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Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 02 de February de 2003 10:05

Comungo destas vossas impressões.

Estão a ver a figura triste que fazem os pequeninos quando se põem em bicos de pés... Ou, citando um dito popular, parece que a formiga tem catarro... Mas, afinal, as intrigas mais ou menos palacianas permitem que os senhores do mundo joguem com as vidas de milhões pessoas como se um mero jogo de xadrez se tratasse. Os EUA estão muito preocupados com a segurança mundial, oops, com o petróleo; a Grã-Bretanha está preocupada em apoiar a guerra contra o terrorismo, oops, quer mostrar diante dos EUA que tem uma palavra a dizer quando se trata de União Europeia; a França está muito preocupada com a liderança das Nações Unidas, oops, não quer que os EUA interfiram nos negócios que os Franceses têm no Iraque; a Alemanha está muito preocupada com a paz mundial, oops, acha esta uma boa altura para fazer frente aos EUA e para com a França mostrar à Grã-Bretanha e aos restantes países europeus que o eixo franco-alemão está pronto a fazer rolar a Europa; os países pequeninos partilham das preocupações americanas, oops, querem mostrar aos franceses e alemães que são alguém e que criam problemas ao dito eixo... Enfim, todos bons rapazes...

Curioso é notar também como Bush tem usado, cada vez mais, um discurso de tipo religioso, sobretudo nas metáforas usadas... Os EUA têm o presidente que merecem (ou talvez não), mas que mal fizemos nós para termos que aturar a sua fixação no Iraque, com capa de moralismo cruzadesco?

Mais perigosa é a introdução de um pretenso novo conceito que não tem qualquer tradição: o de guerra preventiva! Afinal, por que razão apenas os EUA podem fazer guerra preventiva e não os outros países? Num certo sentido todas as invasões são preventivas. Não foi para "prevenir" um governo comunista que a Indonésia invadiu Timor, com a bênção do sr. Kissinger?

Kyrie eléison!

Alef

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 00:26


Yep, são só jogos de influência política... Andamos numa de ver onde é que cada um se situa nesta "nova (des)ordem mundial"...

O mais triste é que os EUA já andam com GI-Joes a apalpar terreno e têm as tropas a postos para invadir assim que for dada a ordem. Onde é que está a justiça?? "Guerra preventiva"? Tendo em conta o sentido ambíguo de "prevenção", é que estas coisas têm de ser decididas em conjunto e não pelos "polícias do mundo"!

João

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 10:05

Olá a todos!


Penso que devemos ser activos nesta história toda!
E se desmascarássemos o nosso 1º ministro em Praça Pública com uma mega-manifestação (tipo pelo país todo) e mostrássemos que não só estamos a ser governandos por um parvalhão, como estávamos a defender acerrimamente a nossa opinião contrária à guerra?
Era bom, era...mas o povão quer é Big Banhadas e Bombásticos...e não levantar o rabiosque da cadeira para levantar a voz! Assim, não admira que sejamos manipulados pela classe política e que as nossas instituições tenham o descrédito que tenham. Não somos minimamente exigentes!
É conversa de café...Eu, por mim, pretendo estampar uma t-shirt bem elucidativa da minha opinião e andar a exibi-la quando for à rua! Pelo menos, mostro a minha indignação! E não me calo! É o futuro de todos nós que está em jogo!


Anna

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 03 de February de 2003 21:07

Olá Anna:
Acho que as manifestações de nada servem... Estamos perante a história de uma guerra anunciada, com timings perfeitamente predeterminados, e que gera na maior parte do europeus e norteamericanos sentimentos de indignação e de impotência...
Não te preocupes agora com isto... De momsnto, a tua guerra é outra.. :)) Ou seja, estás a fazer mais pela paz no mundo do que todos os discursos e pressões diplomáticas...


Beijinhos.



ana

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 04 de February de 2003 05:09


Ouçam lá!!

Mas não conhecem a História?? Como podia Portugal assumir outra posição que não fosse a de aliado com os EUA? Não estou a dizer que seja aliado no sentido do envio de forças nem de financiamentos, mas no sentido em que não somos neutrais!

