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Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 13:36

Aguarda pela legislação.

Com calma.

católica praticante

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 13:51

Ínfelizmente a irresponsabilidade está muita próxima da demagogia e do populismo.

Como se pode ver antes pelos argumentos apresentados anteriormente, o que era um certeza agora passa a ser uma possibilidade.

Realmente estou curioso por saber qual vai ser o enquadramento legal e como se vão criar todos estes centros de apoio.

A verdade é que até provavelmente haveria essa intenção de criar os ditos CAF, o único problema é que se o governo decide avançar com esta rede lá se vai o milagre de recuperção orçamental do governo.

Mesmo que a lei preveja a obrigatoriedade do SNS ter uma rede de CAF, como se procederia ao control nas clinicas privadas, agora de com máscara de serviço público? Afinal se se conseguia no passado contornar uma lei que repremia o aborto, agora com a liberalização, o limite é impensável.

Parabéns CP, afinal sempre vais ter o que querias, liberalizar o aborto sem limites.

Em comunhão



Editado 1 vezes. Última edição em 14/02/2007 13:51 por Tilleul.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 13:58

Caro Tilleul:

Não me aprece que a catolicapraticante tenha defendido a liberalização sem limites.

Pelo contrário, admitiu, já há algum tempo, que não era preciso ir mais longe. E as citações que dela fizeste antes mostram, pelo menos em teoria, a admissão de alguns «limites».

Parece-me que, se se concretizarem aquilo que são as intenções do líder parlamentar do partido do governo, ela será uma das «enganadas». Contudo, muitos foristas tinham «adivinhado» e advertido para este possível desfecho.

Mesmo assim, ainda restam algumas esperanças que não se instale a «balda»...

Alef

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Tilleul (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 15:12

EU sei que a CP nunca quis este desfecho. Não sou obtuso e sei admitir o que as pessoas tentam transmitir. No entanto a forma como "calmamente" se espera para reagir esta notícia é no mínimo preocupante.

Realmente gostava de ver um comentário sobre este assunto por parte dos frequentadores deste fórum que votaram sim e que não fosse apenas um a-ver-vamos.

Os argumentos que apresentei antes, serviam para mostrar que o argumento apresentado para justificar que a liberalização do aborto até às 10 semanas iria reduzir o número total de abortos, foi especulação. Ou então muitos defensores do sim foram enganados.

Sendo assim das duas uma, ou se admite que se sente enganado ou se admite que era este o desfecho que se pretendia.

Em comunhão

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 17:42

Pensei que não escreveria mais sobre esse assunto e cá estou de novo. Vou tentar ser o mais claro possível e, embora pense que o assunto seja polêmico e tenda sempre para a confusão, procurarei evitá-la.

1 - Concordo que a igreja católica defende sim a vida qdo condena o aborto. Isso é ponto pacífico.

2 - Concordo que devemos ser contrários ao aborto, um aborto voluntário não pode ser banalizado como algo "normal", na medida do possível devia ser uma escolha para se evitar.

3 - Entendo que qdo a igreja católica ensina que existe uma vida humana desde o momento da concepção, qdo ela ensina que um aborto é sempre um crime, ela está ensinando o princípio de que toda vida humana tem valor e dignidade. Até aqui nenhum problema.

4 - Discordo, entretanto, qdo colocam a defesa de um princípio de tal modo acima que pareça que fazem pouco do sofrimento das pessoas concretas. Qdo ocorre isso não consigo deixar de pensar em fundamentalismos.

5 - Nenhum fundamentalista se vê como tal, sempre se acha defensor da verdade, e os outros sempre são os errados. Daí que temos que procurar sempre nos examinar para não acabarmos como um. Os extremos são um lugar de alerta, os extremistas tanto contra qto a favor continuem os grupos de risco mais comuns para o fundamentalismo.

6 - A defesa do embrião está ligada a defesa do princípio. Princípios criam valores éticos, valores morais, e são importantes. Um embrião, entretanto, nas primeiras semanas não tem sistema nervoso formado, não sente portanto "dor". Significa por isso que não tem nenhum valor e poderia ser simplesmente "descartado"? Claro que não! Pessoas a nossa volta, todavia, podem sentir "dor". Até que ponto é correto infligir "dor" a alguém pela defesa de um princípio?

