Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Arquivo - Geral

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Página actual: 4 de 20
Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de October de 2002 10:55


Luís, sim, foi a Igreja quem "criou" a Bíblia... Deus deu à sua Igreja o poder para tal. Não é à toa que o máximo que o Protestantismo pode afirmar dogmaticamente acerca da Bíblia é que é uma "colecção infalível de livros infalíveis", porque esses livros foram, historicamente, canonizados. Diversas comunidades judaicas consideraram diferentes colecções de livros como inspirados e Lutero, no séc. XVI, deu-se a si mesmo o direito de excluir os livros dêutero-canónicos. Então quem teria "criado" (claro, é a escrita da Revelação de Deus aos homens e não criação destes) as diversas "Bíblias", Luís? Não me vais dizer que foi Deus que decidiu, pois não? É preciso discernimento e autoridade "cá em baixo" para tal, como para tantas outras coisas... Por exemplo, para definir todas as questões conciliares de que o Alef falou.

Alef, tens toda a razão!! Eu vinha precisamente pedir desculpas porque ontem estava a pensar nisso e apercebi-me de que fiz confusão entre o Concílio de Niceia e o de Éfeso... Mea culpa, mea culpa! ;o) Até já me tinha referido correctamente ao Concílio de Éfeso na minha mensagem, precisamente neste tópico, do dia 26/07/02...

Eu não sou "mariocêntrico"! Aliás, devias ter sido mais prudente antes de me definires como tal (é uma heresia como qualquer outra) e, em vez de o afirmares, colocá-lo como questão! :o) Podias ter lido com atenção o que tenho escrito, até neste mesmo tópico, em vez de me catalogares tão instantaneamente, mas enfim... Até já mencionei "Theotokos"...

Eu sou MUITO cristocêntrico! :o) Certamente que a maior parte das confusões que vemos aqui retratadas em relação a Maria (do tipo afirmar que Maria não é "Mãe de Deus", que não é "essencial", etc.) carecem de um esclarecimento que eu já procurei esclarecer, de forma simples, com várias ideias. De facto, para nós, Deus nada seria sem Cristo. É Ele o Verbo de Deus Encarnado, a Palavra, a Revelação, o Filho de Deus. Agora, quanto a Maria, tem muito que se lhe diga... É claro que tudo tem a ver com a relação entre Deus e Maria, única, tal como é Único o seu Filho.

Alef, devias ter sido prudente outra vez, quando afirmaste que "não houve qualquer questão mariológica" nesse Concílio... Certamente que não se fazem Concílios só para "louvar" alguém, nem a Deus... Os Concílios, até ao Vaticano II, foram provocados por questões doutrinárias que colocavam em causa a unidade e a veracidade da fé católica, sobre as quais era necessário afirmar, por um lado, o que é heresia e anátema, e por outro, o que é a fé católica. Nestes tempos de "ecumenismo", a Igreja não parece ter grande vagar em "anatemizar" muito mais. Aliás, a fé já está (quase toda?) estabelecida. Mas nunca se sabe, com os revisionismos que há para aí... Talvez em breve tenhamos um outro para formular dogmaticamente posições relacionadas com a bioética e com o 4.º dogma mariano, de Maria como Nova Eva e Co-redentora com Cristo. Isto ajudaria até, se existir uma sensibilização aprofundada e adequada, a deixar claro os abusos desses "mariocentrismos", colocando Maria no lugar que lhe pertence nos corações dessas pessoas (na sua maioria, senhoras idosas e suas filhas).

Mas como sabes, os Concílios vão-se desenvolvendo a partir dos assuntos que o provocaram e, neste caso, foi apenas natural que se estabelecessem "louvores mariológicos", fruto de uma compreensão inicial mais aprofundada acerca da Natividade, em que esse mesmo Concílio acabou por concluir. Aprofundou-se a liturgia, por exemplo, e foram incluídos louvores a Maria. Penso que se passou a rezar mais o Magnificat e mais tarde, estabeleceu-se o nosso conhecido "Avé Maria", o Terço, o Rosário e as Novenas... Verás do que estou a falar se leres as Homilias proferidas nesse Concílio, por exemplo, as de santos como Cirilo de Alexandria. Farei uma citação de uma delas numa próxima mensagem.

Fizeste uma análise pormenorizada que é muito agradável de ler aqui no Fórum. :o) O meu obrigado.

Mas, quanto a Maria, é necessário ir mais longe do que o que tu avançaste. É necessário não encará-la como "testemunha qualificada" (que expressão tão cinzenta!), mas amá-la. Amá-la profundamente, como devemos fazer com tudo aquilo que diz respeito a Deus. Assim, como acontece com essas "coisas", ficaremos com um coração mais dilatado para pôr tudo lá dentro... E para ainda adorar a Deus acima dessas "coisas" particulares.

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de October de 2002 11:14


E já agora, na continuação do que disse, ela é nossa auxiliadora! Ou seja, nós não só a devemos amar como, ainda de forma especial em relação a qualquer outro santo, pedir o seu auxílio, a sua oração, a sua intercessão.

Ela tanto nos ouve que é a enviada por Deus em tempos atribulados (veja-se a situação local e internacional vivida na época de aparições como Guadalupe, Lourdes e Fátima...) para renovar a nossa esperança e recomendar que, de novo, nos coloquemos sob sua protecção. Afinal, quem deu à luz o Filho de Deus e foi assumpta aos Céus, deve também ter lá, e tem, um lugar muito especial.

Esquecemo-nos de falar nestas coisas mais "transcendentes", não foi? Hoje em dia, movidos por uma inquieta recusa de Deus e uma procura por explicações alternativas para os fenómenos (porque para essas pessoas, outra explicação tem de facto existir, já que Deus não existe e Cristo não passou de mais um "profeta" fundador de uma nova "religião"), já há quem diga que Fátima foi um caso de ovnilogia... Mais que isso, autêntica "aparição e contacto extra-terrestre", manipulado pela Igreja em seu favor.

Razão tinha Chesterton: "Quando se deixa de acreditar em Deus Todo-Poderoso, acredita-se em tudo."

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 17 de October de 2002 13:18


Estou a juntar um conjunto de textos patrísticos e hagiográficos, retirados de várias celebrações da Liturgia das Horas, que muito nos esclarecerão sobre aquilo que devemos acreditar acerca de Maria.

Deixo, para já, aquela que mencionei, de S. Cirilo de Alexandria, citada no Ofício de Leitura da Memória (Facultativa) da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, celebrada a 5 de Agosto.

Alef, presta atenção... ;o) Aqui fica:


«Depois do Concílio de Éfeso (431), em que a Mãe de Jesus foi aclamada Mãe de Deus, o papa Sisto III erigiu em Roma, no monte Esquilino, uma basílica dedicada à Santa Mãe de Deus, mais tarde designada «Santa Maria Maior». É esta a Igreja mais antiga do Ocidente que foi dedicada a Nossa Senhora.»

Da Homilia de S. Cirilo de Alexandria, bispo, proferida no Concílio de Éfeso (Séc. V)

(Homilia 4: PG 77, 991.995-996)

- Louvor de Maria, Mãe de Deus

«Contemplo esta assembleia de homens santos, alegres e exultantes, que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, aqui acorreram prontamente. Por isso, embora eu estivesse oprimido por uma grande tristeza, este espectáculo de santos padres enche-me de alegria. Vemos realizadas nesta reunião aquelas formosas palavras do salmista David: "Oh como é bom e agradável o convívio dos irmãos!"

