Fóruns Paroquias.org
paroquias.org

  A participação no Fórum Paroquias.org está condicionada à aceitação das Regras de Funcionamento.
Inteligência Espiritual
Fóruns Paroquias.org : Arquivo - Geral

 

Ir para tópico de discussão: AnteriorPróximo
Ir para: Lista de fórunsLista de mensagensNovo tópicoPesquisarEntrar
Ir para a página: 12345Próximo
Página actual: 1 de 5
Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana paula (IP registado)
Data: 31 de January de 2003 16:37

A questão do feminismo tem sido tratada aqui no Fórum de uma forma quase displicente, como se fosse uma questão menor, chegando-se a considerar a palavra feminista como um insulto.

Ora cristianismo e feminismo estão profundamente interligados, embora classicamente, a Igreja Católica, enquanto estrutura formal de poder, tenda a menorizar o estatuto do género feminino.
Mas a questão da igualdade de género não é uma questão menor, porque não pode ser dissociada de questões mais globais de Direitos humanos e afirmação radical da dignidade humana - o âmago do Evangelho!
A Igreja acabou por acolher o contributo de grandes místicas, teólogas e doutoras da Igreja, que mesmo face a constrangimentos histórico - culturais se conseguiram impor pelo seu fulgor espiritual e intelectual...

È certo que alguns afirmam que o "feminismo" não faz já sentido, neste início de século...
Poulou (2000), citando dados estatísticos, afirma que a violência contra as mulheres é um fenómeno de tal forma grave que, no mundo, mulheres com idades entre os 15 e os 44 anos têm mais hipóteses de morrer ou ficar mutiladas devido a violência masculina do que devido cancro, malária acidentes de viação e guerra ( tudo em conjunto)!!
A estes números aterradores somam-se outros:
nos EUA, 30 a 50% das mulheres são sexualmente molestadas em algums momento das suas vidas...
Segundo a OMS, em todo o mundo, 15 a 25% das mulheres são espancadas durante a gravidez; as violações e a gravidez forçada de mulheres são usadas como armas de combate em todos os conflitos armados ...
As Nações Unidas calculam que "faltam " no mundo 200 milhões de mulheres, que não chegaram a nascer e a crescer, porque foram vítimas de infanticídio e aborto selectivo... 'pelo simples facto de serem mulheres...

A lista é interminável e aterradora, um verdadeiro genocídio á escala mundial.
E a Igreja?????????
Silêncio...
E em Portugal... as estatísticas estão aí ... A violência doméstica atinge níveis inaceitáveis... apenas nesta semana foram julgados dois casos de violência inacreditável - num caso uma jovem de 16 anos foi alvejada três vezes e regada com gasolina ( pelo namorado damãe), ontem mesmo, o caso de uma mulher morta por espancamenrto por um grupo de homens que em seguida violaram o cadáver!
Isto num país de brandos costumes... Pergunto eu, se as vítimas destes horrores fossem políticos, pesoas pertencentes a minorias étnicas, gays, qual o seria o impacto mediático destas notícias????????????
Mas são , aceita-se que faz parte da sua condição "natural" serem vítimas de abusos e violências...

A voz da igreja continua muito fraca quando se trata de defender os direitos das mulheres...
Ou seja, embora o Vaticano tenha grande rigor em pronunciar-se sobre aspectos de moral sexual , com impacto na saúde reprodutiva das mulheres, a sua firmeza e rigor não é equivalente quando se trata de promover a dignidade inalienável das mulheres enquanto género, raíz e matriz da humanidade... e até da própria divindade, como já foi sugerido no forum...


ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 31 de January de 2003 22:54

Cara Ana:

Nota prévia: parece-me que uma vez “ralhaste” com o João por tratar-te por “tu”, mas este é o tratamento habitual dos fóruns... Se tiveres fortes objecções, terei isso em conta.

Achei interessante que tenhas introduzido este tema do feminismo no fórum e parece-me bem que seja discutido. Farei uma intervenção bastante crítica, que nada tem a ver contigo pessoalmente e não quero que esta discussão resvale para argumentos “ad hominum”. Isto é, aqui discutem-se ideias, não pessoas. Isto para evitar os “piropos pessoais” que tem caracterizado a troca de mensagens com o João.

Em primeiro lugar, devo dizer que recuso todo e qualquer preconceito de tipo machista, pelo menos conscientemente. Defendo que as mulheres devem ter iguais direitos de oportunidades em todos os âmbitos da sociedade. A ideia bem portuguesa de que o homem chega a casa e vai para a televisão enquanto prepara a comida, “atura” os miúdos e os prepara para deitar, etc., etc., tem que ser ultrapassada. Também não comungo dos estereótipos bem lusitanos que pretendem diminuir as mulheres no que respeita à condução, etc. Sempre evitei piadas sexistas. Esta é uma premissa importante.

Em segundo lugar, estou perfeitamente de acordo que há muita coisa a corrigir, não só no nosso país, mas um pouco por todo o mundo. Ficamos horrorizados com os casos de mutilação genital feminina (ao que parece, também a ocorrer no nosso país entre algumas comunidades africanas), com o tráfico de mulheres, maus tratos, etc. E isto acontece um pouco por todo o lado. Basta olhar para “nuestros hermanos” e ver que nos primeiros dias de 2003 aconteceram dois casos horrendos: um homem atirou a esposa pela janela da casa e outro, porque achou que a comida não estava boa ou se tinha queimado, meteu a mão da esposa demoradamente em azeite a ferver! Em sinal contrário, um tribunal de um país do norte da Europa (não recordo qual), condenou recentemente um homem a uma multa de 600 ou 700 contos (usei a minha conversão mental em “contos”) por este ter chamado “vaca” à sua mulher... Conheço também um pouco da situação das mulheres da América Latina, onde há situações absolutamente trogloditas em termos de civilização. Constato que mesmo nos Estados Unidos o preconceito (e mais do que isso!) continua... Resumindo: há que fazer algo, sim. Mas... há um grande “MAS”.

Terceiro: acho que os feminismos (porque há vários) encerram em si uma enorme contradição, antes de mais, antropológica, “suportável”, mas não justificável. Isto acontece nos feminismos mais radicais, de há algumas dezenas de anos. E porquê? Porque, nas suas formas mais radicais os feminismos acabam por ser um machismo ao contrário, ao ponto de agora, por reacção, surgirem movimentos de “masculinidade”, quer no que respeita a publicação de livros (há dias encontrei um livro com um título do género “Anthology of Male Poetry”) ou até em correntes de “male spirituality”. Conheço uma Faculdade de Teologia com uma enorme quantidade de cursos que têm no título a palavra “feminista/feminismo”, agora aparecem também “novas cadeiras” com uma leitura “contraposta” de “male-conscience”. Enfim, se o ridículo matasse...
Quero com isto dizer que não é com outro excesso que se combate outro. Para defender a dignidade e igualdade de oportunidade das mulheres não é necessário criar cursos nas universidades onde os homens são proibidos de entrar (isto aconteceu em Boston, numa Faculdade de Teologia), só porque a professora é feminista e acha que a presença de um homem entre os alunos iria prejudicar uma forma de ver as coisas que só as mulheres têm. Isto parece-me muito disparatado, mas acontece. Defender e “promover a condição feminina” não significa fazer da mulher um “homem do sexo feminino”, tal é ânsia de afirmação pelo fazer, esquecendo a salutar diferença e complementaridade entre homem e mulher. Os homens e as mulheres não se definem pelo simples fazer, mas também pelo ser. Com isto não pretendo vedar trabalhos e funções às mulheres (longe disso!), mas dizer que ver as coisas só por esse prisma é muito redutor. Uma visão antropológica muito “naïve”, mas que os EUA exportam com grande à vontade.

Ao nível da teologia isto está a trazer problemas graves. A tendência para se concentrarem em temáticas relacionadas com o feminismo e “gays, lesbians and transgenders ministry” leva a que em vez de se estudar teologia, os alunos vivem embalados em ideologia, que, mesmo quando têm elementos válidos (porque há elementos válidos), não sabem fundamentar teologicamente. A forma como a discussão da ordenação das mulheres mostra também esse problema.

Mas também é verdade que há vários feminismos, que têm passado por várias fases, também ao nível da leitura teológica. É interessante notar, por exemplo, a forma como os feminismos foram lendo a figura de Maria. Os primeiros feminismos católicos “expulsaram” Maria, porque, segundo a sua visão, Maria era o instrumento de repressão da Igreja sobre as mulheres. Isto porque ao atribuir-se a Maria as virtudes da humildade, do recolhimento, da paciência, etc, etc., se estava a recalcar o papel da mulher, enquanto necessária seguidora de Maria. Até a iconografia era atacada (e aqui eu dou-lhes razão!): a maior parte das imagens de Maria não a mostram como uma verdadeira mulher, mas como espécie de “boneca assexuada”... Mas hoje já se vê a leitura oposta! Maria foi reabilitada! Maria é vista como o protótipo de todos os que têm que trabalhar, de lutar pelo sustento próprio e da família, um pouco na linha da Teologia da Libertação (actualmente tende-se a incluir o feminismo teológico nas Teologias da Libertação como uma forma de dar mais “expressão”, de forma parecida ao que acontece com a “African-American Theology”).