7 - Existem outros princípios envolvidos. São de menor valor ou não? Do ponto de vista ético-moral existe uma questão para ser resolvida. Como fica a questão do ponto de vista teológico-moral? Também outra questão. São questões com nuances diferentes: a ética trabalha com a razão, a teologia acolhe ainda a revelação. A questão ético-teológica seria mais simples? Penso que não. Imagino que em todos os casos seja claro que o aborto não é um valor, mas a questão candente não é essa, a questão é: é justo infligir "dor" a alguém para defender um princípio?

8 -Alguém poderia sempre alegar o valor decisório do magistério, mas o magistério já mostrou limitações históricas, além do que afirma de modo claro o lugar da consciência como ponto de encontro privilegiado com Deus. Aqui vale novamente o cuidado com os riscos do fundamentalismo. Extremos são lugares de risco: se dizer que o magistério não tem valor nenhum é perigoso, dizer que o magistério é absoluto é ainda mais arriscado.

9 - O ser humano não é formado só de alma, pode ser um desânimo para alguns mas o ser humano tem um corpo. Se não tem corpo não é humano, deixa de ser homem, deixa de ser mulher. Parece algo óbvio, mas não é qdo esquecem que o corpo então define uma pessoa. A gravidez afeta todo o corpo de uma mulher, altera, portanto, o próprio ser dela! Algo impensável para um homem, mas uma realidade para a mulher. Totalmente descabidas, portanto, analogias de uma gravidez como um meio de transporte ou algo de menor monta. Exigir uma gravidez indesejada para uma mulher pode parecer uma escolha óbvia para uns, afinal, está em jogo um princípio importante, mas... e como fica a "dor" da mulher que será violentada no seu próprio ser? A mulher não tem dignidade tb?

10 - A igreja pode, acho até que deve, ensinar o princípio do valor e da dignidade de toda a vida humana, em todas as suas fases. Já obrigar isso de modo absoluto e sem considerar nenhuma situação atenuante, não acho, não acho mesmo; e impor sob lei, isso é que não mesmo. Coisas desse tipo já acabaram gerando muito sofrimento no passado, vamos repetir a história, repetir nossos erros? É uma questão simples então? De modo nenhum! Por exemplo, se o embrião estivesse em estágio avançado, sentisse "dor", haveria muito mais para considerar. Se a mulher não está mesmo decidida a abortar, se o faz por medo, seria o caso de ajudá-la - defesa do princípio, defesa da mulher mesma inclusive, que muitas vezes ocorre de recorrer a um aborto contra a sua vontade ou por se sentir insegura. Cada caso desses é sempre um drama. Só não acho justo tratarem todas as mulheres como pecadoras criminosas. Pecadores somos todos nós!

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 14/02/2007 17:49 por firefox.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 19:25

Interessante é observar que começou uma nova caça ás bruxas.. Trata-se de saber, em cada paróquias quem votou sim... E fazer pagar por isso.

O fundamentalismo, e o ódio aliada a uma militãncia cega caracterizam de facto muitos apoiantes do não, sobretudo os ligados aos moviemnstos da Igraja. Não conseguem digerir a derrota - e agora buscam bodes expiatórios.Têm mesmo dificuldade em aceitar a vontade dos portugueses!

Quanto ás especulações sobre "desfechos" que ainda não aconteceram, direi o que penso quando ler a lei.

Calmamente.

Estou convicta que o counseling e um prazo para decidir estarão contemplados na nova lei.

Fundamental é a opção da mulher, cuja vontade é soberana. Desde que seja salvaguardada...

católica praticante



Editado 1 vezes. Última edição em 14/02/2007 19:27 por catolicapraticante.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 19:31

Então é a possibilidade de sentir dor que permite classificar um ser humano como pessoa humana? Parece-lhe razoavel isto? Biolagicamente é um disparate absoluto. Só baseando-se na teologica e dubia distinção entre ser humano e pessoa humana.

Talvez não saiba mas existem pessoas que não sentem dor. Não têm essa capacidade. Será que podiamos abate-las enquanto bebés?
E um doente em coma profundo?

Firefox, não se inflige dor a ninguem por causa de um principio mas sim por causa de outra pessoa, outro ser humano. Existiram na historia pessoas que com base noutros principios negavam a humanidade dos negros, dos indios, das mulheres, dos deficientes.

