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Re: Livros Apócrifos
Escrito por: soraia (IP registado)
Data: 13 de May de 2003 21:30

Portanto, aquilo que tanto veneram são opções políticas. Incluem-se uns textos, excluem-se outros, inventam-se e alteram-se outros conforme as conveniências de momento ( Quando se fala em conveniências a questão de fundo é - mais poder, mais influência e mais dinheiro. è isso que move as Igrejas.)

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: Hugo Castro (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 01:18

Luis parece que não leste o estudo que abre este tópico:

Vou portanto repetir algumas coisas e acrescentar outras:

Tens razão quando dizes que os judeus de Alexandria são tão povo de Deus como são os de Jerusalém e tanto uns como outros tinham como canónicos os mesmos livros o cânon hebraico ou palestiniano (39 livros). Fizeste uma pequena confusão com o numero de livros, o cânon hebraico é só o velho testamento e são 39 livros, 66 é o numero de livros do velho e novo testamento juntos. Não existe uma única evidência que os Judeus de Alexandria tinham como canónicos os livros apócrifos. Os Judeus sempre tiveram um unico cânon (livros considerados inspirados) em qualquer parte do mundo em que se encontrassem até aos nossos dias que é o palestiniano que é constituido pelos textos que compõem os 39 livros do Velho Testamento (excepto o Velho testamento das biblias católicas que têm 46 livros).

O cânon hebraico (palestiniano) foi fixado por volta do V século antes de Cristo, no tempo de Esdras e Neemias. Do tempo do encerramento do canon até Cristo não houveram profetas, por tanto muito menos escritos inspirados por Deus. A isto se referiu Jesus em Mateus 23:35, aludindo à matança de todos os homens rectos, que foram perseguidos, desde Abel a Zacarias, cujo livro era o último do cânon hebraico. Os livros apócrifos datam do encerramento do cânon hebraico até Cristo.

Posteriormente no II sec a.C. no Egipto na cidade de Alexandria começaram-se a traduzir livros hebraicos para grego entre os quais os livros canonicos (a biblia judaica) para os judeus que lá residiam. Foi assim que surgiu a versão da Septuaginta. Esta versão dos setenta não eram os 39 livros do canon hebraico mais os sete apócrifos que a igreja católica hoje considera canonicos. O numero de livros da Septuaginta varia por exemplo o codice chamado Vaticano (catalogado com a letraB), não tem 1 e 2 Macabeus, e inclui 1 Esdras (que nem sequer os católicos consideram canonico); o codice dito Sinaitico (catalogado com a letra hebraica "alef") só inclui Judite, Tobias, 1 Macabeus e 4 Macabeus (não considerado canonico pelos católicos). O codíce dito Alexandrino (catalogado com a letra A) inclui 1 Esdras, 3 e 4 Macabeus (que os católicos consideram não canonicos ).
Sendo assim na verdade nem se pode falar da existência de um canon alexandrino porque os manuscritos que contém tal versão documentam uma notável incerteza a propósito do quanto fosse de aceitar como canónico.

Não existem textos dos Setenta anteriores ao IV d.C., isto é, os testemunhos em nossa posse desta versão são posteriores à sua compilação pelos menos 600 anos! Pode bem ser que os textos apócrifos do Antigo Testamento tivessem sido acrescentados a tal versão já na época cristã. Provavelmente nunca existiu um "canon alexandrino" e os próprios hebreus alexandrinos dele nunca fizeram menção ; basta pensar que o filósofo hebreu Filon de Alexandria (que viveu no primeiro século d.C.), nunca utiliza nos seus escritos os apócrifos .
O unico canon legitimo é o que contém os 39 livros do actual Antigo Testamento, ou seja o Palestiano.

Era convicção quase unânime junto dos escritores cristãos dos primeiros séculos, que os textos não incluidos no "canon palestiniano" não devesse ser utilizado para a leitura publica ou para as controvérsias doutrinais (pensavam assim Melito (190), Orígenes (253), Eusébio de Cesaréia (339), Hilário de Poitiers (366), Atanásio (373 d.C), Cirilo de Jerusalém (386 d.C), Gregório Nazianzeno (390), Rufino (410), Jerônimo (420), Tertuliano, cujas obras cobrem o periodo que vai desde o II ao VI seculo d.C.).

