a ler as mensagens da nova participante Maria Fernanda.
Na partilha de sentimentos de Fé, de angústias, de impotência contra a perda, e apesar disso continuar a acreditar que Ele existe, revi-me um pouco.

Só eu?

Quantos de nós, já perguntámos angustiadamente: Porquê o meu filho tão menino ainda? Porquê a minha mulher tão nova ainda? Irmãos, amigos do peito, crianças inocentes que vimos num terrivel acidente, etc.?
Nós que sempre acreditámos em Ti, merecemos esta dôr?

Bem, aparece sempre quem diga: "São os designios Dele", "é uma prova à tua Fé - lembra-te da prova de Abraão(Gn 22,10)", etc.

E talvez pensemos - OK!OK! e o que é que me adianta? Isso traz-me outra vez o/a N...?

Acho que nessa altura nos sentimos no limite da Fé.

E chega a altura, da pergunta: Com que é que vou preencher esse espaço espiritual que ficará vazio? Onde vou procurar consolação, sem ser Nele?
Pessoalmente, não encontrei alternativa. Antes pelo contrário, a minha Fé, saiu da situação muito mais forte, consciente e assumida.

Alguém poderá dizer: talvez porque julgas que será a única "estrada" para rever os teus entes queridos! Balelas! "Só" por isso!

Aceitam-se opiniões...

Entretanto, Abraço Fraterno para todos e para a Fernanda obrigado pela partilha.

Ah! Opiniões... Que Deus é este que me trouxe pelos braços de outrém um filho de seis anos e eu... em casa, ouvi a sirene dos bombeiros e nem sequer«senti» que o meu filho... era o meu filho que partira.
Que Deus é este que me leva um filho dias depois de ter estado comigo, no que penso ter sido o meu último Natal e mo dá no reencontro sem vida, com a vida por viver... Nem trinta anos tinha! Coração? Que mãe que não soube saber, adivinhar?
Que mãe sobrevive aos seus filhos!
Que mãe que voltou a sorrir, a tentar esquecer... oito anos passados e ainda não consegue aceitar a palavra, associar-se a actos de ritual...
Mas Ele também sacrificou o Seu próprio Filho... E começo a pensar que não foi justo também nesse acto. Cristo terá sido o Filho de Deus, ou o Homem de enorme Estatura, Bondade, Dignidade e Amor, que nenhum Pai sacrificaria.
E depois... depois... as lágrimas são tão terrivelmente avaras e só vêm quando tudo estala em derrocada. E olho-os à minha direita... nos retratos... lindos de viver.
E não sei onde estão... o segundo avivou o longínquo quase cicatrizado. Agora as feridas já não saram. Não sei onde estão... Acho que onde estão, nem lágrimas, nem sonhos... Tenho de os manter comigo, porque se não, se não... é que morreram mesmo.
Que bom! Estou a chorar, que bom!

Não será a memória uma forma de vida? Quantos sorrisos provocam as lembranças? Não será um previlégio amar e ser amado por alguém tão intensamente, como se ama um filho, um irmão, um conjuge, quando olhamos à nossa volta e vemos tantas pessoas que nunca souberam o que isso é?
Agradeçamos esse previlégio. Porque foi uma dádiva sagrada. Eu tento não esquecer nunca. Porque cada sonho, cada recordação, traz-me um sorriso ( talvez triste às vezes ). Mas por nada eu troco essas memórias de momentos únicos.
Apenas opinião pessoal? Não! Apenas uma pequena partilha da felicidade de saber o que é realmente saudade, mas sem perder a alegria serena por ser previlegiado. E desejar que outros também descubram esse lado da vida, tão cheia de vazios para tanta gente.
Agadeço a Deus esse previlégio.

Abraço fraterno.

Eu tinha escrito outro texto... mas apaguei; não consigo, apesar de toda a compreensão de quem me escuta...
Estou, quase pela primeira vez, a reproduzir nas palavras esta dor... Porque, até agora, e eu que gosto tanto de escrever, nem por escrito nem pela fala eu o tinha feito... apenas uma vez, num texto longínquo para cumprir um dever de colaboração com um jornal, como forma de encetar a participação interrompida durante meses, portanto, apesar de tudo, um texto contido. Não! Escrevi há pouco tempo dois textos... mas dediquei-os a Fehér aquele futebolista que vi morrer no campo, através da televisão... E também foram para publicar... E tenho pena de não conseguir ir mais além no colocar a descoberto estas mágoas, estas revoltas... porque se conseguisse... acho que me faria bem.
Bem haja pelas palavras que escreve. Quem me dera ser assim abnegada e agradecida... Mas... não fui eu que parti... Estarão os meus filhos gratos?

Cara Maria Fernanda, as interrogações que nos colocamos perante os sofrimentos da vida costumam dizer respeito ao "porquê".

Em última análise, estamos neste mundo para uma grande caminhada de sofrimento, de passar através da vida marcando-a e marcando-nos com a liberdade e suas consequências. Amamos, morremos... Tudo "para quê"? A pergunta que me faço desde que assumi a minha relação com Deus passou a ser "para Quem"?

Tenho vivido a experiência de que somos criados e que sofremos. Vivemos mesmo porque, como seres humanos, somos capazes de grandes sofrimentos e grandes alegrias. Para quê, porquê, para Quem, por Quem, tudo isto?

Olho para a Cruz e vejo que é esta a nossa condição. O que é que a salva? A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. É duro, é difícil, dói, mas a vida é assim. A única salvação possível está na aceitação do amor de Deus, que se revela completamente na doação total da vida, em santidade. Com tudo o que nos acontece, essa é a única esperança, a única verdadeira alegria: a comunhão com Deus, que praticamos (ou não) aqui e agora, e que gozamos após a morte. Após a morte.