No seu ponto 9 parece-me inconscientemente influenciado por um erro cientifico. O feto não faz parte do corpo da mulher, está no corpo da mulher mas não faz parte dele.

E por acaso a dignidade de alguma mulher fica afectada com uma gravidez? Uma mulher fica menos digna por estar gravida? E se o filho for para adopção a vida dela fica assim tão afectada?

Repare que vc está a partir do principio que o feto não é uma pessoa humana. Principio esse que não tem bases biologicas. É um ser humano. A sua distinção entre ser humano e pessoa humana é ideologica, não cientifica. É o seu principio.
Diga-se que o principio da dor como qualificativo para um ser humano é um principio muito duvidoso.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 19:51

Camilo, por favor...

Leia de novo o que escrevi e veja se há de fato motivo para tanta indignação. O referendo já acabou, tentei lhe mostrar a razão do meu pensamento, se insiste em não entender não posso fazer nada.

Citação:
camilo
Talvez não saiba mas existem pessoas que não sentem dor. Não têm essa capacidade. Será que podiamos abate-las enquanto bebés? E um doente em coma profundo?

Enquanto insistir em absolutizar tudo vai continuar indignado contra coisas que eu nunca disse e entendendo coisas que eu nem de longe insinuei.

No mais, querendo vc ou não, abortos acontecem, vão continuar acontecendo, e não será pela via da força que vc vai conseguir mudar as outras pessoas e o mundo.

Paz e Bem.



Editado 1 vezes. Última edição em 14/02/2007 19:55 por firefox.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 19:53

"
Citação:
a dignidade de alguma mulher fica afectada com uma gravidez? "

Sim, se agravidez for uma a gravidez não aceite.
É uma violação.
Refiro-me á violação física e psicológica de impõr a uma mulher uma gravidez que ela rejeita.

católica praticante



Editado 3 vezes. Última edição em 14/02/2007 19:56 por catolicapraticante.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 19:58

Cara catolicapraticante:

Mas então não é a gravidez que afecta a dignidade de uma mulher, mas sim outra coisa: as condições em que inscreve ou provocou determinada gravidez poderão ser interpretadas como tal. Mas, em si, a gravidez não parece afectar a dignidade da mulher. Uma mulher grávida, mesmo que a gravidez tenha sido provocada por uma violação, é tão digna como qualquer outra mulher, digna do mesmo respeito. Ou talvez mais.

Alef



Editado 1 vezes. Última edição em 14/02/2007 19:59 por Alef.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 20:42

Citação:
Camilo
A sua distinção entre ser humano e pessoa humana é ideologica, não cientifica.

Só podia ser. Na biologia não existe a noção de pessoa humana!

pontosvista

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: pontosvista (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 20:45

Citação:
Católica praticante
Fundamental é a opção da mulher, cuja vontade é soberana.

CP

Dito desta maneira parece que a mulher seria soberana para terminar a gravidez em qualquer altura. É isso que defendes?

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 21:44

Alef

acho que a CP, tal como eu, considera uma gravidez não desejada como uma violação física e psíquica da mulher, não se referindo estritamente a uma gravidez fruto de uma violação. O acto que levou à gravidez até poderá ter sido um acto de amor.
Uma mulher coagida a levar avante uma gravidez que profundamente recusa, sentir-se-à naturalmente inferiorizada, usada, indigna. Para ela o ser dentro dela é, no mínimo, um corpo estranho.




Tilleul

Quanto às consultas de aconselhamento nada tenho contra, desde que não se tornem mini-julgamentos à porta fechada.
Espero que as equipas técnicas envolvidas sejam formadas por profissionais cujo humanismo ultrapasse a frieza do dever a cumprir, e capazes de respeitar o facto de algumas mulheres já saberem muito bem o que pretendem quando se apresentam na consulta. Quero com isto dizer que não aceito fórmulas do tipo "é pegar ao largar que a lista é longa" nem do tipo "pense bem, pois vai matar um ser humano".
Mais que isto não posso falar pois a lei ainda terá de ser aprovada e regulamentada. Considero imprudente avaliar uma lei que ainda não saiu com base no que um qualquer político diz perante uma plateia de militantes no rescaldo de uma votação.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 22:25

Lena, a hipotese de aborto por razões graves de saude psiquica já existia.

