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Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 04 de June de 2002 14:32

Não há nada que me enfastie mais do que discutir o tema "sexo" que, de fama de "tabú", passou ao seu ponto extremo: "banal".

Discutir sexualidade é já outra coisa.

Todos nós já perguntámos (ou, pelo menos, já tivémos vontade de perguntar) a um(a) consagrado(a) se estará a "castrar" uma importante parte da sua pessoa - a sua sexualidade.
A resposta unânime (e quanto a mim, bastante sábia) é que a sexualidade não deve ser confundida com sexo ou prática sexual.
A sexualidade é a minha expressão enquanto ser humano feminino ou masculino e não se reduz a ter (ou não) a vida sexual activa.

Como todos sabemos, existe muita informação difundida pelos media e pela publicidade contra os maus hábitos sexuais que conduzem a gravidezes precoces, a abortos, a doenças venéreas...e, no entanto, todos os dias uma rapariguita engravida, uma mulher aborta, um homem contrai SIDA (ou doença igualmente grave).
E isto porquê? Porque se fala do acessório e não da essência!
Fala-se sobre o sexo em si, mas não do que o motiva, no fundo, das pessoas!

Penso que Jesus Cristo sempre foi muito claro neste ponto: não é a "carne" que nos indica o que deveremos fazer, nós é que contamos. A isto chama-se liberdade. Liberdade para escolher o meu comportamento face a uma determinada situação.
E esta liberdade deve assentar num ideal de vida.

Por muita educação sexual que se tenha; por muita informação que haja; se não tivermos princípios e valores, se não tivermos e não dermos um significado à nossa existência, continuaremos a perguntar-nos o porquê da realidade preocupante do aborto, da gravidez precoce, do abandono de crianças, das doenças venéreas...sem olhar para a sua causa real.

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: francisca (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 18:50

Garanto-lhe que existe uma relação directa entre o analfabetismo, pobreza, ignorância e falta de informação sexual e as DST, SIDA, Mortalidade neonatal, Mortalidade materno infantil. A informação é fundamental e não deve ser depreciada.

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 20:40

É curioso.
Perguntamos outro dia a uma amiga que era freira se não tinha "tentações carnais"... e ela respondeu que o que mais sente falta às vezes (naqueles momentos mais complicados) é de alguém fisico para lhe dar "aquele apoio", mas logo de seguida diz que sente a força de Deus. Vai à capela reza (umas vezes mais outras vezes menos) e recolhece o grande amor que tem por Ele e tudo passa.

Susete

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 09 de August de 2002 22:08

Mas a carência emocional é isso mesmo.

Não sei porque é que aspessoas continuam a fazer a clivagem afectividade/sexualidade, corpo/espírito....

Tal clivagem não existe... somos o nosso corpo, as nossas emoções e os nossos pensamentos são o nosso corpo...


ana

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 10 de August de 2002 12:57


Susete, essa freira prestou-nos um valioso testemunho, seguramente... De tal modo que uma freira encontrou o conforto "físico" que precisava em Deus.

Dou os meus parabéns à Ana Amorim por ter colocado aqui o assunto de uma forma que eu não coloquei. Indiquei desde logo as soluções e apontei razões, até esquematicamente, no tópico sobre "a NOVA revolução sexual" da abstinência, mas faltou-me esta capacidade de diálogo mais próximo que esperava continuar, mas infelizmente não me foi possível fazê-lo desde logo, porque tive de responder às interlocuções da outra Ana.

Realmente, é esse o perigo e o erro em que caímos... O sexo não é tabú, mas é privado! Estou farto de ver na TV logo depois de almoço aos fins-de-semana, fins de conteúdo altamente erótico e penso na quantidade de crianças que, inadvertidamente, foram expostas aquilo... Isto é muito sério... 100% dos adultos abusados em crianças têm problemas de relacionamento afectivo e sexual. Sabe-se lá onde isso começou, num filme, numa revista, numa relação promíscua...

Sinceramente, o amor é poderosíssimo... Mas quem disse que não podemos canalizar a nossa afectividade no sentido de nos abstermos de relações sexuais até chegar o momento em oferecermos o nosso corpo e alma a quem mais os merecem, a quem vai ser o nosso maior amor terreno por toda a vida? Claro que é difícil, mas isso é feito por amor e olhem os benefícios...

