Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Arquivo - Geral

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
A Religiosidade no Terceiro Milénio
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 19 de February de 2002 19:12

Tenho testemunhado com grande contentamento o rápido desenvolvimento deste Forum. Espero que se torne numa referência em Portugal, já que considero escassas as oportunidades existentes para um diálogo cibernético mais desenvolvido sobre a Igreja em Portugal.

Aproveito igualmente para parabenizar os autores deste "site", que prima pela qualidade e (cada vez mais) quantidade dos conteúdos e o bom gosto na simplicidade e utilidade do interface.
Os meus votos de um sucesso crescente!

As questões que queria debater são a seguintes:
Como será a Igreja no desenrolar deste Terceiro Milénio da era cristã? Para onde caminha? Que necessidades religiosas apresentam as sociedades e como pode ela socorrê-las respondendo a novos desafios pastorais? Qual o papel da comunidade paroquial no futuro? E o da mulher? Em particular, como deverá a Igreja responder e associar-se ou não à disseminação de cultos e espiritualidades, bem como de novas denominações cristãs e possivelmente de novas religiões? Como será possível uma Igreja mais pobre e comunitária, de acordo com a estrutura "ideal" (?) das comunidades primitivas? Ainda na linha da unidade dos cristãos, como será possível a unificação da doutrina entre igrejas cristãs, mantendo os vários carismas comunitários e práticas de culto numa unidade de Igreja? Que modelo de Igreja(s) teremos no futuro e para qual estamos nós a trabalhar hoje, até regionalmente em Portugal?

Tenho a noção de que já algumas destas questões foram levantadas, mas proponho uma integração do pensamento e ideias acerca da totalidade da "conjuntura" no fenómeno religioso e da sua evolução, com a sociedade e o desenvolvimento tecnológico.

Sabendo que toquei em pontos cruciais de debate e que muita oportunidade para discussão darão, espero a colaboração de todos os que lerem estas linhas, para que partilhem os seus pensamentos em relação a estas questões, da forma mais clara e mais desenvolvida quanto saibam, possam e queiram. Aguardo um bom esclarecimento e um bom diálogo, participando o mais que possa.

Desde já agradecido,
João

Re: A Religiosidade no Terceiro Milénio
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 19 de February de 2002 22:27

Olá João.

Obrigado pelos teus comentários sobre o Nosso portal. Digo Nosso não da equipa, mas de todos os que aqui vem e participam.

Em relação ao teu (vasto) tema, é dificil de responder a tudo porque são várias questões dentro da grande questão: Que futuro para a Igreja Católica.

Para começar deixo já aqui algumas pistas/ideias minhas.

Penso que a Igreja cada vez mais estará próxima do seu povo, através das suas paroquias. E cada vez mais estaremos à procura de um outro caminho de unidade cada vez mais mais próximo com as origens da nossa religião. Acho que também que a nível da hierarquia da Igreja teremos um retrocesso na forma mais rigida de pensamento, com o objectivo de manter a Igreja Católica Viva. Cada vez mais outras pseudo-religiões tentaram "acabar" com a IC, e por isso esta atitude da nossa hierarquia.

Por agora fico-me por aqui...

Um abraço a todos,
Susete

Re: A Religiosidade no Terceiro Milénio
Escrito por: Lugo (IP registado)
Data: 20 de February de 2002 23:27

Olá João,

Os aspectos que propões para discussão são bastante interessantes e importantes para o futuro da Igreja.

Há algo que já tenho tido oportunidade de comentar com alguns amigos meus: penso que o principal problema da Igreja Católica, duma forma geral, não é a falta de vocações no sacerdócio, embora fosse desejável existirem mais, mas sim a falta de disponibilidade dos leigos para um compromisso séria com a sua comunidade. Quando se invoca a necessidade de se alargar o sacerdócio aos homens casados, às mulheres, etc., na tentativa de se ter mais sacerdotes, esquece-se, na minha opinião, que são poucas as coisas que um sacerdote pode fazer que um leigo, seja ele homem ou mulher, não pode.