Analisemos umas estatisticas sobre o aborto na china para lançar alguma luz sobre o que pretendo dizer.

No caso de um casal com 2 meninas é 3 vezes mais provavel que nasça depois um menino que uma menina. Ou seja nesta situação a taxa de abortos de meninas é muito mais elevada que a de meninos.

Será que depois de fazer uma ecografia e vir que está gravida de um menino a mulher fica euforica se vir que está gravida de um menino a mulher "coagida a levar avante uma gravidez que profundamente recusa, sentir-se-à naturalmente inferiorizada, usada, indigna. Para ela o ser dentro dela é, no mínimo, um corpo estranho. "

Será que isto faz algum sentido?

Além disto o ser humano por nascer não tem quaisqueres direitos? Menos que um ovo de cegonha?

Firefox, para além de mostrar sucintamente as fragilidades dos seus principios quis mostrar que neste assunto não é possivel fugir de opções ideologicas. Há sempre principios. O problema, que tentarei analisar noutro topico é que os seus principios não me parecem compativeis com a doutrina cristã.
Quanto ao uso da força no caso do aborto lembro 2 coisas:
1 - para todos os crimes existe este uso. Para a pirataria informatica, para a pedofilia (continua a ocorrer apesar de proibida; acaso defende que por esse facto a pedofilia deve ser despenalizada? Penso que não. Então porque o aborto esse principio deve ser aplicado no caso do aborto?)
2 - Para além do uso da força há a confusão que muitas pessoas fazem entre legalidade e moralidade.


Nota - Voltarei noutro dia para analisar os resultados do referendo.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 22:46

Ao contrário de algumas pessoas que já aqui se pronunciaram, eu não me sinto defraudado pela consequência do resultado do referendo. Sempre disse que iria votar NÃO pois era contra a liberalização e legalização do aborto e era disso que este referendo tratava.

Sei que pareceu uma conversa de surdos e que os adeptos do SIM levaram à exaustão o argumento de acabar as mortes das mulheres que abortavam clandestinamente.

Estou convencido que haverá um período de reflexão, isto é, uma mulher que se dirija num dia a um hospital para fazer um aborto, não o fará no próprio dia. Quanto muito, vai lá marcar a intervenção. Voltará no dia a seguir, ou dois ou três, assim que houver disponibilidade.

É claro que não haverá aconselhamento obrigatório. Isso é uma fantasia dos que votaram SIM e uma esperança dos que votaram NÃO. O objectivo é tornar possível o aborto a quem quer abortar. E se quem quer abortar se vai aconselhar, é óbvio que não aborta! Os mais radicais desesperam só de ouvir falar de aconselhamento, não vá o conselheiro ser um adepto do NÃO e menos um aborto que se faz.

Quando a Catolicapraticante escreve Sim, se a gravidez for uma gravidez não aceite. É uma violação. Refiro-me à violação física e psicológica de impõr a uma mulher uma gravidez que ela rejeita passa um atestado de ignorância e irresponsabilidade a quem pensa desta forma. À excepção dos casos de violação já contemplados na lei actual, é rídiculo que se considere uma gravidez indesejada como uma violação, seja ela física ou psicológia ou até mesmo virtual. Mas por acaso alguém que tenha relações não sabe que existe a probabilidade, mesmo baixa, de engravidar? Afina, estamos a falar de uma violação de quê?

Vamos lá ver, as gravidezes não vêm numa cegonha de Paris. Ninguém impõe a ninguém que fique grávida. O que se impõe é que se tenha dois dedos de pé alto na testa e se use a cabeça não apenas para usar chapéu. Repito, todas as pessoas adultas sabem que se tiverem relações sexuais há a possibilidade da mulher engravidar. A probabilidade é tanto maior se não forem usados métodos contraceptivos (naturais ou não).

Dizer que uma gravidez indesejada é uma violação é do mesmo quilate que dizer que engordar depois de comer dois quilos de gelado é uma violação.

Luís Gonzaga

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 22:50

Cara Lena:

Mas surgem então várias questões que se revestem de alguma dificuldade:


1) É a dignidade um sentimento subjectivo? Uma pessoa que, por qualquer condição subjectiva, se sente menos digna, deixa, de facto, de ser tão digna como «era» antes? Já agora, pensemos no caso de uma depressão...