Não se esperava outra coisa, pois como já disse, trata-se de pegar de novo nas baterias (demagogias pró ou anti guerra) políticas e reafirmar eixos mais ou menos esquecidos, e agora mais ou menos definidos. Ninguém está para guerras, só os americanos (alguns)! Os pequenos europeus (i.e., os não franco-germânicos) só estão a fazer o joguinho que podem.

Claro que devemos erguer as nossas vozes bem alto e denunciar a completa ESTUPIDEZ que seria uma guerra contra o Iraque!

Mas devemos principalmente reflectir sobre como é que chegámos a este ponto...

João

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 09 de February de 2003 08:13

Vale a pena ler este texto do Frei Bento Domingues. Alef
_____________________________________________

As Igrejas Contra a Guerra

Por FREI BENTO DOMINGUES, O.P.

1. "Há maior glória em matar as guerras com a palavra do que em matar os homens à espada. Há maior glória em obter e conservar a paz com a paz, do que com a guerra."

São palavras de Santo Agostinho (354-430) dirigidas ao enviado imperial que queria restaurar a paz com a espada.

A 13 de Janeiro, João Paulo II manifestou ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé a sua oposição frontal à guerra: "Não à guerra! Ela nunca é uma fatalidade. É sempre uma derrota da humanidade. O direito internacional, o diálogo franco, a solidariedade entre os Estados, o exercício tão nobre da diplomacia são os meios dignos do homem e das nações para resolver as suas contendas. Digo isto pensando em quantos ainda põem a sua confiança na arma nuclear e nos demasiados conflitos que ainda mantêm, como reféns, irmãos nossos em humanidade."

Descendo destes belos princípios, aterrou num lugar cercado pelo poderio militar norte-americano: "E que dizer das ameaças de uma guerra que se poderia abater sobre as populações do Iraque - terra dos profetas -, populações já extenuadas por mais de doze anos de embargo? A guerra nunca pode ser considerada um meio como outro qualquer que se possa usar para regular os diferendos entre nações. Como recorda a Carta das Nações Unidas e o direito internacional, não podemos recorrer à guerra, mesmo quando se trata de garantir o bem comum, a não ser como última possibilidade segundo condições muito rigorosas, sem negligenciar as consequências para as populações civis, durante e depois das operações militares."

Os católicos do Governo português ainda não tiveram tempo para pensar nestes solenes palavras do Papa.

2. Mas por que será que os Estados Unidos anseiam por lançar contra o Iraque uma "guerra preventiva" que não tem reconhecimento jurídico nem justificação moral, que não conduzirá à paz, mas sim a um estado de tensão geral no Médio Oriente e a novas manifestações de terrorismo?

Segundo a "Civilta Cattólica", revista dos jesuítas italianos - considerada a voz oficiosa do Vaticano -, as verdadeiras razões de uma eventual arremetida contra o Iraque são de ordem política e económica, no interesse dos Estados Unidos. Em Portugal, só a "Voz Portucalense" (22/02/2003) esteve atenta à argumentação desse texto exemplar.

Entre todos os motivos invocados para fazer a guerra preventiva, o principal é a recusa de Saddam Hussein revelar os arsenais secretos do país e destruir as armas possuídas, cláusulas de desarmamento impostas pelas Nações Unidas na sequência da guerra do Golfo em 1991.

Para muitos, segundo a citada revista, este motivo parece débil. Antes de mais, porque as resoluções das Nações Unidas foram violadas 91 vezes - 59 das quais pelos países aliados dos EUA, como Israel e a Turquia. Só Israel desrespeitou 32 resoluções do Conselho da ONU, a última das quais (nº 1435) ainda em 2002 e que exige a rápida retirada das forças israelitas das cidades palestinianas e o retorno às posições ocupadas antes de Setembro de 2000. Como todas as anteriores, ficou letra morta!

Um motivo débil ainda por uma razão mais poderosa: não há provas certas e documentadas sobre a consistência das armas iraquianas de destruição maciça e a capacidade de as usar. E mais ainda: não existem provas seguras de que o Iraque tenha treinado terroristas e apoiado os seus atentados.

3. O motivo verdadeiro da projectada "guerra preventiva" é geopolítico: a situação do Iraque. Com 3 milhões de barris por dia e reservas de pelo menos 112 mil milhões, o Iraque é um dos maiores produtores de petróleo do mundo. É também riquíssimo em gás natural. É uma área vital para os EUA, que desejam um acesso seguro a estas colossais reservas energéticas.