A Igreja Cristã dos primeiros séculos nunca se afastou do Cânon Palestiniano para o Antigo Testamento e rejeitou também os apócrifos do Novo Testamento . Pelos primeiros quatro séculos da era cristã, eles nunca foram reconhecidos como inspirados por nenhum concilio ou outra autoridade .

Portanto após quinze séculos de Cristianismo não se voltou atrás com nenhuma decisão nem lutero eliminou nada, a igreja católica romana é que decidiu após quinze séculos escolher sete livros apócrifos e decretá-los canónicos e deitar fora os outros que não interessavam (por acaso eles é que "eliminaram" dois livros de Macabeus 3 e 4) para justificar as suas doutrinas, não é por acaso que a canonicidade destes livros é decretada no concilio de Trento um concilio estreitamente relacionado com os acontecimentos da reforma Protestante.

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: Mara (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 14:00

"Talvez o indivíduo mais comentado da Terra em todos os tempos tenha sido Jesus Cristo, um carpinteiro muito pobre nascido em Nazaré (apesar de a Bíblia dizer que ele nasceu em Belém, afirmação essa nitidamente construída para comprovar que ele era de fato o Messias, visto que a tradição Judaica dizia que o Messias viria da mesma linhagem do Rei Davi, cuja mesma tradição relacionava à cidade de Belém; por isso a invenção da História do censo que, na realidade, só ocorreu quando Cristo já tinha cerca de doze anos de idade, em 6 d.C.), por volta de 6 a.C. (esta é a data mais aceita Historicamente, o fato de o nascimento de Jesus situar-se seis anos antes do devido é explicado por um erro de cálculos da própria Igreja Católica quando da substituição do Calendário Juliano pelo atual Calendário Gregoriano), filho de Maria, uma jovem que teria sido inseminada pelo Espírito Santo sem perder a virgindade (é curioso que até hoje, no Amazonas, quando alguma moça das populações ribeirinhas fica grávida antes de se casar, a gravidez seja atribuída ao Boto Cor-de-Rosa (um Espírito de um índio que vaga pelos rios da bacia amazônica e que, vez por outra, fecunda uma índia moça só para trazer-lhe problemas perante sua comunidade)).

Enquanto grávida, Maria teria se casado com um velho homem de nome José, que se apiedara dela e, para evitar que fosse alvo de falatórios, resolveu casar-se com a moça. Que a Bíblia é o texto mais modificado da História, qualquer pessoa com um mínimo de esclarecimento sabe, por isso, não é novidade para ninguém que a Igreja tenha adicionado e retirado trechos e até livros inteiros do conteúdo original ao longo dos tempos para que a Bíblia servisse melhor a seus propósitos. Sendo assim, muitos estudiosos afirmam que alguns textos ditos apócrifos (de autoria controversa) eram originalmente parte integrante do livro mais vendido de todos os tempos. Um desses textos apócrifos, que data do século II, diz que Jesus seria filho de Maria com um soldado Romano (uma hipótese muito plausível) e que para evitar que fosse apedrejada por tal ato de lascívia, José se casara com esta menina de então apenas 12 anos.

Uma referência que a própria Bíblia faz (mas que é contestada por teólogos (que, em geral (e quando digo em geral, não quero dizer todos), não costumam ser cientistas sérios, mas apenas Teófilos (amantes de Deus), ou seja, fanáticos religiosos tentando comprovar seus dogmas através de uma suposta ciência (teologia = estudo de deus))) é a de que Jesus teria tido seis irmãos, sendo quatro homens e duas mulheres. Se pelo menos um deles for também filho de Maria, cai imediatamente por terra a teoria da virgindade da Santa Católica.

Quanto à infância do Messias, a Bíblia faz poucas referência, mas nas que faz pode-se perceber duas coisas: uma criança com poderes especiais e fora de seu controle e, por outro lado, um menino arrogante e ingrato com o todos, inclusive com o homem que lhe adotara, José. Desde cedo Jesus começa a acreditar que só ele está certo, que está a serviço de Deus e de mais ninguém e coisas do gênero. Certa passagem da Bíblia conta que uma vez ele se perdeu e foi encontrado discutindo religião com os sacerdotes do Templo de Salomão, em Jerusalém (esta teria sido a primeira ida dele ao Templo principal do Judaísmo).