Li várias autoras feministas, sobretudo Elizabeth Johnson (talvez a mais conhecida) e Rosemary Radford Reuther. Há muitos elementos bons e positivos nos seus escritos, mas muitas vezes é irritante a forma preconceituosa de ler certos textos bíblicos ou certas “imagens” tradicionais, como é o caso da expressão “nova Eva” aplicada a Maria (por contraste a Jesus “novo Adão”), que, segundo elas, leva a identificar as mulheres com Maria e os homens com Jesus. Neste ponto parece-me haver pouca honestidade intelectual...

Já agora, mais um elemento interessante: tem sido bandeira de vários feminismos a defesa do “direito à escolha”, isto é, de abortar... Curiosamente, há neste momento uma nova tendência: feministas contra o aborto (ver [www.feministsforlife.org] ). Isto porque se começou a perceber que relegando a tarefa de se “desembaraçar do bebé” para a mulher grávida, se estava a favorecer a irresponsabilidade dos homens... A história é, sem dúvida, uma grande mestra... [Este é, curiosamente um elemento muito válido para a defesa dos métodos naturais de planeamento familiar, que o João pode aproveitar ;-) De facto, a tendência dos casais é o recurso à pílula, que “onera” apenas a mulher, sendo que ela é aquela que tem que estar sempre disponível para o marido... Mas esta discussão pertence a outra “guerra”... ;-) ]

Uma das grandes bandeiras das feministas de língua inglesa é o uso da “linguagem inclusiva”, que, não tarda muito, estender-se-á a outras línguas, embora com sucesso pouco auspicioso. Como sabemos, o inglês moderno não contempla o género gramatical e os falantes de inglês, que não muito dados a aprender outras línguas, confundem género gramatical com sexo. Ainda por cima, dado que o possessivo concorda com o género do possuidor e não do objecto, então temos que nunca podemos falar de Deus como “he” nem das suas coisas como “his”. Isto é relativamente novo, mas é interessante ler os livros de teologia em inglês e ver a “ginástica” que se faz para que nunca se trate de Deus com um possessivo ou pronome pessoal masculino.

Exemplificando: Dizer que “God communicates himself” é “linguagem sexista”, logo há que escrever algo como “God communicates God’s self”! Obviamente, não se pode falar de “homem/man” em sentido geral, porque isso seria linguagem sexista. E se se usar o “genérico” “person” e depois for necessário usar o pronome pessoal, há que escrever “he/she”... E fico-me por aqui em exemplos. Apenas mais um, demasiado estúpido, mas verdadeiro: algumas feministas chegaram a propor que se eliminasse o termo “history” ou então se criasse a palavra “herstory”!!!

É verdade que a linguagem pode padecer também de preconceitos. Mas não podemos mutilar uma língua só porque é politicamente incorrecto falar de Deus como “Pai” ou referir-se a Deus como “Ele”... Será que é isto que as feministas portuguesas desejam? Espero que haja bom senso...

Em relação à Igreja, é verdade que a mulher tem sido relegada ao longo da história para um plano secundário ou servil, porque temos uma história de dois milénios de cultura(s) de origem patriarcal e uma Igreja que se tornou clericalista. Mas não é com feminismos exacerbados, ou com tentativas de artificiais “lavagens teológicas” que se resolvem os problemas. Defender a dignidade das mulheres passa por promover “em favor de”, sem ser “contra” os homens... O resultado dos feminismos exacerbados pode ser desastroso. Conheço muitas feministas que dão, a meu ver, claro, uma péssima imagem de mulher: recusam-se a casar e a ter filhos e acham que na Igreja tudo se resolve quando as mulheres puderem ser ordenadas. Curiosamente algumas dizem já que se fossem ordenadas só serviram as mulheres... “Mais, elles sont folles, ces romaines!”, diria o Astérix e com muita razão!

Parece-me que é muito válido o documento “Mulieris Dignitatem”, equilibrado e merecedor de muita atenção. Está disponível on-line em [www.vatican.va] (Luís, não encontrei este documento no paroquias.org!)

Não temos dúvidas em que é necessário lutar contra o estado de coisas que oprime as mulheres. Mas não parece que o feminismo, enquanto tal, seja a resposta adequada e antropolicamente correcta. Por que razão avançamos com um “ismo” para as mulheres (“feminismo”) e não para a defesa dos pobres (“pobrismo”?) ou outro? Não será que o feminismo enferma de um pecado original que é o individualismo moderno de matriz protestante e de alguma forma ligado à lógica burguesa? Os dados estão lançados...

E fico por aqui...
Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 01 de February de 2003 01:54

Oops, relendo, noto uma gralha importante. Onde se lê (3º parágrafo) «argumentos "ad hominum"» leia-se «argumentos "ad hominem"»

Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 01 de February de 2003 13:22


Alef... fiquei sem palavras!!

Não consigo dizer melhor, concordo plenamente... :o)

Levantaste questões que nem me tinham passado pela cabeça, mas basicamente os fundamentos são os mesmos. No entanto, não consigo comentar porque me ultrapassam.

Por vezes só se consegue definir as razões pelas quais se é a favor de algo quando o contrário se manifesta. Aí se evidencia por que somos a favor daquilo: é que não podemos de maneira nenhuma estar a favor do outro, que é claramente decadente. Dessa forma, embora não se possa explicar TODAS as razões para o que defendemos, sabemos que é por ali e que o devemos respeitar... Acontece o mesmo com a fé na Revelação de Deus, que se aceita para além da nossa compreensão, mas porque se "suspeita" que realmente é aquela a Verdade, comparando com tudo o que o mundo nos oferece. :o) E acima dessa "suspeição", está o amor, que ultrapassa todas e quaisquer dúvidas, suplantando-as em significado.

Em relação às feministas contra o aborto, já conhecia o sítio desde quando comecei a pesquisar sobre o assunto (aborto/contracepção) e fiquei desde logo contente em saber, por testemunhos diversos, directos e indirectos, que também cada vez mais as mulheres se revoltam contra a exploração sexual de que são alvos devido a tanta "liberdade"... Isto tem impacto nas suas posições em relação ao sexo conjugal, ao aborto, à contracepção, possibilidade de engravidarem quando quiserem (lutando por que essa decisão seja respeitada e apoiada profissionalmente), etc.

Trata-se de um verdadeiro e novo feminismo que, ao contrário do antigo, quer que as mulheres sejam mulheres muito mais do que serem "como" ou "iguais" aos homens, com "os mesmos direitos"... Mulheres e homens têm necessidades específicas que devem ser contempladas e protegidas pela promoção de uma verdadeira educação integral e não com ideologias que, através dos "direitos iguais" tornam o mundo mais frígido e menos humano. É a constante "guerra dos sexos" que as novas feministas querem realmente sarar com uma visão positiva e afirmativa do seu valor como mulheres, não como superiores nem inferiores aos homens, mas como mulheres, diferentes deles embora evidentemente iguais em dignidade e nos direitos elementares.

O amor de Deus é realmente a fonte de toda a justiça. Aprendamos com... Ele? ;o)

Já agora, repudio completamente as afirmações da Ana de que a Igreja deva sequer "promover a dignidade inalienável das mulheres enquanto género, raíz e matriz da humanidade". Deve isso sim, como o faz constantemente, defender isso tudo, e muito mais, para a raça humana, homens e mulheres, em todas as circunstâncias.

Tens lido o que o Papa tem dito recentemente? Parece que não... Será que é por ele não dizer "tratem bem as mulheres, que não devem ser agredidas MAIS que os homens; os homens é que são os maus"??

IGUALDADE NA DIGNIDADE, Ana! Não foi nada disso que manifestaste nas tuas afirmações finais. Compara essas com as do Alef e diz qualquer coisa...

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 00:30

Caro Alef:

Ainda bem que concordas comigo relativamente á questão da igualdade de géneros e da necessidade radical de afirmar essa igualdade e lutar contra todas as formas de violência contra as mulheres...
Nem poderia ser de outra forma, visto que te afirmas cristão... e, dessa forma, sò podes ser... feminista... :))

Por isso mesmo, contradizes-te quando atacas o feminismo enquanto corrente de pensamento, que, como sabes teve repercussões em todas as áreas do saber, teologia inclusive, formas de organização social e política legislação, estética, lieratura, ciências sociais, etc, etc... (Aliàs, como referes, não há um feminismo mas feminismos...)
Atacas recorrendo aos argumentos habituais, referindo-te a uma "contradição antropológica" do feminismo, a que chamas o "machismo ao contrário"... ou seja, o querido e saudável machismo, delicadamente acarinhado pela cátedra pontifícia e pelas instituições socialmente dominantes numa sociedade falocêntrica, é considerado como uma "normalidade", uma inevitabilidade" ou talvez mesmo uma "congruência antropológica"....

Denunciar o machismo e lutar contra ele , das suas formas mais torpes ás mais sofisticadas ( ainda recentemente uma jovem deputada se referia a esse doce marialvismo nas disputas parlamentares..." se uma mulher fala com voz calma, é engraçadinha, se levanta a voz para fazer valer as suas convicções é histérica") é uma obrigação moral... De qualquer cristão.

Devo recordar-te que vives num país onde um jornal publicou integralmente o resultado de um exame ginecológico de uma mulher... Motivo? nenhum... Apenas era Ministra... e foi uma forma de a atacar politicamente... por ser mulher, claro...