Assim que compreendermos essa união de influências anímicas que nos compõe, harmonizando-as pela espiritualidade, veremos como esse é um projecto bem alcançável e a manter por toda a vida, pois já teremos experiência suficiente para não nos atraiçoarmos no Matrimónio. Isso é simplesmente o que nos falta quando falamos em causas. No outro tópico coloquei uma série de benefícios que incluem precisamente alguns dos problemas mais concretos da humanidade de hoje, todos relacionados com o sexo.

Sinceramente, hoje em dia um dos maiores tabús é falar de religião ou de Igreja! Falar a favor de uma maior reverência ao sexo já é tabú para muita gente e cada vez mais. Falar sobre sexo com os jovens, confunde-se com "falar de coisas porcas", de tão deturpada que já está a sua concepção da relação sexual, "educada" pela pornografia. No futuro, teremos muitas destas situações para reparar.

João

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 10:34

Francisca:

Não disse que a informação deva ser descurada. O que penso é que a informação deve ser complemento de valores sexuais que devem ser passados a nível familiar.


Anna

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 11:31

aSOLUTAMENTE DE ACORDO.

ANA

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: diácono Remédios (IP registado)
Data: 13 de August de 2002 17:06

Vamos proxeguir destes debateszzzzzz, com piedade ... E, sobretudo, xem malícia zzzzzzz

Educação Sexual
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 27 de August de 2002 18:55


Estas são algumas considerações acerca da minha posição em relação à Educação Sexual. Acho que compreenderam assim melhor onde se encaixa a promoção que faço aos métodos naturais. Pode parecer um pouco técnico de mais, mas achei melhor escrever assim à medida que me ia lembrando de mais possibilidades, para as estruturar de forma coerente e facilmente legível e assimilável. Incluo algumas novas (?) ideias que deverão ser tidas em conta... acho eu! ;o)

Primeiro que tudo, a questão dos métodos naturais deve ser entendida pelos professores e principalmente por quem define os conteúdos. Devemos colocar, nos programas de Educação Sexual, um grande ênfase na abstinência e indicar que os métodos naturais de planeamento familiar existem, que temos o direito e o dever de os conhecer, que são muito eficazes em vários aspectos, não apenas a adiar a gravidez, usando a fertilidade como uma realidade com a qual se pode colaborar e não como uma maleita que devemos curar. Ainda que não se possa nem deva ensiná-lo totalmente a adolescentes (encaminhando esse assunto para instrutores especializados), eles têm de ter ideias claras de que existem boas alternativas à contracepção, com benefícios e exigências específicas e inigualáveis. Isto deve ser feito deixando claro que esta é uma situação preferível, por razões afectivas, sociais e médicas, ensinando (e não promovendo! - explicando os casos em que é totalmente responsável e necessário que os usem) o uso de contraceptivos, os vários tipos, seus usos, onde os encontrar, riscos e implicações, incluindo a comparação com os métodos naturais. Penso que esta é uma situação equilibrada que em muito beneficiará a saúde e as famílias e assim toda a sociedade portuguesa.