Os evangelhos apócrifos mostram um Jesus não tão bonzinho quanto o que a Bíblia pinta. Segundo tais textos, o Messias quando criança gostava muito de impressionar os amigos e às vezes perdia as tardes fazendo bonecos de barros aos quais posteriormente concedia a vida para se exibir. Há um episódio em que o menino Jesus teria fulminado com um raio um garoto só porque este esbarrara em seu braço na rua, porém, depois de levar uma bronca do pai (não se pode precisar se Deus, ou José) ressucitara-o.

Entre os doze e os trinta anos de idade, a Bíblia apresenta um grande vazio sobre a vida de seu Messias. Este vazio é providencial, afinal a fase da vida de um homem onde ele mais se entrega a comportamentos não ortodoxos é justamente a adolescência e entre os 20 e os 30. Sendo assim, é muito possível que as passagens que citassem a vida dele nesse período tenham sido propositalmente excluídas ao longo dos séculos (a exclusão de partes da Bíblia e inclusão de outras era muito simples de se realizar até o século XV, quando Gutemberg inventou a primeira prensa da História e iniciou a impressão da Bíblia em série, além disso, até o século XIX, os Católicos de todo o mundo era proibidos de ler a Bíblia por conta própria, para isso precisavam ir à Igreja).

Quanto ao número de apóstolos, certamente 12 foi um número criado posteriormente, pois segundo estudiosos de símbolos, o 12 é um número perfeito que representa quatro vezes a trindade, três em cada ponta de uma cruz e as quatro pontas se ligando por um ponto de intersecção central: Jesus.

Junto com as pregações de Cristo, vêm declarações como: "Vim apenas para as ovelhas de Israel, acaso devemos alimentar os cães quando nossos filhos têm fome?" e "Só há um caminho para a Salvação e este caminho é através de mim!".

Segundo estudiosos, a ida de Jesus a Jerusalém fazia parte de um plano. Ele entrara na cidade montado num burrico pois sabia que na Torá (um dos dois livros sagrados dos Judeus que compõe também o início do Velho Testamento) o profeta Zacarias dizia que o Messias chegaria a Jerusalém dessa forma. Os Sacerdotes do Templo tomaram isso como uma provocação e, como se não bastasse, no dia seguinte, Cristo tem um acesso de raiva no meio do mercado de Jerusalém e ataca mercadores, destruindo suas tendas e alegando que aquilo era usura (lucro), coisa que Deus condenava: "Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus!" (Reino, aliás, que ele dizia pertencer a si próprio).

Depois de ser capturado, ele é crucificado e sepultado e, para o que ocorreu depois, há várias teorias. No entanto, as mais fortes são: ele sobrevivera à crucificação e fora sepultado vivo e assim, resgatado. Seu corpo fora removido por seus seguidores que espalharam o boato da ressurreição. Ou quem morreu na cruz foi um sósia, enquanto o verdadeiro Cristo estava escondido.
O fato é que após a morte de Cristo começam a se disseminar os ideais pregados por ele, ideais que contém essencialmente amor e paz, mas não igualdade, visto que ele próprio fazia diferença entre as pessoas de povos diferentes. O Cristianismo conseguiu, a duras penas, se fixar em Roma e, por volta do século IV, tornou-se a religião oficial do Império. Cresceu tão forte que resistiu mesmo à queda do Judaísmo (sua doutrina mãe), no século II, à queda de Roma (seu Estado mantenedor), no século V e às invasões Medievais.

A Bíblia, por sua vez, continuou sendo escrita pelos discípulos, pelos discípulos dos discípulos e também por seus discípulos...

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: João (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 14:35

Hugo:
Como sabes, entre a redacção do livro de Malaquias e a dos primeiros textos neotestamentários houve muita produção literária judaica. Sim, houve! Muitos foram os livros escritos neste período, contudo, eles não foram inseridos no cânone do Antigo Testamento Hebraico, que os protestantes também adoptam.

Este conjunto de obras que não figuram nos cânones hebraico e protestante são chamados de apócrifos. Apócrifo significa literalmente "coisas ou escritos ocultos". Este termo é utilizado para denominar os livros judaicos que foram rejeitados, primeiro pelo judaísmo, ainda na antiguidade, e, depois, pelo protestantismo porque não foram considerados sagrados.