Nós Vos saudamos, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria, Mãe de Deus.

Nós Vos saudamos, ó Maria, Mãe de Deus, venerando tesouro de toda a terra, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, ceptro da doutrina verdadeira, templo indestrutível, morada d'Aquele que nenhum lugar pode conter, Mãe e Virgem, por meio da qual nos santos Evangelhos é chamado "bendito O que vem em nome do Senhor."

Nós Vos saudamos, ó Maria, que trouxestes no vosso seio virginal Aquele que é imenso e infinito; por Vós, a santa Trindade é glorificada e adorada; por Vós, a cruz preciosa é adorada no mundo inteiro; por Vós, o Céu exulta; por Vós, alegram-se os Anjos e os Arcanjos; por Vós, são postos em fuga os demónios; por Vós, o diabo tentador foi precipitado do Céu; por Vós, a criatura decaída é elevada ao Céu; por Vós, todo o género humano, sujeito à insensatez da idolatria, chega ao conhecimento da verdade; por Vós, o santo Baptismo purifica os crentes; por Vós, nos vem o óleo da alegria; por Vós, são fundadas as Igrejas em toda a terra; por Vós, os povos são conduzidos à penitência.

E que mais hei-de dizer? Por Vós, o Filho Unigénito de Deus iluminou aqueles que "jaziam nas trevas e na sombra da morte"; por Vós, os Profetas anunciaram as coisas futuras; por Vós, os Apóstolos pregaram aos povos a salvação; por Vós, os mortos são ressuscitados; por Vós, reinam os reis em nome da santa Trindade.

Quem de entre os homens é capaz de celebrar dignamente os louvores de Maria? Ela é mãe e virgem: oh realidade admirável, oh surpreendente maravilha! Quem alguma vez ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem poderá considerar ignomínia o facto de tomar a própria serva como sua mãe?

Vede como tudo exulta de alegria; queira Deus que todos nós reverenciemos e adoremos a Unidade, que em santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrarmos os louvores da sempre Virgem Maria, templo santo de Deus, que é seu Filho e Esposo imaculado. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amen.»

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 07:59

João, creio ter apresentado uma visão equilibrada e correcta, salvo melhor opinião ;-) Estes textos que apresentas não contradizem o que eu disse. Nota que eu falava da questão prioritária em termos dogmáticos. Aí não há dúvida que a questão é PRIORITARIAMENTE cristológica. O aspecto da prioridade é importante. O Concílio não se reuniu porque estivesse em risco uma definição estritamente sobre Maria, mas porque estava em risco PRIORITARIAMENTE o entendimento sobre a pessoa de Jesus Cristo. Claro que o título mariano é como que o negativo fotográfico ou o reverso da moeda da questão cristológica. O que os textos que colocas mostram é esse aspecto directamente relacionado, mas não prioritário do ponto de vista dogmático quando comparado com o aspecto cristológico. É claro que a questão mariológica está lá, mas não é prioritária enquanto "mero" título mariano. É verdade também que depois do Concílio de Éfeso a devoção a Maria conheceu um enorme "boom", mas não foi a intenção primeira do Concílio afervorar as pessoas na devoção mariana. Talvez assim se entenda melhor.

Nota ainda que não podemos comparar uma homilia com uma definição dogmática...

As minhas chamadas de atenção vão no sentido de manter a salutaríssima "hierarquia de verdades". A mariologia é importante, mas não se pode antepor à Cristologia. Às vezes é uma questão de "ênfase". Tal como escrevi na minha intervenção anterior, cai-se frequentemente em exageros, como se tudo valesse o mesmo ou invertendo a ordem hierárquica das verdades, o que seria prestar um mau serviço a Maria.

Quando disse que Maria é uma "testemunha qualificada", digo algo de muito importante e não se trata de um quadro cinzento. "Testemunha" no âmbito da fé é sinónimo de mártir. Maria é simultaneamente Mãe e modelo da Igreja e neste sentido a expressão "testemunha qualificada" tem perfeito sentido, até porque não tem um sentido meramente passivo. É uma expressão que não esgota a realidade de Maria, mas que realça um aspecto (muito) importante... Nada disto obsta a que se ame Maria e quando dizes que temos que ir muito além do simples considerá-la como "testemunha qualificada", amando Maria, nada encontras no que eu escrevi que sugira outra coisa... Fui bem claro quando me referi ao culto. Mas considero ser necessário ser-se vigilante e não cair em exageros... A "Marialis Cultus" é bem clara ao dizer que o culto a Maria se subordina ao culto a Jesus Cristo e não o contrário (cfr. nº 57).

Falando em exageros, aqui ficam alguns desabafos... Há muita gente que valoriza muito mais o terço que a Eucaristia... É "tradicional" referir-se a Maria como "santíssima", mas o Espírito Santo é perfeitamente ignorado e de Jesus pouco se diz... Há quem insista que Maria é "medianeira de todas as graças", mas ignora-se que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens... Há um enorme desconhecimento da Palavra de Deus... Muitos consideram o Catecismo da Igreja Católica mais importante que o Evangelho...

Acrescente-se que há por vezes uma "estranha" sede de novidades de ordem mariológica. Alguns querem que seja estabelecido o dogma da "corredenção" e por aí adiante... Acho que valeria a pena aprofundar as causas e motivações profundas destas "reivindicações"...

Quando se esquece o central, que é a Cristologia, cai-se em discussões estéreis entre duas caricaturas de católicos: os "ultracatólicos" e os "protestantes"...

João, vejo com um certo desagrado que continuas a bater na tecla de que Deus nada seria para nós sem Maria. Embora do ponto de vista da experiência pessoal, da devoção e da consideração sobre a singularidade de Maria na história da salvação essa afirmação seja aceitável, acho muito temerário usar esta frase num debate sobre questões dogmáticas... Temerário, porque Deus deu a Maria a possibilidade de negar, mas isso não implica que Deus só tivesse esta possibilidade de Se revelar e de nos salvar.Estaria Deus submetido um determinismo de uma "única hipótese"? Nem vou sugerir "alternativas", precisamente porque acho uma discussão estéril, mas Deus é suficiente original... Como disse anteriormente, a argumentação que usas neste ponto é uma espécie de futurologia do passado. A minha sugestão é que esse argumento seja posto de parte, porque, do ponto de vista da Teologia Sistemática, não tem consistência. Uma coisa são considerações piedosas, outra é Teologia.

Repito a metáfora do dedo que aponta... No Evangelho de S. João, Maria (cujo nome nunca aparece!) aparece no início e no fim da vida pública de Jesus, mas as suas palavras quase se limitam ao "Fazei tudo o que Ele vos disser". Ela aponta-nos o Filho. Não nos limitemos a olhar para o dedo...

Uma nota extra a propósito de algumas devoções a que acima se fez referência. Embora a devoção a Maria venha já dos primórdios do Cristianismo, o terço/rosário, tal como o conhecemos hoje, é o resultado de uma evolução relativamente tardia na Igreja. As comunidades monásticas recitavam normalmente o Saltério (150 salmos). Devido às dificuldades de iliteracia muitas vezes os salmos eram substituídos por breves antífonas ou, como fizeram os monges irlandeses, no século VIII, pela recitação repetida do Pai Nosso. Segundo parece, pelo século XII os Pai-Nossos começaram a ser substituídos pela primeira parte da actual Avé-Maria (incompleta). O Papa Urbano IV (1261-1264) acrescentou à saudação a palavra "Jesus". A segunda parte ("Santa Maria...") tornou-se usual pelo século XV. As meditações dos mistérios foram sendo introduzidas a partir do século XII. No século XIII tornou-se corrente a divisão do rosário em três grupos de cinco meditações. Foi sobretudo no século XV que a devoção do Rosário se espalhou. O terço/rosário inclui, assim, três elementos-chave:

- a tradição salmódica
- a tradição antiga do louvor a Maria
- a meditação dos mistérios de Cristo.

