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religião/local de trabalho
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 19:09

Mais um tópico para discussão

Susete

O último artigo publicado nesta coluna, intitulado "Credo!", suscitou reacções adversas. Alguns leitores manifestaram-me o seu total acordo; outros menor concordância ou mesmo desacordo; e os meus alunos por, assim de repente, se verem motivo de reflexão, ficaram embasbacados.
A reacção mais curiosa terá mesmo vindo de um destes últimos, ao dizer: "Até tenho vergonha! Não posso dar isto a ler aos meus pais!". Porquê, não explicou.

A relação religião/local de trabalho constitui um tema, como tanto outros, ao qual, infelizmente, tanto a investigação, como a prática organizacional dão pouca atenção em Portugal. De tão pouco discutido que é o assunto justifica que nos debrucemos de novo sobre ele. Começando por fazer uma precisão: o texto publicado não versava sobre religião; no que nele se tratava era da influência (na minha opinião perniciosa, por não existir um substituto com a mesma dimensão) que a ausência de uma matriz com o impacto das convicções religiosas, enquanto guia de actuação individual e colectivo, tem na vida das organizações.

O tema da religião nos locais de trabalho não é novo para o domínio da gestão das pessoas. A SHRM (Society of Human Resources Management- www.shrm.org) organização não-lucrativa americana líder profissional nesta área efectua regularmente inquéritos junto dos seus associados para conhecer o estado-das-coisas em matéria de impacto das convicções religiosas (que é grande) nos locais de trabalho.
É claro que poderá argumentar-se que não é a mesma coisa analisar esse impacto num país com a diversidade cultural (e religiosa) dos Estados Unidos ou num pais praticamente mono religioso com é Portugal ou o são a maioria dos países europeus.
No entanto, a questão da diversidade cultural (e religiosa) nos locais de trabalho cresce, em Portugal, como no resto da Europa a uma ritmo extraordinário, devido às intensas migrações internas que o continente vem sofrendo desde a década de oitenta, que deram outra dimensão a fenómenos conhecidos (como o da imigração de magrebinos para França, turcos para a Alemanha, indianos para o Reino Unido, africanos para Portugal).

O binómio religião/local de trabalho terá, com toda a probabilidade, tendência para ganhar um novo impacto social, em vez de se desvalorizar. Diversidade religiosa implica que as organizações europeias e as portuguesas, por arrastamento, tenham de se preparar para lidar com um fenómeno que é completamente novo. Com a agravante, no entanto, de o mesmo ganhar expressão quando a religião (aparentemente) perde campo a favor de múltiplas crendices e fenómenos marginais.
Curiosamente, quando as pessoas, de um modo geral, parecem professar, cada vez menos, um ideal religioso (ou cultivando uma prática religiosa), cresce a tendência para acreditar, cada vez mais, nas coisas mais absurdas a partir das quais se criam os mais complexos universos mentais.

Sendo essas mesmas pessoas as que dão vida às organizações, não custa a crer que os seus comportamentos profissionais sejam afectados por todas estas mudanças. Sem benefício algum das organizações.
Em definitivo, as pessoas parece que trocaram a promessa da vida e da felicidade pós-vida, uma das constantes em todas as religiões, por uma luta desenfreada pela felicidade, a qualquer preço, durante a vida. Esta transferência de horizontes (discutível para muito e exigindo uma enorme disciplina mental para ser cultivada) tem efeitos brutais sobre o comportamento das pessoas no interior das organizações.
Desde logo porque são as organizações quem assegura os meios (materiais) com os quais as pessoas podem ou não, concretizar os seus sonhos (ou os seus desvarios). Se os seus sonhos (ou os desvarios) são grandes e os meios disponíveis para os concretizar escassos (ainda que relativamente) é a organização quem sofre na primeira linha os efeitos da insatisfação resultante desta discrepância. É claro que e podemos estar de acordo aqui com os mais cépticos: que a organização não tem nada a ver com isso.

Um inquérito efectuado pela SHRM em 2000 revelava que mais de 68 por cento das empresas americanas considerava as convicções religiosas através de uma programação de actividades que assegurasse o respeito pelas observações religiosas. Decididamente, o tempo não joga a nosso favor.

Re: religião/local de trabalho
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 21:53

Só uma perguntinha...

A Igreja Católica não é uma organização, com múltiplas sucursais?

Não há em todo o mundo empresas /organizações de tipo religioso ?

(Acham que é coincidência a Andreia trabalhar num local onde só há pessoas da sua religião, que é minoritária em Portugal?)

Em Portugal existem imensas empresas/instituições/organizações em que a matriz e a cultura organizacional são basicamente religiosas ( católicas)

Muitas são instituições de ensino, saúde e solidariedade social. São uma rede de empresas (algumas sem fins lucrativos), mas na prática altamente rentáveis...


Nesas empresas os direitos dos trabalhadores estão mais protegidos?
AS organizações dete tipo têm mais ´lucro, são amsi eficazes em termos de produtividade?
Zelam amsi pelos interesses dos profissionais que nela trabalham?


Olha, eu por mim, prefiro mil vezes as empresas leigas ....



ana

Re: religião/local de trabalho
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 22:43

Pois, as crenças religiosas (e convicções morais) podem ser motivo de atrito entre as pessoas de um mesmo local de trabalho. Falo por experiência própria e estou também a pensar num caso muito concreto. Este ano que passou foi particularmente difícil para os católicos americanos por causa dos escândalos de pedofilia e abusos sexuais entre o clero católico. Pessoas amigas contaram-me como às vezes tem sido difícil manter a calma perante frequentes piadas de mau gosto e invectivas violentas, mais ou menos pessoais, sobretudo vindas de colegas de trabalho pertencentes a alguns grupos protestantes mais fundamentalistas, que tentaram aproveitar-se do momento para "converter" católicos no local de trabalho...

Mas imagino que a maior parte dos casos não traga problemas de maior. Há dias ouvi um caso curioso, creio que numa reportagem da TVI, em que um funcionário de um banco muçulmano convive perfeitamente ao lado de católicos. A única diferença significativa é que às horas habituais ele afasta-se por cinco minutos para um local à parte para fazer as suas orações. Mas não é verdade que às vezes há mais diferenças entre pessoas do mesmo grupo religioso (por ex., católico) que entre pessoas de diferentes grupos?

Alef



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