Alguns deles - Tobias, Judite, A Sabedoria de Salomão, Eclesiástico ou a Sabedoria de Jesus ben Sirac, Baruque e A Carta de Jeremias, I e II Macabeus e acréscimos aos livros de Ester e Daniel (Susana, Bel e o dragão, o Cântico dos três jovens) - são denominados pelos católicos como deuterocanônicos e encontram-se nas Bíblias deste grupo religioso. Assim, ainda que estes livros tenham sido lidos e estudados pelos cristãos durante séculos, com a reforma protestante e o nascimento das igrejas evangélicas, optou-se por seguir a determinação judaica. Os protestantes preferirem seguir as orientações dos judeus apenas para afrontar a igreja católica que, na altura considerava os judeus como seu principal inimigo.

Além desses deuterocanônicos, houve uma grande produção literária judaica, elaborada entre os séculos III a. C. a II d.C., que não foi reconhecida nem pelos líderes judeus . Este grupo de livros são chamados de pseudepígrafos. Este termo significa, literalmente, falsos sobrescritos, ou seja, falsas alegações de autoria. Eles são, portanto, assim denominados porque atribuem sua autoria a um personagem bem conhecido pelos judeus, tais como Adão, Enoque, Moisés, Baruque etc.

Estas obras foram compostas por judeus que se encontravam na Diáspora, ou seja, vivendo no Egipto e na Síria, ou na própria Palestina, por elementos ligados às chamadas seitas judaicas, como os essênios e fariseus. Dentre o conjunto de obras produzidas neste período, encontram-se Testemunhos, Textos de sabedoria, Biografias, Livros proféticos e outros, tais como Carta de Aristeas, O Testamento dos 12 Patriarcas, Ascensão de Isaías, Salmos de Salomão, Vida de Adão e Eva etc.

Os judeus não incorporaram os deuterocanônicos e os pseudepígrafos no seu cânone por vários motivos, dentre eles destacamos: por terem sidos escritos em grego; porque incorporaram crenças helenísticas; o uso, ou não, que já se fazia destes textos nas sinagogas no século I d. C.; por possuírem um acentuado tom escatológico; porque de entre as diversas seitas judaicas surgidas a partir do século II a.C. e que produziram textos, só os fariseus sobreviveram após a Guerra Judaica que assolou a palestina entre 64-70 d.C. e foram os membros desta seita judaica, portanto, os responsáveis finais pela escolha dos livros.

Foi apenas por isso e não qualquer inspiração divina.

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 15:02

Queria perguntar ao venerando Hugo em que parte dos textos apócrifos ou da tua bíblia
se fundamendam as exortações ás
mulheres da tua seita. Passo a citar:

"A ti irmã que queres emancipar-te (como te sugeriram de fazer as mulheres altivas): tu procuraste e encontraste um trabalho secular do qual não tens absolutamente necessidade e isto porque não queres que seja o teu marido a comprar-te as coisas de que tens necessidade com o dinheiro que ganha, porque o consideras uma desonra para ti mulher, e porque queres ter também tu dinheiro numa conta tua no banco para a poderes gerir como queres tu, sem que ninguém abra a boca a respeito, e poder dizer: ‘É meu ganheio eu!’, e porque começaste a ambicionar roupas de marca, provocantes e luxuosas que te fazem sentir (como dizes agora também tu) ‘mais mulher’. Te deixaste seduzir porque vais dizendo: ‘Quero realizar-me’, e ainda não percebeste que esta tua realização a estás procurando sendo rebelde a Deus e não obedecendo-lhe. Fazes as coisas não necessárias e descuras as coisas necessárias, que tu irmã deves fazer para o teu bem, para o do teu marido e para o da família; voltas do trabalho cansada, irritada e sabendo que deves cozinhar, lavar e passar a ferro e fazer outras coisas úteis, te pões a murmurar, não fazes mais estas coisas alegremente como uma vez, mas com má vontade e ousas mesmo dizer ao teu marido que deve fazer ele os trabalhos domésticos; o ritmo da tua vida tornou-se frenético, tens demasiadas coisas para fazer; estás sobrecarregada de trabalho, de fazer filhos não queres nem sequer pensar e quando os ouves falar e os vês nascer aos outros tentas fazer fingimentos de nada, tornaste-te altiva, caminhas a passos curtos, com o pescoço rigido, sobre tacões altos. Arrepende-te, obedece a Deus e receberás o bem e farás feliz o teu marido."
Queria também saber me que parte da tau bíblia está aproibição de ir á praia.
Ando á p+rocura de uns textitos apócrifos para acrescentar ao meu Coraõ e estes até me podiam der úteis.
Com mil salamaleques