Seria bom também falar da questão da oração (será o terço indicado para toda a gente?), mas talvez isso seja um tópico a tratar à parte, a propósito da oração... O tempo e as participações o dirão...

Shalom!
Alef

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 17:03

Obrigado Alef, penso que a tua mensagem foi bastante esclarecedora para todos.

Nas várias opiniões que tem por aqui surgido, talvez a minha tenha sido a menos "mariana" de todas, sendo acusado aqui e ali de "protestante". Mas é que com tanto "mariocentrismo" que se tem assistido, a "regra do pêndulo" obriga-me a puxar a corda para o outro lado para que se consiga um certo equilíbrio.

Concordo contigo que sempre que a figura e o papel de Maria foi abordado nos primeiros concílios, foi para destacar esta ou aquela característica de Jesus Cristo. Como dizes, e bem, Maria aponta-nos sempre para Cristo. Se queremos venerar Maria, devemos fazer o que ela nos diz e olhar para Jesus Cristo, pois é Jesus Cristo o centro da nossa fé.

Maria não é fundamental na nossa fé - é acessório. Maria tem um papel singular na história da salvação, mas não é de forma alguma o centro da nossa fé. Maria aponta para o que deve ser o centro da nossa fé.

Por vezes, ao falar com certos católicos, fico na dúvida se são cristãos ou se são marianos, pois no seu discurso falam muito mais de Maria do que de Jesus Cristo.

Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 17:11

Não me apetece estar a discutir trocos, mas parece-me que o teu conceito de "criar" é diferente do meu. Para mim, quem cria um livro é quem o escreve - o seu autor - e não a editora que o publica ou que decide quais os capítulos a incluir.

Logo, aplicando o raciocínio à Bíblia Sagrada (e a palavra deve-se a Deus e não à Igreja), o autor da Bíblia é o Espírito Santo, ou se se preferir - Deus. A Bíblia é uma colecção de livros infalíveis não por terem sido canonizados mas por terem sido escritos por inspiração divina e por isso canonizados. E se foram canonizados pela Igreja, foi com o auxílio do Espírito Santo...

Dizes que não és "Mariocêntrico", mas olha que disfarças muito bem :-)

Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 17:32

Alef, aproveito a tua deixa sobre a oração para fazer um pequeno comentário sobre o Rosário e a nova Cartta Apostólica Rosarium Virginis Mariae. Caso pretendas desenvolver, podermos iniciar um novo tópico.

Na tua mensagem, fizeste uma boa descrição desde o surgimento do Terço/Rosário até aos dias de hoje. Duma forma sumária
1) começou por ser a recitação dos 150 salmos - textos da Bíblia Sagrada escritos por inspiração divina e fonte priveligiada da doutrina cristã;
2) para simplificar, passou-se a recitar repetidamente (150 vezes) o Pai-Nossos - a oração que Jesus nos ensinou para rezar a Deus;
3) gradualmente, foi-se substituindo o Pai-Nosso pela Avé-Maria, e meditando-se episódios da vida de Jesus Cristo;
4) hoje, e para muitas pessoas é uma oração de louvor Maria, sendo sobretudo no mês de Maio e Outubro que alguns crentes rezam o terço com mais frequência: Maio por ser o mês de Maria.

Isto é, uma oração que teve por base algo central na nossa doutrina - A Bíblia - evoluiu até aos dias de hoje para uma oração de louvou a Maria - algo acessório na nossa fé.

João Paulo II, aproveitando o dia do vigésimo quarto aniversário do seu pontificado, escreve uma carta apostólica (que ainda não tive oportunidade de ler detalhadamente, pelo que não me vou alongar, ficando para mais tarde o meu comentário) valorizando a oração do Rosário, e a adição de novos cinco mistérios da vida de Jesus Cristo na sua meditação - os Mistérios Luminosos.

Como católico, respeito a vontade do Santo Padre, pastor da Igreja Católica. Todavia, teria ficado muito mais feliz (e na minha humilde opinião, seria mais oportuno) que o Santo Padre escrevesse uma carta apostólica sobre a importância do estudo bíblico e que servisse de dinamização do movimento Bíblico.

Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 17:48


Alef, nós estamos de acordo. Acontece que eu estou bastante seguro (?) da minha "devoção cristológica" de tal modo que, para mim, Maria fica sempre no lugar certo. Daí eu não temer em dizer, tal como espero que entendam (e como noto que já entendeste), que para mim, Deus nada seria sem Maria. Aí está o quanto a devemos venerar...

Engraçado é que eu nunca rezei nem o Terço nem o Rosário sozinho... E quando o rezei, em grupo, nunca por minha iniciativa própria, que me lembre, não chegaram essas vezes às quatro ao longo de toda a minha vida. Por isso, como vês, eu entendo Maria num contexto de profundo amor para com quem ela foi na relação com Nosso Senhor. E o papel dela na História da Salvação não deve jamais ser descurado por a subordinarmos a Ele: de modo algum, nem isso se justificaria.

Olha Alef, tens de te cingir ao que eu te digo. Senão começas a falar sobre as coisas de que já ouviste acerca dos mesmos assuntos e confundes as opiniões que conheces com as minhas. Assim não nos entendemos. Essa "futurologia do passado" nada tem que ver com o que eu disse. Afinal, se Deus habitou profundamente em Maria desde a sua concepção, como poderia ela negá-lo? Aí está, ela é a Nova Eva, tal como Cristo o Novo Adão (ainda que os seus "papéis", já diferentes entre Adão e Eva, também sejam essencialmente diferentes mas profundamente complementares entre Maria e Jesus). Portanto, Deus não abençoaria assim a Maria e depois esperar que acontecesse essa "alternativa" ou "segunda hipótese". Aí reside a unicidade de Maria. Deus já sabia o que haveria de esperar dela. Aliás, se ela O negasse, seria um grave pecado... E como poderia pecar a Cheia de Graça? :o) Como vez, é mesmo uma discussão estéril e eu não falei nesses moldes.

A questão da mediação e da intercessão não tem que ver com "intermediários", como muitas vezes se confunde. Aliás, existem Três Pessoas em Deus: isso não vos deixa confusos quando não sabem a quem rezar, principalmente ao Pai ou ao Filho? :o) Mas a questão está na intercessão. Doutrina que eu ainda não aprofundei, lá chegarei... Se fizeres o favor de nos proporcionar para já algumas explicações, tu que pareces estar por dentro destes assuntos... :o)

Quando dizes que há quem diga que o Catecismo é mais importante que o Evangelho, eu digo-te por mim que o Catecismo é mais importante que as nossas ideias particulares sobre o Evangelho. É necessário não os separar porque um é a resposta da Igreja ao que na Escritura ficou definido. Logo, são consequentes.