Olhe para Maria, a Mãe do Senhor, viva em comunhão com os Sagrados Corações, e segundo a vontade de Deus ser-lhe-á concedida a cura de acordo com a sua conversão, a sua própria entrega e abandono.

É preciso rezar... e sofrer, disso não fugimos para melhor, acredite.

Rezo por si, em Cristo,
João Oliveira

Maria Fernanda

Presumo que fui eu que a trouxe aqui a este Forum. Pelo que tenho lido, vejo que tem sido uma mulher martirizada. Leio e releio o que voce escreve. E quantas mulheres nao sao como voce? Algumas nem sabem escrever, nem tem acesso a esta pagina para poder desabafar...Cada pessoa tem a sua cruz. Conheco uma senhora que vive na minha cidade, que tem uma filha a morrer aos poucos, esta filha quando tinha 9 anos foi abusada pelo pai, um pai e marido alcoolico. Tenho uma amiga que tem um pai alcoolico, mulherengo e jogador....tanta gente que sofre no mundo...
Minha querida senhora, eu fico com voce...voce escreve tao bem, ja tem um Dom de Deus. Nao podemos ter tudo. Viva a vida, tente esquecer o mau e sorria!...

Um beijinho,

Catarina

Foi mesmo, Catarina, já confirmei.

E, todavia, minha amiga, é precisamente essa certeza de ter de viver a vida, de ter de esquecer, de ter de procurar a alegria... e de conseguir isso tudo (com bruscos e profundos estados de melancolia), sobretudo de querer isso tudo, que me traz um sentimento de culpa.
E nem é tanto o que eu possa sofrer... eu respiro, vivo, faço coisas, como diz... escrevo até. Eu faço ainda isso tudo.

O que eu sofri nada é comparado com as mães cujos filhos sofrem e sofreram torturas inenarráveis e elas nem puderam substituir-se-lhes no sofrimento... Também sei e também ultrapasso em espírito o mero saber... ou adivinhar...

E volto a questionar-me, milhentas vezes... A Crucificação deixou de ser a grande dádiva de sofrimento perante as atrocidades de hoje... E respondem-me que um Deus sofre à medida de um Deus e nós, as formigas, perante Ele, sofremos à medida dessas capacidades... Como se isto bastasse! Aliás, tão pouco acharia necessário um Deus a obrigar um Filho Seu a sofrer para remissão dos "pecados" da humanidade...

Não, não é tanto o sofrimento; é mais o remorso de um sentimento de culpa... tanto que não fiz, tanto que não disse, ah! e até tanto que exigi, castiguei e, sei lá se não compreendi... Saberiam o quanto os amava, ao menos... Faltou-me todo o tempo do mundo para eles.

Esta dor, minha amiga, num vai e vem - provavelmente, já num arrependido desabafo - só se despede de mim quando eu o conseguir. Ninguém consegue mitigar as dores que estão dentro de nós a não ser nós próprios...

Penso que o começar a escrever sobre isso poderia ser um caminho... uma libertação... mas... ainda tenho muito a percorrer e nem sequer sou egoista a ponto de me pensar a mais marcada, não.

E sucede que o desabafo tem também o seu momento... Creio que saiu, já nem lembro por que clique de qualquer coisa que aqui possa ter lido... Mas, foi reconfortante o reflexo amigo que senti... Porque, num plamo virtual, apesar de tudo.

Querida maria Fernanda:

SE conseguisse sentir o amor de deus no sileêncio do seu coração sentiria que lele lhe pegaria ao colo como uma maãe a o seu pequeno bébé, como a maria fernanda fez aos seus menisnos em noites escuras para lhes afastar os medos... e a primeira e última coisa que ELE lhe diria é que Não sinta culpa, pois foi uma mãe bondosa, querida e presente para os sueus filhos...

Estou tao contente de ter sido eu, que a trouxe ate aqui a este Forum!

Nao se sinta culpada pela morte dos seus filhos. As coisas acontecem! Ja perguntou a Deus se voce foi a culpada? Nao estarao eles melhor junto de Deus, do que vivessem neste mundo, talvez na droga, na prostutuica, no alcool, etc. Pense bem...so o sofrimento da mae ainda nao passou...Nesse lugar do seu coracao, tem de por algo para substituir essa dor!!!

Sei que deve ser horrivel para uma mae perder um filho...mas voce e uma mulher sabia, devia fazer tudo por tudo, para que essa dor possa sair de si...e eu ficava mais feliz!!!

Maria fernanda -

quem tem filhos sabe que os filhos - essa dádiva emprestada - nos transfiguram no que de mais próximo há da divindade - no amor gratuito, incondicional, no amor levado ao absurdo, no amor apaixonado e atento.

Quem tem filhos sabe que nenhum pai, mesmo que divino compraria o perdão dos homens com a imolação sacrificial do seu único filho, ou precisaria de sangue humano ou divino para dar o seu perdão ao resto da humanidade.


Quem tem filhos sabe que a dor da perda mais intolerável não nos deve fechar para a vida que essas vidas dos nosso filhos nos obrigaram a renovar e transfigurar...

Não se feche a essa vida, por eles, deixe-os viver nessa capacidade de amor que lees e só eles fizeram nascer em si. Poruqe nós nascemos e crescemos com os nosso filhos, e vamo-nos fazendo uns aos outros.


REzo por si.

Um abraço

ana

Maria Fernanda,

Você é um exemplo de força e coragem. Sei, como mãe, que não deve ser fácil... continuar a vida assim deve ser muito doloroso.... Em poucas palavras expresso minha admiração por essas suas qualidades.

Deus te abençoe e console seu coração de mãe.

Andréia.