E penso que é aí que reside a principal questão. O regresso às comunidades cristãs primitivas é conseguido com um empenho total dos leigos, não dos sacerdotes. Por exemplo, no Brasil existem as Comunidade Eclesiais de Base que imprimem um dinamismo comunitário único a Igreja no Brasil. Estas comunidades consistem em pequenos grupos de pessoas que se reúnem cerca de duas a três vezes por semana para escutarem a Palavra de Deus, compreenderem o seu sentido no contexto socio-cultural em que vivem. Celebram também os mistérios cristãos da sua própria vida e são um anúncio e testemunho da Fé comum.

Penso que nestes moldes, com esta dedicação e empenho, dificilmente existirão comunidades destas em Portugal. E digo isto por aquilo que constato nas comunidades cristãs por onde passo e onde vivo: a disponibilidade de tempo e dedicação são cada vez mais escassas e parece que hoje vivemos uma epidemia comum - a falta de tempo (esquecemo-nos, muitas vezes, que o dia tem 24 horas para todos...).

Acho também que a Igreja Católica deve olhar para algumas das qualidades de outras Igrejas Cristãs e de outros cultos não cristãos e deve tentar perceber aonde pode e deve melhorar no seu contacto e acolhimento aos seus fiéis e membros. Hoje, não são poucas as vezes onde as pessoas sentem uma certa frieza quando se visita uma comunidade cristã, e a falta de espírito de família e de comunidade que existe. Nesse aspecto, até a IURD nos bate aos pontos... e aí se explica o porquê do sucesso nessas e noutras seitas: a componente teológica não existe, não faz qualquer sentido ou está cheia de incoerências, mas o acolhimento existe e é esse que as pessoas procuram. E na falta de um sentido crítico ao que lhes é proposto, aceitam o que lhes é dado não analisado o seu conteúdo.

Devemos tentar que cada vez mais a Igreja Católica saiba entender o homem de hoje e o ajude na sua caminhada e projecto de vida. Não devemos contudo cair na tentação de "ajustar" os ensinamentos de há dois mil anos para a realidade de hoje partindo do princípio que os tempos são outros e os valores se alteraram. Questões como a defesa da vida são tão válidas há dois mil anos atrás como daqui a cem anos, e é isto que não podemos esquecer.

Lugo

Re: A Religiosidade no Terceiro Milénio
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de February de 2002 12:44

Concordo.
Desde há algum tempo para cá que admiro particularmente a obra de Leonardo Boff, criador e dinamizador das Comunidades Eclesiais de Base, e comprovo mais uma vez a beleza e pureza de um cristianismo intenso e profundo, vivido em comunidade. Mas, o que acontece?? Qual a reacção do Vaticano perante tais inovações? O que se viu... Boff de tal maneira pressionado a abandonar as suas convicções que optou por se demitir do seu sacerdócio... E entre outros exemplos de "perseguição" realizados pela Inquisição de hoje, a Congregação para a Doutrina da Fé, temos a condenação de livros de autores como Jacques Dupuis, SJ acerca do diálogo inter-religioso e a teologia cristã, e como já aconteceu com Lavinia Byrne, ao lhe terem retirado um seu livro sobre o sacerdócio das mulheres das livrarias e tendo mandado QUEIMAR todos os exemplares, já incluindo Boff e outros no modelo comunitário de base da Igreja. Até que ponto isto é justo, ou até que ponto estão sequer incorrectas ou contrárias com o projecto de Jesus para a Sua Igreja? Que raio de coisa é que se passa na Igreja com a liberadade de expressão religiosa? Será que a obediência ao Papa significa hoje opressão perante pontos de vista que muitas vezes nem contrários são mas sim radicais e complementares?