A Educação Sexual passa por razões que ultrapassam claramente o que é "dito" na sala de aula. Em conjunto com esse conhecimento teórico, os jovens precisam também de ser ensinados a lidar activamente com os ataques que são realizados à dignidade e ao respeito pela relação amorosa, por via do teor sexual nos media e pelo consentimento da sociedade em geral para com a banalização do sexo e das relações amorosas como se fossem produtos (do qual eles estão cada vez mais fartos de serem enganados a comprar - relações fáceis e "prontas a usar", com argumentos e métodos conhecidos, com tudo o que isso implica de impessoalidade e falta de verdadeiro amor), ou usando-os para promoções "estupidificantes" que usam o sexo como uma forma fácil de atrair "moscas" às lojas e supermercados. Claro, esta é a minha visão crítica em relação ao assunto. Ao educar, deveremos advertir os alunos com veemência acerca do valor que temos como seres humanos e como as nossas consciências valem muito mais do que aquilo que nos engana e seduz facilmente. Obviamente, isto não tem só que ver com Educação Sexual, mas, se quisermos, com a própria Biologia e também com Psicologia, Sociologia, História, Filosofia, Antropologia... (e Teologia, porque não?) Claro que isto é educar não somente os aspectos específicos relacionados com a sexualidade, mas implica uma mobilização para a educação afectiva e para as questões mais sociais em que o sexo se enquadra. Por exemplo, de nada vale promover a abstinência se no meio adolescente o sexo continua a ser algo "fixe" e quem não o faz ser ostracizado por isso... Devemos sim promover uma educação que garanta aos jovens que as pessoas devem ser respeitadas nas suas decisões pessoais e íntimas, ainda para mais quando nada têm para prejudicar a sociedade (como é o caso da abstinência), e que também devemos procurar compreender as minorias que se criam, não as olhando como excepções mas com os mesmos direitos e deveres, passíveis de um tratamento equitativo com vista ao bem da sociedade em geral, não favorecendo ninguém em particular mas todos em geral. Isto torna necessária uma maior tolerância para com o bem de todos e não apenas daquilo que está confinado às decisões pessoais de um grupo em particular. Ou seja, já estamos a incluir, como é necessário, moralidade, ética e axiologia na questão sexual. De facto, é uma questão complexa e deve ser distribuída no plano de estudos escolares pelas várias disciplinas, de forma estruturada. Realmente, os adultos devem esclarecer-se a si mesmos no que diz respeito ao significado, propósito e composição da relação sexual. Temos de decidir, pois vamos fazer Educação Sexual, iremos escolher os conteúdos, fórmulas pedagógicas, etc.. São escolhas inevitáveis e somos impelidos a tomar as melhores possíveis.

Quanto a mim, o carácter da saúde e do amor são os essenciais, muito acima do que seja expressão impulsiva da sexualidade. O sexo é muito diferente de comer e dormir, além de que o ser humano não é um animal, sem racionalidade nem amor nem vontade própria, nem é uma máquina que "rebente" se não tiver essa experiência. Podemos gerir a afectividade e a sexualidade para coisas mais intensas que a própria experiência sexual, sob pena de, se não o fizermos, essa mesma experiência perder todo o valor e chegar a bestializar-nos. Podemos orientá-las para o amor sacrificial e servil no casamento, na mais alta e melhor forma de encontro sexual, onde o sexo pode ser praticado e apreciado com todo o prazer e paz. Para cada vez mais jovens, uns que já experimentaram a promiscuidade e passaram a repudiá-la, outros para os quais isso sempre fez todo o sentido, a abstinência apresenta-se como uma opção clara, libertadora e verdadeira, algo que vale mesmo a pena, se queremos relações amorosas e duráveis, para toda a vida. Muitos revoltam-se contra aqueles que nunca lhes apresentaram essa alternativa e fazem o que podem por dizer aos outros jovens aquilo que nunca lhes disseram a eles ainda a tempo: partilhar-lhes uma visão das relações sexuais que encara o sexo como sagrado e a família como um dos maiores dons de Deus. Agora, teremos de ter a consciência que, hoje, isso terá de levar uma certa dose de rebeldia e de afastamento em relação à maioria! Apesar dos jovens buscarem a sua identidade por cima de tudo o que lhes é dito, torna-se bastante útil não lhes impôr nada mas encorajá-los a pensar bem nos assuntos, a prepararem-se para amar, e isto é feito em GRANDE medida pelo próprio exemplo dos pais.