2) De que falamos quando falamos de dignidade? Em que medida uma gravidez indesejada torna uma mulher menos digna? Há critérios de dignidade?


3) Seguindo a lógica do teu texto, em sentido inverso: e se for ao contrário? Isto é, alguém que se sinta mais digno que os demais, a ponto de os desprezar ou aniquilar, isso significa também que realmente tal pessoa é mais digna que os outros? É o sentimento o critério de dignidade? É-o apenas nalguns casos? Que critérios de discernimento?


4) Tendo em conta que não poucas mulheres sofrem um enorme trauma pós-aborto, que pode afectar o resto da sua vida, em que medida é que postular o aborto para a mulher que se sente «inferiorizada, usada, indigna» é uma solução? É uma solução? Que dizer dos tantos casos de mulheres que abortaram e que experimentaram serem usadas e inferiorizadas precisamente nas clínicas abortivas?


Nota que em todas estas perguntas me mantenho no teu «campo» de argumentação», prescindindo de chamar a atenção para o estatuto ontológico do «abortado» que é o outro lado da questão. Pelo menos.

Queres arriscar uma resposta sistemática a todas estas questões? Vamos a isto.

Alef

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 14 de February de 2007 23:51

Citação:
Luis Gonzaga
Quando a Catolicapraticante escreve Sim, se a gravidez for uma gravidez não aceite. É uma violação. Refiro-me à violação física e psicológica de impõr a uma mulher uma gravidez que ela rejeita passa um atestado de ignorância e irresponsabilidade a quem pensa desta forma. À excepção dos casos de violação já contemplados na lei actual, é rídiculo que se considere uma gravidez indesejada como uma violação, seja ela física ou psicológia ou até mesmo virtual. Mas por acaso alguém que tenha relações não sabe que existe a probabilidade, mesmo baixa, de engravidar? Afina, estamos a falar de uma violação de quê?

Vamos lá ver, as gravidezes não vêm numa cegonha de Paris. Ninguém impõe a ninguém que fique grávida. O que se impõe é que se tenha dois dedos de pé alto na testa e se use a cabeça não apenas para usar chapéu. Repito, todas as pessoas adultas sabem que se tiverem relações sexuais há a possibilidade da mulher engravidar. A probabilidade é tanto maior se não forem usados métodos contraceptivos (naturais ou não).

Dizer que uma gravidez indesejada é uma violação é do mesmo quilate que dizer que engordar depois de comer dois quilos de gelado é uma violação.

Luís Gonzaga

Olha Luis

fiquei espantada com este teu post. Embora tenha sido dirigido à CP, como eu penso igual senti que tb foi para mim.

Meu caro... pelas tuas palavras parece que não há falhas nos métodos, não há situações qe nos tomam de surpresa e que quem não quer ter filhos nem devia pensar em sexo quanto mais fazê-lo.
Dizes que ninguém impõe uma gravidez a ninguém, até parece que só engravida quem quer. Pela tua lógica gravidez indesejada, retirando o caso da violação, é mito.

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Simone (IP registado)
Data: 15 de February de 2007 00:12

Alef, fiquei curiosa por saber que respostas serão dadas as tuas perguntas....

Com relação a dizer que se uma melher tiver uma gravidez não planejada é sinônimo muitas vezes de inferioridade, de menos dignidade não vou nem comentar este argumento mais que exdrúxulo.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: Lena (IP registado)
Data: 15 de February de 2007 00:43

Alef
não sou muito adepta de ping-pong deste tipo, até porque sou pouco amiga de escrever. Prefiro conversar... mas dada a natureza da interface que usamos, vou tentar.

Citação:
Alef
1) É a dignidade um sentimento subjectivo? Uma pessoa que, por qualquer condição subjectiva, se sente menos digna, deixa, de facto, de ser tão digna como «era» antes? Já agora, pensemos no caso de uma depressão...

Sim sentimento de dignidade é subjectivo, intimamente relacionado com a auto-estima. Ninguém é mais digno ou indigno pela sua condição ou actos. Considero um homem honesto tão digno quanto um assassino, apenas se afastam na moral dos seus actos. E mesmo esta depende do contexto cultural, o libertador de uma nação pode ter sido um assassino, enquanto o honesto um cobarde perante a opressão.


