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Até às fontes da alegria !
Escrito por: tzm (IP registado)
Data: 12 de January de 2004 02:10

Não resisto a partilhar convosco esta carta que, traduzida em 57 línguas (das quais 23 são da Ásia), foi escrita pelo irmão Roger, de Taizé, e publicada durante o Encontro Europeu de Jovens , que reuniu 60 mil jovens católicos, protestantes e ortodoxos em Hamburgo, noinicio deste ano.

Ela será retomada e meditada durante o ano de 2004 nos encontros que terão lugar quer em Taizé, semana após semana, quer noutras partes do mundo.



"Tantos jovens através da terra levam dentro de si uma sede de paz, de comunhão e de alegria.
Estão também atentos à insondável dor dos inocentes. Sobretudo, não ignoram o aumento da pobreza no mundo.1
Não são só os responsáveis dos povos que constroem o futuro. O mais humilde dos humildes pode contribuir para a construção de um futuro de paz e de confiança.
Por muito poucos meios que tenhamos, Deus concede-nos levar reconciliação aonde há oposições e esperança aonde há inquietação. Convida-nos a tornarmos acessível, através da nossa vida, a sua própria compaixão pelo ser humano.2
Se houver jovens que se tornem, através da sua própria vida, artesãos de paz, haverá luz à sua volta.3




Um dia perguntei a um jovem o que, a seu ver, mais o ajudava na sua vida. Ele respondeu: «A alegria e a bondade do coração.»
A inquietação e o medo de sofrer podem fazer com que desapareça a alegria.
Quando cresce em nós uma alegria que tem como fonte o Evangelho, essa alegria infunde um sopro de vida.
Não somos nós que criamos essa alegria, ela é um dom de Deus. Ela é permanentemente reavivada pelo olhar de confiança que Deus dirige sobre as nossas vidas.4
A bondade do coração não é ingénua; muito pelo contrário, pressupõe vigilância. Pode levar a assumir riscos. Não deixa lugar a qualquer forma de desprezo pelos outros.5
Ela torna-nos atentos aos mais desfavorecidos, àqueles que sofrem, ao sofrimento das crianças. Sabe expressar, através do rosto ou do tom da voz, que todo o ser humano necessita ser amado.6
Sim, Deus faz com que possamos caminhar com uma centelha de bondade no fundo da alma. Centelha que só anseia por tornar-se chama.7




Mas como ir até às fontes da bondade, da alegria e também da confiança?
Abandonando-nos a Deus, encontramos o caminho.
Ao longo da História, e por mais longe que olhemos, encontramos multidões de crentes que souberam que, na oração, Deus lhes trazia uma luz, uma vida interior.
Já antes de Cristo, alguém rezava: «A minha alma suspira por ti de noite, e do mais profundo do meu espírito, eu te procuro pela manhã.»8
O desejo de uma comunhão com Deus foi colocado no coração humano há tempos sem fim. O mistério dessa comunhão atinge o que há de mais íntimo e profundo no nosso ser.
E podemos dizer a Cristo: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.»9




Permanecer diante de Deus numa espera contemplativa não ultrapassa a nossa condição humana.
Em semelhante atitude de oração, levanta-se um véu sobre o que na fé é inefável, e o indizível conduz à adoração.
Deus também está presente quando o fervor se dissipa e quando desaparece uma ressonância sensível. Nunca nos deixa privados da sua compaixão. Não é Deus que se afasta de nós, somos nós que por vezes nos ausentamos.
Um olhar contemplativo discerne sinais do Evangelho nos mais simples acontecimentos.
Reconhece a presença do próprio Cristo no mais abandonado dos seres humanos.10
Descobre no Universo as belezas resplandecentes da criação.




Há muitas pessoas que se interrogam: o que espera Deus de mim? Eis que, ao ler o Evangelho, conseguimos compreender: Deus pede-nos que sejamos, em todas as situações, um reflexo da sua presença; convida-nos a tornar a vida bela para aqueles que nos confia.
Quem procura responder a um chamamento de Deus para toda a sua vida pode rezar desta forma:
Espírito Santo, embora ninguém se sinta capaz, à partida, de dizer um sim para toda a vida, tu vens criar em mim uma fonte de luz. Nos momentos em que o sim e o não se confrontam, és tu quem ilumina as minhas hesitações e as minhas dúvidas.
Espírito Santo, tu ajudas-me a aceitar as minhas próprias limitações. Bem sei que há em mim uma parte de fragilidade, mas a tua presença vem transfigurá-la.
E eis que somos levados à audácia de um sim que nos conduzirá longe.
Esse sim é confiança límpida.
Esse sim é amor puro.