Também me afligem os movimentos de masculinidade - que representam uma forma directa e expressa da necessidade de reprimir cada vez mais violentamente as mulheres, sobretudo agora, em que elas parecem estar a entrar em domínios de poder - económico e político...
Tens razão, é assustador... mas aculpa ( mais uma vez estás enganado) não é da existência de movimentos feministas radicais... A "culpa" melhor dizendo, a origem destes movimentos , é do machismo manifesto e latente que se sente acossado pelas posições radicais de alguns movimentos de mulheres, e que estão apavorados com a sua relevância política e sociall... Os casos mais paradigmáticos são dos EUA...

Um exemplo... Durante milénios as mulheres foram afastadas das intituições académicas e da educação porque eram... o sexo fraco, naturalmente burras, mais dotadas para a maternidade do que para o conhecimento... A sede de saber e o brilho intelectual numa mulher era algo de "antinatural", tão excessivo e perverso como o excesso de desejo sexual... As mulheres deviam ser bonitas e prendadas, nada de grandes
voos intelectuais... Aliás ainda hoje esse modelo permanece.. ( o arquétipo de mulher intelectual é de uma mulher feia e magra, de óculos esquisitos..)
Claro que estes conceitos antropológicos sobre as capacidades intelectuais das mulheres tinham subjacente uma questão mais prática - o conhecimento é efectivamente poder... e as mulheres ficavam "naturalmente" com menos acesso ao poder...
Mas o que aconteceu?... Graças aos movimentos feministas e ao valor das próprias mulheres, elas foram conquistando gradualmente o acesso á educação e todos os níveis...
E aí deu-se o drama - as mulheres são melhores alunas ( desde o ensino básico), atingem mais facilmente os objectivos pedagógicos, têm melhores notas, entram em muito maior número nas universidades, saem para o mercado de trabalho com qualificações académicas melhores que os seus colegas...
Gera-se o pânico... e hoje, nos EUA há movimentos que defendem claramente e sem pudor que os pobres rapazinhos estão a ser "sexualmente descriminados"no ensino, porque não conseguem acompanhar as suas colegas, tem de se repensar o sistema e dar mais oportunidadas aos mans.. etc, etc...
Tens razão Alef, se o ridículo matasse....

SE algumas feministas se recusam a casar e ter filhos, não percebo o teu escãndalo...EStão no seu direito. Muitos homens se recusam a casar e a ter filhos ( ou a assumir os que têm), e não são objecto de especial indignação... ( nem são catalogados de "machistas)::



Quanto á questão do aborto na perspectiva feminista, vai na linha da questão do direito da opção da mulher!!!!!!!!!!!!!!!!
Se é um direito de opção, uma mulher deve poder TER O DIREITO DE NÃO ABORTAR, se assim o decidir livremente...
Como sabes, em muitos países as mulheres são forçadas a abortar ou podem ser pressionadas a abortar pelos homens , pelas mais variadas razões ... ( A MAIOR PARTE SOCIAIS E CULTURAIS).
Por exemplo, no quénia, uma mulher divorciada ( mesmo que tenha sido rejeitada pelo marido) se ficar grávida é adúltera. É enterrada até á cintura e apedrejada até á morte.... tem o direito de não abortar?? Só se não puder....
POR EXEMPLO, EM ALGUNS PAÍSES, QUANDO AS MULHERES ESTÃO GRÁVIDAS DE UMA MENINA, SÃO FORÇADAS OU PRESSIONADAS A ABORTAR... já nem falo dos horrores que se passam na china, a propósito das politicas de controle da natalidade...
FORÇAR UMA MULHER A UM ABORTO É UMA COISA ATROZ, TÃO ATROZ COMO OBRIGÁ-LA A UMA GRAVIDEZ FORÇADA...
Por isso as feminstas defendem o direito á escolha... tão simples e claro como isso... Ainda bem que concordas!

Qunato á questão da linguagem e literatura , não me perturba especialmente... ( os americanos e a mania da linguagem politicamente correcta irritam-me um pouco)
A tradição de Deus ser Pai ( homem) e haver uma espécie de deusa mãe (no nosso caso a mãe Maria), tem raízes se calhar antropológicas e Freud explica isso de uma forma satisfatória para mim...

Claro que o conceito de Deus não se reduz ao género - considerar Deus como catalogável pelo género masculino, seria infinitamente redutor...........
... e obviamente inferiorizante! LOL

Quanto ao pecado original do feminismo... (já cá faltava a ideia de pecado..)
gostaria que aprofundasses mais esta questão...


saudações..
(Uma vénia delicada ou um vogoroso aperto de mão.. como preferires =:0))



ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 00:40


ops!
Vigoroso aperto de mão!

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 08:28

Cara Ana:

Mantenho que o feminismo (falo agora em geral) é um erro antropológico, enquanto ele se define sobretudo pela negativa ou pela contraposição. Uma antropologia exclusivista, seja ela machista ou feminista, não é humana. Por isso, em termos de “ideais”, tão condenáveis são o machismo como o feminismo, sendo que concordo que o primeiro tem causado mais vítimas.

Embora (e apesar do “smiley”) digas que sou feminista por também eu denunciar os abusos sobre as mulheres (e, de facto, há homens assumidamente feministas, sobretudo nos EUA) e por me afirmar cristão, rejeito tal etiqueta, pela simples razão de que o feminismo (sobretudo nas suas formas mais radicais) não se limita a promover a situação das mulheres, mas tende a ser um machismo ao contrário. Se o feminismo combate a ideia machista de que as mulheres são inferiores, acaba por cair no oposto, que é o pretender mostrar que as mulheres são até melhores que os homens. Estes discursos comparativos, machistas ou feministas enfastiam-me (ia a dizer: "enojam-me"). E não é preciso ir longe para exemplificar, pois basta citar as tuas próprias palavras:
Citação:
«as mulheres são melhores alunas (desde o ensino básico), atingem mais facilmente os objectivos pedagógicos, têm melhores notas, entram em muito maior número nas universidades, saem para o mercado de trabalho com qualificações académicas melhores que os seus colegas».

Este é precisamente o tipo de discurso que é odioso e criador de tensões desnecessárias. Muito sinceramente, a mim interessa-me pouco que as mulheres e os homens sejam melhores ou pior nisto ou naquilo. Ou melhor, é importante saber as diferenças, mas não para catalogar ninguém entre melhor e pior! Não é o fazer que nos define! Não é por sermos contra todos que seremos alguém!

Será necessário fazer um reparo também ao teu tipo de discurso, que me pareceu algo impróprio (refiro-me agora sobretudo aos primeiros três parágrafos). Vejamos com calma, mas devo criticar a forma (e conteúdo) do teu texto. Começas por dizer que me contradigo. E onde está, segundo o que escreveste, a contradição? É que, segundo tu, sou feminista e ataco o feminismo! E porque havia de ser feminista? Pois, concluo das tuas palavras, porque denuncio a violência contra as mulheres e porque me afirmo cristão. Mas a tua argumentação é falaciosa, porque me atribuis uma etiqueta incorrecta, para depois deduzires uma conclusão que “não se segue”, ilógica, porque não se usa o conceito univocamente e muito menos legitimamente. [Ou de outra forma: usas um conceito a que atribuis um determinado sentido e, porque a minha posição não fica totalmente dentro nem totalmente fora desse esquema conceptual, pois, pior para mim, eu é que estou em contradição!]

Depois, pareces querer diminuir a minha argumentação porque, como dizes são “argumentos habituais”, alegadamente ligados ao que descreves com uma dose de fel bastante desnecessária: «o querido e saudável machismo, delicadamente acarinhado pela cátedra pontifícia e pelas instituições socialmente dominantes numa sociedade falocêntrica, (...) considerado como uma "normalidade", uma inevitabilidade" ou talvez mesmo uma "congruência antropológica"». Vejamos bem:

Primeiro: o facto de os argumentos serem, eventualmente, habituais não lhes retira nem dá força. O “habitual” não dá garantia de excelência nem de mediocridade. De resto, não há direitos de autor a pagar pelo que escrevi.

Segundo, e mais importante, pretendes colar a minha argumentação ao machismo que tão ricamente adjectivas. Acho isto reprovável, porque é uma forma ilegítima de debater. E porquê? Porque assim se faz uma caricatura do interlocutor (ou da sua posição, claro), para melhor se atacar. Só que assim não se discute o meu pensamento, mas uma caricatura soturna do que eu disse. Quando falo de contradição antropológica do feminismo (enquanto modelo nas suas formas mais radicais) não digo que há “congruência antropológica” no machismo. Ou será? Parece-me que há aqui algo a afinar...

Continuemos. Disse anteriormente que o feminismo actual vive muito do “made in USA”. Nunca esquecendo alguns pontos positivos que já referi mais de uma vez, há que dizer o seguinte. O feminismo é sobretudo um fenómeno americano (disse “sobretudo”, não disse “americano” nem “apenas americano”). Um dos livros mais interessantes (um clássico!) sobre a forma de ser americana chama-se American Cultural Patterns, da autoria de Edward C. Stewart e Milton J. Bennett, que tem a grande vantagem de ter sido escrito por quem conhece a sua própria cultura mas conhece também bastante bem a cultura japonesa e faz muitas referências a muitos outros países, incluindo Portugal. Esse livro não se debruça explicitamente sobre o feminismo enquanto tema ou capítulo particular (e isso torna-o menos suspeito), mas diz algo de interessante que ajuda a perceber o fenómeno: sendo que em todas as culturas há tensões ou dicotomias próprias, enquanto que em muitos países a tensão primordial é do tipo pobres-ricos ou família-outros, nos EUA a tensão primordial (em termos sociológicos e culturais) é homem-mulher. Assim se percebe o tom “agressivo” da luta feminista. Arrisco uma razão: a sociedade americana desenvolveu-se muito rapidamente em termos económicos, mas a formalidade das relações familiares, vincadas por uma moral protestante muito conservadora, que realmente relega(va) a mulher “para o lar” fez com que o “fosso” ficasse maior. Há dias vi uns escritos americanos dos anos 50 sobre a educação feminina. Impressiona o conservadorismo, pelo menos para os nossos olhos de hoje. Em certa medida essa pode ser uma razão para a “explosão” (que obviamente já vem de muito antes).