Por outro lado, a Arábia Saudita, o primeiro produtor e fornecedor de petróleo, tornou-se um país em risco, tanto pelas fortes correntes antiocidentais que inspira boa parte da classe dirigente, como pela provável incapacidade de responder ao enorme incremento de produção de petróleo que os EUA consideram indispensável para as suas necessidades no futuro próximo. Ora, o Iraque, em cinco anos, poderia duplicar a sua produção actual, tornando-se assim numa válida compensação da Arábia Saudita!

A revista, depois de examinar os falsos argumentos em favor da "guerra preventiva" - que abriria o caminho a guerras sem fim -, encara a realidade nua e crua: uma guerra no Iraque não teria lugar pelas razões que geralmente se apresentam, mas por motivos de ordem política e económica.

Reunidos em Berlim, no passado dia 5, a convite do Conselho Ecuménico das Igrejas, em concertação com o Conselho Nacional das Igrejas de Cristo dos Estados Unidos e o Conselho das Igrejas do Médio Oriente, os responsáveis de igrejas da Europa declararam que não podem aceitar os objectivos apresentados pelos governos para uma guerra contra o Iraque. Para a eliminação de eventuais armas de destruição maciça iraquianas não é preciso recorrer à guerra.

A população iraquiana tem direito a esperar uma alternativa à ditadura e à guerra. As igrejas cristãs que não fazem da promoção da justiça e da paz a sua missão quotidiana afastam-se de Deus.

Fonte: [jornal.publico.pt]

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 23 de February de 2003 20:17

Mais um artigo interessante do Frei Bento Domingues... @£€§, oops, Alef
___________

João Paulo II e George Bush


"Enquanto o Vaticano defende a razão, encoraja a acção diplomática e apela para o direito internacional, temos, do outro lado, uma superpotência dirigida por uma Administração que se atribui a si própria uma missão salvadora com acentos e atitudes de cruzada"

1. Foi definido e proclamado um novo mandamento político: "Quem não apoia incondicionalmente a guerra da Administração de G. W. Bush ao Iraque está contra a democracia, contra a liberdade e faz o jogo do terrorismo internacional."

Muitos milhões de pessoas, em estrondosas manifestações, atacaram essa sacralização da violência. Não só em Portugal, mas sobretudo na Itália, na Espanha, na Inglaterra - com governos fascinados pelas visões bélicas de G. W. Bush - o clamor contra a guerra e em favor da paz saiu à rua. O Governo turco - interessado num volumosos negócio com os EUA - tem 94 por cento da população contra a guerra. Só nos EUA já se realizaram 250 manifestações. As igrejas norte-americanas vieram à Europa pedir apoio para a sua luta. O Papa continua a demonstrar uma prolongada crise de fé na força das armas. Condena o terrorismo em todas as manifestações, intima Saddam Hussein a colaborar como a ONU, mas recusa-se, da forma mais ostensiva, a fazer a vontade ao império norte-americano. Porque será?

2. Para Michael Ignatieff - director do Carr Center, na Kennedy School of Government - a palavra "império" é aquela que melhor descreve o impressionante poderio dos EUA. É a única nação que vigia o mundo por meio de cinco comandos militares mundiais; mantém mais de um milhão de homens e mulheres em armas, em quatro continentes; lança grupos de combate através de porta-aviões que vigiam todos os oceanos; garante a sobrevivência de países, desde Israel até à Coreia do Sul; dirige o comércio mundial, e enche os corações e as mentes de um planeta de sonhos e desejos.

Se os norte-americanos têm um império, adquiriram-no num estado de profundo rechaço. O 11 de Setembro foi o despertar, o momento de enfrentar o alcance do seu poderio e os ódios vingadores que ele provoca (cf. "El País", 8/2/2003).

Depois da queda da União Soviética, os EUA julgaram-se sem rival e com capacidade para mandar em tudo e todos, para fazer o que lhe apetece seja onde for. Com "orgulho desmedido" - tão receado pelos antigos gregos - de representarem o único modelo sustentável de êxito económico, político e militar, os EUA transformam o seu colossal poder na ambição ilimitada de dominar o mundo e de fabricar países à imagem desta ambição.

