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O Sofrimento no mundo, porquê?
Escrito por: V. N. dos Santos (IP registado)
Data: 30 de October de 2003 14:59

O Homem foi criado para ser feliz, e a felicidade só se encontra na vivência do amor. Não há felicidade fora do amor, nem amor autêntico sem doação de si mesmo a um outro. Tanto mais elevado é o amor, quanto mais profundo é o esquecimento de si próprio, daquele que ama, em favor do enriquecimento da pessoa amada. O amor em plenitude só se realiza quando o eu se deixa absorver definitivamente no pleno tu, quando o homem reencontra o seu Destino, que é, ao mesmo tempo, a Origem donde emanou.
Se se fecha no seu ego; se faz da sua pessoa o centro de todas as coisas, e o padrão de todos os valores, o homem isola-se, não se realiza, apenas constrói, já neste mundo, a prisão de um autêntico inferno. Quem não é capaz de amar, aniquila-se a si mesmo, pela impossibilidade de encontrar referências que balizem a sua própria existência. Nessa linha se situa também o sofrimento moral provocado pela rejeição do amor oferecido, especialmente quando toca as raias da infidelidade. Nada mais atroz do que a rotura do amor entre aqueles que muito amaram. O contrário do amor é o ódio. O ódio é o paroxismo da rejeição do amor.
O sofrimento, porém, não tem em si mesmo a finalidade da sua existência. Sofrer é também caminhada de redenção, e aí se situa o seu principal valor. Sofre-se quando algo não está bem, e isso representa um aviso para correcção consequente de atitudes, para reparação de males praticados. Quando o homem não interpreta correctamente as mensagens do sofrimento, ou as despreza, então o sofrimento pode transformar-se em tortura, em pena condenatória.
O sofrimento deve ser combatido, e lutar pela eliminação das suas causas, para que ele seja evitado ou minimizado é já uma tarefa amorosa. Não se busca o sofrimento pelo sofrimento - a não ser por doentia perversão -, mas aceitá-lo, acolhê-lo, quando inevitável, saber viver com ele, será, certamente e já, caminho de perfeição, ainda que pedregoso, cheio de escolhos e de espinhos - doloroso. O sofrimento redime, repara, regenera («Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a Minha vontade, mas a Tua» - Lc 22, 42)..
Tudo custa, na vida. E, diz o povo, o que não custa não tem valor. O progresso rumo à perfeição faz-se de sucessivas perdas e transformações, frequentemente dolorosas. Os maiores dramas de todos os tempos e de todos os homens residiram sempre na ânsia de buscar o bem contra tudo e contra todos, menos suportando o seu verdadeiro preço. Assim nasceu o pecado da origem, e, com ele, todos os ódios, todas as ganâncias, todos os crimes e todas as guerras. Roubar, violentar, matar, são, afinal, dimensões desse outro lado da natureza humana, onde o ódio da revolta, da soberba e do orgulho, se sobrepõe à vocação de amor que cada ser humano traz na alma.
O sofrimento situa-se, assim, na outra face do amor. Não sabe amar quem não se dispõe a sofrer pelo amado, visto que o amor é dádiva de si mesmo, até ao sacrifício da própria vida. Só entende verdadeiramente o valor libertador do sofrimento, quem consegue viver a dimensão
criadora do amor. E, paradoxalmente, só atinge a infinitude dessa dimensão amorosa, quem mergulha na dor provocada pela ausência abrupta da pessoa amada.
Criado para ser feliz, o homem é também um ser criado para se determinar em liberdade. É esta liberdade que o torna responsável e lhe garante a autonomia personalizante. Mas é também a mesma liberdade que o leva a tomar opções: ou o caminho em que percorre, cada dia, toda a amplitude da sua humanidade; ou as tortuosas veredas que o desviam dos objectivos da perfeição, num horizonte sempre distante. E quando não quer, o homem, cumprir a vocação do seu destino, só pode, ele, encontrar a perversão da sua existência, que gera o sofrimento.
Toda a Criação está, solidariamente, marcada pelo sofrimento e pela morte. O mundo inteiro sofre em contínuas dores de parto, em transformações sucessivas, até ao termo dos seus dias. A morte é a plenitude do sofrimento. Mas o sofrimento da Natureza é regenerador, num equilíbrio eco-sistemático que só a acção do homem, por imprevidência e mau uso, desarticula. A Filosofia quis explicar este fenómeno de verificação quotidiana pela lei dos contrários. À tese, opõe-se a antítese, e do seu confronto brota a síntese, numa sucessão infinda... As religiões não desprezam essa dimensão do sofrimento, e o cristão tem presente que, se o grão de trigo que cai à terra não morrer, não dará fruto, segundo o Evangelho.
O sofrimento é, pois, dor, tormento, pena; mas é sobretudo aviso, reparação, regeneração e redenção. Quem não abraça generosamente esta segunda face do sofrimento, a autêntica, a verdadeira, a que transforma em amor e esperança o pecado e a ingratidão dos homens, sofre, verdadeiramente, atrozmente, a primeira, a que escraviza, atormenta e destrói.
Na Cruz, no alto do Gólgota, confrontam-se, em plenitude, estas duas faces da vida: o sofrimento e o amor. É nesse confronto que, pela morte de Cristo, todo o sofrimento da Humanidade encontra significado e sentido. Aí se polarizam, em plena comunhão de Amor, todas as dores e gemidos do Mundo, e aí tudo «explode» em Ressurreição para uma vida nova, a vida da vocação definitiva da Humanidade e do Universo: a Vida Eterna, onde só o Amor persiste.
Só um Homem-Deus podia assumir semelhante tarefa. Um Homem que deixou um mandamento novo a todos os seus irmãos:
"Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei; ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos" - Jo 15, 12-13.
Enquanto e na medida em que este mandamento for letra morta, o sofrimento imperará no Mundo, mesmo o dos inocentes... Ainda que sobre estes se questionem os poetas (... mas as crianças, Senhor?!...), porque a culpa é, e só, do homem que somos!

V. N. dos Santos




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