Quanto às reivindicações por novidades, a Cúria sabe lidar com elas. Mas isto não seria nenhuma novidade, porque todos os dogmas marianos permaneceram naquele silêncio de Maria ao longo de muitos séculos; chegado o momento, foram compreendidos e definidos. Mas compreendo que nem todos (talvez a maior parte) sejam motivados por este anseio simples, paciente e silencioso de compreender melhor a Nossa Mãe. Por isso, por esse silêncio, deve-se também a leve referência evangélica a Maria.

Não será que ela é tão importante para Deus que Ele nos quer que a entendamos devagarinho? Principalmente para a entendermos correctamente, naquele contexto cristológico. Faz sentido, quando vemos a pressa em tanta gente por colocar a sua devoção a Maria fora do contexto mais abrangente da devoção à Cruz e à Eucaristia, amando e adorando a Deus acima de todas as coisas. Até porque quando louvamos Maria, estamos realmente a louvar o quanto Deus realizou nela, também devido à forma única e exemplar como ela lhe respondeu. De facto, ela, a Cheia de Graça, não tinha alternativa, "direito à escolha". Aqui fica uma importante (importantíssima!) referência ao aborto e como o "direito à escolha" foi absolutamente negado, pela positiva, a Maria. Entender este mistério resolveria em nós tantos dilemas em relação a Deus...

Sabes, Alef, aqui há uns anos atrás, quando soube que o Rosário era originalmente a recitação do Saltério, fiquei entusiasmado em poder usar essa meditação sem todas aquelas devoções marianas, pois achava-as demasiado "pagãs". Mas hoje, que entendo Maria num contexto mais alargado, considero que o Rosário, e agora ainda mais com o recente apelo à renovação dessa devoção pelo Santo Padre, tem realmente profunda qualidade meditativa. Isto é, se for realizado com cuidado, atenção e intenção silenciosa, por amor e não por "costume". Ainda bem que a Igreja vai, assim, enriquecendo espiritualmente a sua Tradição.

Eu faço um grande paralelo entre o Espírito Santo e Maria. De facto, Maria é uma excelente imagem para o Espírito Santo, Ele que desposou a Igreja.

Aliás, em vez de chamarmos a esta era, como cada vez faz mais gente, de "Nova Era" (New Age), devíamos isso sim chamar-lhe "Era de Maria" ou "Era do Espírito Santo". Pelo menos, deveríamos desde já chamar-lhe "Era da Nova Evangelização"! :o)

Agora, quanto à oração, eu considero que o Rosário é algo de "avançado". Ou seja, um jovem não deve meditar o Rosário mas sim orar silenciosamente. Aliás, se eu tivesse começado por meditar o Rosário, hoje dar-lhe-ia muito menos sentido, provavelmente. Mas afinal, um Terço rezado com tempo e vagar será também enriquecedor para o jovem e não acho que nada se perca.

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 17:56


Eu tenho andado a ler umas coisas no sítio [www.voxpopuli.org] onde se informa e se propõe sobre o 5.º dogma mariano. Aconselho-o devido à boa informação que contém. Tem também um discurso nada chato nem reivindicativo e é agradável de ler.

Queria só dizer-vos que espero colocar aqui na próxima 2.ª ou 3.ª aqueles textos patrísticos e hagiográficos para neles meditarmos. Consegui encadeá-los numa ordem magnífica, entre vários séculos, desde o II ao XX, e teremos assim em primeira uma ideia do desenvolvimento do conhecimento de Maria ao longo da História. Claro, não é nada de exaustivo, mas mantém, embora sem exaustão, uma profunda qualidade intelectual.

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de October de 2002 19:39

Caro Luís:

Permito-me discordar de um aspecto. O facto do culto mariano não ser o essencial do essencial (o essencial do essencial é o Mistério Pascal) não faz de Maria algo acessório. Explico porquê. Acho que Maria é muito importante no Cristianismo, porque pode ser uma grande ajuda para combater a primeira heresia da história da Igreja: o gnosticismo. Grosso modo, o gnosticismo é uma heresia que reduz a prática do Cristianismo ao CONHECIMENTO de umas tantas verdades reveladas a uns quantos iniciados (neste sentido trata-se de esoterismo). Muitos acabavam por negar que a morte de Jesus fosse real. O Evangelho de S. João, que foi escrito já tardiamente, tem alguns incisivos que são claramente contra este grupo. Veja-se a solenidade de João 19:35-37. Vários dos evangelhos apócrifos (por exemplo, o de S. Tomé) são gnósticos. O gnosticismo continua a ser uma tentação de muitos cristãos, sobretudo dos mais "letrados" e consiste em medir a qualidade do Cristianismo pelo grau de instrução teológica. Ora, é necessário alguns cuidados. Como sabemos, o Evangelho é claro que o que conta é a prática do amor (veja-se a parábola do "bom samaritano"). Por outro lado, o Cristianismo não é para uns tantos iniciados (ao jeito esotérico e gnóstico), mas para todos ("Ide e evangelizar todos os povos").

Que tem Maria a ver com isto? Em Maria temos um modelo importante da própria vida cristã. Não é o conhecimento que salva, mas Jesus Cristo. Não é o muito saber que nos salva mas o muito amar. O Cristianismo é também para o povo simples e a piedade mariana realça esse aspecto. Por outro lado, os dogmas estritamente marianos dizem-nos algo de muito importante sobre a vida cristã. O dogma da Imaculada Conceição "fala-nos" daquilo que Deus quer fazer de nós, restaurando-nos da condição de pecadores. Maria torna-se como que o protótipo da graça que o baptismo opera no cristão. O dogma da Assunção de Maria é igualmente paradigmático, porque nos "fala" do projecto de Deus para nós no fim da nossa caminhada como indivíduos e como Igreja. No final da sua vida ela foi ASSUMIDA (é o que significa "assunção") por Deus em corpo e alma, isto é, em toda a sua realidade. É protótipo daquilo que nos espera: a comunhão plena com Deus na totalidade daquilo que somos. O nosso corpo faz parte integrante da nossa personalidade, do nosso ser sujeito, pelo que no fim também a nossa realidade corporal glorificada estará em união com Deus. Dois bons autores que falam sobre esta matéria: Schilebeeckx e Karl Rahner.

Como falei de muitas coisas, não sei se fui claro, mas aqui vai algo mais da "tentação gnóstica". Parece-me que a tentação gnóstica é maior em muitas igrejas protestantes por se acentuar tanto o conhecimento bíblico alheio à Tradição (isto está a mudar muito, já que cada vez mais vejo os teólogos protestantes a sublinhar a Tradição). Isso faz com que alguns dêem a impressão de que o juízo final não será sobre o amor que praticámos (cfr. Mateus 25) mas sobre o que sabemos de cor da Bíblia ;-) Todavia, na Igreja Católica também há a tentação do gnosticismo, a vários níveis. Estou a pensar, por exemplo, no desdém militante com que alguns párocos e teólogos tratam da religiosade popular. A religiosidade popular tem muitos aspectos contaminados de paganismo, mas o zelo em dar formação às pessoas não pode levar à situação de "deitar fora o bebé com a água de lhe dar banho". Isso aconteceu em muitas igrejas protestantes, levando ao racionalismo... Um exemplo "católico" caricato: em algumas das nossas paróquias houve párocos "iluminados" que probiram as pessoas de comungar pela boca, porque supostamente só é "moderno" comungar pela mão... Isto é não ter percebido algo de muito importante... [Note-se que nada tenho contra a comunhão na mão!] Curiosamente há exemplos contrários bem curiosos. Há já bastantes anos um teólogo de renome internacional (diria que foi Rahner, mas parece-me que foi outro) espantou muita gente quando se deslocou a Fátima, pois foi comprar uma vela para pôr a queimar!