Com alguns inconvenientes. Bin Laden e Saddam Hussein são criações suas. Ambições excessivas e medos conjugados arriscam-se a semear guerras para combater eventuais ameaças à paz! Há quem não goste desta lógica.

3. No passado dia 18, a rádio oficial do Vaticano, pela boca do seu director, Pasquale Borgomeo, criticou severamente a Administração norte-americana pela sua arrogância e falta de consideração pelos parceiros na gestão da crise com o Iraque. E foi muito directo: "Enquanto o Vaticano defende a razão, encoraja a acção diplomática e apela para o direito internacional, temos, do outro lado, uma superpotência dirigida por uma Administração que se atribui a si própria uma missão salvadora com acentos e atitudes de cruzada".

E acrescentou: "Esta Administração parece considerar a política e a diplomacia como aborrecidas perdas de tempo, o direito internacional como um estorvo, as Nações Unidas como um clube de sofistas e a opinião pública como algo a influenciar quando é possível, ou a ignorar, quando não consegue. E, no entanto, a opinião pública mundial deu, nestes dias, uma verdadeira prova da sua existência e da sua importância, que deveria ser tomada seriamente em consideração pela Administração de uma superpotência muito consciente dos seus poderes e dos seus direitos, mas a quem a sabedoria deve sugerir igual consciência dos seus deveres e responsabilidades."

4. Pasquale Borgomeo manifestou as razões profundas das dificuldades do Vaticano com a Administração de G. W. Bush e desta com o Papa. São duas visões opostas da realidade. A Casa Branca reza e acerta o relógio para bombardear o Iraque. O Papa reza, pede aos católicos para rezar, e traça roteiros de diálogos com todos no respeito do direito de cada uma das partes. Talvez não rezem ao mesmo Deus, nem penem a guerra do mesmo modo. Por isso, de um lado, há urgência em atacar; do outro, urgência em evitar a derrota da humanidade.

Desde João XXIII, através de uma angustiada mensagem por rádio - em plena crise cubana em 1962 - e João Paulo II, em 1981, com uma carta a Brejnev perante a iminência de uma invasão soviética da Polónia, os Papas tiveram uma real e reconhecida influência na evolução e superação de situações perigosas. Com destaque para Paulo VI, promoveram por gestos, atitudes e mensagens, uma notável "cultura da paz" nas suas dimensões económicas, sociais, políticas cósmicas e religiosas. Desde 1968 - com a criação do Dia Mundial da Paz - a passagem de ano é assinalada, em todas as paróquias do mundo, pela agenda da justiça e da paz no contexto concreto de cada comunidade. João Paulo II deu um impulso especial ao diálogo inter-religioso. Mas nenhum dos Papas esqueceu o papel fundamental da opinião pública, do direito internacional, da ONU e da diplomacia na resolução dos conflitos.

G. W. Bush tem muito poder político e militar. João Paulo II tem alguma cultura da paz. Por que não conversam?

Frei Bento Domingues, O.P.
«Público», Domingo, 23 de Fevereiro de 2003
[jornal.publico.pt]

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 23 de February de 2003 20:22

Também este artigo fornece elementos interessantes para a reflexão, que abre um velho problema...
______________

Tiranicídio


Foi Pio XII o "papa de Hitler", como alguns adversários da Igreja de Roma mas também alguns católicos pensam? A abertura dos arquivos do Vaticano vai ajudar a esclarecer esta dúvida, a que dedicamos o destaque desta edição do PÚBLICO.

A questão parece académica, mais de meio século depois do fim da II Guerra Mundial e do Holocausto, cuja denúncia pública Pio XII é acusado de ter omitido. Mas talvez não seja. O que hoje os historiadores debatem talvez nos ajude a pensar sobre outro tema bem actual - a guerra para depor o regime iraquiano - e que ontem foi objecto de um inédito encontro. Pela primeira vez, um primeiro-ministro da anglicana "Velha Albion" - o Reino Unido - encontrou-se com um Papa. Tony Blair e João Paulo XII estiveram 15 minutos juntos e, pelas declarações feitas após o encontro, nenhum alterou significativamente as suas posições.