A questão social vai ainda mais longe: a banalização do sexo e relações amorosas devem ser incluídos no conjunto das práticas associadas à "rebeldia juvenil", que é devida a forças sociais e emocionais, e próprias dessa autêntica "sub-cultura" juvenil que cada geração tende a criar - as modas -, com a busca da identidade, música popular, danças, "piercings", partilha de opiniões, formulação de ideias e atitudes próprias, criação de certezas e de posições em relação ao mundo que os rodeia, associação nesses ideais... Tudo isto involve aquela pressão dos seus pares para estar na moda, para se integrar. Criar um "anti-corpo social" tão grande como acreditar na abstinência num tempo assim pode tornar-se bastante difícil, criando até uma situação em que a pessoa, de tão socialmente excluída que está, não consegue compatibilizar-se com ninguém para manter uma relação, por melhores que sejam as suas razões. Frequentemente, os jovens rejeitarão o que os adultos, fora dessa sua "sub-cultura", tenham para lhes dizer acerca deles mesmos: acharão-no ridículo e despropositado, olhando-os com condescência... Tudo isto se associa à actual "cultura da morte": violência, morte, sexo, drogas, exploração do ser humano... Com a perda do valor da dignidade humana, forçada por uma crescente relativização da moral e sua consequente liberalização (ninguém sabe o que é certo ou errado, nem quer saber, desde que não o chateiem). Assim, torna-se essencial criar, desde cedo, boas relações de comunicação com os filhos, acompanhá-los no crescimento e compreender que os pais devem deixar-se transformar pelos filhos, pois eles querem receber e aprender, mas também precisam de sentir que são acolhidos e amados não só pelo que são mas também pelo que fazem e naquilo em que passaram a acreditar, assim que se passam a reconhecer a si mesmos como indivíduos. Se isto for realizado ao longo da sua vida, se os pais colaborarem na educação dos filhos não por um controle determinativo mas por uma amorosa exigência, eles facilmente aceitarão esse compromisso e responderão aos seus conselhos assim que cheguem os dias difíceis da adolescência. Quanto aos católicos, não os devem saturar com a moral da Igreja, mas contar-lhes as histórias catequéticas que os farão entender o PORQUÊ de se pensar assim, permitindo-lhes colocarem-se a par do próprio percurso do pensamento da Igreja, fornecendo-lhes as histórias de santos com convicções fortes como Sta. Catarina de Sena ou intelectuais católicos de todos os tempos, para que encontrem através deles a sua admiração pela Igreja, entendendo bem o valor que ela tem e o respeito que merece. Também a espiritualidade da família acalentará e refreará os anseios mais irreverentes dos jovens, chegando a compreender por si mesmos de que isso seria uma estupidez e crueldade para com os seus pais e Deus. Se as crianças forem educadas num ambiente que valorize a vida, que viva uma relação de amor profundo e santo, que encare a juventude como uma etapa da vida com qualidades valiosas, de criatividade, alegria e energia, elas sentirão mais tarde que é com os seus pais que querem continuar a desenvolver-se e enriquecer-se interiormente, respeitando as suas sábias deliberações, aceitando-as com amor e contra-argumentação saudável e colaboradora. Considero que estamos a perder esta forma de ser família, e os católicos têm excelentes possibilidades e recursos para o voltarem a ser, plenamente. Basta que haja um renovado fervor e empenho na vivência da "igreja doméstica" que somos chamados a viver. Somos chegados agora à época em que viveremos a plenitude da doutrina da Igreja com toda a liberdade, e com todas as exigências de amor que isso provoca... e seus saudáveis benefícios!! :o)

Quanto ao acompanhamento psicológico (e espiritual), deve ser facultado ou indicado por aconselhamento dos Gabinetes de Orientação Escolar (serviço bastante deficiente entre nós: tende a servir apenas para o discernimento vocacional que muitas vezes é irreal). Por exemplo, assim que a Igreja crie estruturas para isso, o apoio às questões relacionadas com a sexualidade e afectividade dos jovens conjugada pela Sacramento da Penitência ou Reconciliação (Confissão) e formação nos métodos naturais deverá ser uma indicação dos próprios Gabinetes, assim que seja adequada a sua recomendação (aqui não existe favorecimento de nenhuma confissão religiosa, mas dado que a maioria da população portuguesa, é apenas dever do Estado que os jovens tenham acesso àquilo que mais lhes diz respeito - por exemplo, se já forem católicos, um psicólogo escolar não deverá hesitar em indicar-lho, assim que se verifiquem as condições para isso; se forem de outra confissão, o psicólogo deverá estar a par dos apoios respectivos à sua situação, quando os houver). Também a Igreja poderá promover uma versão "secularizada" dos métodos naturais para que qualquer um possa fazer uso desse conhecimento.

