O tópico sobre "marketing" religioso motiva-me a levantar um outro tópico, que me preocupa: O (MAU) GOSTO ARTÍSTICO que grassa na Igreja Católica...

Não me refiro, obviamente, às magníficas obras de arte que são as igrejas visigóticas, românicas, góticas, renascentistas ou até barrocas. Mas refiro-me à maior parte dos objectos religiosos de uso mais "comum": basta ir a Fátima ou a outras "montras" de objectos religiosos para se ficar de pele arrepiada: imagens de santos "fluorescentes", imagens do "Coração de Jesus" perfeitamente efeminadas, a que não faltam os lábios pintados, imagens grotescas tipo "estereogramas tridimensionais", que, segundo o ângulo de visão, permitem ver no mesmo plano uma imagem ou outra, como Jesus Cristo e/ou Nossa Senhora, ocasionando em certos ângulos uma "Nossa Senhora com barbas" ou ainda ou um Cristo na cruz que pisca os olhos...

A juntar a isto temos cores berrantes por todos os lados, altares "modernos" nas igrejas no melhor azul-cueca (perdoem-me os mais sensíveis, mas aquilo nada tem de azul-celeste), ornamentações pindéricas, cruzes verdes fluorescentes nas torres das Igrejas...

Este é um problema que não vem de agora. Na febre do ouro do Brasil e da "barroquização" das igrejas portuguesas, sobretudo no Norte, mutilaram-se igrejas e altares românicos e góticos... Mesmo assim, algumas igrejas barrocas são de valor artístico inquestionável.
O panorama de hoje é pior... Com algumas boas excepções, de que a Igreja de Marco de Canaveses é um bom exemplo, reina por aí muito mau gosto, improviso e desmazelo... Há uma enorme falta de cultura e de bom gosto. Sim, porque os gostos também se discutem. Há também uma enorme falta se profissionalismo. O panorama é constrangedor quando olhamos, por exemplo, para as capas das revistas e livros religiosos. Quanto amadorismo e falta de bom gosto! Não admira que muitos telespectadores gostem tanto da "Canção Nova"...

Terá que ser assim? Notei, com alguma apreensão, que os objectos de gosto mais duvidoso, são precisamente os que mais se vendem em Fátima. Estando à procura de algo "decente" para oferecer, não pude reter um comentário privado a uma pessoa amiga sobre o aspecto pindérico de determinado objecto. Pois, não eram passados dois segundos quando alguém exclamou: "Que linda santinha!". E comprou. E eu calei-me. Mas porque será que estamos a nivelar em tudo por baixo? Não basta a televisão, a política, o futebol?

Será o panorama mesmo deprimente? Será a minha "leitura" apenas uma forma de elitismo? Uma queixa exagerada? Soluções? Venham daí as reacções...

Alef

E um bom marketing religioso, viria exctamente resolver toda essa confusao.

Como? Fazendo o produto «mais parecido com o original»?!...

Não. Apenas, promovendo só o que é fiel ao original é aceitável pela própria Igreja e pelo povo. Uma forma, de obrigar os santeiros e outros fabricantes a melhor a arte sacra.

Há coisas recentes de grande qualidade... mas não se esqueçam que o que hoje achamos de mau gosto poderá tornar-se, no futuro, de grande qualidade.

A história está cheia de exemplos!

Alef,

Sempre me questionei como é que alguém conseguiu ter a "brilhante" ideia de fazer esses quadros de "estereogramas tridimensionais". E mais ainda, me pergunto: «Será que alguém compra?». Pelos vistos, sim.

Um abraço,
Lugo

Pois é pessoal, o gosto educa-se.
Não será isto um exemplo, entre outros, das carências de formação cultural de grande parte da população?
A Igreja (todos nós) não terá também um papel importante a desempenhar nessa matéria?

Pois...

Quando vejo aquelas imagens do "Coração de Jesus" de lábios pintados e gesto efeminado, imagens de Nossa Senhora que nada dignificam Maria como mulher, pois são umas mini-Barbies pré-adolescentes, umas colchas de cama com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, mais os famigerados "estereogramas", etc, etc, simplesmente arrepio-me...

É claro que o gosto se educa, mas o nosso país é o que é. Estamos a pagar cara a herança dos nossos avós... Uma grande percentagem da população não sabe ler e muitos dos que sabem em nada estimulam os filhos a prosseguir estudos. Claro, para um analfabeto, ter um filho com a escolaridade obrigatória é já muito... Vamos ter muito que esperar...

Mas há já alguns sinais de esperança. Um deles é um maior apreço pelos ícones orientais (tiro o chapéu ao paroquias.org e às boa imagens que tem escolhido), outro é algum investimento nos cânticos litúrgicos, no sentido de maior qualidade e "portugalidade"... Mas também tem havido tentações de demasiada uniformização...

Alef

Tens razão, pá. Eu descobri os icones através de Taizé, há uns 20 anos. Na época era algo muito pouco visto por cá, o pessoal olhava para algumas réplicas que trouxe como sendo uma coisa esquisita...

Por acaso é uma peça cuja estética aprecio. Bem como os vitrais.

Alef:


O gosto é pessoal e diz sempre algo sobre cada um de nós.

Num país em que, infelizmente, se prefere discutir se o golo do Jardel é válido ou não, a discutir e a intervir como cidadãos na vida política, social, económica e religiosa do país, não me admira que se comprem essas "santinhas" fluorescentes. Não somos exigentes, não somos críticos, é o "deixa andar" geral!

Daqui a bocado, as Igrejas terão néons, luzinhas intermitentes e um Cristo a indicar a porta de entrada "THIS WAY".

Claro que isto é um bocado à americana, mas...


Ana