O Papa pediu a Blair para "utilizar os recursos oferecidos pela lei internacional para evitar a tragédia de uma guerra que, de acordo com muita gente, ainda é evitável". Blair respondeu pedindo "para tornar claro que também não deseja a guerra, pois ninguém deseja a guerra". Só que, acrescentou, "o significado das palavras de Sua Santidade o Papa reflecte a relutância do povo em ir para uma guerra a não ser em último recurso. Ora essa é exactamente a nossa posição".

É óbvio a questão é saber se estamos, ou não, perante um "último recurso". É que se estivermos perante um último recurso - como sinceramente julgo que estamos, após tudo o que se passou durante o longo reinado de Saddam e tudo o que se tem passado desde que as inspecções recomeçaram - a própria doutrina da Igreja prevê a possibilidade daquilo a que chama "tiranicídio".

Como nos diz nesta edição o insuspeito Andrea Riccardi, historiador e presidente da Comunidade de Santo Egídio - uma organização católica cujos esforços pela paz são unanimemente reconhecidos - "o tiranicídio [está] previsto mesmo pela doutrina católica". Riccardi recorda a doutrina depois de lembrar que "temos provas de que Pio XII ajudou, de longe, a ideia de uma conjura contra Hitler".

Essa distância e os silêncios cautelosos de Pio XII terão ajudado a criar a imagem de que, de alguma forma, foi um cúmplice de Hitler. Seria uma drama que um dia a mesma dúvida caísse sobre João Paulo II, um Papa de uma geração totalmente distinta, um Papa de uma Igreja aberta ao Mundo e ao diálogo entre as diferentes religiões, um Papa pós-João XXIII, o Papa que sucedeu a Pio XII e no seu breve papado revolucionou a Igreja com o Concílio Vaticano II.

Saddam é, como Hitler foi, um ditador ateu. Como Hitler, utiliza aqui e além a religião para fins políticos, mas como Hitler também desejaria libertar um dia a juventude iraquiana da influência "perniciosa" de qualquer religião. E se é muito importante que João Paulo II insista no seu discurso de Paz - um discurso que não pode deixar de ser ouvido na "rua muçulmana" e que esvazia o carácter religioso do conflito que se aproxima -, no momento determinante, quando a diplomacia deixar de se fazer apenas por meias palavras, a Santa Sé não devia esquecer que a sua doutrina prevê o "tiranicídio". E que, nesta campanha, o que está em causa é libertar o mundo de um tirano perigoso, mortal para o seu próprio povo, potencialmente mortal para os seus vizinhos e inimigos.

Por JOSÉ MANUEL FERNANDES
«Público», Domingo, 23 de Fevereiro de 2003
[jornal.publico.pt]

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 23 de February de 2003 21:39

"Ningúem envia 200000 homens para a zona de guerra para depois os mandar para trás."
Kissinger

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de February de 2003 08:45

Papa convoca jornada mundial pela paz para 5 de Março


O Papa João Paulo II convocou este domingo para o próximo dia 5 de Março, quarta-feira de cinzas, uma jornada mundial de oração e jejum pela paz em especial pela situação no Médio Oriente.

«Nunca o futuro da humanidade poderá ser garantido pelo terrorismo e pela lógica da guerra», defendeu o Santo Padre na tradicional oração do Angelus.
Perante milhares de peregrinos que se deslocaram à praça de São Pedro no Vaticano, o Papa mostrou-se igualmente preocupado com um eventual conflito no Iraque.

João Paulo II referiu que a iniciativa, que coincide com o início da Quaresma, servirá para «implorar a Deus a tomada de decisões justas» com vista a solucionar pacificamente os conflitos existentes no mundo.

«Diário Digital», 23-02-2003 16:56:32
[www.diariodigital.pt]

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Said Barbosa Dib (IP registado)
Data: 26 de February de 2003 22:25

Para meditarem no assunto...

