Há dias, fazendo um passeio a pé pelas redondezas, onde a Natureza nos oferece a riqueza bucólica dos campos e o ar puro da exuberante vegetação da floresta, passei por sítios onde, na minha juventude, estava habituado a ver aprazíveis locais de recreio e cuidada vinha que gostosa bebida produzia. Os temos passaram... Hoje a rapaziada alegre e brincalhona já não frequenta aqueles locais. Os proprietários deixaram de tratar a terra e a sua agricultura. As silvas invadiram toda a área, afogando a vida que ali fremia nos tempos idos. Senti tristeza, e deu-me para meditar sobre a circunstância.

Na vida espiritual, também é assim. Parar é começar, já, a andar para trás.
O homem é uma dualidade de corpo e alma (não dualismo), e, por isso, não pode somente tratar do seu corpo, mas também, para haver equilíbrio, tem de cuidar da sua alma espiritual, que, na relação com os outros e na sua individualidade, racional e livre, o forma como pessoa.
Quando não cuida do seu corpo, o homem adoece. Quando despreza a sua dimensão espiritual, não realiza a sua individualidade pessoal. As silvas começam a cobrir a sua existência, pouco a pouco, momento a momento, abafando todas as potencialidades do ser.
O nosso desenvolvimento pessoal tem de ser contínuo, e nunca atinge a meta final, que se situa para lá do horizonte escatológico. O ser humano tem uma dimensão de eternidade; o tempo e o espaço não têm significado para ele, enquanto domínios de realização. Mais alto e mais além, com rumo ao Infinito! – devia ser o lema de todo o homem livre e plenamente consciente.
Parar é morrer, diz o povo. Mas às vezes é preciso, também, parar a fim de se poder reorientar o caminho. Quem sou eu, donde venho, para onde vou?... E por onde vou?!...

É preciso limpar o terreno à nossa volta. Queimar as silvas e as ervas daninhas, quando pretendem tomar conta do espaço vital do nosso eu. Deixar espaço livre ao nosso desenvolvimento pessoal e integral. Só permitindo que os raios de sol do Divino penetrem os escaninhos mais recônditos da nossa alma, que precisa para isso de ter as janelas abertas, poderemos prosseguir e progredir, nos caminhos da realização plena da vocação que, em cada um de nós, dá sentido à vida.

Tens toda a razão, ó amigo jardineiro.
Que alá te ilumine.