De qualquer forma, a luta tem muito de adolescente (como adolescente é toda a cultura americana – e ao dizer isto apenas cito um reputado intelectual americano), de combater um exagero com outro.

E vem a propósito falar então daquilo a que chamei de “pecado original do feminismo”. Como saberás, esta é uma metáfora comum, empregue também comummente em campos que nada têm que ver com religião, pelo que o teu inciso “já cá faltava a ideia de pecado” não pode te autoriza a implicar que a minha avaliação do feminismo é de tipo religioso. Quando falo de “pecado original do feminismo” limito-me a aspectos que poderemos chamar de filosóficos e/ou antropológicos. Compreende-se melhor o feminismo enquanto resultado de uma modernidade que Descartes inaugura e que se caracteriza pelo individualismo, ideia que a Reforma protestante acentuou ainda mais (basta pensar na questão do “livre exame”). A comunidade passa a ter um lugar muito relativo, porque a referência é o indivíduo em competição constante. Numa sociedade de indivíduos conta sobretudo a carreira pessoal, os direitos individuais... Porque todos estão em competição e a palavra-chave é “sucesso” (individual), importa mostrar que se é capaz ou que se é mais capaz que os outros... Não admira, pois, que noutras sociedades o discurso feminista de matriz americana não encontre propriamente bom acolhimento, mesmo entre as próprias mulheres.

Desta forma se “entende” o aparecimento (e enquadramento cultural) de certos argumentos “pró-aborto”. Não os vamos discutir aqui, mas note-se como se enfatiza (como tu o fizeste) que é a mulher que tem o direito de decidir... Raramente se fala do pai, se é que alguma vez se fala... Algo está mal... Um exemplo claro do que expus acima. Uma sociedade pautada pelo individualismo leva a isto. Repito (pela enésima vez): não significa esta minha crítica que eu defenda o contrário, o machismo!

Um pormenor do teu texto confirma o sobredito. Dizes com umas destacadas maiúsculas: «FORÇAR UMA MULHER A UM ABORTO É UMA COISA ATROZ, TÃO ATROZ COMO OBRIGÁ-LA A UMA GRAVIDEZ FORÇADA...». Não vamos discutir o aborto neste tópico, mas esta afirmação mostra precisamente que aqui só há uma perspectiva: a da mulher. Que se trate da morte provocada de uma vida humana ou não, deixa de ser relevante?

Diga-se de passagem que os parágrafos em que falas do feminismo e do aborto me parecem incorrer num erro de interpretação em relação ao que eu escrevi. Afirmas: «Por isso as feministas defendem o direito à escolha... tão simples e claro como isso... Ainda bem que concordas!». Ora, tendo em conta que neste contexto “escolha” significa a possibilidade de abortar, eu refiro-me precisamente ao contrário: às feministas que são contra o aborto, contra o tal “direito à escolha”. Obviamente não concordo com o direito à escolha quando se trata de uma sentença de vida ou morte a um ser humano. As feministas que são contra o aborto não privilegiam o “direito de escolha”, mas sim a vida de um ser humano. Concordo com essas, não com as que defendem o “direito de escolha”. A vida dos outros não é opcional! Não é negociável! Afinal, não é assim «tão simples e claro como isso».

Parece-me que, como acontece noutros casos, há aqui um problema básico que se liga à própria definição de feminismo. Diz-se que denunciar a violência contra as mulheres significa ser feminista, pelo que ser cristão significa ser feminista. [Esta parece-me aquela dos defensores do “cannabis”: se Jesus usou “cannabis”, cada cristão tem que ser um “cannabis supporter”. ;-) ] Ora, se denunciar as injustiças contra as mulheres significa ser feminista, então teremos um enorme “exército” feminista, que inclui o Papa (basta ler a carta que indiquei anteriormente), mas a quem tu certamente catalogas de “delicado acarinhador do machismo”, porque é ele que está na tal “cátedra pontifícia”. Este tipo de “catalogação” é contraditório e perigoso. Faz parte do ser cristão estar contra as injustiças feitas contra quem quer que seja, especialmente os mais frágeis e aí encontram-se claramente muitas mulheres. Mas não faz parte do ser cristão ser feminista, pelo carácter exclusivista e agressivo do fenómeno. Como não faz parte do ser cristão ser machista, pelo carácter opressor de que reveste. Não nos esqueçamos que em Cristo “não há homem nem mulher, judeu ou grego”... A meu ver, ser cristão implica combater todos os excessos exclusivistas, sejam eles machistas ou feministas.

Não deixa de ser algo paradoxal que eu me coloque no numa posição que me parece equilibrada (“extremo centro”), tendo como interlocutora uma mulher que faz o discurso contra os homens. Mas o meu discurso não é contra as mulheres, mas sim contra uma visão bem ao gosto americano que divide a humanidade em bons e maus, pretos e brancos. O feminismo tende a ter uma visão dualista e maniqueia da realidade. Ora a realidade é mais complexa. Há que educar os nossos filhos no respeito mútuo, quer se trate de rapazes ou raparigas, corrigindo preconceitos, evitando guerrilhas inúteis...

Faço votos que as próximas gerações cheguem a outro grau de maturidade... Certamente isso acontecerá quando os extremismos (todos!) ruírem por cima da inconsistência dos seus argumentos...

{Excursus. Uma nota ainda sobre a história da Igreja e as mulheres. Embora seja inegável que ao longo da história a mulher tendeu a ser relegada para segundo plano por uma sociedade machista e uma igreja clericalista, não devemos esquecer o papel de importantes mulheres na história da Igreja. Não me lembro se foi neste fórum ou noutro que falei de Hildegard von Bingen, uma abadessa do século XII que deixou muitos escritos, composições musicais e poemas. Aconselho os seus discos, que são uma maravilha, sobretudo para quem gostar de música medieval... Pensemos em Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa do Menino Jesus, para só citar as Doutoras da Igreja (!). Pensemos na importância que na Idade Média tinham as abadias femininas. Algumas abadessas tinham uma jurisdição e poder semelhante aos bispos, usufruindo até do direito de usar mitra! É pouco, dir-se-á, mas é algo, pelo que fica o registo, que não deve ser ignorado.]

Nota de rodapé: os “movimentos de masculinidade” de que falei nada têm que ver com «uma forma directa e expressa da necessidade de reprimir cada vez mais violentamente as mulheres». São muito “politicamente correctos” e não são machistas. Pelo menos os que conheço (era desses que eu falava). Estes movimentos surgem mais como uma espécie espelho do trabalho “académico” feminista.

Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 09:17

Bom, a propósito desta discussão e dos problemas de discriminação que muitas mulheres sofrem, leia-se uma notícia do «Público» de hoje, em [jornal.publico.pt]

Citação:
Mulheres francesas marcham contra a violência machista
Diversas associações francesas de defesa das mulheres começaram ontem em Vitry-sur-Seine, arredores de Paris, uma marcha por 23 cidades do país para denunciar a violência machista, em particular nos bairros degradados ou com população de imigrantes. A marcha, que começou com uma concentração ao redor da irmã da jovem Sohane Benziane, queimada viva no dia 4 de Outubro do ano passado dentro de um contentor de lixo, segue depois por diversas cidades até ao próximo dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Esta manifestação, denominada "Volta à França da Solidariedade" tem palavras de ordem como "nem putas, nem submissas" e pretende não só denunciar actos violentos, mas também chamar atenção a perda dos direitos das mulheres em muitos bairros habitados por imigrantes. Em cada cidade que a marcha passar haverá debates sobre a violência, discriminação social e racial e relação sexual entre os jovens.

Há por aí um mundo-cão, sem ofensa aos cães, que se comportam melhor...

Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 09:25

E não esqueçamos outros focos de inclassificável violência, que vai para além da mera questão homens-mulheres... "Mas, Senhor, e as crianças?!" Só por isso copio para aqui uma outra notícia do mesmo jornal «Público», de hoje:

Citação:
Casos de Maus Tratos em Crianças Aumentaram 68 por Cento no Concelho de Santarém Em 2002

Comissão de Protecção de Crianças e Jovens queixa-se de dificuldades de funcionamento

Os casos de maus tratos a crianças e jovens tiveram um aumento de 68 por cento no concelho de Santarém em 2002, segundo o relatório da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) relativo àquele ano.

A grande maioria dos 358 casos com que a comissão lidou ao longo de 2002, parte dos quais transitados de 2001, diz respeito a situações de negligência (46 por cento), abandono escolar (16 por cento) e maus tratos físicos e psicológicos (sete por cento), de acordo com o relatório.

Frisando que 56 por cento dos casos respeitam às quatro freguesias urbanas do concelho, onde se registou o grande aumento, a CPCJ nota a dificuldade sentida na inclusão de crianças ucranianas e ciganas. A maioria das crianças e jovens acompanhadas pela comissão em 2002 vive em famílias nucleares (43 por cento) e em agregados com um nível de escolaridade baixo. Mas também há situações (um total de 13) em que a família pertence a estratos sociais elevados e tem formação académica superior.