Por Said Barbosa Dib, professor de História

"Não são justas as análises simplificadoras e ingénuas da mídia que colocam o presidente George W. Bush como um monstro ou um energúmeno sanguinário. Mesmo que seu intelecto não seja dos mais geniais, ele não é, definitivamente, um camarada mau nem bobo. Pelo contrário, é um cidadão patriota que está tentando salvar os EUA da bancarrota, impedir a queda do Império sob seu comando. Digo isto porque, ao contrário do que se fala, o governo norte-americano está totalmente desesperado com a ruína iminente da sua economia. Segundo W. Clark, do jornal "Indy Time", o temor do Federal Reserve (Banco Central americano) é de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), nas suas transações internacionais, abandone o padrão dólar e adopte definitivamente o euro. O Iraque fez esta mudança em novembro de 2000 - quando o euro valia cerca de US$ 0,80 - e escapou ileso da depreciação do dólar frente à moeda europeia (o dólar caiu 15% em relação ao euro em 2002). Esta informação, se analisada por aqueles que conhecem os problemas estruturais do sistema de Breton Woods e as atuais limitações energéticas dos norte-americanos, coloca em dúvida a hegemonia do dólar no mundo e explica a razão pela qual a administração Bush quer, desesperadamente, um regime servil na história Mesopotâmia. Se o presidente norte-americano tiver sucesso, o Iraque voltará ao padrão dólar, não correndo o risco de servir de modelo alternativo para outros países dependentes como o Brasil. É por esta razão que o governo norte-americano, ao mesmo tempo, espera também vetar qualquer movimento mais vasto da Opep em direcção ao euro. Por isso, essa informação é tratada quase como um segredo de Estado, pois governos dependentes como o nosso, que apostaram tudo no modelo neoliberal, iriam para o fundo do poço junto com seus chefes norte-americanos. Isso porque os países consumidores de petróleo teriam de despejar dólares das reservas dos seus bancos centrais - actualmente submetidos ao FMI- e substitui-los por euros. O dólar entraria em crash com u,a desvalorização da ordem de 20% a 40%e as consequências, em termos de colapso da divisas e inflação maciça, podem ser imaginadas. Pense-se em algo como a crise Argentina em escala planetária, por exemplo. Na verdade, o que permeia toda essa discussão é a chamada "crise dos combustíveis fósseis". O físico e pensador Batista Vidal lembra que "as reservas de petróleo estão extremamente concentradas em poucos pontos do planeta, pois o total descoberto no mundo está situado em vinte campos supergigantes". Assim, na óptica do Primeiro Mundo, se os atuais países em desenvolvimento realmente se desenvolvessem, o Mundo teria ou que descobrir meia dúzia de campos supergigantes ou o petróleo acabaria em 10 ou 15 anos. Por isso, o sistema de poder financeiro mundial, subjugado pelo padrão dólar, está completamente desacreditado, falido. Os bancos estão caindo aos pedaços em todos os países ditos desenvolvidos , principalmente nos Estados Unidos e Japão. Prevê-se um colapso a qualquer momento. Agora o que sustenta isso? Devido à ocupação militar no Oriente Médio - ampliada a partir da crise do petróleo da década de 70 -, mesmo com o déficit público monstruoso dos EUA, o dólar infeccionado compra artificialmente o petróleo, base de toda a economia americana e ocidental. Portanto , Sadam selou o seu destino quando, em fins de 2000, decidiu mudar para o euro. A partir daquele momento, uma outra Guerra do Golfo tornava-se um imperativo para Bush Jr.. Ou seja, o que está em jogo não é nem o carácter texano caricato de Bush, nem uma questão de segurança nacional norte-americana, mas a continuidade da falácia do dólar. E esta informação é censurada pela imprensa norte-americana e suas vassalas tupiniquins, bem como pela administração Bush, pois pode potencialmente reduzir a confiança dos investidores e dos consumidores, criar pressão política para formação de uma nova política energética que gradualmente nos afaste do petróleo do Oriente Médio e da órbita anglo-americana e fazer com que projectos como o nosso Pró-Alcool mostrem sua força".

PS: Por isto que a Alemanha, defensora ferrenha do Euro, é terminantemente contra a guerra e por isto que a Inglaterra, que não adoptou o Euro em seu país é a favor da guerra.

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 30 de April de 2003 03:38

Pois é, os falcões da guerra lá venceram a sua... Parece que ganharam a guerra, mas não ganharam a paz e esse é o grande problema...