taliban, um teu irmão na fé

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: Hugo Castro (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 16:18


Este taliban anda desesperado, é compreensivel. Coverte-te a Cristo e obterás as respostas para as perguntas que me fazes.

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 18:23

Meu caro Hugo:

Apesar de longa, espero que leias esta mensagem com atenção, pois nela respondo a uma das tuas anteriores.

1. Cânon definitivo no século V a.C.? Não!!! Não é verdade que o cânon foi hebraico foi fixado no século V a.C., de modo que no tempo da Igreja dos Actos houvesse um cânon definitivo do Antigo Testamento. Se assim fosse, como explicar a controvérsia que conduziu a Jâmnia? Se o cânon estivesse já definido, como justificar que Judas cite explicitamente dois livros que hoje não são considerados canónicos? Enfim, um pequeno pormenor que debilita essa ideia do cânon definitivo no século V a.C. Mas há dados muito, muito interessantes contra essa tua afirmação do cânon definitivo nessa data. Muitos dos livros que figuram no cânon hebraico e protestante foram redigidos depois dessa data. Seguindo a tua hipótese ficariam de fora os seguintes livros, porque todos estes livros foram escritos ou terminados depois do século V a.C.:

- Jonas,
- Joel,
- os capítulos 24 a 27 de Isaías,
- os capítulos 9-14 de Zacarias,
- os Livros das Crónicas,
- o Livro de Ester e
- todo o Livro de Daniel.

Note-se ainda que também foi depois dessa data que foi dada por completa a lista dos salmos, já que antes da redacção final havia outros salmos, alguns dos quais foram descobertos em Qumran. [Dados recolhidos no «New Jerome Biblical Commentary», uma autoridade de reconhecimento internacional.]

O que se passa é que essa tua informação se baseia num escrito de Josefo de duvidosa consistência. Vejamos:

• essa informação que Josefo dá foi recolhida num apócrifo/pseudo-epígrafo (4º Livro de Esdras, escrito no século I da era cristã)! Repito: trata-se de uma lenda inverosímil (com pormenores de tipo gnóstico!), já que muitos dos livros que fazem parte do cânon protestante foram escritos depois daquela data, como acabei de mostrar;

• Josefo colocaria assim Esdras como o arauto singular da canonização dos livros bíblicos, tendo alguns protestantes sugerido que haveria na altura uma “Grande Sinagoga”, para retirar a inverosímil canonização dos livros a uma só pessoa, Esdras. Quando muito, Esdras terá dado forma final aos livros da Lei, que foram terminados nessa altura (só nessa altura!). E hoje está provado que a “hipótese” da Grande Sinagoga não tem evidência histórica;

• Josefo dá algumas indicações “harmonizadas” ao gosto antigo. Por exemplo, o número de 22 livros está acomodado ao facto de o alefbeto (alfabeto hebraico) ter esse número de letras.

Importa então dizer que a anterioridade a Esdras não é condição indispensável para a canonicidade de um livro da Bíblia.

2. O critério da profecia (ou autoria profética). Dizes que entre Zacarias e Jesus não houve profetas, mas isso não confere nem tira autoridade a um livro. Quem foi o profeta que escreveu o Cântico dos Cânticos? Quem escreveu o Pentateuco? Não, não foi Moisés! Quantos livros foram escritos por profetas? Pouquíssimos. A maior parte foram escritos por não-profetas. Mas há mais: ao contrário do que dizes, há sinais de que a profecia não cessou com Zacarias. Lucas diz que no templo “havia também uma profetiza, Ana” (Lc 2:36) e por várias vezes Jesus é tido por profeta... As muitas alusões ao título de profeta nos evangelhos denotam que o povo estava consciente desta possibilidade e nunca aparece qualquer alusão ao fim da profecia. Jesus não foi acusado de se proclamar um profeta a mais...