Citação:
Alef
2) De que falamos quando falamos de dignidade? Em que medida uma gravidez indesejada torna uma mulher menos digna? Há critérios de dignidade?

Sendo o conceito de dignidade algo indissociavel ao direito de exprimir o Eu e de trilhar o seu próprio caminho, não há padrões universais para considerar o que é digno ou não. Se uma gravidez for considerada por quem a vive algo contrário aos seus objectivos de vida é licito admitir que aquela mulher se sinta indigna ao carregar até ao fim um estado que não desejou para si.
Pode não ser menos digna aos olhos de quem a observa, mas ela poderá sentir-se assim.
O inverso também é válido... há quem considere indignos aqueles que defendem ou praticam um aborto, e os visados sentirem-se dignos na sua escolha.


Citação:
Alef
3) Seguindo a lógica do teu texto, em sentido inverso: e se for ao contrário? Isto é, alguém que se sinta mais digno que os demais, a ponto de os desprezar ou aniquilar, isso significa também que realmente tal pessoa é mais digna que os outros? É o sentimento o critério de dignidade? É-o apenas nalguns casos? Que critérios de discernimento?

Alguém se sentir mais digno que os demais? Ai caimos noutro conceito, na soberba.
Como já foi dito dignidade é um sentimento pessoal e não uma qualidade que caracterize as competências de alguém. Eu posso pensar que sou mais digna que X, isso não significa que o seja. Y também pode achar que sou mais digna que X, o que continua a não ser garantia de coisa alguma. Todos menos X podem dizer que sou mais digna que X, e no entanto X acha-se digno. Quem está certo? A meu ver ninguém.

Citação:
Alef
4) Tendo em conta que não poucas mulheres sofrem um enorme trauma pós-aborto, que pode afectar o resto da sua vida, em que medida é que postular o aborto para a mulher que se sente «inferiorizada, usada, indigna» é uma solução? É uma solução? Que dizer dos tantos casos de mulheres que abortaram e que experimentaram serem usadas e inferiorizadas precisamente nas clínicas abortivas?

Atenção...eu não postulo o aborto como solução. O que eu não nego é o direito de escolher essa via como solução. Para ti pode ser o mesmo, para mim não é.
Quanto aos traumas pós-aborto eles surgem pelo enorme conflicto interno que envolve a decisão, fruto de toda uma educação inoculada pelo contexto socio-cultural. Se o aborto fosse moralmente aceite pela sociedade como algo perfeitamente válido e "normal" não haveria traumas. Mas viver em sociedade é assim mesmo, nenhum de nós se pode dar como totalmente padronizado. Felizmente as sociedades mudam e actualizam-se.
Quando ao teu ultimo ponto, ainda hoje há mulheres que se sentem inferiorizadas por ir ao ginecologista... se se sentiram usadas e inferiorizadas nas clinicas abortivas ( estás a falar de clinicas e não de curiosas) é porque não estavam seguras da sua decisão, ou ainda muito presas às tais normais culturais que qualificam o aborto como crime. A clinica apenas prestou um serviço que ela procurou. É claro que a clinica lucrou... mas não fazem o mesmo os advogados, médicos, mecânicos e informáticos?

Quem eu conheci e admirava já cá não anda, pelos vistos morreu. Em breve serei eu. Melhor assim.

Re: Referendo sobre o Aborto - Resultados e comentários
Escrito por: firefox (IP registado)
Data: 15 de February de 2007 04:49

Oi Luis,

Citação:
Luis Gonzaga
Estou convencido que haverá um período de reflexão, isto é, uma mulher que se dirija num dia a um hospital para fazer um aborto, não o fará no próprio dia. Quanto muito, vai lá marcar a intervenção. Voltará no dia a seguir, ou dois ou três, assim que houver disponibilidade.
É claro que não haverá aconselhamento obrigatório. Isso é uma fantasia dos que votaram SIM e uma esperança dos que votaram NÃO. O objectivo é tornar possível o aborto a quem quer abortar. E se quem quer abortar se vai aconselhar, é óbvio que não aborta! Os mais radicais desesperam só de ouvir falar de aconselhamento, não vá o conselheiro ser um adepto do NÃO e menos um aborto que se faz.