Esta guerra chocou-me bastante, sobretudo pela retórica que a conduziu. Uma retórica falsa, hiprocritamente cheia de metáforas religiosas e uma inacreditável manipulação dos meios de comunicação social. Este guerra foi das guerras que mais manipulou a opinião pública americana, porque sob a "capa" de patriotismo e luta pela liberdade e missão libertadora de um povo vítima de um ditador se praticaram as piores aberrações em termos de violação da liberdade de imprensa num país democrático. Muitas foram as notícias deliberadamente silenciadas, que só circularam na Europa e resto do mundo, mas nunca nos EUA. A aparente cobertura em directo cegou os americanos. Na verdade os repórteres deram a impressão de cobrir a guerra em directo, mas tornaram-se, isso sim, porta-vozes dos militares... As consequências foram piores que numa ditadura, porque nas ditaduras as pessoas não confiam nos média. Nos EUA as pessoas acreditam que há liberdade e caíram que nem patinhos... Mas nem se deram conta do logro... Consumiram com sofreguidão a retórica do Pentágono, estão até abertos a que se invada a Síria, a Coreia e por aí fora... Enquanto isto, Perter Arnett foi despedido por dizer aquilo que pensava...

Muitos americanos consideram que são o maior império de toda a história e que vão transformar o mundo numa democracia global mapeada por bases militares e McDonald's.

Mete dó ouvir algumas pessoas da "América profunda". Uma arrogância e um desconhecimento do mundo que constrange qualquer um...

Esta guerra já fez muitas vítimas civis e institucionais. A ONU ficou gravemente ferida, como o ficaram também a União Europeia e o património da Humanidade. Que tristeza ver o que aconteceu ao Museu de Bagdad, um dos mais importantes do mundo, saqueado...

No meio disto a Igreja teve um papel ímpar na figura do Papa João Paulo II, mas teve uma resposta muito ambígua de muitos bispos e padres, já para não falar dos inúmeros católicos que deram apoio público a esta guerra, apesar de ela ser ilegal e imoral. Assim aconteceu no nosso Portugal, mas com muito mais gravidade nos EUA... Será os cristãos ainda continuam a pôr uma vela ao Deus da Bíblia e outra a Marte, deus da guerra? Será que a agenda política é o que realmente conduz as consciências? No final de contas, andam(os) todos ao mesmo?

Alef

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 30 de April de 2003 11:03

Alef:

Tens toda a razão.

Substituiu-se uma ditadura por outra, se bem que esta é uma ditadura a nível mundial...
Saddam nunca escondeu quem era: uma besta abjecta.
Mas Bush e seus pares, utilizando a palavra "Liberdade", dão-se o direito de entrarem nos países dos outros e fazerem o que bem lhes apraz, escolhendo os seus governantes e explorando o seus recursos naturais para alimentar os seus excessos...
O conceito de "guerra preventiva" não existe. E uma guerra destas características apenas seria justificável se o Iraque atacasse deliberadamente tanto os EUA, como os outros países da Coligação. O que não aconteceu...
Infelizmente, quem se apercebe destas manobras e desta mesquinhez é logo apelidado de comuna caduco e ressabiado.
Mas prefiro ser uma "comuna caduca e ressabiada" a ser uma acéfala seguidora de MacDonald's e de filmes para quem tem QI comparável ao do Rambo...

Anedota:

Conselheiro: Mr President: these reports I bring with me are making mention to the following: disrespect for the Human Rights, assassinations of civilians, specialy women and children, and illegal occupation of foreign territories...

Bush: What?! Let's go right now to Iraq!!!! I will...

Conselheiro: Sorry, Mr President...these reports are about Israel...


Hic, hic, hic....

Anna

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 30 de April de 2003 23:54

Alef, penso que sabes muito bem o que conduz as consciências. Não, não é a política. Na minha opinião é a economia, ou o dinheiro, como preferirem.

E foi esse dinheiro e economia que estiveram por detrás da invasão do Iraque. É claro que foi muito fácil assustar os red necks que os terroristas os vão atacar como no 11 de Setembro, e como isso influencia muitas pessoas, tem-se carta branca para tudo. E tudo, é mesmo tudo, seja Iraque, Síria, Coreia do Norte, penso que até a China se poderia invadir, com o apoio dos americanos.