Maria pode ser de grande ajuda para que o desenvolvimento da nossa "afectividade religiosa". Não disse "absolutamente necessária", mas direi "muito importante" . Mas os caminhos para Deus e para santidade são muitos: os "marianocêntricos" acentuam o "por Maria a Jesus" - estou a lembrar-me da metáfora do pescoço que alguém usou - mas é preciso dizer que se pode chegar a Jesus sem ser por Maria; do que não se pode prescindir é do Espírito Santo!

A vida cristã é uma vida de tensões. Uma delas é a tensão entre o pietismo (em que as devoções marianas podem cair) e o racionalismo (em que os mais "protestantes" podem incorrer). Curiosamente estes dois extremos foram condenados no Concílio Vaticano I (século XIX).

Resumindo: Maria não é o essencial do essencial, mas tem um papel muito importante, que não deve ser esquecido. Curiosamente Lutero escreveu alguns textos sobre Maria de uma grande beleza. E muitos protestantes estão a redescobrir Maria. O "Manifesto de Dresden" (1982), assinado por teólogos luteranos, é extraordinário no que mostra de redescoberta de Maria.

Shalom!

Alef
aleftau777@hotmail.com

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 19 de October de 2002 22:09

Olá Alef,

Concordo contigo, pois talvez não tenha explicado correctamente o que pretendia dizer, sobretudo no uso do termo "acessório" e o significado que o termo possa ter.

Pensando uma segunda vez na ideia que pretendia transmitir, aceito que "acessório" minimize o papel de Maria. Penso que já tinha dito, mas aproveito para reforçar, que considero que Maria tem um papel importante, todavia não fundamental.

Daí o "acessório" como sendo o "não fundamental". Talvez "facultativo" tivesse sido mais correcto. Isto porque, tal como tu dizes: «... se pode chegar a Jesus sem ser por Maria.»

Quanto à prática do Cristianismo, creio que aí não restam dúvidas que seremos julgados pelo quanto amámos o próximo. Na minha opinião, o conhecimento que temos de Deus (e da Bíblia) serve sobretudo para compreendermos melhor o amor de Deus pelo Homem, e assim, aumentarmos a nossa fé e o amor pelo próximo.

Um abraço,
Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 21 de October de 2002 12:46


É bom ver um fenómeno curioso neste fórum: uma das raras vezes em que três pessoas que se vão alongando em argumentos, finalmente confirmam consensos sobre um assunto! :o)

Todavia, peço-vos que reflictam sobre o segundo maior Mistério do Cristianismo, sendo o primeiro (mas não será que são ambos "absolutamente essenciais"?) o Pascal, o da Encarnação. Aqui está a importância (vitalíssima!!) de Maria. Não esqueçamos tudo pelo qual Maria passou e sentiu por Cristo, sentimentos que também nós devemos acalentar. Não esqueçamos que Maria acompanhou Jesus na sua Paixão, sendo até martirizada no seu coração, bem como estava com os Apóstolos no Pentecostes. Não esqueçamos também as descrições do Livro do Apocalipse (e tantos outros pormenores, já para não falar nas aparições). Mas atentemos, para já, na Encarnação do Verbo.

Penso que temos de separar duas coisas de que temos falado: a vinda de Jesus até nós e a nossa ida até Ele. Ora, nesta nossa aproximação consideram vocês que (penso que o Luís concordou totalmente com a síntese nesta expressão do Alef) "Maria pode ser de grande ajuda para o desenvolvimento da nossa "afectividade religiosa", não "absolutamente necessária", mas "muito importante". Se isto é verdade para nós, certamente que não foi verdade para Jesus! Entendem? A ENCARNAÇÃO QUE SE REALIZOU EM MARIA É ABSOLUTAMENTE ESSENCIAL PARA QUE NOS POSSAMOS APROXIMAR DE DEUS COM CONFIANÇA, COMO FAZEMOS EM RELAÇÃO A JESUS. É nisto que vos peço que pensem. Não estaremos nós a pensar no Cristo de hoje (e de sempre) e pouco no de ontem? Muito no que ressuscitou e pouco no que nasceu?

É nisso que Maria é "absolutamente necessária". Talvez não na nossa devoção particular como aproximação espiritual ao amor de Deus (aí está, o Espírito Santo), nem para a intercessão das graças (?), mas certamente na nossa forma de viver em relação a Cristo, tornando-nos santos, pois se foi por ela que "temos, de todo, um Jesus", é porque ela foi verdadeiramente "cheia de graça", como nós, "pequenos cristos", nos propomos a ser.

Entre a "imitação de Cristo" e a "imitação de Maria", só podemos imitar ambos! Imitamos a humanidade divina de Jesus (à qual é absolutamente impossível nos assemelharmos), mas também a humanidade imaculada de Maria. Daí se estabelece a profunda unidade espiritual entre ambos com que se medita o Rosário: através dos "olhos" de Maria, na sua "escola". Esta unidade deriva do próprio corpo e sangue de Cristo, carne e sangue corporais que tiveram sua origem em Maria pelo Espírito Santo, carne e sangue gerados no seu ventre maternal e imaculado. Pensem bem: na Eucaristia, adoramos também o quanto por Maria foi atribuído a Jesus! O Corpo e Sangue de Cristo não parecem tão "transcendentes e ocultos" quando compreendemos que são a "extensão" da acção do Espírito Santo, o qual, primeiro no imaculado ventre e tabernáculo de Maria e agora no ventre de cada um de nós, nos torna possível a Salvação, dando-nos a vida eterna, transfigurando-nos agora em "outros cristos"! :o)

Percebem como nunca é uma questão de opção por uma "devoção mariana" o que faz com que Maria seja "absolutamente necessária"? É porque ela foi e continua a ser "absolutamente necessária" cada vez que comungamos...!

Acolham isso no vosso coração e verão como, talvez, antes da Celebração, o sentirão a palpitar de alegria por terem meditado nas verdades misteriosas e salvíficas de Nosso Senhor, através do amor maternal e martirizado de Nossa Senhora (eu, por ter ensaio do coro antes, nunca o posso fazer) através de algo tão bonito como uma entrega de "um arranjo de rosas" (das nossas "rosas" - pensamentos, orações, pecados e intenções), um Rosário, por amor.

Alef, gostei muito dos teus pormenores, não só em relação à heresia gnosticista mas também em relação ao exagero do menosprezo para com as devoções populares. A prudência é certamente fruto de uma sabedoria que também demonstras. :o)

Em relação às citações que me comprometi a deixar-vos, lá terão de ficar para amanhã. Julgo que serão mesmo muito úteis, após troca de impressões (os textos ainda são de vários séculos distantes entre si, e mesmo assim não dizem "tudo"), para chegarmos à benfazeja unidade de que a Igreja tanto precisa. E Maria, figura da Igreja, a quem está confiada a causa da conversão dos pecadores, da paz e da união entre todos os povos, certamente que sentirá correspondidas as suas mensagens.