Por acaso já tinha acontecido a uns anos atrás de me procurarem para aconselhamento, conversei com tres mulheres que queriam abortar, duas desistiram e tiveram o filho, estão muito felizes e são ótimas mães, outra levou o aborto adiante. Hoje sou amigo das tres e me tornei padrinho de um dos garotos, um amor de menino. Não fui um "cúmplice", mas tb não fui um "juiz", nem era para ser um amigo, que meu papel lá não era bem esse, muito embora fosse um e tenha me tornado ainda mais depois. Uma relação de ajuda tem um dinamismo próprio, idem para um encontro de orientação espiritual, idem para uma orientação psicológica. Só acho que quem imagina que seja o papel de um conselheiro convencer a mulher com o seu ponto de vista, seja ele qual for, não entendeu bem o seu papel na relação.

Citação:
Luis Gonzaga
À excepção dos casos de violação já contemplados na lei actual, é rídiculo que se considere uma gravidez indesejada como uma violação, seja ela física ou psicológia ou até mesmo virtual. Mas por acaso alguém que tenha relações não sabe que existe a probabilidade, mesmo baixa, de engravidar? Afina, estamos a falar de uma violação de quê?

Considero que uma gravidez indesejada é uma gravidez indesejada, nem para mais, nem para menos. Acho que eu não usaria falar de violação aqui, acredito que ia complicar ainda mais a questão e penso que já há confusão demais. De uma forma de violência eu já poderia falar. Independente de probalibidades, mesmo com todos os cuidados, pode acontecer de uma mulher engravidar contra a sua vontade. É fato! E em alguns casos o desespero é tamanho que ela acaba enfiando dentro de si mesma uma agulha de tricô. Não venha uma pessoa de fora, portanto, imaginar que é um pequeno problema para ser resolvido pela escolha de um grupo de pessoas que vão estudar calmamente em uma sala o que fazer para depois comunicar o destino da mulher enquanto ela aguarda reverentemente. Um aborto não é nenhuma diversão, como uma gravidez não pode ser um mero castigo. Já ouvi demais insinuações do tipo: "fez sexo? agora aguente!" Quem imagina alguma coisa assim revela uma grande incapacidade para entender o drama que leva uma jovem a mutilar-se, pq enfiar uma agulha de tricô dentro de si é sim um verdadeiro ato de desespero, pânico mesmo. O ponto aqui é que alguém que recuse tanto a gravidez ao ponto de perder quase a razão, não acaba por receber como uma forma de violência até cruel a imposição da gravidez de fora, como uma condenação? Acho que essa, talvez, fosse a "violação" a que fizeram referência. A não ser, é claro que alguém considere a gravidez como castigo e o sexo como crime, há um drama em andamento e uma coisa errada em tudo. Não significa isso um grito de "oba, então viva o aborto e façam a vontade", quem ainda está preso nessa idéia curta, sem perceber o drama, imaginando que todas as respostas são fáceis, esse não entendeu nada e nunca vai entender, está incapacitado mesmo para sentir compaixão, mas para esses sujeitos só restará acender velas, pois a lei vai mudar! Felizmente! E o mundo continua.

Citação:
Luis Gonzaga
Vamos lá ver, as gravidezes não vêm numa cegonha de Paris. Ninguém impõe a ninguém que fique grávida. O que se impõe é que se tenha dois dedos de pé alto na testa e se use a cabeça não apenas para usar chapéu. Repito, todas as pessoas adultas sabem que se tiverem relações sexuais há a possibilidade da mulher engravidar. A probabilidade é tanto maior se não forem usados métodos contraceptivos (naturais ou não).

Ninguém impõe? Como diz pareceu que não existe nenhuma gravidez indesejada, então para que tanto alarde? Não vai acontecer nenhum aborto.

Citação:
Luis Gonzaga
Dizer que uma gravidez indesejada é uma violação é do mesmo quilate que dizer que engordar depois de comer dois quilos de gelado é uma violação.

E o aborto seria o que? Um regime para emagrecimento?

Que dificuldade! É a Babel que temos aqui?



Editado 1 vezes. Última edição em 15/02/2007 04:51 por firefox.

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