Importa então dizer que a autoria profética não é condição indispensável para a canonicidade de um livro bíblico.

[Bom, e tu admites que hoje os profetas continuam... De resto pergunto: uma vez que não aceitas a Tradição, que instância te leva a concluir que o cânon (consideremos apenas o do Novo Testamento) já está terminado? Lutero? Quem te garante isso? Inspiração divina? Gostaria que respondesses claramente: que instância garante que o cânon fechou? O Espírito Santo? Mas se é assim, porque andou Lutero no tira-e-põe? Fintas ao Espírito Santo? Será ele a Tradição?]

3. LXX só desde o século IV? Dizes também que «Não existem textos dos Setenta anteriores ao IV d.C., isto é, os testemunhos em nossa posse desta versão são posteriores à sua compilação pelos menos 600 anos!». Ora bem: “com a verdade me enganas”, não a mim, mas já vi a Andréia dizer, por causa de uma afirmação semelhante (não certamente por tua culpa) que a versão dos LXX foi escrita «muito, muito depois da Igreja dos Actos». O facto de não termos manuscritos mais antigos não prova absolutamente nada. Propões que «pode bem ser que os textos apócrifos do Antigo Testamento tivessem sido acrescentados a tal versão já na época cristã», mas isso é apenas uma suposição que te “dá jeito”. Mas o mesmo “New Jerome Biblical Commentary” (NJBC) elenca vários manuscritos da era pré-cristã de textos dos LXX. Há ainda dessa altura traduções feitas a partir dos LXX para latim, copta e etíope (veja-se NJBC 68:66-ss). E seguem-se muitos manuscritos fragmentários anteriores ao século IV, num total de 1800. O que temos de novo nos textos do século IV (os códices) é que eles constituem as melhores cópias da versão dos LXX (mas o códice é uma “invenção” desse século). Mas, por si mesma, a idade “tardia” dos códices não provam “intromissões”. O que eles mostram é uma “curiosa” flexibilidade de livros incluídos e não incluídos.

4. Contra os cânones, marchar, marchar... Dizes que «provavelmente nunca existiu um "cânon alexandrino"», e é verdade que há quem o ponha em causa, mas muito duvidosa e até errada é essa hipótese do cânon fechado no século V a.C. Como já mostrei, no tópico nº 1.

5. A Igreja Primitiva e o cânon palestino. Outra das tuas solenes afirmações estabelece que «a Igreja Cristã dos primeiros séculos nunca se afastou do Cânon Palestiniano para o Antigo Testamento e rejeitou também os apócrifos do Novo Testamento». Ora bem, não é bem assim. O Novo Testamento segue quase sempre a tradução dos LXX e refere-se a elementos dos deutero-canónicos. Mostrarei isso noutra mensagem, a propósito da mensagem inicial. E nota que mais do que rejeitar os apócrifos é o facto de não reconhecerem inspiração a alguns escritos que faz deles apócrifos.

6. Um “protestante” apela à Tradição? (tive o cuidado de colocar “protestante” entre aspas). Quanto à lista dos escritores cristãos que referes, já respondi anteriormente, fornecendo uma outra lista daqueles que aceitaram os deutero-canónicos. É importante ver as reticências aos textos deutero-canónicos aparecem sobretudo a partir do final do século II, por uma razão muito simples: as crescentes controvérsias com os judeus, para as quais se recorria aos textos comuns. Note-se que foi já depois da Igreja dos Actos que os judeus resolveram a controvérsia do cânon (longe de estar definido desde o século V a.C.!) com o chamado cânon de Jâmnia. E fizeram-no, apelando para o chamado cânon palestino (e não “palestiniano”), como forma de fazerem frente aos “desvios” greco-cristãos. O chamado cânon de Jâmnia foi decidido já num tempo posterior ao florescer do Cristianismo, quando os judeus já não tinham autoridade sobre os cristãos e sobre o Antigo Testamento dos cristãos...