Já leram a Carta Apostólica sobre o Rosário? Achei-a fenomenal e autenticada com uma profundidade que me fez anelar por começar em breve a fazer do Rosário uma devoção realmente especial no meu coração, como o Santo Padre tão demonstravelmente explanou que merece. Espero que se edite em breve os formulários com as meditações do Rosário, integrando já os novos mistérios luminosos. Estou, para dizer a verdade, ansioso como pelo primeiro beijo! ;o)

Ah! E este ano será o "Ano do Rosário"! Não deixem passar a oportunidade sem, fazendo também uso da vossa criatividade, levarem a cabo um aprofundamento desta prática espiritual, que promete renovar a qualidade contemplativa da nossa oração, se seguirmos atentamente as recomendações papais (incluindo também as de Paulo VI, por exemplo).

E não se esqueçam que, em Maria, Deus esteve sempre acima de tudo na sua vida! Que seja assim com a nossa também!

Todos a Jesus, ao jeito de Maria! :o)
João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 21 de October de 2002 13:10


Já agora, só uma nota quanto à Bíblia a qual parece estar pouco esclarecida.

Existe uma absoluta interdependência entre a Escritura e a Igreja. Isto porque o que foi escrito por inspiração divina e que veio a constituir o Novo Testamento foi escrita pelos Apóstolos, que eram a Igreja insipiente. Ora, diversas citações na Escritura aponta-nos para uma unidade estruturada e hierárquica nesta Igreja, bem como um Magistério. Vou-me abster de citações agora, mas fá-lo-ei em breve num outro tópico. De qualquer forma, isso é para mim evidente do que nos diz a Igreja acerca da Escritura: Deus confiou-a a nós, juntamente com tudo aquilo que nos foi dado a preservar e comunicar aos homens. Daí a importância essencial da cátedra petrina e a infalibilidade da Igreja na orientação daquilo que é a verdadeira fé. Mas enfim, este não é tópico mais indicado para desenvolver este assunto.

Luís, pensa sobre a problemática entre a interpretação pessoal da Bíblia, mesmo que por cada uma das igrejas (é a interpretação pessoal institucionalizada!), exceptuando em parte a Ortodoxa (que mesmo assim já se desvirtuou em vários assuntos).

Ainda quanto ao amor a Deus, há uma expressão conhecida escrita por S. João Clímaco da qual me afeiçoei: "Quando a nossa alma partir desta vida, não seremos acusados por não termos operado milagres, nem por não termos sido teólogos, nem por não termos tido visões, mas teremos todos certamente de dar contas a Deus por não termos chorado incessantemente pelos nossos pecados".

Acho que isto diz tudo... se tivermos coração. E se preferirmos sofrer a odiar, como Jesus nos ensinou a viver, por amor...

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 21 de October de 2002 15:02

De facto conseguimos um consenso: o centro do Cristianismo é Jesus Cristo, e Maria tem um papel importante na história da salvação, mas não é fundamental para a nossa fé. E quando se alcança o consenso, nada melhor que partir novamente para outros pontos, pelos vistos, nada consensuais.

João, penso que o Alef já tinha explicado muito claramente que não faz sentido continuarmos a bater na mesma tecla de que "Maria é absolutamente necessária". Penso que já tínhamos ultrapassado isso. Na medida em que voltas "à carga" e tentas atribuir a Maria o tal papel fundamental que ela não tem no Cristianismo, justificas assim a minha opinião de te considerar "Mariocêntrico".

Em suma, Maria tem um papel importante, mas é possível chegar a Cristo sem ser por Maria. Pelo que não é legítimo que quase se obrigue a seguir Maria para se chegar a Cristo. Não confundamos as coisas.

Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 21 de October de 2002 15:33

Quando te referes aos apóstolos estás a referir apenas ao grupo dos "Doze" discípulos? Nesse caso, poucos dos livros do Novo Testamento foram escritos pelos discípulos. Se não me falha a memória, apenas o evangelho de S. Mateus e algumas das Cartas Católicas. Fico na dúvida para com o evangelho de S. João, mas como foi o último a ser escrito, provavelmente já não foi escrito por nenhum dos discípulos (já não estariam vivos...).

S. Lucas não pertencia ao grupo dos Doze, pensa-se que seria seguidor (talvez secretário) de S. Pedro. S. Paulo também não era discípulo. A sua conversão dá-se bastante tarde. Claro que todos os livros do NT nasceram de comunidades de seguidores de alguns dos discípulos, mas não foram escritos por estes.

Depois, apenas te referes ao Novo Testamento. Ora a Bíblia é mais que o Novo Testamento. Existe também o Antigo Testamento e é tão importante para o Cristianismo como o Novo Testamento: são como duas metades da mesma laranja. Pelo que o raciocínio que fazes entre a Escritura e a Igreja não é válido, pois o AT é muito mais antigo que a Igreja e forma escritos antes de Jesus nascer.

Aliás, sabes perfeitamente que consideramos três fontes do Cristianismo:
1) a primeira e a mais priveligiada - a Sagrada Escritura. Composta por 73 livros (46 do Antigo Testamento, 27 do Novo Testamento);
2) a Tradição - que de geração em geração foi passando o saber e a vivência da fé;
3) o Magistério - composto pela hierárquia da Igreja, ou talvez de forma mais correcta, o colégio dos Bispos.

Aquilo que já numa outra mensagem tentaste transmitir quando disseste que foi a Igreja que criou a Bíblia, e tentas novamente quando mencionas a "...a bsoluta interdependência entre a Escritura e a Igreja" é colocar o Magistério como única fonte do Cristianismo. Ora, não é a única, nem a principal.

Luis

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 21 de October de 2002 19:38

Caro João:

Cito duas afirmações tuas e comento brevemente.

1. «Aqui [na Encarnação] está a importância (vitalíssima!!) de Maria. Não esqueçamos tudo pelo qual Maria passou e sentiu por Cristo, sentimentos que também nós devemos acalentar.[...] A ENCARNAÇÃO QUE SE REALIZOU EM MARIA É ABSOLUTAMENTE ESSENCIAL PARA QUE NOS POSSAMOS APROXIMAR DE DEUS COM CONFIANÇA, COMO FAZEMOS EM RELAÇÃO A JESUS.».

Para não me repetir, cito Lucas 11:27-28:
«Uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: "Feliz aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito". Mas Jesus respondeu: "Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática"».
Já sabemos que este texto em nada desprestigia Maria, mas corrige a perspectiva. Não é propriamente a ligação "carnal" que de Maria alguém muito especial, mas a ligação em que foi exímia e que também está ao nosso alcance, porque também recebemos o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo nunca "perceberemos" que Jesus é o Senhor (1Cor 2:3)

2. «Na Eucaristia, adoramos também o quanto por Maria foi atribuído a Jesus! O Corpo e Sangue de Cristo não parecem tão "transcendentes e ocultos" quando compreendemos que são a "extensão" da acção do Espírito Santo, o qual, primeiro no imaculado ventre e tabernáculo de Maria e agora no ventre de cada um de nós, nos torna possível a Salvação, dando-nos a vida eterna, transfigurando-nos agora em "outros cristos"!»

Esta afirmação pode facilmente resvalar para uma visão "fisicista" da presença Eucarística. Não nos esqueçamos que a presença eucarística de Jesus, enquanto "Corpo e Sangue de Cristo" é a presença de Jesus Ressuscitado, é a presença de um Corpo glorioso!