É claro que tudo isto deve ser realizado com a maior naturalidade possível e sem um carácter clínico, o que afastaria certamente a maioria dos jovens. Também não se podem tornar estes serviços em algo que seja forjado para entrar "na sua moda" e assim ficar popular aos olhos deles, pois eles topam isso rapidamente e repudiam a corrupção da própria cultura que estão a acabar de criar - ainda por cima por adultos parvos que não os compreendem! Mas afinal, as coisas vão mudando e a ideia de alguém ser virgem tende a deixar de chocar e a ser respeitável, desde que a pessoa demonstre ter autenticidade na sua personalidade e essa perspectiva se enquadre nela. Até porque estamos numa sociedade que se quer relativista para que "ninguém tenha de ser chateado com julgamentos morais" - e em relação aos virgens aplicar-se-à a mesma bitola, sem eles deixarem de lhes transmitir um certo toque de identidade vincada e destemida, para o amor, que inquieta. Ainda para cima quando são pessoas de fé que a vivem desempoeiradamente e como uma capacidade de libertação e auto-superação incrível, que muitos desconhecerão de todo e alguns até, de forma nostálgica a admirarão, não considerando que tenha a ver com alguma ingenuidade e maturidade, ouvindo as suas palavras com atenção.

Retirar a perspectiva teológica dos conteúdos da Educação Sexual será a perspectiva aceitável em nome da secularidade, mas será que deve ser omitida a divulgação dessa perspectiva, sem que com isso se faça proselitismo? Penso que isso não seria nada saudável. Devemos fornecer a maior quantidade de perspectivas, antropológicas até, de forma correcta e completa, para que estejamos verdadeiramente a educar os jovens para a responsabilidade. Assim, não se pode educar para a abstinência de forma moralista como foi feito até períodos recentes (até hoje?), mas demonstrar objectivamente que é bem possível que seja a melhor das melhores opções para a maioria dos jovens, apresentando-a como um estilo de vida realista e recomendável a um adolescente. Claro que não devemos suprimir a outra solução: mas demonstrar como é que a abstinência é "a melhor" e a outra é "a boa"... Para os jovens que ainda assim rejeitem a abstinência, então devem ser-lhes facultados contraceptivos sem julgamentos (apenas com aconselhamento caridoso) e com toda a confidência.

Mas já agora, falando de objectividade, deixo aqui algumas considerações em relação às suas vantagens (já indiquei algumas outras no tópico "A NOVA revolução sexual: ABSTINÊNCIA!"):
- Redução de DSTs e os seus efeitos nefastos. Por detrás de cada estatística está um indivíduo em sofrimento. Redução da conta médica paga com dinheiros públicos.
- Redução da gravidez entre adolescentes. Redução nas despesas de beneficiência, Serviços Sociais, domésticas, etc.
- Redução de abortos. Não são uma experiência agradável e envolvem riscos para a saúde. Podem ser acompanhados (não sem boas razões) por culpa, arrependimento e traumas. Redução dos custos médicos (na recuperação da mulher) pagos com dinheiros públicos.
- Protecção dos jovens de todos os possíveis riscos ligados com a actividade sexual não monogâmica.
- Aumento das probabilidades de que as crianças cresçam com dois pais empenhados, que se amem mutuamente.
- Encorajar casamentos duráveis e que prometam conforto, apoio, encorajamento e preenchimento sexual por toda a vida e até idade avançada.
- Encorajar qualidades pessoais tais como o auto-controle, lealdade e confiança, que são vantajosas noutras áreas da vida, como no emprego.

Realizada de forma atenta aos fenómenos sociais, a educação para a abstinência não tem nenhum mal, além de ter muito bem.

Existe também a questão do chamado "excesso de população mundial"... Neste caso em particular, devemos restringir-nos aos factos e nunca deixar que mitos acerca das estatísticas se transformem em pressão sobre comportamentos sexuais. Na minha opinião, esta é uma falsa questão, muito promovida por interesses eugénicos (alguns deles com "doutrinas" horripilantes). A verdade é que o envelhecimento da população nas sociedades desenvolvidas é um dado adquirido e bem confirmado. A verdadeira questão é a de abrandar o crescimento económico para o reduzir a uma forma plenamente sustentável, acabar com tão grandes e opulentas desigualdades sociais e alimentar valores muito mais éticos e religiosos na forma como se encara a existência. Dessa forma, haverá lugar para todos, pois seremos mais úteis à Terra e não seus "parasitas", vivendo de forma inteligente respeitando a Lei Natural em todas as questões que se nos deparem. É necessário não esquecer também que o propósito da nossa existência não é somente terreno mas também divino... Só Deus sabe mesmo a "utilidade" que todas e cada uma das vidas humanas têm para Ele.