A CPCJ sublinha as estimativas nacionais segundo as quais o número de casos detectados correspondem apenas a 30 ou 35 por cento do total de casos realmente ocorridos - situação que levou o vereador da CDU José Marcelino a, na última reunião do executivo camarário, classificar como "muito preocupante" a situação no concelho.

Chocado com a ocorrência de situações "muito degradantes", envolvendo violência física, psicológica e mesmo sexual sobre crianças, que julgava crível não acontecerem no concelho, o autarca defendeu a tomada de medidas "para evitar que a situação se amplie". Uma das medidas tomadas pela autarquia, que integra, conjuntamente com uma série de outras entidades, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, foi a criação de um gabinete de psicologia, que tem estado a lidar com alguns casos problemáticos, explica o presidente da câmara, o socialista Rui Barreiro.

No relatório, a Comissão de Protecção de Crianças queixa-se de "alguns constrangimentos" ao seu funcionamento - como a não transferência da verba mensal para situações de emergência, situação só regularizada em Dezembro, e a falta de espaços para acolhimento temporário de famílias, nomeadamente monoparentais. A insuficiência de técnicos é outro problema mencionado.

A comissão refere também o "contributo" das escolas, nomeadamente as do segundo ciclo, para o aumento do absentismo escolar. As dificuldades em responder - por ausência de programas para esta faixa etária - aos problemas dos jovens entre os 13 e os 16 anos que abandonam precocemente a escola são outra questão abordada no relatório em causa.

Fonte: [jornal.publico.pt]
Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 09:42

À Ana: por mera curiosidade (ou não), o livro de que falo tem uma breve apresentação na Internet, em [www.interculturalpress.com] . Em <[www.amazon.com]; podem ver-se as primeiras páginas, incluindo o ídice completo.

Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 12:57

Amigo Alef:
Fazes váriass afirmações inflamadas no teu texto....
1 - Ficas estranhamente escandalizado quando digo que, ao partilhares comigo um conjunto de conceitos básicos sobre a dignidade inalienável e os direitos das das mulheres,( cerne do feminismo) e de te afirmares contra o "machismo", isso não faz de ti feminista... Ok, então eu também não sou...
Terminas dizendo que eu tenho uma posição radical - anti-homens!Nada mais errado! ! Em nenhum momento faço discurso contra os homens....
Ou não soubeste interpretar o que escrevi ou tiveste alguma dificuldade em lidar com o meu sentido de humor..feminino.... :))
Mas a tua posição e a de outros caladinhos aqui no site, vem corroborar a minha profunda convicção de que vivemos muma sociedade onde o regime patriarcal tem raizes fundas e onde o estatuto da mulher é permanentemente inferiorizado... Ainda agora, ao ouvir o programa "Freud e maquiavel" - no melhor pano cai a nódoa - , um ilustre senhor citou um provérbio árabe" deves bater na tua mulher todos os dias - mesmo que tu não saibas porquê, ela sabe..." E perante isto toda a assembleia gargalhou alarvemente... como se bater numa mulher não fosse um crime...
E como se , em portugal a questão da violência doméstica e dos crimes contra as mulheres fosse uma questão banal...

Por exemplo, afirmas que é "feminista" a minha citação de que as mulheres têm melhores resultados escolares que os homens... Mas trata-se apenas de uma SIMPLES CONSTATAÇÃO!!!!!!!!!! Longe de mim afirmar a inferioridade intelectual masculina.. ( seria um sacrilégio)
Mas, aposto, que se esta simples contatação fosse ao contrário - se as estatísticas demonstrassem que as mulheres tinham claramente mais insucesso escolar, a ponto de entrarem em muito menor número para as universidades do que os homens, qual seria a leitura? Obviamemte a inferioridade intelectual das mulheres...
Para os homens é utilizada outro tipo de linguagem, utilizando-se eufemismos do tipo "necessidades educativas especiais", "ritmos de aprendizagem diferentes das raparigas", etc,etc...
Usei este exemplo da Educação como um paradigma sobre os conceitos dominantes sobre a feminilidade e as questões de desigualdade social subjacentes...

2 - Quanto á questão do Aborto, que foi introduzida por ti neste debate, limitei-me a exprimir o conceito de opção na perspectiva dos movimentos feministas, nomeadamente, dos que são antiaborto.... Como te referiste a eles, pressupus que concordarias...
Criticas o facto de estes movimentos só realçarem os direitos das mulheres...
A perspectiva da mulher continua a ser a mais importante, porque é no seu corpo, nas suas entranhas, que a vida de um outro se torna possível... Quando for tecnologicamente viável a gravidez extrauterina ou a gravidez em homens, os discursos sobre os direitos vão ser substancialmente alterados... Mas o aborto não é o tema que estamos aqui a debater...
3 - Quanto á violência sobre as crianças e maus tratos infantis... é uma violência que se passa em contextos familiares e em que os agressores são basicamente homesn... Lutar contra esta forma de violência também me transforma em "perigosa feminista"'?
4 - Muiti importante, a tua nota sobre história da Igreja e as mulheres. "Embora seja inegável que ao longo da história a mulher tendeu a ser relegada para segundo plano por uma sociedade machista e uma igreja clericalista, não devemos esquecer o papel de importantes mulheres na história da Igreja" Exactamente.

Responderei masi tarde em relação ao resto


ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 19:48

Quando te rerefes aos cães ques se comportam melhor que os homens, referes-te concerteza aos homens que queiimaram viva uma a jovem nem contentor do lixo..............

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 00:18


Não me parece que haja contradição em afirmar o feminismo como um exagero e desvirtuamento daquilo que como cristãos defendemos.

Ena, que artifícios linguísticos para ofender um pretenso misogenismo da Igreja em relação à mulher, para as feministas a única razão pela qual não podem ser ordenadas... Está na altura de ultrapassar esse complexo de inferioridade e essa insistência num conceito teológico de menosprezo da mulher que está ultrapassado, e muito bem ultrapassado. Tal como está ultrapassada a separação entre alma e corpo, santidade e concuspiscência... Essas coisas não são cristãs na origem, mas e daí, a ordenação de mulheres também não...

Ser "contra" ESTE feminismo não é ser a favor do machismo prevalecente. Ou será que a verdadeira intenção feminista não é a igualdade? Deveriam estar mais motivadas não pela alteração do sexo forte, mas pela real equiparação em direitos e deveres humanos, observando as específicas necessidades e possibilidades dos géneros.

Basicamente, estás a dizer que só se combate um machismo inveterado com um feminismo ofensivo (portanto, exagerado)... Não me parece que tal violência seja a solução, mas compreendo que as mudanças têm de vir de algum sítio: às feministas radicais de décadas anteriores devem agora suceder feministas (ou activistas pró-mulher... hehehe) mais equilibradas.

Mas a solução para tudo isto depende de uma educação integral, onde se coloque o amor ao próximo como pilar fundamental. Há que ensinar a trabalhar as relações humanas, e, em especial, ensinar os meninos a amar as meninas, sem violências... Acho que estamos a assistir a uma nivelação das emoções entre homens e mulheres, antes uma coisa do foro feminino, e não admitida em homens. Estes aprendem cada vez mais a escutar-se a si mesmos e a dar voz ao que sentem, não impondo o que acham.

Depois, a mulher não tem o "direito" de não abortar: tem o DEVER de não abortar, tal como tem o dever de não matar ninguém, como qualquer outro.

A ambiguidade com que se reveste o "direito à escolha" é terrível: parece que temos o direito de manipular a natureza, não a favorecendo e dominando justamente, mas podendo anulá-la conforme quisermos... Não temos ESSE direito, moralmente falando. É uma questão filosófica, centrada na existência de Deus e na redenção de Cristo.

Chamar "deusa mãe" a Maria dá-se obviamente devido a uma inculturação que provém de meios iletrados, e ninguém de bom senso (e conhecimento, que é poder, não é) considerará assim a Mãe de Deus, mas num sentido muito mais cristão.

Se calhar, admiras-te se te disser que até as feministas têm de aprender a conviver com os homens: isso manifesta-se na "óbvia inferioridade" que lhes atribuis... Assim é que não saímos da cepa torta. Há que sensibilizar os homens e as feministas.

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 01:07


Ao dizer "homens e feministas" não quis dizer que a generalidade dos homens seja machista!

O problema de tudo isto é o individualismo, como bem mencionou o Alef, que fez a libertação das injustas pressões sociais de antigamente resultarem na total falta de preocupação pelo outro (para lá caminha; veja-se a privatização de cada vez mais serviços públicos), e da resultante egolatria. Parece-me que nesse contexto os homens se convencem mais da sua superioridade (devido às suas capacidades físicas) que, fomentando aliás um clima violento, não acontece tanto nas mulheres, que se preocupam com as suas coisas mantendo no entanto laços de maior intimidade com outros. Os homens tendem a fechar-se mais (embora isto tenha vindo a mudar, não sem certos fenómenos cada vez mais anacrónicos - como essa citação "deves bater na tua mulher todos os dias - mesmo que tu não saibas porquê, ela sabe...") e assim o seu isolamento torna-se violento para com os de mais. Nas relações íntimas, geram-se tensões que resultam em violência conjugal.