Alef
aleftau777@hotmail.com

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 16:32


Luís, és tu quem volta à carga. Ainda não percebi essa tua divisão "centralista" entre Deus e Maria na pessoa de Jesus. Penso até que se a tua fé fosse de uma libertação em Cristo, não terias tanta obsessão em relegar Maria para um plano mínimo (se a tua fé fosse firme, não temerias cometer idolatria ao venerar Maria). Esse efeito de contra-balanço, de que falaste, não resulta. Todas as revoluções padecem desse defeito, o de abusar do que não era permitido ou de eliminar o que não parecia autêntico (ou o que agora já não está na moda) não queiras tu também errar, para não andarmos depois a recuperar a verdadeira devoção à Santíssima Virgem, perdida por entre as passadas largas do exclusivismo. Cuidado...

É óbvio que não percebeste nada do que escrevi. Será que o leste bem antes de responderes? Fico na dúvida... Aquilo de que eu falei tinha que ver com a Encarnação e fiz claramente a separação entre a necessidade de Jesus provir tanto de Deus como de Maria, ou seja, por Deus e por Maria (consequentemente) e a nossa necessidade de, por Maria, compreender Jesus. Se não percebeste essa separação (como se nota pelas tuas palavras), o que disseste é vão.

Ora, é óbvio que Maria é absolutamente necessária para, hoje, termos Cristo. Só não digo "foi" porque nestas coisas a vida é eterna... Mas, tal como Deus preservou Maria e a reservou para dar à luz o Filho, também o Espírito Santo, hoje, actua em nós. É através d'Ele que reconhecemos que Cristo é Deus. No caminho para O entender, compreendemos precisamente porque é que Maria foi essencial para que tal vinda sucedesse. Logo, debatendo se uma devoção à Virgem é necessária para que compreendamos se Cristo é Deus (e todas as consequências para a nossa vida), eu digo que, pelo Espírito Santo, tal é necessário. Existe uma íntima relação entre Maria e a Igreja, porque existe uma íntima relação entre Maria e a Trindade. E esta é, tanto quanto sei, sã doutrina católica e não "mariocêntrica". Já agora, resta ressalvar que, mesmo que fosse, deveria ser corrigida com temperança e não por um "cristocentrismo" exclusivista, como pareces fazer, Luís.

Alef, tens toda a razão e é esse o sentido que, em parte, quis transmitir.

Mas será que algum de vós está a par da ambiguidade da expressão "Palavra de Deus"? A Palavra de Deus não "é" a Bíblia mas É Jesus Cristo! N'Ele ESTÁ a plenitude da Revelação de Deus, Ele É o Verbo Encarnado. Por isso é necessária a Igreja que a própria Palavra (Jesus) edificou com a sua "palavra".

Por isso, Jesus diz que são ainda mais felizes os que O ouvem e praticam o que Ele manda, para além de O trazer no ventre e de O amamentar. É essa pouca importância da ligação carnal em si mesma de que falas, Alef: para além de não desprestigiar Maria de modo algum, corrige a afirmação da mulher (que apontou apenas a perspectiva carnal) e explica-lhe que mais feliz ainda foi, precisamente, MARIA, porque é a plena realização da Palavra de Deus, demonstrando-o na plenitude do seu "Fiat". Isto não é contraditório, mas apenas tão paradoxal quanto o próprio Verbo: o espiritual torna-se carnal, o Todo-Poderoso torna-se o próprio Cordeiro de Deus, o eterno torna-se mortal, o intemporal torna-se temporal...

Maria não é feliz por ter trazido a Jesus no ventre e O ter amamentado, mas porque plenamente ouviu a Palavra de Deus e a praticou plenamente, sendo feliz meramente por o praticar devotamente. Jesus ensina-nos que Maria não usou o que Deus realizou nela para se gloriar disso (uau! ser a escolhida para dar à luz e amamentar o próprio Deus!), mas para O glorificar. Maria é feliz porque trazer a Deus no seu ventre e amamentá-Lo foram a sua vontade para ela, que só pôde acolher estes mistérios no seu coração devoto e maternal. Assim deve ser connosco: compreender os mistérios de Deus, compreender silenciosamente o que nos foi revelado e não nos gloriarmos, de forma tão tipicamente farisaica, do que Deus decidiu realizar em nós. Não andam por aí tantos "mensageiros" e "profetas" de Deus que falham tão profundamente nisto (e aí demonstram a sua falsidade)?

Quanto a mim, nunca ninguém alcançará a mesma realização espiritual que Deus conseguiu em Maria. Por isso, sermos santos está ao nosso alcance mas, tal como isso depende da Graça, também não podemos dizer jamais que estaria ao nosso alcance sermos "tão" santos quanto Maria. Isso seria dizer que também poderíamos ser "cheios de graça", ao ponto da Mãe de Deus! Mas tal como Maria nunca se esforçou muito para ser "cheia de graça", e apenas fiel, também nós somos chamados a isso: deixar Deus agir. Há que, com toda a honestidade, atribuir a Maria o papel único, especial, irrepetível, inigualável e virtuosíssimo que teve na vinda do Salvador. Podemos imitá-lo, mas nunca o conseguiremos igualar (até porque sabemos que isso não faz parte do plano escatológico de Deus - Ele não enviará outro Messias, senão o Jesus já ressuscitado).

Assim que compreendamos isto não teremos dificuldades em compreender o que já S. Cirilo de Alexandria dizia:
"Quem de entre os homens é capaz de celebrar dignamente os louvores de Maria? Ela é mãe e virgem: oh realidade admirável, oh surpreendente maravilha!"

Logo, seremos motivados a "celebrar dignamente os louvores de Maria". Ainda me virão de novo com a conversa do "essencial"?? Talvez o façam porque, precisamente, como Maria nos mostra e a desdenham venerar por isso, se recusam a realizar plenamente em vós a Palavra de Deus...

A Palavra, o Verbo que criou a própria pessoa que o colocou em prática (mistério admirável: a palavra (Anunciação) torna possível a vinda da Palavra total!)... Verdadeiramente pleno, irrepetível e inigualável...

Procuremos amar, venerar e assemelhar-mo-nos a tal mistério!

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de October de 2002 21:43


Já agora, Luís, sobre a Bíblia, parece que precisas de catequese. Por favor, lê o Catecismo desde o parágrafo 65 ao 100 (não te levará uns 20 minutos) e já verás... Aconselho-te a que faças leitura extensiva, incluindo os parágrafos 108, 113 e 119, ou mesmo todos eles até ao 141. Não te esqueças de ver também os parágrafos citados na margem. Por exemplo (e podes ler mais consultando o índice), o que se diz sobre a catolicidade da Igreja, o Magistério e a infalibilidade papal.

E aproveito para mais uma vez me desculpar, mas não foi possível colocar aqui as citações... Amanhã, sem falta! :o)

João

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 24 de October de 2002 00:34

Serei eu que não tenho uma fé forte e por isso, com receio em idolatrar Maria, não a venero, ou serás tu que não tens uma fé forte e precisas de um intermediário, Maria, para chegares a Jesus Cristo? O copo está meio cheio ou meio vazio? Depende de quem vê...

Bem, eu como já começo a ficar cansado de me repetir, vou tentar ser económico.

«é óbvio que Maria é absolutamente necessária para, hoje, termos Cristo» - Encontrarás a resposta em duas mensagens do Alef neste mesmo tópico. A primeira em 16/10/02 12:44 e a segunda em 18/10/02 07:59. Já foi mostrado que é possível chegar a Jesus sem ser por Maria. Também foi dito que é possível chegar a Jesus por Maria. Porque insistes apenas no primeiro caminho? Se até Deus me deu o livre arbitrío porque forças tu apenas um dos caminhos?