Uma consideração sobre este aspecto em particular.
Que papel tem hoje a Igreja na sociedade? Paternalista? Muitas vezes, dizendo saber o que está certo e errado e apenas admitindo que se chegue à sua mesma conclusão quando nos atribuí espaço para pensar? Mas que raio de Instituição é esta para os não-católicos? Uma opressora que não atrai ninguém por não saber apresentar correctamente a Cristo? E será que faz algum sentido proclamar ideais quando a sociedade não é nada ideal nem o quer ser, ao invés de se estimular o acompanhamento pessoal para que cada pessoa alcance a sua santidade (confissão como terapia; comunidades como apoio e incentivo reais)? E quando isso é feito, será que também não o é de forma opressora e alienante? Será que a hierarquia ainda não compreendeu que o seu papel essencial é com cada um dos cristãos EM PARTICULAR e não no geral, e que essa proximidade é atingível se souber descer ao mais pobre, estúpido e infeliz, dialogando com ele, numa tarefa nada gratificante para quem o faz? Minha gente, esta é a missão da Igreja! Um compromisso com os pobres em o que quer que seja. Principalmente pobres em espírito e em intelecto. Porque se a Igreja os ajudar a serem cultos e inteligentes, poderão com as suas mãos corresponder aos apelos de Deus para um mundo mais justo, mais pacífico, mais desenvolvido (sustentavelmente), mais feliz, mais santo (possuindo a graça da capacidade física para tal realização).
De facto, as pretensões de alguém que se defende com a perseguição e a opressão sairão frustradas. Porque assim não se consegue a educação da sociedade!! Esta terá de ser conquistada através do discernimento próprio de cada indivíduo, estando bem informado sobre as coisas e optando pelo que lhe parece mais correcto! E para isso é necessário liberdade. Que haja concorrência ideológica, contra-argumentação!! Só assim a sociedade evolui! E, já agora, qual é o medo? Se temos razão, porque não deixamos espaço para as pessoas entrarem, mesmo sendo os maiores dos pecadores, como acontece muitas vezes, sem lhes ser desde logo imposto esquemas morais com os quais se sentem imediatamente constrangidos e que decidem não procurar adoptar, ganhando uma imediata aversão ao cristianismo?

O projecto necessário da Igreja é um projecto de EDUCAÇÃO! As pessoas devem encontrar na Igreja a comunidade intelectual e espiritual que almeja o bem, o esclarecimento, o desenvolvimento humano, a santidade sem pedir nem pagamento, nem grandes resultados em troca! Será no futuro talvez a única Instituição que oferecerá desinteressadamente o conhecimento, a realização pessoal, a orientação pedagógica, tendo em vista o bem da pessoa e o que ela decide fazer com ela mesma, não lhe querendo vender nada. É que a sociedade de hoje, fazendo parte dela muitos cristãos, preocupa-se essencialmente com o que vende na forma em que pode explorar o outro e colocando o seu preço naquilo que vende consoante o máximo que o outro pode pagar. Sejamos como Sócrates, ofereçamos o conhecimento, não o vendamos! Porque isso, para além de ser objectivamente cristão, até cai bem e atrairá muitos a essa pureza de vida e a essa missão de serviço, que me atrai a mim também. Uma Igreja assim dará gosto ver, mesmo pelos ateus, pelo claro contributo que dá ao desenvolvimento humano! Será útil e apoiada!

Dizes bem, Lugo! A vida comunitária que corresponde à necessidade de pertença e de acolhimento de cada pessoa é FUNDAMENTAL. De tal forma, que nem sequer interessa se está realmente certo aquilo em que se acredita ou não, mas aquilo que se vive. E é o aspecto que mais me envergonha nesta Igreja tão original outrora e hoje, noutras localidades. Envergonha-me a mediocridade dos ambientes cristãos que hoje vivemos em Portugal, a mediocridade que significa "catolicismo" e o sabor amargo que tem na boca de tantos que desconhecem aquilo que deveria de ser e que é sua proposta, ficando-se pelo testemunho dos fiéis que o vêm praticar (ou não...). O que deveria ser assim, mas com o bom testemunho. Infelizmente, este bom testemunho ainda não é maioritário e muitos são ateus mas relativamente ao catolicismo que vêm praticar. De facto, esses serião os melhores cristãos (se quisessem acolher a radicalidade da mensagem de Cristo, em vez da mediocridade em que a piedade popular a tornou) pois são críticos perante aquilo em que acreditam. Esse terá de ser outro dos esforços pedagógicos da Igreja no futuro.