Quanto ao papel da família nestas questões, deve ser plenamente respeitado. Uma opção seria promover sessões de esclarecimento com os pais em relação aos conteúdos e à sua forma de abordagem, ao longo de cada ano, podendo até fazer parte integrante das actuais Reuniões de Pais. A relação próxima com o professor da própria disciplina de Educação Sexual seria recomendável: dessa forma, os pais ficariam mais informados sobre o que se passa na cabeça e comportamento do/a seu filho/a (que questões levanta, como são os trabalhos que realiza, quais são as suas opiniões...). Poderiam colocar-se à disposição dos pais formulários a preencher com propostas ao Ministério ou, tanto quanto diga respeito a pequenas alterações em relação a cada turma em particular, votarem-se questões e decididas em Conselho de Turma, por exemplo. Talvez até fosse importante debater, turma a turma, com pais e alunos, os assuntos específicos que ficam por abordar. Conversas agradáveis que fomentem a partilha de experiências (não muito íntimas) ajudarão os jovens a abrir-se e a habituarem-se a ter uma relação saudável com os seus pais, colegas de turma, os pais destes e professores, de forma que lhes faça viver a possibilidade e necessidade de melhores e mais profundas relações humanas, vivendo a sua sexualidade de uma forma mais completa que o mero plano da própria relação sexual, mas no sentido de uma relação profunda consigo mesmos, com as suas próprias identidades como seres humanos. Ou seja, ensinar-lhes vivencialmente a profundidade que devem ter nas amizades, para que vivam de forma ainda mais profunda e distinta as relações amorosas.

A questão da decisão de qual método usar passa por um discernimento entre pais e filhos e é isso que deve ser encorajado quando se trata de tomar decisões. Não pode ser algo realizado entre aluno e professor. Dessa forma, com toda a informação científica que lhes foi fornecida, tanto nas ciências naturais como nas sociais (bem como nos apoios disponíveis), pais e filhos devem ser capazes e apoiados a entrar em diálogo sobre essa questão, de forma serena, atenta e compreensiva.

Mas também existe uma outra opção, bastante utilizada no estrangeiro, como nos Estados Unidos da América, que é a do "HOMESCHOOLING", ou seja, "ensinar em casa". No que diz respeito à sexualidade e no contexto dos métodos naturais, os próprios pais podem ajudar os filhos a optarem por verdadeiras relações amorosas, ajudando as raparigas, desde a puberdade, a se conhecerem intimamente, também no que diz respeito à fertilidade. Trata-se de uma opção levada a cabo por um dos cônjuges, não necessariamente a mulher (mas quase sempre são elas que preferem ficar em casa, desde a maternidade), de trabalhar e estudar por si próprio em casa, tomando conta e educando totalmente os seus próprios filhos. Isto normalmente acontece em famílias numerosas (ou melhor, vão-se tornando numerosas!), de quatro ou mais filhos, e revela-se bastante entusiasmante para quem o pratica, no enorme fortalecimento das relações entre pais e filhos. Cada vez mais, pela Internet, é possível trabalhar em casa e o casal pode alternar entre si os horários, trabalhando um de dia e o outro saindo à noite para as actividades que queira, por exemplo... É popular entre os católicos, mesmo aqueles que, mantendo a utilização dos métodos naturais, decidem ter apenas um, dois ou três filhos devido aos seus encargos. Muitos deles têm formação universitária na área da Educação e também trabalham com outros jovens em instituições. Chegam a adoptar bebés quando são confrontados com situações críticas, de aborto, abandono e deficiências, visto a sua forma de viver a família lhes permitir isso sem grandes transtornos materiais. Já agora um esclarecimento: NÃO É pelo facto de se praticar os métodos naturais que se fica com muitos filhos! Acontece é que como eles são católicos, encaram a vida como um dom divino e, dadas as suas possibilidades, têm tantos filhos quantos possam, olhando com responsabilidade os mais necessitados. Bem educados, serão indivíduos que trabalharão para construir o mundo e deixando-o sempre um pouco melhor, valerá a pena ter filhos assim para continuarem esta obra. Toda a "família humana" deveria efectuar este trabalho. Parece é que hoje se acredita que o mundo existe para que dele usufruamos sem olhar para o que podemos gastar nem para a destruição que deixaremos para trás. De qualquer forma, todos os casados devem considerar formarem-se especificamente para ajudar os filhos a lidar com a sua sexualidade, ou pelo menos assegurarem-se de que o que têm para lhes dizer vai de encontro às suas necessidades, de forma a que eles valorizem os seus aconselhamentos.