Dizes que «Existe uma íntima relação entre Maria e a Igreja, porque existe uma íntima relação entre Maria e a Trindade.» Importaste de citares os versículos da bíblia que justifique tal afirmação? Mas para que não me acuses de «Sola Scriptura» podem ser parágrafos do Catecismo da Igreja Católica. É porque se te referes a alguma homília de um padre, bispo ou cardeal, tem o valor que tem.

De qualquer forma, partilho contigo, e com os demais, algo que me parece menosprezado dentro da Igreja que é sim a sua estreita ligação com Pedro (e não com Maria): «Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mt 16, 18-19)

Acusas-me de "Cristocentrismo exclusivista". Vamos por partes. Cristocentrismo significa, grosso modo, Cristo no centro. Eu considero que devemos exclusivista pois apenas Cristo deverá estar no centro (alarga-se obviamente à Santíssima Trindade). Ora, se não deve ser exclusivista é porque algo mais deverá ou poderá estar também no centro. Das tuas palavras deduzo que o algo mais estar no centro com Jesus, forçosamente será Maria. Logo "Mariocêntrico". Mas isso, a meu ver não faz sentido (roçando até a heresia...).

Em suma, acusas-me de Cristocentrismo exclusivista apenas para dar espaço para o teu Mariocêntrismo. Em que ficamos?


Quanto ao teu conselho "paternalista" de mais catequese, creio que se aplica o velho ditado do povo: "Pela boca, morre o peixe".

Vejamos:
1. Parágrafo 80 e 81: Uma relação íntima e próxima entre a Tradição e a Sagrada Escritura.
2. Parágrafo 84 e 85: A herança sagrada da fé contida na Tradição e Sagrada Escritura foi confiada pelos apóstolos ao conjunto da Igreja.
3. Parágrafo 86: citando «Todavia, este Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas ao seu serviço,...», logo, em primeiro lugar vem a Sagrada Escritura e a Tradição e só depois o Magistério.

Apenas um observação a dois parágrafos, a meu ver, muito pouco ecuménicos. No parágrafo 84 é referido que a herança sagrada foi confiada pelos apóstolos ao conjunto da Igreja. Mas no parágrafo 85, apenas a parte da Igreja composta pelos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, bispo de Roma, é que compõem o Magistério vivo da Igreja é que tem autoridade para interpretar autenticamente a Palavra de Deus. Ora, todas as Igrejas orientais (hoje, ortodoxas) fundadas pelos apóstolos não tem acesso a esta "interpretação", por exemplo, Constantinopla fundada por s. André, irmão de S. Pedro (Mt 4, 18). Fará isto sentido?

Luis

Uma curiosidade: no Parágrafo 105 lê-se «Deus é o autor da Sagrada Escritura». Citando o João Oliveira "foi realmente a Igreja que "criou" a Bíblia" (15/10/02 20:58, neste tópico).

Re: Porquê veneramos a Santíssima Virgem?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 25 de October de 2002 21:45


Luís, esta não é uma questão de "perspectiva", mas de enquadramento, contexto, e integração. Pois Maria é tudo isso na minha relação com Jesus. Eu não preciso de "intermediários", como penso já ter dado a entender. Tal coisa é uma mera idolatria...

Continuas a não entender, pois não? Eu não falo em necessitar de Maria para chegar a Jesus, e estou (quase?) certo de que nunca afirmei tal coisa. Será que leste com atenção a minha última mensagem? Por favor, relê. «É óbvio que Maria é absolutamente necessária para, hoje, termos Cristo» - disse eu. "PARA HOJE TERMOS CRISTO". Onde é que lês aqui "PARA HOJE CHEGARMOS A CRISTO"? Pensei ter-me explicado suficientemente na última mensagem, entendendo que não me tinha explicitado anteriormente. Aponta-me aquilo em que não fui claro.

Quanto a citações, penso que bastará citar-te do II Concílio do Vaticano? Mas olha, é mais fácil que leias por ti: em especial os últimos parágrafos da "Lumen Gentium" (do 52 ao 69), que como sabes é uma Constituição Dogmática (o mais alto nível de autoridade num Concílio e na Igreja - será suficiente para que o aceites?).

Não, Luís, não te "acuso de Cristocentrismo exclusivista apenas para dar espaço para o meu Mariocêntrismo"... :o) Porque não perguntaste antes, para não proferires acusações sem sentido? Quando me referi ao "exclusivismo", falava da tentação que existe em não compreender (nem o querer) a extensão verdadeira do que Deus realizou, por exemplo e em particular, em Maria. Devemos ter também atenção a Maria, em louvores e em imitação, devido a e para além de Cristo, e daí o exclusivismo ser herético. Mas quando leres a Lumen Gentium compreenderás...

"Conselho paternalista"? Mas porque é que o levaste a peito, como que a uma ofensa? Porque é que isso sequer te veio à cabeça? Não era nada essa a minha intenção, pois só Deus sabe o quanto EU preciso de catequese. Tens de ser menos impetuoso nas conclusões, pois eu não costumo falar propriamente com "paninhos quentes" e todas as "cortesias". Gosto de usar as palavras concretas, e é isso que verdadeiramente todos nós precisamos: de catequese.

Infelizmente, não foste feliz no uso do adágio popular, pois em nada "fui pescado"... ;o) Eu não disse que o Magistério está acima de nada, mas em verdade só pode ser colocado como extensão da própria Escritura, nunca como uma adição mas como uma necessidade que está na própria Revelação e que a própria Escritura relata, que está na sua génese, pois com ela foi considerada "sagrada". Não sei porquê, tendes a minimalizar o papel tanto de Maria como o da Igreja, não sei com que intenções. Podes esclarecer?

Sim, Luís, essa afirmação que consideras "pouco ecuménica" faz sentido. Porque só em comunhão com o Papa se pode proclamar algo como definitivo. De facto, é o Papa quem preside ao Magistério e sem ele nada de infalível se promulga. Devemos atentar no facto de que a comunhão dogmática com a Igreja Ortodoxa terminou há cerca de mil anos atrás. Até hoje nos consideram "heréticos" por causa da adição do "Filioque" ao Credo. Desde a sua separação que estagnaram na Teologia, enquanto que a Igreja Católica continuou a trazer a lume novas conclusões dogmáticas que nos revelam e edificam sobre a verdade eterna, revelada plenamente em Cristo Jesus. E só podemos fazer isso porque somos nós quem tem a autoridade para interpretar autenticamente a Escritura (derivando dela dogmas tão incompreendidos como o mais recente, o da Assunção de Nossa Senhora), por mais chocante e "pouco ecuménico" que isso possa parecer. É apenas mais uma coisa que nos é necessário entender! :o) Talvez tal segurança seja para muitos demasiado boa para ser verdade... Para mim, é algo que se deve reverenciar profundamente e escutar e compreender atentamente...

Quanto a essa trivial "curiosidade" que citas (o que pretendes insinuar não vou eu arriscar), é uma falta de entendimento da tua parte e uma falta de explicitação da minha: pois "criar" (ainda por cima entre aspas) não quer dizer propriamente que se seja o seu autor. Por "criação" queria significar "concepção" ou "formação". Que foi a Igreja, movida pelo Espírito Santo sempre presente na sua Sagrada Tradição, através da autoridade que lhe foi concedida pelo Magistério, quem canonizou a Bíblia e disse que livros são inspirados, ninguém (?) tem dúvidas. Tê-las-às tu?

João

Página actual: 4 de 20


Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.