O maior sucesso escolar das mulheres é sim, uma "simples constatação". Mas foi criticado pelo Alef a forma como o fizeste, que me pareceu a mim ser de uma atitude sobranceira para com "eles" (ia a dizer "connosco", mas não quero dar a ideia de que aqui se trata de uma oposição homens/mulheres, mas sim de que se trata de uma sã e respeitosa convivência).

O Alef volta a demonstrar bom senso... Essa do "extremo centro"!! ;o)

Acho mesmo que esta é a palavra de ordem:

"Faço votos que as próximas gerações cheguem a outro grau de maturidade... Certamente isso acontecerá quando os extremismos (todos!) ruírem por cima da inconsistência dos seus argumentos..."

De facto, assistimos hoje a uma situação onde muitos dos sistemas que dominaram os tempos modernos e contemporâneos se esgotaram ou até mesmo se auto-consumiram à exaustão.

Está na altura de, com todas as liberdades, responder ao desafio da educação integral das pessoas, dando-lhes a conhecer as bases filosóficas dos erros dos nossos antepassados, compreender a nossa natureza, munindo o cidadão comum de uma capacidade auto-crítica.

Será que os individualistas hodiernos nos vão permitir isto? Será preciso uma revolução popular anti-mediocridade? Será que isso acontecerá jamais...?

Estou certo de que a Igreja terá um papel proeminente neste processo de formação adulta, implicando a própria fé, que cada vez mais implica cultura, uma afirmação pessoal carregada de baterias para enfrentar o agressivo e estúpido quotidiano. Os recentes esforços de Nova Evangelização e catequização para adultos estão a reformular-se para abarcarem estes desafios culturais. Espero que cada um de nós se envolva também nessa "reforma" e que saibamos partilhar quem somos, até na fé, que deve constituir o âmago do nosso ser. Fóruns como este são oportunidades para o realizar. :o)

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 01:08


Ana, aqui fica o que o nosso querido Papa João Paulo II nos disse há mais de 20 anos atrás, ainda eu não era nascido. Aconselho-te a ler os números antes e depois deste, que também versam sobre a mulher, citados da Encíclica Familiaris Consortio.


«Ofensas à dignidade da mulher

24. Infelizmente a mensagem cristã acerca da dignidade da mulher vem sendo impugnada por aquela persistente mentalidade que considera o ser humano não como pessoa, mas como coisa, como objecto de compra-venda, ao serviço de um interesse egoístico e exclusivo do prazer: e a primeira vítima de tal mentalidade é a mulher.

Esta mentalidade produz frutos bastante amargos, como o desprezo do homem e da mulher, a escravidão, a opressão dos fracos, a pornografia, a prostituição - sobretudo quando é organizada - e todas aquelas várias discriminações que se encontram no âmbito da educação, da profissão, da retribuição do trabalho, etc..

Além disso, ainda hoje, em grande parte da nossa sociedade, permanecem muitas formas de discriminação aviltante que ferem e ofendem gravemente algumas categorias particulares de mulheres, como, por exemplo, as esposas que não têm filhos, as viúvas, as separadas, as divorciadas, as mães-solteiras.

Estas e outras discriminações foram veementemente deploradas pelos Padres Sinodais [Sínodo dos Bispos de 1980]. Solicito, pois, que se desenvolva uma acção pastoral específica mais vigorosa e incisiva, a fim de que sejam vencidas em definitivo, para se poder chegar à estima plena da imagem de Deus que esplandece em todos os seres humanos, sem nenhuma exclusão.»

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 01:22


Ser feminista pelo feminismo não é ser humano pela Humanidade!

Quero dizer, o feminismo enferma de uma visão particular que não é nem a do homem nem a da mulher (!), mas a de uma reacção particular a um fenómeno de mediocridade cultural (machismo), que teve o seu tempo e vai sendo ultrapassado.

Nessa medida, continua o feminismo nessa tradição de mediocridade humana, pelo que mais vale colocá-lo já de lado por ser uma má solução, de maneira a que não tenhamos de, no futuro, quando estivermos a falar sobre o então prevalecente feminismo, pensar (como agora) na forma em que o trocaremos por mais outra falsa (porque parcial) solução...

Quando teremos a coragem de enveredar pelo caminho certo, que é o da humildade (não confundir com mais outra mediocridade, a humilhação)?

A humildade exige a verdade, a justiça, a caridade, a confiança, a esperança (, a fé? - politicamente incorrecta?) e culmina na Paz. Seremos capazes de acabar não com o machismo, não com o feminismo, mas com o individualismo e o egoísmo/egotismo? É que essa é que é a questão transversal à própria Humanidade inteira... Pecado "original"...

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 19:40

Ana,

Falar de "feminismo" é pouco claro.

Feminismo é um conceito com tantos significados que sózinho, como o apresentaste, ficou vazio. Para mim, naturalmente.

Dizes que "cristianismo e feminismo estão profundamente interligados" e o que me parece interligado é o cristianismo e a não distinção em função do género.

Aliás essa foi uma das "revoluções" para a mentalidade semita que Jesus introduziu na sua época foi o de tratar todos como pessoas, em vez do sistema quase "de castas" existente naquele tempo e lugar.

Esta não distinção é que, em meu entender, tem a ver com os direitos humanos (que, na prática se resumem a Mc 12, 28-31).

João (JMA)

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 19:46

Caro Alef;

1 - Volto à tua explicação sobre o pecado original do feminismo...
Quando referes "pecado original", afirmas que não pretendias de forma alguma introduzir a ideia de culpabilidade ou anátema, mas tão só utilizar uma metáfora comum...

Ora, as metáforas comuns e a linguagem comum que utilizamos para classificar um fenómeno ou uma situação não são inócuas ou isentas... Ela exprimem &#8211; consciente ou inconscientemente (e aí já estamos no domínio do "lapsus linguae" ou dos "actos falhados") - os nossos pressupostos mais profundos relativamente ao fenómeno/situação sobre a qual enunciamos juízos de valor ou conceitos simbólicos através da linguagem.
As palavras não são "por acaso". Ao escreveres sobre o "pecado original do feminismo", relegas a discussão para um plano da religiosidade, que inconscientemente nos remete para o plano da subjectividade e da culpa.
De certa forma, o juízo subjacente à tua afirmação é a de que o feminismo está eivado de "PECADO DESDE A SUA CONCEPÇÃO", desde a sua origem, sendo algo de intrinsecamente mau, embora tentes depois ancorar o teu ponto de vista em conceitos "filosóficos/antropológicos".
Vamos a eles.

2 - Por um lado remetes as origens do feminismo para uma filosofia de individualismo competitivo da Reforma protestante.
Portanto, o feminismo seria&#8230;individualista. Mas a emergência dos conceitos de individualismo/subjectividade/cidadania, no projecto da modernidade inauguram-se no século XVIII... e, como sabes, as mulheres, como os escravos, como os pobres, como os negros, como os doentes mentais, estavam em absoluto excluídos desse pacto social de regulação igualitária e de afirmação dos direitos do homem, a que correspondeu a grande utopia da igualdade e liberdade!...

Vejamos, presumo que o projecto utópico da cidadania e igualdade emergentes da revolução francesa, não são por ti considerados como"intrinsecamente malévolos"! Partindo da sua "bondade original", a afirmação da cidadania não é monolítica:
Os direitos cívicos e políticos correspondem ao primeiro momento do desenvolvimento da cidadania &#8211; entre eles o simples e básico direito ao voto. Como já referi, os direitos da declaração universal dos direitos do homem não eram de todo universais. ("Todos os homens são iguais, só que há alguns mais iguais que outros")
E a conquista dos direitos de cidadania por parte dos "excluídos" do contrato social &#8211; foi isso mesmo, uma conquista, gerou tensões sociais e clivagens, contestações e turbulências. Mas nem por isso é considerada como algo de negativo. ( a não ser que se trate da luta das mulheres&#8230;)
Curioso é que, se a luta dos negros ( e dos escravos) e de outras minorias, pelos direitos de cidadania é permanentemente enaltecida e tem os seus heróis e os seus símbolos, a luta das mulheres pelos mesmos direitos básicos de cidadania ( direito ao voto) é menosprezada como uma "busca individualista" sem ter me conta o bem comum...
Estes tipos de argumentos são absolutamente incongruentes!

O direito ao voto foi classicamente negado ás mulheres em muitas culturas e contextos sociais. Para falar em Portugal &#8211; até 1974 &#8211; AS MULHERES NÃO PODIAM VOTAR, e algumas que o conseguiram fazer, envolveram-se em longas batalhas jurídicas. Aliás o estatuto de menoridade cívica da mulher era um dado adquirido e plasmado em todo o sistema jurídico e penal... Quando eu nasci, as mulheres não podiam sair do país sem autorização do marido, as mulheres não podiam fazer uma contrato de trabalho sem autorização do marido, e este tinha o direito de rescindir o contrato de trabalho da mulher, a qualquer momento, mesmo contra vontade desta. O divórcio não existia, garças à Concordata, etc., os crimes de honra eram praticamente impunes, etc, etc, etc..
Não estamos a falar do século XVII, estamos a falar da década setenta do século XX!!!!!!
Claro que a questão dos direitos Humanos, e obviamente dos direitos das mulheres se foi construindo paulatinamente e passou a abarcar os direitos sociais (como o direito à educação, o direito ao trabalho, o direito a prestações salariais, a prestações do estado &#8211;providência). Foi outro grande momento &#8211; outra grande revolução &#8211; a entrada em massa das mulheres no sistema de ensino e no mercado de trabalho&#8230; a partir da década sessenta do século XX. Novos paradigmas de cidadania foram emergindo.
Na sociedade pós-moderna a relação entre cidadania e subjectividade é ainda mais complexa. A subjectividade (individualidade) para além das ideias de autonomia e de liberdade, envolve as ideias de autoreflexividade e auto-responsabilidade. Envolve também a materialidade de um corpo e as particularidades potencialmente infinitas que conferem o cunho próprio e único à personalidade.(Sousa Santos; 1996)
Estes conceitos aplicados à ideia de feminilidade traduziram-se em novas interacções sociais e levantaram as questões de identidade do género e de construção cultural do género, sempre tendo como ponto de referência a velhinha utopia da IGUALDADE E DIGNIDADE de todos os seres humanos&#8230;
O feminismo surge assim como um movimento libertário, centrado no próprio conceito de humanismo e dignidade humana, dotado de uma congruência antropológica inatacável.