Ter filhos mais cedo (por volta dos 22-27 anos e no primeiro ou 2.º ano de casamento), não só está estatisticamente provado que faz os casamentos durarem mais (para sempre...), pelas preocupações e pelas relações familiares que se estabelecem desde logo, mas também permitirá não provocar tanto "choque de gerações", já que os pais poderão partilhar com os filhos de uma forma mais viva a sua própria "cultura juvenil" e usar essa partilha para aprofundar as relações entre pais e filhos, num ponto de partida comum, de descoberta mútua, como amigos. Quando acontece que os pais já estão completamente instalados na sua vida profissional, tendem a encarar a juventude como um "frete" e algo a "acorrentar" à sua vontade... Não os querem deixar errar e por isso restringem-lhes os movimentos. Mas assim nenhum deles tem oportunidade de crescer: os pais devem, a meu ver, partilhar progressivamente as suas intimidades com os filhos e mostrar-lhes que as suas opiniões importam, mas que os pais é que são os responsáveis e a palavra deles é a final. Assim, a juventude na família é sempre uma oportunidade de crescimento e rejuvenescimento, de descoberta daquilo que mais aquele membro da família vem trazer!

Dito isto, penso com convicção que a educação para a abstinência pré-marital (e verdadeiramente "pró-marital", pois favorece MUITO a fidelidade no casamento) e a sexualidade conjugal vivida de acordo com os métodos naturais em muito favorecerão a sociedade em geral, com cidadãos mais felizes, apaixonados, educados, saudáveis, sensíveis aos problemas dos seus filhos, alimentando uma sustentabilidade que em muito valorizará... o mundo inteiro! :o) Fornecerão certamente conteúdos mais desafiantes para uma maior profundidade nas relações humanas que os contraceptivos, pela fidelidade e castidade que exigem ao casal, dando-lhe um método de planeamento familiar que em tudo se adequa com um projecto de amor para a vida inteira, de geração em geração.

Espero sinceramente que acabem definitivamente essas acusações de "infantilidade" e "fundamentalismo" de que fui alvo...

Vigilate et orate,
João

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 03 de September de 2002 08:52

Assustador. é tudo o que tenho para dizer..........

ana

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de October de 2002 20:01


Buuuu! ;o)

Desculpa lá não estar de acordo contigo, Ana. Acho que, como vocês dizem, a solução é "tolerar", por mais que eu não goste desse indiferentismo. Prefiro colaborar e partilhar, activamente, pela edificação das melhores soluções, ainda que ideais.

Afinal, ser cristão é um "ideal"... (Quase?) Nunca o somos completamente...

João

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 05 de February de 2003 03:29


EDUCAÇÃO SEXUAL E ABORTO A PEDIDO

A ligação entre a educação sexual e o aborto pode não parecer evidente. Alan Guttmacher foi presidente da International Planned Parenthood Federation (IPPF), uma das maiores ONGs mundiais e também uma das organizações mais empenhadas em promover o aborto a pedido em todo o mundo. O seu "braço" em Portugal é a Associação para o Planeamento da Família (APF). Neste trecho de 3 de Maio de 1973, Guttmacher estabelece a estratégia dos defensores do aborto depois da sua liberalização nos Estados Unidos da América:

"What is going to happen right now is the pro-life forces are going to raise up and there is going to be a lot of fighting over this issue; we are going to raise a sleeping giant so to speak. There are going to be a lot of abortion battles and we are going to fight all of those battles, but the most important piece of the fight is to get to the kids because while the abortionists are out doing abortions, and while the pro-lifers are out fighting todasy's fight, we will be after the next generation and the generation after that. If we can win the next couple of generations, in the schools, then we don't have to worry so much about the abortion battle because we will eventually win. The only avenue the International Planned Parenthood Federation and its allies could travel to win the battle for abortion on demand is through sex education."

in "Factos da Vida", Ano III, n.º 17 - Dezembro 2002, Boletim da Associação Juntos pela Vida


João

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 10 de February de 2003 04:25


Deixo aqui esta notícia, sobre o Movimento de Defesa da Vida e o seu entendimento de "Educação Sexual".