Os EUA invadiram o Iraque por causa das armas de destruição maciça. A guerra acabou, mas as armas ninguém as encontrou. Logo, os EUA e a Inglaterra não tinham motivos para fazerem o que fizeram e por isso deveriam ser penalizados, por exemplo, com uma resolução das Nações Unidas. Afinal, violaram as regras do direito internacional que é tão ou mais grave que violar uma resolução da ONU. Mas claro, isto seria ser radical, fanático, ou terrorista.

Na minha opinião, não existe qualquer democracia nos EUA: não é o voto consciente dos eleitores que elege o governo conforme se pode ver nas últimas eleições. Para além disso, a comunicação social é a voz do estado/governo, neste caso, Pentágono, e não existe qualquer valor ético de imparcialidade ou de informar dando os dois lados do acontecimento. Triste é ver uma sociedade dita avançada como a americana, comer, calar e chorar por mais. Neste aspecto, os Europeus tem um espírito muito mais crítico. Veja-se o que está a acontecer às estrelas do mundo do espectáculo que ousaram opôr-se à guerra: foram boicotadas e não são convidadas para espectáculos e filmes. Por exemplo, o boicote da maioria das emissoras de rádio em não passar música das Dixie Chicks por uma das cantoras ter dito num concerto em Londres que sentia vergonha do Bush ser do Texas. Acho que no tempo da PIDE em Portugal existia mais liberdade que existe hoje nos EUA. O "politicamente correcto" tem limites.

Ainda sobre a comunicação social, é importante existirem televisões como a Al-Jazeera para nos mostrar o lado de lá. Também ela pouco imparcial, mas é importante ter os dois lados da barricada. Parabéns à BBC, e neste caso aos jornalistas portugueses, pelo trabalho de informação realizado (embora em alguns casos se tivesse sido com menos sensacionalismo teria sido preferível).

Quanto aos cristãos não há muito a dizer: foi uma situação demasiadamente clara para que pudesse haver qualquer dúvida sobre o certo e o errado, e o Santo Padre não se cansou em dizê-lo. Mas não foram poucos os católicos que estiveram ao lado de Bush e Blair nesta guerra. Como estará a consciência deles neste momento?

De certo modo as coisas correram bem. O número de vítimas foi drasticamente inferior à primeira guerra do Golfo e isso foi positivo. Mas questiono-me sobre qual a maior atrocidade: se o regime de ditadura de Saddam ou a forma como os americanos destruiram aquele património? Por ventura um condutor de um blindado não sabe que não deve entrar com este por um palácio a dentro? É claro que não sabe... explicar a um jovem militar americano o que é cultura e história, é explicar o que é um iglô a um camelo do deserto. Fez-me lembrar o tempo das conquistas na era medieval: queimavam-se o território e património que se invadia para destruir a história e cultura de um povo... e assim se desvanece no tempo.


Hoje sinto-me apreensivo sobre a situação mundial. Vivemos tempos difíceis, pois a balança não está equilibrada. Estamos controlados e subjugados ao poderio do imperialismo americano, e o único contra-poder - o outro lado da balança - são meia-dúzia de árabes fanáticos!?! Até no tempo da guerra fria a situação se encontrava mais equilibrada entre Este e Oeste. Hoje, perdemos completamente a nossa soberania e independência. Faço a pergunta diversas vezes entre amigos, quando tocamos neste assunto, sobre a razão de qualquer chamada entre telemóveis portugueses (e de qualquer país europeu) esteja a ficar registada em computadores nos EUA!?! para ser processada para afastar sobre qualquer suspeita seja ela o que fôr. Telemóveis, telefones fixos, faxes e em breve também e-mails são armazenados, processados e analisados pelos serviços secretos americanos. Não tenho nada a esconder, mas pergunto-me simplesmente, porquê?

Resta-me o consolo de me sentir europeu, com alguma liberdade e espírito crítico para pensar livremente e, por enquanto, poder exprimir o que penso.

Luis

Re: Os cristãos e a guerra
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 02 de May de 2003 09:47

De salientar que, na América, as famosas "french fries", ou seja, batatas fritas em palitos, agora chama-se "Freedom Fries" porque a França se opôs à Guerra no Iraque...



Um absurdo...que só dá vontade de rir a esta velha, mas muito sábia, Europa!

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