Contudo, diga-se que estes escritores não condenam os deutero-canónicos nem dizem que estão contra a fé da Igreja, na verdade um argumento anacrónico da apologética protestante. De resto, podemos encontrar sempre elementos de variedade doutrinal em muitos dos Padres da Igreja. O critério último de ortodoxia na Igreja não foi o simples acordo de vários nomes importantes, embora isso seja importante (importante mas não definitivo). O critério último tem a ver com o modo como a Igreja se manifesta com autoridade sobre um determinado assunto. [Vê no último texto que cito nesta mensagem o que um autor protestante diz sobre Jerónimo e o modo como ele resolveu a questão...] Normalmente a definição final acontece depois de um longo processo de maturação e de discussão. No fim a Igreja manifesta-se com autoridade, através dos Concílios ou do Magistério da Igreja. E foi isso que aconteceu. Vários estudos (citarei a seguir dois autores protestantes, “insuspeitos”) mostram que não havia um cânon totalmente definido. O cânon é definido pela Tradição, que é um processo dinâmico e que por isso tem os seus momentos de pluralidade. A Igreja dos Actos é progressivamente grega e a sua Bíblia é a versão dos LXX. Embora não tenhamos sempre a lista dos livros que usavam nesse tempo, temos no Novo Testamento indicações de que os deutero-canónicos eram estimados e lidos juntamente com os outros. Mas, temos também muitos exemplos de citações de deutero-canónicos nos tempos que se seguem ao Novo Testamento. Dou agora a palavra a J. N. Kelly, um protestante especialista em Patrística, no livro Early Christian Doctrines, pp. 53-54:
Citação:
«Deve observar-se que o Antigo Testamento assim admitido como tendo autoridade na Igreja foi algo mais volumoso que [o Antigo Testamento Protestante] [...] Ele sempre incluiu, embora em vários graus de reconhecimento, os chamados livros apócrifos ou deuterocanónicos. A razão disto é que o Antigo Testamento que passou numa primeira instância para as mãos dos Cristãos foi [...] a tradução grega conhecida como Septuaginta [...]. A maior parte das citações bíblicas que encontramos no Novo Testamento baseiam-se nela e não no hebraico [...]. Nos primeiros dois séculos [...] a Igreja parece aceitá-los todos, ou a maior parte destes livros adicionais como inspirados e tê-los tratado como Escritura sem questionamento. Citações do Livro da Sabedoria, por exemplo, ocorrem na Primeira Carta de Clemente e na de Barnabé. [...] Policarpo cita Tobias e a Didachê [cita] o Esclesiástico. Ireneu refere-se ao Livro da Sabedoria, à história de Susana, Bel e o Dragão [partes do Livro de Daniel] e Baruc. O uso feito dos apócrifos por parte de Tertuliano, Hipólito, Cipriano e Clemente de Alexandria é demasiado frequente para serem necessárias referências detalhadas».
É curioso que eu tinha enunciado Tertuliano entre os que aceitam os deutero-canónicos, tal como o faz Kelly, mas tu resolveste metê-lo entre os que condenavam o cânon.

[É interessante notar que foi o estudo aprofundado da Patrística e da Tradição que levou John Henry Newman a deixar o protestantismo e ingressar na Igreja Católica (trata-se do famoso Cardeal Newman).]

Bom, depois disto, serão necessários mais dados? Porque omitiste os primeiros dois séculos? E porque omitiste os concílios que se seguiram, para apenas referires o Concílio de Trento? Porquê essa insistência em meias verdades? Pois, em matéria de Concílios, muito antes de Trento a questão tinha sido tratada... Mas, como sabes, um Concílio nunca trata a invenção de um novo elemento da fé, mas a determinação de algo que vem resolver um problema. Da mesma forma que seria falso dizer (mas há quem o faça) que a Trindade é uma invenção de Niceia (assim dizem as Testemunhas de Jeová), que a “Theotókos” é uma invenção de Éfeso (aqui te inseriste tu), há também quem afirme que os deuterocanónicos são uma invenção de Trento (também te inseres aqui), para fazer frente aos Protestantes. Nada mais falso. Trento pôs um ponto final ao problema, porque Lutero fez disso um problema importante, como Ário tinha feito um problema grande com a questão da divindade de Jesus Cristo ou como Nestório pôs um problema na unidade da pessoa de Jesus Cristo ao negar o título de Theotókos. Mas nenhum destes concílios criou nada de novo “ex nihilo”.