Cristo é comunhão. Não veio à terra para criar mais uma religião, mas para oferecer a todos uma comunhão.11 Os seus discípulos são chamados a ser humilde fermento de confiança e de paz no seio da humanidade.
Nessa comunhão única que é a Igreja, Deus oferece tudo aquilo que é necessário para podermos ir à fonte: o Evangelho, a Eucaristia, a paz do perdão… E a santidade de Cristo deixa de ser inalcançável para se tornar bem próxima.
Quatro séculos depois de Cristo, um cristão africano, chamado Agostinho, escrevia: «Ama e di-lo com a tua vida.»
Quando a comunhão entre os cristãos é vida e não teoria, irradia esperança. Mais ainda: pode apoiar a indispensável busca da paz no mundo.
Como poderiam os cristãos continuar, então, ainda separados?
Ao longo dos anos, a vocação ecuménica suscitou incomparáveis diálogos. Eles continuam a ser as primícias de uma comunhão viva entre cristãos.12
A comunhão é a pedra-de-toque. Nasce primeiro no coração de todo o cristão, no silêncio e no amor.13
Na longa história dos cristãos, houve multidões que um dia se viram separadas, por vezes sem saberem porquê. Hoje, é essencial tudo fazer para que o maior número possível de cristãos, que muitas vezes não têm culpa das separações, possa descobrir que está novamente em comunhão.14
São muitos os que têm um desejo de reconciliação que toca no mais profundo da alma. Eles aspiram a esta infinita alegria: um mesmo amor, um só coração, uma só e mesma comunhão.15
Espírito Santo, deposita nos nossos corações o desejo de avançar para uma comunhão. És tu que a ela nos conduzes.




Na noite da Páscoa, Jesus acompanhava dois dos seus discípulos que se dirigiam para a aldeia de Emaús. Na altura, não se aperceberam de que ele caminhava a seu lado.16
Também nós conhecemos períodos em que não conseguimos estar conscientes de que Cristo, através do Espírito Santo, permanece ao nosso lado.
Incansavelmente, ele acompanha-nos. Ilumina as nossas almas com uma luz inesperada. E nós descobrimos que, ainda que possa permanecer em nós alguma obscuridade, há sobretudo em cada um o mistério da sua presença.
Procuremos reter algo que se torne certeza! Que certeza? A de que Cristo diz a cada um de nós: «Amo-te com um amor inesgotável. Nunca te abandonarei. Pelo Espírito Santo, estarei sempre contigo.»17



1 Aprofundar a vida interior, em vez de nos levar a fechar os olhos face à situação das sociedades contemporâneas, leva-nos a que nos questionemos. Estaremos suficientemente conscientes, por exemplo, de que 54 países do mundo estão hoje mais pobres do que em 1990? Kofi Annan, Secretário Geral das Nações Unidas, escrevia-nos no ano passado, por ocasião do Encontro Europeu de Paris: «Há no mundo muitos jovens privados de perspectivas de futuro. Para eles, cada dia é uma dura batalha contra a fome, a doença, a miséria. São também numerosos os que vivem em regiões à mercê de conflitos armados. Devemos fazer tudo para lhes dar esperança.»

2 O querido Papa João XXIII escrevia: «Todo aquele que acredita é chamado a ser, no mundo de hoje, como que um raio de luz, um centro de amor e um fermento para toda a massa. Cada um sê-lo-á à medida da sua comunhão com Deus. De facto, a paz não poderá existir entre os homens se não existir primeiro em cada um deles.» (Pacem in terris, 1963, 164-165.)

3 O Apóstolo Paulo encoraja os cristãos serem «astros» que brilham no mundo (ver Filipenses 2,15-16).

4 «Quando o Senhor vier… os oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor e os pobres exultarão» (Isaías 29,18-19). «Consola o teu coração e afasta a tristeza para longe de ti, porque nela não há nenhuma utilidade» (Ben Sira 30,21-25).

5 Numa vida de comunidade, a bondade do coração é um valor inestimável. Ela é talvez um dos mais límpidos reflexos da beleza de uma comunhão.

6 Mesmo muito novas, as crianças podem compreender o que significa a bondade do coração de uma mãe ou de um pai, de uma irmã ou de um irmão. É uma realidade clara do Evangelho. É muito importante para uma criança saber que é amada; torna-a capaz de avançar sempre, durante toda a vida, e de compreender que Deus nos pede para também nós amarmos.

7 Numa das visitas que fez a Taizé, o filósofo Paul Ricoeur disse: «A bondade é mais profunda do que o mal mais profundo. Por mais radical que seja, o mal não é tão profundo como a bondade.»

