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O regresso às fontes
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 26 de January de 2003 20:36


Leiam atentamente, pois vale mesmo a pena, até para o avaliar com justiça. Análise crítica da História do Cristianismo, especialmente na forma de encarar a Bíblia, desafios actuais e respostas para a continuidade e futuro.



O regresso às fontes


Um regresso sem regressões. Sem fundamentalismos. Sem bibliolatria. Como refontalização. Como um rio que reencontra a nascente onde se alimenta, purifica e renova permanentemente. Neste caso, o Rio da Vida. Apocalipse, 22. Ezequiel, 47. O erro de Lutero, e dos Protestantes no seguimento: redução, à boa maneira germânica, de redução em redução. "Sola Scriptura". Só a Bíblia! Erro trágico. De que serve uma nascente, uma fonte sem a corrente, a torrente, crescente? Responda Newman (1890), o protestante inglês que voltou à Igreja Católica. Mas não está tudo na Bíblia? Não, não está tudo. Ao Espírito de Deus, veni Creator Spiritus! ninguém o encerra na Letra. Ao Verbo de Deus ninguém o fecha numa Biblioteca. Porque a Bíblia não é um livro, a Bíblia é uma biblioteca, biblioteca aberta, apesar do cânon que lhe definiu os livros, estes e não outros, com a autoridade de um reconhecimento, fruto do consenso da Comunhão dos Santos. O Verbo de Deus, criador e salvador desde o Génesis, desde os 4 Evangelhos, não ficou fechado nos livros que dizem o que fez, Ele que faz o que diz: "Fareis coisas maiores do que eu fiz, porque eu vou para o Pai, e vós ides para o Mundo aonde eu vos mando, e vos quero, como Luz do Mundo e Sal da Terra". Pode alguém reduzir um rio à sua nascente? Seria como quem pretendesse meter o Mar numa represa. E a Bíblia é plural. Substantivo colectivo. É plural e é aberta, apesar do cânon das Escrituras que a definiu.

A Bíblia não é 1 livro, falsa impressão que nos vem das tipografias modernas que, com papel bíblia e com letras minúsculas, nos metem 72 livros num único volume. A Bíblia é uma biblioteca, em que os livros são tão diferentes uns dos outros como a noite é do dia, como a água é do vinho. Os livros do Antigo Testamento são velhos, muito velhos. Os livros do Novo Testamento são novos, muito novos. Tão novos que nós ainda hoje temos dificuldade em perceber a Novidade. Mas a Bíblia não é um livro de Deus? É tanto de Deus como é dos Homens: uma co-autoria. Razão por que os livros da Bíblia não são de leitura fácil, exactamente por nos transmitir os caminhos e os pensamentos de Deus, que não são os nossos caminhos e os nossos pensamentos; exactamente por nos relatar as nossas dificuldades históricas e geográficas em compreender os pensamentos de Deus e em seguir os seus caminhos. Quem quiser livros de leitura fácil, corra às bibliotecas do Século onde beberá de águas corridas, escorridas. Os livros da Bíblia não são de leitura fácil, porque aqui a nossa sede não é iludida e a Água Viva brota e corre, como rios, para quem tem fome e sede de Justiça. Ali a nossa sede é verdadeira e a Água Viva é para quem tem sede. "Quem tem sede, venha a mim, e beba!"

Os Santos lidam com a Bíblia, e os Pecadores instruídos e em processo de se refazerem também lidam, como peixes na água. Os outros, morrem de sede junto da fonte da Água Viva. Os outros, sem um guia, perdem-se nas terras secas e sedentas da aridez bíblica!.... Ou, como Tântalo, morrem de sede com a água pelo pescoço. Tormentos... bíblicos. Para quem a Bíblia não serve de nada, ou, desgraça das desgraças, acabará por os matar como matam os venenos. S. Tomás diz isto mesmo do próprio pão da Eucaristia, que a uns dá a vida e a outros dá a morte, comentando as palavras do Apóstolo que escreveu: "Quem não distingue o corpo e o sangue do Senhor, come e bebe a sua própria condenação." Os distribuidores de bíblias ao domicílio não sabem o que fazem!... Muita boa gente tem-se perdido na Bíblia, com a Bíblia. Que fazer? Não há nada a fazer. A Bíblia, que é uma biblioteca para adultos, com reservas!... anda por aí às mãos de qualquer um. Não é bom? Não é mal, mas toda a Graça que ela tem para nos dar exige dos leitores que a leiam com o mesmo Espírito com que foi escrita. Aliás, todo o discurso, e sobremaneira o discurso bíblico, é a meias: metade de quem o diz e metade de quem o ouve. Como escreveu Montaigne de todo e qualquer discurso.

A Bíblia já serviu para tudo, e já serviu para nada, ao ponto da estagnação e da náusea. Retórica bíblica em que as citações funcionaram como pedras para batermos uns nos outros, uma espécie de babel bíblica que transformou a Escritura no lugar do nosso desentendimento, de divisão em divisão, fermento de desmantelamento da unidade da Una e Santa, da Igreja Católica e Apostólica. Bibliolatria, como denunciou o protestante francês Óscar Cullman. Amuleto e magia do Livro, adoração da Letra, à boa maneira judaizante, lenha para a fogueira em que os Cristãos se queimaram uns aos outros desde os pátios da Inquisição à torre de Londres. Ainda hoje persistem o medo católico e a vaidade protestante, da Bíblia!

Mas não houve, não há, nunca haverá renovação pessoal e comunitária sem o Regresso às Fontes. A Vida, o crescer da Vida, o futuro da Vida, do Rio da Vida que nestes dias do 3ºMilénio já entrou pelo Mar dentro, do Mundo imundo, e se misturou e cruzou com todas as correntes e marés, implica e exige permanentemente beber nas Fontes o conhecimento de Cristo. "A Vida Eterna é conhecer-te, Senhor Jesus!"

Esta sede que Buda e os Budistas, por saber e julgar que é a causa do Sofrimento, e que tentam estancar, extinguindo-a pela Meditação em que fazem o vazio porque o Mal, mal universal, segundo Buda, está no Desejo, desejo de ser e de viver; esta sede só no Cristo Jesus encontra a Fonte que nos sacia, a Fonte aberta dentro de nós e que jorra para a Vida Eterna. Para Buda e para os Budistas a solução está em extinguir a Sede. Para Cristo e para os Cristãos a solução está em saciá-la.

O Regresso às Fontes, refontalização bíblica e teologal, da parte dos Cristãos e das suas Comunidades, assinala uma renovação das Igrejas sem precedentes: o sucesso e o progresso desta refontalização dependem agora da restituição ao Povo do que até agora foi um feudo das elites católicas cultivadas. Os Doutores, que a Universidade furtou ao Povo de Deus, tal como os Reis nos haviam roubado os nossos Bispos, precisam de voltar às nossas Assembleias, doutra forma a sua ciência e a sua investigação para que servem, a quem servem? Fora do Meio Vivo onde estas coisas têm lugar e têm sentido, só as Vaidades darão aceitação aos Doutores e lhes alimentarão um prestígio que, face ao Reino dos Céus, é nojento e repugnante.


P. Leonel Oliveira, Centro Catecumenal do Porto

[centro-catecumenal.porto.ecclesia.pt]


João



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