7. Os Concílios antes de Trento. No que diz respeito ao cânon do Antigo e do Novo Testamento, será bom notar que ele foi finalmente estabelecido no Concílio de Roma, em 382, reunido sob a autoridade do Papa Dâmaso I. Isto foi reafirmado em numerosas ocasiões, particularmente no Concílio de Hipona, em 393, e no Concílio de Cartago, em 397. Em 405 o papa Inocêncio I reafirmava o cânon numa carta. Um outro Concílio em Cartago, em 419, reafirmava o mesmo cânon dos seus predecessores e pedia ao Papa Bonifácio para “confirmar este cânon, pois estas são coisas que recebemos dos nossos pais para ser lidas na igreja”. Todos estes cânones incluíam os deutero-canónicos. Ainda antes de Trento há a referir o II Concílio de Niceia (787) que reafirmou implicitamente o mesmo cânon de Cartago e, sobretudo, o Concílio de Florença (1442) que Trento retoma e declara com solenidade. Note-se que tudo isto começou muito antes da crise protestante...

Daqui também se vê que cai por terra o chavão de que os Católicos foram “pescar” os deutero-canónicos para defender determinadas doutrinas. Antes que a doutrina do purgatório se começasse a explicitar já os livros dos Macabeus eram aceites como inspirados e a doutrina do purgatório não se baseia exclusivamente numa breve passagem de um desses livros... Bom, espera pelo final desta mensagem...

Nesta matéria passou-se exactamente o contrário: foram os protestantes que retiraram vários livros a seu gosto. Caso flagrante de arbitrariedade: a rejeição da Carta de S. Tiago por parte de Lutero, a que chamou “carta de palha”!!!

8. Um protestante desmascara o ovo de cuco. Bom, termino com mais um especialista protestante (luterano), Arnold C. Sundberg, que diz as muito interessantes palavras no seu livro The Old Testament canon of the Early Church, publicado pela Harvard Divinity School. Cito-o mesmo em inglês, para que não se duvide da tradução. Acho-o particularmente importante:

Citação:
«The criteria that Protestants use to exclude these books (the deuterocanonicals)from scriptures are completely useless because they would exclude other books that Protestants accept as canonical. There were some doubts by Jerome on the canonicity of the deuterocanonicals in his report to Pope Damasus. Pope Damasus' response was to consult the tradition of the churches, and the answer came back with a resounding unanimity by that point in the history of the church (late 4th century) that the churches scattered throughout the Roman empire had a constant tradition of including these books in their lectionaries and that they insisted that the apostles themselves had cited these books as scripture in their preaching and in their catechesis of the early church. On that basis Pope Damasus requested Jerome to include them in the Vulgate and Jerome as a faithful Catholic submitted his individual, personal opinion to the judgment of the church meeting in Council and included them. “Luther revived the Jewish desire to exclude these books from the canon for purely doctrinal and apologetical reasons. He was losing the debate on the issue of whether purgatory was taught in scripture or not. When his opponents hammered relentlessly away at him with the verse from Sacred Scripture 'It is a holy and wholesome thought to pray for the dead that they may be loosed from their sins' (2 Macc. 12:46), Luther as a DESPERATE DODGE grasped at the straw of the ancient Jewish caveat against the inclusion of these works.” Luther set a precedent that Protestants have followed ever since, In order to rob the Roman Catholic Church a powerful and undeniable proof text for purgatory. That is not responsible, intellectually honest scholarship.
Recomendo uma segunda leitura deste texto que citei... Para que não restem dúvidas...

Muito mais deverá ser dito. Ficará para quando responder ao longo texto que abriu este tópico...

Alef

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de May de 2003 19:10

O texto colocado pela Mara é delirante... Para terem uma ideia do que está por detrás dele, veja-se o "link" donde foi tirado:

[www.klepsidra.net]

Afinal, é a quarta parte de um longo artigo, que se encontra sucessivamente em:

[www.klepsidra.net]
[www.klepsidra.net]
[www.klepsidra.net]

Enfim...

Alef

Re: Livros Apócrifos
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 15 de May de 2003 00:51

O´Hugo mas eu já estpu convertido! Só precisava da tua benção apostólica!!!!!







LOL

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