8 Isaías 26,9.

9 Quando algumas pessoas começaram a deixar Cristo, ele perguntou aos seus discípulos: «Também vós quereis ir embora?» Pedro respondeu-lhe: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (João 6,67-68).

10 Viver em comunhão com Deus conduz a viver em comunhão com os outros. Quanto mais nos aproximamos do Evangelho, mais nos aproximamos uns dos outros. O teólogo ortodoxo Olivier Clément escreve: «Quanto mais nos tornamos homens de oração, mais nos tornamos homens responsáveis. A oração não liberta das obrigações deste mundo: torna-nos ainda mais responsáveis. Nada é mais responsável do que rezar. Isso pode concretizar-se numa presença junto daqueles que sofrem por causa de abandonos humanos ou da pobreza – como é o caso, por exemplo, dos irmãos de Taizé que vivem em bairros pobres noutros continentes –, isso pede-nos também que sejamos pessoas com imaginação, criativos em todos os domínios, inclusivamente no domínio da economia, da civilização planetária ou da cultura…» («Taizé, Un sens à la vie», Bayard, Paris 1997.)

11 Muito jovem, com 21 anos, o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer imaginou a expressão «Cristo existindo enquanto comunidade». Ele escreve que «através de Cristo a humanidade está realmente reintegrada na comunhão com Deus» (Sanctorum communio, Berlin 1930).

12 Interrogando-se sobre a vocação ecuménica, o Patriarca Ortodoxo de Antioquia, Inácio IV, escrevia recentemente de Damasco: «Precisamos urgentemente de iniciativas proféticas que façam sair o ecumenismo dos meandros nos quais eu temo que ele se esteja a envolver. Temos uma necessidade urgente de profetas e de santos, a fim de ajudar as nossas Igrejas a converterem-se pelo perdão recíproco.» O Patriarca pedia para «privilegiar a linguagem da comunhão à linguagem da jurisdição.» No ano passado, o Papa João Paulo II, ao receber em Roma responsáveis da Igreja Ortodoxa da Grécia, dizia: «Com os santos, contemplamos o ecumenismo da santidade que acabará por nos conduzir à comunhão plena, que não é nem absorção, nem fusão, mas encontro na verdade e no amor.»

13 A reconciliação começa de imediato, no interior da própria pessoa. Vivida no coração de um cristão, a reconciliação adquire credibilidade e pode conduzir ao espírito de reconciliação na comunhão de amor que é a Igreja. Esse caminho pressupõe que não haja humilhação para ninguém.

14 Poderia a Igreja dar sinais de uma grande abertura, tão grande que se pudesse constatar que os que antes estavam divididos já não estão separados, mas vivem desde já em comunhão? Será dado um passo em direcção à reconciliação na medida em que se possa constatar uma vida de comunhão, que já é uma realidade nalguns lugares através do mundo. Será necessário ter coragem para reconhecê-la e para retirar as conclusões necessárias. Os textos virão depois. Será que privilegiar os textos não acabará por nos afastar do chamamento do Evangelho para nos reconciliarmos sem demora? "

15 Ver Filipenses 2,2.

16 Ver Lucas 24,13-35.

17 Ver Jeremias 31,3 e João 14,16-18.

Re: Até às fontes da alegria !
Escrito por: tzm (IP registado)
Data: 12 de January de 2004 02:12

"Também nós conhecemos períodos em que não conseguimos estar conscientes de que Cristo, através do Espírito Santo, permanece ao nosso lado.

Incansavelmente, ele acompanha-nos. Ilumina as nossas almas com uma luz inesperada. E nós descobrimos que, ainda que possa permanecer em nós alguma obscuridade, há sobretudo em cada um o mistério da sua presença."

A mim, foi este o paragrafo que mais me tocou...

Re: Até às fontes da alegria !
Escrito por: Diana (IP registado)
Data: 14 de January de 2004 14:55

OLa.
já tinha lido a carta. O frére Roger continua a chegar aos nossos corações...
Continua a enviar coisas sobre Taizé!

Que o Espiríto Santo nos conduza dia a dia.
Sou ainda muito jovem, mas tenho ânsia de saber o que quer Deus de mim.

Re: Até às fontes da alegria !
Escrito por: TZM (IP registado)
Data: 15 de January de 2004 00:20

Pois

Re: Até às fontes da alegria !
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 24 de January de 2004 23:16

Lembro-me, de há muitos anos, ter passado horas a ler um pequeno texto de Taizé que começava assim:
"Cristo Ressuscitado vem animar uma festa no mais íntimo do Homem"...
A temática da alegria continua... A alegria que é o jardim de todas as virtudes...

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