Movimento de Defesa da Vida Leva Educação Sexual nas Escolas

Por BÁRBARA WONG
Terça-feira, 04 de Fevereiro de 2003


Protocolo assinado com o Ministério da Educação. Primeiro passo é dar a conhecer o trabalho já desenvolvido

O Ministério da Educação assinou um protocolo com o Movimento de Defesa da Vida (MDV), com o objectivo de promover, ainda neste ano lectivo, acções de educação sexual nas escolas. Até ver, o único acordo deste género tinha sido celebrado com a Associação para o Planeamento da Família (APF).

A proposta partiu do próprio MDV e a tutela aceitou-a. Para já, o movimento quer contactar as escolas básicas e secundárias, para dar a conhecer o trabalho que desenvolve. Embora não seja a favor do início da vida sexual activa antes da maioridade, defende que os alunos que tomarem essa opção devem ser apoiados e não condenados.

O protocolo em causa prevê que o ministério financie as acções do MDV junto dos estabelecimentos de ensino. Actualmente, esta instituição particular de solidariedade social vai às escolas falar com estudantes, docentes e pais. Faz também formação de professores. Com o acordo firmado no final de Janeiro, a tutela passará a financiar este trabalho.

E o que é que a entrada em cena do Movimento de Defesa da Vida vai mudar na educação sexual? "Antes de mais, a visão preventiva. Neste momento, a aposta é na prevenção da toxicodependência, comportamentos de risco, gravidez... Acho que temos de ter uma visão de uma educação para a sexualidade cujo objectivo último não seja a prevenção mas a pessoa como um todo. A nossa perspectiva é de ajudar [os alunos] a crescer e não de condicionar os seus comportamentos", defende a vice-presidente do MDV, Graça Mira Delgado.

Por isso, "a informação não deve ser falseada", considera Graça Mira Delgado. Deve, contudo, ser transmitida de acordo com o público a que se destina. "Não esperamos é que se façam opções que não são próprias para a idade. Porque existem opções definitivas que só devem ser feitas na idade adulta", explica.

Que opções? Por exemplo, começar uma vida sexual activa. "Eu acho que um adolescente não tem capacidade de medir tudo o que está em causa quando se decide pela vida sexual activa. Nomeadamente uma possível gravidez... O que não quer dizer que não se apoie essa opção", defende a responsável.

Gabinetes de atendimento

Além da informação, o MDV procura educar para os valores, "de maneira a que o adolescente possa construir o seu projecto de vida". E quais são esses valores? Antes de mais, os que trazem de casa, refere Graça Mira Delgado. Apesar disso, faz parte do programa do MDV reflectir sobre, pelo menos, um: "A vida em primeiro lugar e em qualquer circunstância."

O MDV prefere que a educação sexual seja oferecida nas escolas através de um gabinete de atendimento - os primeiros vão surgir no próximo ano lectivo - ou de "acções continuadas", de sensibilização e formação de estudantes e famílias. E não vê grande interesse na existência de uma disciplina, mas sim de "momentos de síntese, porque nem sempre o adolescente é capaz de os fazer", como justifica a responsável.

Para "ajudar" os alunos, o MDV quer trabalhar em conjunto com os pais, "que são os educadores primários". Graça Mira Delgado explica que, independentemente da formação dos familiares, a função do movimento é "ajudá-los na tarefa educativa". "O nosso papel é sempre de complementaridade e isso é importante na vida do adolescente, para que exista um equilíbrio entre o que ouve em casa e na escola", sustenta.

Assim, o MDV realiza "encontros de reflexão", onde são feitas "propostas" aos pais. Ao mesmo tempo, vai sendo feito um trabalho com os filhos, em ambiente de sala de aula - entre 8 a 12 sessões. Estas são sempre realizadas por alguém exterior à escola, um técnico ou um professor com formação feita pelo movimento.

O Movimento de Defesa da Vida foi criado em 1977, quando se discutiu a despenalização do aborto. A filosofia do movimento, que é apolítico e arreligioso, é a "defesa da qualidade de vida, antes e depois do nascimento", conclui Graça Mira Delgado.

in "Público"


João

Re: Sexo, liberdade e comportamentos de risco
Escrito por: ana paula (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 11:10

E eu que pensava que era um movimento de defesa da vida...
Afinal é um movimento que defende a qualidade da vida...
Ora que nuance interessante....




ana



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