3 - No teu texto referes o feminismo como um fenómeno agressivo e exclusivista. Eis novamente uma linguagem paradoxal &#8211; por um lado reconheces que há muitos feminismos (ENTÃO HAVERÁ ALGUNS QUE NÃO SÃO AGRESSIVOS OU EXCLUSIVISTAS), reconheces também que é um dever cristão estar contra as injustiças e desigualdades, reconheces a importância do feminismo dentro da própria Igreja e depois, reduzes o feminismo a um estereótipo caricaturado e ultrapassado - mas não inócuo....
A imagem da pseudo agressividade do feminismo é em parte explicada pela existência de correntes feministas marcadamente militantes &#8211; e não só nos EUA &#8211; que, de uma forma sistemática e organizada lutam pelas questões da igualdade, mesmo que ela seja sob a forma de descriminação &#8211; positiva neste caso. Estes movimentos observam uma verdadeira militância política e ideológica. Infelizmente, a realidade do mundo em que vivemos parece dar-lhes razão. Infelizmente, ás vezes para se conquistarem valores fundamentais &#8211; e aqui presto as minhas homenagens ás sufragistas!! &#8211; é preciso fazer manifestações, ser presa, torturada e condenada, ser até morta para defender a liberdade.
Agressividade?? Violência???
De quem?
Ao afirmarem convictamente as suas convicções, estes movimentos podem ser agressivos, no sentido em que são percepcionados como tal pela ordem social instituída, que é tendencialmente centrada no sexo masculino e com uma ordem de valores falocêntrica&#8230; &#8220;Toda a gente diz violento o rio que corre, mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem&#8221; &#8211; está mal traduzido, desculpem&#8230;

4 &#8211; O teu Ùltimo argumento é encantador&#8230; ( se não fosse perverso)
O feminismo é adolescente&#8230;! No sentido de que revela imaturidade&#8230;
È um argumento encantador por ser tipicamente adolescente (como sabes os adolescentes devido à sua imaturidade emocional desenvolvem mais facilmente comportamentos de acting-out. Esta afirmação é tipicamente um acting-out pseudo intelectual, passo o paradoxo, que desta vez é assumido). Quando não há mais argumentos sólidos pode-se sempre usar este &#8211; o feminismo teve origem nos EUA, os EUA é um país jovem logo o feminismo é adolescente,,, ( silogismo básico)
Subjacente a esta afirmação está um pressuposto tipicamente machista &#8211; em boa verdade as mulheres são&#8230;adolescentes&#8230;emocional e intelectualmente imaturas&#8230;logo qualquer movimento que tenha como origem em finalidade as mulheres, só pode ser.. adolescente&#8230;

Ninguém com seriedade intelectual pode fazer uma afirmação destas. Até porque o feminismo não tem a sua origem nos EUA&#8230;

As suas raízes históricas e epistemológicas são bastante mais antigas&#8230;.

Saudações

ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 20:56

Dez Anos de Prisão para Homem Que Disparou Sobre Jovem e a Regou com Gasolina
Por CELESTE PEREIRA
Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2003

Final do julgamento em Vila Real ficou marcado por alguma agitação e histeria à porta do tribunal.

O Tribunal de Vila Real condenou ontem a 10 anos e três meses de prisão Luís Artur Marques, que em 17 de Dezembro de 2001 atingiu com três tiros e regou com gasolina uma jovem de 16 anos num local ermo próximo do santuário de Nossa Senhora da Guia, naquela cidade. Após seis sessões de julgamento e depois de ouvir mais de 30 testemunhas, o colectivo de juízes presidido por Rui Alexandre deu como provados os crimes de homicídio qualificado na forma tentada (crime cuja moldura penal se situa entre os 2 anos e quatro meses e os 16 anos de prisão) e de posse de arma ilegal.

Este caso ocorreu em 17 de Dezembro de 2001. De acordo com o que ficou provado em julgamento, Luís Artur Marques tentou por diversas vezes uma aproximação amorosa e sexual com a filha da sua amante, a jovem Ana M., então com 16 anos de idade. Esta recusou sempre tal relacionamento e, a dada altura, "incomodada" com a insistência de Luís Artur, ameaçou denunciar a situação à sua mãe. Descontente com esta atitude, em 17 de Dezembro de 2001, o arguido decidiu então executar o plano por si "pensado" durante uma semana. Convidou Ana M. para um passeio, mas antes colocou uma pistola na porta do seu automóvel e adquiriu cinco litros de gasolina para "regar e queimar" o seu corpo depois de lhe tirar a vida.

Pena "equilibrada"

E foi num local ermo nas imediações do santuário, ao final da tarde desse dia, que Luís Artur disparou três tiros a cerca de meio metro de distância de Ana M. que a atingiram no pescoço, ferindo-a gravemente. A seguir, o arguido regou a jovem com combustível com o objectivo de inflamar o seu corpo, mas ao ser regada esta recuperou os sentidos e conseguiu escapulir-se pelo meio do mato. O arguido ainda tentou segui-la, mas em vão.

Gravemente ferida, Ana Patrícia conseguiu telefonar a uma pessoa amiga e foi transportada ao Hospital de Vila Real de onde foi transferida de helicóptero para o Hospital de Santo António, no Porto, aí permanecendo internada até 12 de Janeiro de 2002. O arguido refugiou-se em casa de uma amiga íntima e só se entregou 48 horas depois do crime.

Durante o julgamento, Luís Artur - que foi também condenado a pagar 45 mil euros por danos não patrimoniais - mostrou arrependimento e pediu desculpas a Ana M., mas tal comportamento não convenceu o colectivo de juízes de Vila Real. Sobretudo porque, no essencial, este apenas assumiu ter dado dois tiros e regado a jovem com gasolina. Em tudo o resto, foi "esquivo", "dúbio" e "contraditório".

Ontem, após ler parte do longo acórdão de 75 páginas, Rui Alexandre mostrou-se desiludido com a atitude "pouco clara" do arguido e descontente com a sua opção de conduzir a sua defesa para a tese da não premeditação do crime. "O tribunal achou incrível que o senhor tenha vindo dizer que quando atirou para [Ana M.] não sabia para onde estava a apontar e que quando a regou não sabia o que estava a fazer", afirmou o juiz, para concluir que o arguido "procurou, depois do mal feito, arranjar a sua vidinha".

No final do julgamento, que decorreu com medidas de segurança especiais, e onde não faltou alguma agitação e histeria à saída do tribunal, o advogado de defesa de Luís Artur mostrava-se insatisfeito com a pena aplicada, deixando perceber a intenção de recorrer da sentença. Mais satisfeita mostrava-se a advogada de acusação, que considerava a pena "equilibrada".

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 04 de February de 2003 01:06

Ana:

Embora isso esteja presente nas entrelinhas, devo reafirmar o seguinte. Aquilo que eu tenho criticado no feminismo (afinal, será que tem garantia de imunidade à crítica?) tem sobretudo a ver com as suas expressões mais radicais. Acho que hoje são as próprias feministas (pelo menos algumas) a dar-se conta dos erros extremistas e exclusivistas.

A questão do &#8220;pecado original&#8221; e a tua &#8220;análise&#8221; à expressão. Ao ler o que escreveste lembrei-me dos programas de Carlos Magno e Carlos Amaral Dias na TSF. Não vou entrar por aí, embora esta tua mensagem tenha várias inferências que seguem o mesmo padrão. Muitos dos elementos que referes apontam para elementos que eu não indiquei e presumes uma determinada posição da minha parte, que eu não tomei, num encadeamento de tipo polissilogístico, mas com &#8220;saltos&#8221; ilegítimos [talvez um caso de &#8220;sorites&#8221;, se bem me lembro da Lógica]. Temo que isso provoque apenas um efeito estilhaçante ou uma tentativa de me colar a determinadas posições que eu nunca tive. Fiz questão de assumir na minha primeira mensagem que procuro não ser conivente com atitudes machistas, da mesma forma que aponto o dedo àquilo que eu considero estar errado no feminismo, sobretudo nas suas expressões radicais. &#8220;Extremo centro&#8221;, portanto.

Contudo, devo esclarecer alguns pontos. Dizes que relego &#8220;a discussão para o plano da religiosidade, que inconscientemente nos remete para o plano da subjectividade e da culpa&#8221;. Acontece que nesse caso eu comungaria da teologia protestante da graça, o que não é verdade. Na teologia católica não vemos o pecado original como uma culpa nossa (ao contrário dos luteranos, por exemplo). De resto, não é apelando para os supostos elementos inconscientes que se avança numa discussão de um fórum, que vive sobretudo daquilo que se diz por escrito, o que é muito diferente de uma comunicação humana normal, onde os elementos não-verbais são fundamentais. Muito provavelmente se a conversa fosse &#8220;ao vivo&#8221;, &#8220;tête-à-tête&#8221;, o rumo teria sido muito diferente. Mas trabalhemos com os elementos que temos.