O que eu não devia sentir, enquanto jovem (tenho 19 anos), era esta coisa de me ter de desculpar por me dizer católico, ao invés de me admirarem ou respeitarem correctamente (não num indiferentismo) pela coragem e luta por um mundo melhor que desenvolvo!! A par disso, não me sinto enquadrado nem equiparado intelectual ou etariamente na Igreja e tudo nela se parece desajustado com aquilo que descobri acerca de Cristo, por OUTRAS vias que não a catequese. Foi na música, rock, que encontrei a libertação para acolher o Senhor em mim e anelar a santidade. E, vejam, isto, para a Igreja, parecerá incompatível. Mas não o é, de forma alguma, acabemos com os pré-conceitos!!! Por estas e por outras é que não há mais jovens na Igreja. Se não os deixam ser jovens, que estarão eles lá a fazer...?
Compreendo perfeitamente os protestantes quando dizem que eles acolhem a mensagem de Cristo e vivem intensamente (embora isso também não seja inteiramente verdade), proclamando "Eu não sou católico, sou cristão!". Como se o católico não fosse cristão... De facto, todos assumem uma postura anti-catolicismo! Ateus por um lado, protestantes (engraçado, todas as denominações cristãs assumem posturas mais ou menos anti-católicas, constituindo-se de facto em coesão nesse ponto) por outro e até os católicos que dão mau testemunho, não vivendo e estragando a fé dos outros que a procuram viver autenticamente.
E também não quero ouvir dizer "Se eu quisesse estudar a Bíblia vários dias por semana, em conjunto com uma comunidade, onde o faria na Igreja Católica?". De facto, a Igreja tem mesmo de saber ouvir os outros, não encarando como mau tudo o que lhe dizem de crítico, mas deve colocar-se no diálogo para que permaneça a realizar a sua vocação da melhor forma possível! E isto, já! É que a mim não dão a oportunidade de viver a Igreja em plenitude por causa destas coisas. E em vez de se criarem comunidades onde se viva assim, continuamos a dar motivo a projectos de separação da Igreja, dando um conceito local e não universal de Igreja. Mas porque é que pareço eu ser o único a quem isto parece evidente?? Quem é que faz esta mensagem chegar lá acima?? Dou graças a Deus por me inspirar estes sentimentos de querer o melhor projecto eclesial para o mundo. E quando me vêm dizer que estou errado por pensar de forma diferente à da hierarquia, pergunto-me se realmente estou na Igreja certa... E esta inquietação jamais deveria surgir...
Irmãos, que podemos nós fazer? Concretamente e imediatamente, o que podemos nós fazer?

Abraços e beijinhos,
João

Re: A Religiosidade no Terceiro Milénio
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 22 de February de 2002 17:37

Queria acrescentar outra coisa, para concluir.
Acho que a Igreja deveria ser constituída cada vez mais por comunidades (até hoje o é por "iniciativa privada", ou seja, de leigos que as fundam e dinamizam), até se chegar ao ponto em que "comunidade paroquial" significará muito mais que o conjunto de indivíduos que habitam numa freguesia circunscrita e que assistem a uma celebração litúrgica mais ou menos regularmente. Ah! E esta ideia (uma questão importante de terminologia para mim) de "assistir" à Missa (não se assiste: vive-se, participa-se, pergunta-se onde se pode colaborar mais) e de, talvez, "dizer" Missa (colocando-a equiparada a uma lenga-lenga), tal como a de "dar" catequese (e não fazer), mostra bem o ponto acomodado e instalado e perguiçoso, também banal em que se colocam hoje estas coisas dos serviços religiosos e funções. É preciso agitar a sociedade, devolvendo-lhe o fulgor cristão que nunca havia de ter perdido! Preparem-se, pois está a regressar o paganismo, a alienação religiosa. Ainda noutro dia vi um anúncio na TV sobre uns fascículos que estão nas bancas sobre o poder dos minerais. É também uma consequência de má e pouca evangelização realizada pela tradição do sacramento e não pela fé esclarecida, assumida e de serviço. Veja-se o que por aí já abunda em termos de videntes, cartomantes, astrologias, "profecias"...
Sim, já muitos de nós se encontram em consenso na urgência de uma formação contínua dos leigos (outra vez, a ideia da comunidade com projecto quotidiano ou semanal de estudo bíblico, teológico e filosófico, Doutrina Social da Igreja, oração, etc.). Torna-se cada vez mais necessária essa implementação de "comunidade paroquial" a nível estrutural na própria Igreja, como serviço real de cada paróquia e não apenas por movimentos que nelas operam. O que acham?

João



Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.