Contrapões a minha &#8220;tese&#8221; da associação do feminismo à modernidade com a &#8220;emergência dos conceitos de individualismo/subjectividade/cidadania&#8221; apenas no século XVIII. Mas esses dados em nada contradizem o que eu afirmei, porquanto todo esse movimento entronca no surgimento da modernidade e dele faz parte.

Ao falar disto não fiz mais do que chamar a atenção para algo que deve ter sido em conta, para não se cair no erro de absolutizar o feminismo, sobretudo nas suas formas mais radicais. As formas radicais do feminismo radicalizam também a visão individualista e competitiva da sociedade humana e dificilmente se enquadram coerentemente numa visão cristã onde todos são irmãos. O oposto também é verdade: o machismo, além de alarve, é anti-cristão. O cristianismo é a religião da inclusão, não da exclusão. Já o disse e repito: o feminismo teve o mérito de chamar a atenção para a situação de opressão das mulheres, mas torna-se nefasto quando toma formas radicais contra os homens, pelo facto de serem homens (porque, sendo homens, são opressores...). As críticas que faço quando falo de &#8220;feminismo&#8221; com um bloco (porque desde logo disse que há vários, incluindo o(s) feminismo(s) marxista(s)), tenho em mente sobretudo o quadro de referência das tuas mensagens, que me pareceu até agora bastante radical. Na mensagem de 2003-02-02, às 12:57, negas ter &#8220;uma posição radical anti-homens&#8221;. Registo o inciso e terei isso em conta. Mas parece-me que tinha razões para dizer o que disse, tendo em conta o que escreveste. O parágrafo que eu comentei na minha mensagem a propósito do machismo &#8220;delicadamente carinhado pela cátedra pontifícia&#8221;, etc., parece-me muito violento e até ofensivo. Parece-me uma demonstração de extremismo, até porque uma afirmação injusta e gratuita. O João citou a Familiaris Consortio e u já tinha citado a &#8220;Mulieris Dignitatem&#8221;. Preferiste &#8220;não dar o braço a torcer&#8221; (mas também não pedi isso).

Ainda sobre a ligação feminismo-modernidade-individualismo-etc., alargas o âmbito da questão para te referires às lutas pela igualdade dos negros e outras minorias, dizendo que estes movimentos são comummente enaltecidos, enquanto que «a luta das mulheres pelos mesmos direitos básicos de cidadania (direito ao voto) é menosprezada como uma "busca individualista" sem ter me conta o bem comum...». Ora bem: em primeiro lugar, a luta pela igualdade não é uma &#8220;busca individualista&#8221;, não é isso que eu tenho criticado. A luta pela igualdade e pela justiça tem uma raiz profundamente cristã. A Bíblia está sempre a falar de justiça! Em segundo lugar, embora se trate aparentemente do mesmo tipo de movimento libertador, os movimentos étnicos são muito diferentes dos movimentos pela igualdade das mulheres. Os primeiros são de um povo, raça ou grupo étnico ou cultural. No segundo temos um problema &#8220;intra e inter-étnico&#8221;. Por isso, é destituída de sentido a tua expressão &#8220;genocídio à escala mundial&#8221; a propósito da violência contra as mulheres.

Volto ao início do parágrafo anterior para insistir num ponto. Parece-me que uma boa parte da tua argumentação contra o que eu disse se baseia num pequeno &#8220;truque&#8221; que &#8220;rende&#8221;, porque com ele é sempre possível encontrar &#8220;contradições&#8221;. Esse &#8220;truque&#8221; consiste no alargar ou não o referente da palavra &#8220;feminismo&#8221;. Assim, quando eu critico o feminismo radical de estar marcado pelo &#8220;pecado original&#8221; da modernidade, viste a minha afirmação em sentido lato (logo, eu estaria a dizer que todos os elementos do feminismo, incluindo a luta pelo direito aos mesmos direitos básicos dos homens (que eu defendo), estariam errados. Mas não é isso que está implicado na minha afirmação. Nunca eu disse que «a luta das mulheres pelos mesmos direitos básicos de cidadania» fosse uma «busca individualista». Nesse caso eu teria de contestar o &#8220;pecado original&#8221; do Evangelho e não da modernidade. Só alargando ou reduzindo o referente podes concluir que «Estes tipos de argumentos são absolutamente incongruentes!» Pois...

Dizes:
«No teu texto referes o feminismo como um fenómeno agressivo e exclusivista. Eis novamente uma linguagem paradoxal &#8211; por um lado reconheces que há muitos feminismos (ENTÃO HAVERÁ ALGUNS QUE NÃO SÃO AGRESSIVOS OU EXCLUSIVISTAS), reconheces também que é um dever cristão estar contra as injustiças e desigualdades, reconheces a importância do feminismo dentro da própria Igreja e depois, reduzes o feminismo a um estereótipo caricaturado e ultrapassado - mas não inócuo....».
Começo por um aspecto formal. O facto de falar de vários feminismos não me impede de os caracterizar como um todo naquilo que eles têm de comum. Eu posso reconhecer a existência de vários comunismos; se depois disser que o estalinista é mau, isso não me impede de dizer que o maoísta seja igualmente mau. Da mesma forma, o facto de haver vários feminismos e de um deles ser agressivo não me impede de verificar a mesma característica de agressividade e exclusivismo num outro. Portanto, não tem razão de ser a destacada e garrafal frase entre parêntesis. Quando eu disse que o feminismo é um fenómeno agressivo refiro-me, como poderás ver no contexto, às suas expressões radicais. Acho que para se defender os direitos das mulheres não é preciso embandeirar em arco com feminismos, dividindo o mundo entre feministas (os bons) e machistas (os maus).

E ainda em matéria de agressividade, basta ver o tom de alguns parágrafos teus para não ficar com muitas dúvidas. Já agora (isto é um aparte pessoal, talvez estético), parece-me de muito mau gosto o repetido recurso à expressão &#8220;sociedade falocêntica&#8221;.

Sobre a &#8220;adolescência&#8221; do feminismo. Também nisto me refiro às atitudes mais agressivas e exclusivistas. Referia-me sobretudo à rejeição dos homens enquanto tais. Vi já um ou outro programa feminista num canal norte-americano e confesso que é de ficar de queixo caído (bom, há talvez uma ressalva: um dos programas fazia claramente a apologia do lesbianismo)... É este tipo de &#8220;modelo&#8221; que eu contesto, que tem já muito pouco que ver com a &#8220;luta pelas necessidades básicas&#8221;...

Obviamente rejeito a tua afirmação de que por detrás da minha afirmação está o pressuposto machista de que as mulheres são adolescentes. É uma afirmação que resulta de mais uma espécie de &#8220;polissilogismo&#8221; absurdo e uma forma imprópria de me &#8220;colar&#8221; à argumentação machista. [Até porque, e passe o aparte, eu acho que as mulheres são em muitas situações mais maduras que os homens, mas esta é uma &#8220;achologia&#8221; que nem me parece ser relevante para discussão.] Portanto, que depois do teu &#8220;polissilogismo&#8221; me ataques de falta de &#8220;seriedade intelectual&#8221; parece-me, no mínimo, &#8220;interessante&#8221;... Mas parece-me muito mais...

É evidente que os movimentos de libertação das mulheres não começaram apenas nos EUA. Não nos esqueçamos do notório papel das mulheres na Revolução Francesa...

Talvez a terminar, gostaria que ficasse assente o seguinte, para não se chover mais no molhado: quando ataco o feminismo refiro-me não à necessária denúncia dos abusos sobre as mulheres e à proclamação de iguais direitos de oportunidades em todos os níveis da sociedade, mas sim sobretudo às expressões radicais. Com uma ou outra &#8220;nuance&#8221;: seja um feminismo mais ou menos radical, acho que qualquer atitude feminista (ou outra) em defesa do aborto é condenável, porque, em nome da defesa de quem é mais fraco se dá o aval à morte de seres humanos. Afinal, algo vai mal neste movimento que tu disseste estar ligado ao âmago do Evangelho. A forma mais brutal de violência é precisamente a morte provocada de alguém. «Não matarás!» Esta posição da maior parte das feministas mostra que o que está em causa não é bem a defesa de quem é mais frágil. Acaba-se por se cair no mesmo ciclo de violência que diz combater...

Também eu denuncio os abusos e defendo direitos iguais, mas isso não faz de mim um feminista. Esta é uma luta que vem de, pelo menos, Jesus Cristo, que não aparece nos manuais como o fundador do feminismo...

Repito o que disse anterioremente: Faço votos que as próximas gerações cheguem a outro grau de maturidade... Certamente isso acontecerá quando os extremismos (todos!) ruírem por cima da inconsistência dos seus argumentos...

Alef

Ir para a página: 12345Próximo
Página actual: 1 de 5


Desculpe, não tem permissão para escrever ou responder neste fórum.

Nota: As participações do Fórum de Discussão são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que o Paroquias.org não se responsabiliza pelo seu conteúdo, nem por este estar ou não de acordo com a Doutrina e Tradição da Igreja Católica.